Por Hermes C. Fernandes
"Seus pobrema acabaram!" Com este bordão, a turma do Casseta & Planeta fazia paródias muito bem humoradas de produtos que ofereciam verdadeiros milagres. Seu Creysson, garoto propaganda das Organizações Tabajara, dava o arremate na peça publicitária dizendo: "Eçe eu agarantiu!!!"
Tenho a impressão de que a vida resolveu imitar a arte mais uma vez. Cada vez que vejo manifestações favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, percebo um misto de esperança e ingenuidade. A maioria parece acreditar que tão logo a presidente seja deposta, a crise terá fim. Será? Ou estaríamos diante de um impeachment com o selo de qualidade "Seu Creysson"?
Sem querer cortar o barato de quem quer que seja, será que ninguém se deu conta do que está por vir? Todos estão tão distraídos com a possibilidade de impeachment, que nem notaram, ou ao menos, fingem não notar que quem vai sucedê-la é ninguém menos que Michel Temer. E pelo jeito, temos muito, mas muito mesmo a temer... Trocadilhos à parte, o atual vice-presidente já sinalizou para alguns dos setores mais reacionários do cenário político brasileiro para a composição de um eventual governo. Com uma postura bem diferente a de Itamar Franco que sucedeu Collor após seu impeachment, Temer é um falastrão. Sua fome pelo poder é incontestável. Covardemente ordenou que os membros de seu partido pulassem fora do governo, enquanto ele mesmo se manteve na esperança de ocupar a cadeira presidencial. Abaixo dele, deparamos com a controversa figura de Eduardo Cunha, o mais ilibado presidente da Câmara de Deputados de todos os tempos. SNQ.
Brasil, onde você está se metendo?
Não é preciso gostar de Dilma, nem defender seu governo para perceber o que está acontecendo, de fato. Estamos numa emboscada. Será que ninguém vê?
Dilma está servindo de boi-de-piranha para distrair nossas atenções para o que se passa bem debaixo de nosso nariz.
No pantanal mato-grossense, quando um boiadeiro tem que atravessar um rio enfestado de piranhas com sua boiada, ele escolhe um dos bois, faz um talho em uma de suas patas e o faz atravessar sozinho. Enquanto as piranhas se distraem com aquele boi, a boiada inteira passa incólume do outro lado.
Quem imagina que o problema do país é a presidente pode estar passando um atestado de ingenuidade (me recuso a usar palavras chulas, embora me sinta tentado a isso).
Ou alguém acredita que a Lava-jato vai prosseguir até derrubar o último dos corruptos? Ou que o pacote anticorrupção enviado pela presidente ao congresso vai finalmente ser votado? Ou que a tão sonhada reforma política vai sair?
O problema não é Dilma. O problema é a composição atual de nosso congresso. Homens desprovidos de honra e caráter. E que deram prova disso pulando fora do navio ao vê-lo afundar. Tal qual fazem os ratos...
Dos 38 que votaram a favor do processo de impeachment, 35 estão implicados na Lava-jato.
Se a coisa fosse séria, Eduardo Cunha não presidiria o processo que visa derrubar uma mulher que, até se prove ao contrário, não teve seu nome envolvido em nenhum escândalo de corrupção. Enquanto ele responde por corrupção já devidamente comprovada.
As famigeradas piranhas do congresso estão loucas para devorar a carne da primeira mulher eleita presidente deste país. Enquanto as bancadas do boi, da bíblia e da bala saem ilesas.
Não preciso ser uma árvore para defender o meio-ambiente, nem homossexual para defender os direitos LGBT. Da mesma forma, não preciso ser petista, tampouco eleitor de Dilma ou Lula, para me sentir ultrajado com a injustiça que se comete em plena luz do dia em nosso país.
Se é para derrubar o que está aí, a primeira peça do dominó a cair tinha quer Eduardo Cunha, seguido de Renan Calheiros, e boa parte dos deputados e senadores que etiquetaram suas almas. Os que trocam de lado, fazem-no como quem investe no mercado futuro. Não se enganem! Não há ali idealismo, altruísmo, mas tão-somente interesses, jogo de poder. As exceções são raríssimas. E posso garantir que não se encontram na cambada, ops, bancada evangélica.
Minha oração é que a vontade soberana de Deus prevaleça. Se Ele quiser agir com juízo sobre nós, dele ninguém escapará. Se quiser agir com misericórdia, dela ninguém prescindirá.
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