quarta-feira, setembro 06, 2006

2

A Consciência e o Universo
Por Hermes C. Fernandes


Os sentidos são as janelas pelas quais percebemos a realidade.

São eles que nos fornecem os tijolos com os quais construímos nossa subjetividade. Por eles nosso universo interior se mantém em permanente comunicação com o Universo externo. Porém, é de crucial importância avaliarmos o grau de confiabilidade de nossos sentidos. Será que as informações que recebemos por eles são 100% seguras? Então, vejamos: Segundo eles, a Terra é plana. Eles não se dão conta de que ela é esférica. Somos também informados de que o solo onde andamos está parado, embora saibamos que ele gira à uma incrível velocidade pelo Espaço Sideral. Dada a falibilidade de nossos sentidos, somos advertidos pela Bíblia a andarmos por fé, e não por vista (2 Co.5:7). É a fé que nos faz entender que o mundo visível “não foi feito do que se vê” (Hb.11:3).

Os animais percebem o mundo de maneira bem diferente de nós. Em todo o reino animal, somente os chimpanzés e os golfinhos são capazes de se reconhecerem no espelho. A abelha não é equipada para ver no nosso usual comprimento de onda. Elas utilizam o ultravioleta. Por isso, ao olhar uma flor, o que ela vê é totalmente diferente daquilo que chamamos de flor. A cobra vê na região do infravermelho, e a imagem que capta não se assemelha em nada à que vemos. Já o morcego percebe os objetos pelo uso do ultra-som.

Outro dado espantoso, e que tem intrigado os cientistas, é a capacidade dos animais de preverem catástrofes naturais, como erupções vulcânicas, tsunamis e terremotos. Horas antes, eles se retiram para lugares seguros.

A consciência e a percepção

Nas palavras de Sigmund Freud, “o processo de algo tornar-se consciente está, acima de tudo, ligado às percepções que nossos órgãos sensoriais recebem do mundo externo”.[1]

Partindo desta premissa, concluiremos que a consciência é o processo de representação mental, subjetiva, de uma realidade concreta, externa e objetiva, que é desencadeado pela percepção, vínculo que promove a mediação entre as realidades externa e interna. A consciência seria tão-somente a realidade externa que se interioriza, que se introjeta. Através dos cinco sentidos, assimilamos o mundo à nossa volta.

Esta definição, porém, não consegue abordar todos os aspectos da consciência. De acordo com as mais recentes descobertas científicas, muito mais do que uma introjeção da realidade, a consciência é uma projeção desta realidade. Não é a realidade objetiva que é introjetada em nossa consciência, mas a realidade subjetiva, construída em nossa consciência que se projeta no Universo.

O Universo seria como uma imensa tela, onde nossa consciência desenha sua própria obra de arte, com cores exclusivamente suas. Cada consciência elabora sua própria arte. Se pudéssemos ver o mundo com os olhos de outra pessoa, talvez nos déssemos conta de que o nosso “vermelho” não é o “vermelho” dela. Não é em vão que se diz que “gosto não se discute”. O que pra uns é belo, para outros é feio. O que para uns é delicioso, para outros é repulsivo. A neurociência tem concluído que cada pessoa faz sua própria “leitura” do mundo.

Cabe aqui salientar que o Universo possui existência real, concreta, ao contrário do que dizem alguns místicos ligados à Nova Era e às seitas orientais. Segundo eles, o Universo não passa de uma ilusão, construída pela mente humana. Trata-se de uma afirmação equivocada, popularizada por Amit Goswami, físico quântico, escritor do famoso livro “O Universo Auto-consciente”. Nele, Goswami defende que a consciência é que constrói o Universo físico. Seus argumentos, embora pareçam razoáveis, não podem ser comprovados, e por isso, têm sido constantemente bombardeados nos meios acadêmicos. Só poderíamos concordar com Goswami, se a consciência de que ele fala fosse a Consciência Divina. Aí sim, poderíamos admitir que a Consciência é a criadora do Universo físico.

