Por Hermes C. Fernandes
O mundo está em polvorosa! E no meio desse fogo cruzado se
encontra uma jovem americana afrodescendente divorciada que desafia o protocolo
real britânico, casando-se com ninguém menos que o príncipe Harry. Algumas feministas festejam o fato de ela ter
se recusado a pronunciar o verbo “to obey” (obedecer) na cerimônia, e de ter
decidido entrar sozinha na igreja. Ela prometeu amar, confortar, honrar e
proteger o marido, mas não obedecê-lo. Outras acusam-na de haver traído à causa
ao aceitar viver um conto de fadas, abrindo mão de sua privacidade, de seus
perfis nas redes sociais, e até de sua religião, já que abdicou da fé católica
para ser batizada na igreja anglicana.
Rachel Meghan Markle não é apenas uma plebeia se infiltrando
na mais poderosa família real do mundo. Nem é apenas uma feminista se
aproveitando da cerimônia de seu próprio casamento para panfletar. Tampouco, apenas
uma negra desafiando a supremacia branca. Nem ainda, uma divorciada quebrando
um tabu, ou uma mulher desprovida de atributos físicos desdenhando dos padrões
de beleza ocidentais. Ela é bem mais que
isso. Ela encarna os anseios dos oprimidos e excluídos do mundo inteiro. Ela é
um sinal dos tempos. Uma Ester do nosso século. Ela carrega em seu DNA séculos
de exploração. Uma agente infiltrada nas engrenagens responsáveis por perpetrar
no mundo o machismo, o racismo, o imperialismo, o colonialismo, o sexismo, a
moral vitoriana, etc.
A julgar por sua postura na cerimônia, há que se esperar que
ela dê mais dor de cabeça à coroa britânica do que sua falecida sogra Lady Di. Meghan terá que assumir alguns deveres oficiais, o que
inclui caridade e ações humanitárias, como fazia Lady Di esplendidamente. Mas
isso não é novidade para ela, que já foi embaixadora mundial da World Vision
Canada, uma organização que angaria fundos para ajudar crianças em situação de pobreza,
foi conselheira do One Young World, uma instituição de caridade que agrupa
líderes mundiais para criar mudanças positivas no mundo e trabalhou como
defensora da Entidade para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres
das Nações Unidas.
A razão pela qual preferiu entrar sozinha na igreja e não
acompanhada de seu sogro se deve ao fato de que seu pai teria se submetido a
uma cirurgia cardíaca, ficando impossibilitado de comparecer à cerimônia. Deve
ter sido um choque e tanto para ele que é de origem irlandesa, ver sua filha
entrando para a família que tem mantido a Irlanda sob seu domínio por séculos.
Já sua mãe é afro-americana, nascida e criada em Los Angeles.
A noiva fez questão de chamar o reverendo Michael Bruce
Curry, conhecido por se manifestar pela igualdade racial e a favor do casamento
homoafetivo. Como se não bastasse o sermão do pastor negro citando Martin
Luther King, o violoncelista negro Sheku Kanneh-Mason, de apenas 19 anos, um
coral gospel negro regido por uma maestrina cantando “Stand Bye Me”, escrita
pelo artista soul Ben E. King dentro de um contexto segregacionista
norte-americano nos anos 60, pela primeira vez na história as trombetas que
anunciavam o início da cerimônia foram tocadas por mulheres. Que representem a última trombeta que anuncie o fim
de uma era prenunciada pelo mais célebre dos Beatles, John Lennon, responsável
por eternizar aquela velha canção.
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