Poderíamos até chegar ao ponto de afirmar que Deus é a Suprema Consciência do Universo. Em contra-partida, não podemos cair no erro do panteísmo[2], que afirma que o Universo físico é o corpo de Deus. Não podemos confundir a criatura com o Criador (Rm.1:25).O Criador existe antes da criação, e embora lhe seja imanente, Ele a transcende. Uma coisa é dizer que Deus está em tudo (imanência), e através de tudo Se revela (Rm.1:20). Outra, bem diferente, é dizer que tudo é Deus. Dizer que Deus transcende o Universo, é o declarar que Ele existe para além dele. Onde o Universo se finda, Deus continua. A Bíblia diz que o céu não O pode conter! Entretanto, Deus Se relaciona com a Sua criação, da maneira como a nossa consciência se relaciona com o nosso corpo. Dallas Willard nos descortina esta realidade:

“Sou um ser espiritual que tem atualmente um corpo físico. Eu ocupo meu corpo e seus arredores pela consciência que tenho dele e pela minha capacidade de exercer a vontade de agir com ela e por meio dela. Eu ocupo o meu corpo e seu espaço circundante, mas não posso ser localizado nele ou em torno dele. Você não consegue me encontrar nem encontrar os meus pensamentos, sentimentos e características de personalidade em parte nenhuma do meu corpo. Se você quiser me encontrar, a última coisa que deve fazer é abrir o meu corpo para dar uma olhada. Viajar pelo espaço e não encontrar a Deus não significa que Deus não está lá, assim como viajar pelo meu corpo e não me encontrar não significa que eu não estou aqui. Podemos dizer que Deus se relaciona com o espaço do mesmo modo como nos relacionamos com o nosso corpo. Ele o ocupa e transborda, mas não pode ser localizado nesse espaço. Cada ponto do espaço está acessível à consciência e à vontade divinas, e a sua presença manifesta pode ser concentrada em qualquer ponto que ele julgue adequado”.[3]

Podemos afirmar que a Consciência Divina não apenas cria o Universo, tanto físico quanto espiritual, como também o preenche e o preserva. Tommy Tenney, famoso escritor evangélico, identifica Deus como “aquela ‘partícula’ do núcleo atômico que os físicos nucleares podem rastrear, mas não podem ver. O Evangelho de João aborda esta qualidade divina quando diz: ‘... e sem ele nada do que foi feito se fez’ (João 1:3). Deus está em tudo e em todos os lugares. Ele é a essência de tudo que existe, é o vínculo que mantém unidos todos os componentes do Universo e que sustenta a integridade de cada um destes componentes!” [4] Ele é a Consciência que não apenas observa, mas interage com o Sua obra. A realidade é fruto dessa Consciência.

Quanto a consciência humana, o que ela é capaz de alterar não é a realidade em si, mas a percepção que se tem desta mesma realidade. Ela só interfere na realidade à medida que leva o indivíduo a uma ação concreta.

Muito antes de a consciência tornar-se objeto de estudo da psicologia, da neurociência, e da física quântica, Jesus disse: “A lâmpada do corpo são os olhos. Se os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, se a luz que em ti há são trevas, quão grandes são essas trevas!”(Mt.6:22-23). Em outras palavras, o subjetivo afeta o objetivo.

[1] Freud, S. – Esboço de Psicanálise, In Os Pensadores. Pp. 210.
[2] Doutrina que defende que tudo é Deus, desde os micróbios até as galáxias.
[3] Willard, Dallas. A Conspiração Divina. São Paulo: Mundo Cristão, 2001, pp.94s.
[4] Tenney, Tommy, Os Caçadores de Deus, Belo Horizonte, Dynamus, 2000, p.54

2 comentários:

  1. Anônimo2:14 AM

    A existência Universal anterior ao advento da Cruz e a existência assistida após o ministério de Cristo representa um hiato entre o tempo cronológico e o tempo linear que só o presente Eterno representado pelo tempo Kairós pode abarcar a rotatividade a que estamos condicionados. A possibilidade da coexistência harmônica de duas naturezas de tempo é que dificulta a nossa compreensão. O tempo Kairós e a circularidade do tempo cronos contam com realidades diversas, as divisões determinadas pelo passado presente e futuro de forma cíclica é a realidade na qual estamos condicionados. A linearidade do tempo kairós é ausente à nossa realidade. Não conseguimos conectar à nossa percepção estas duas naturezas temporais.
    Gostaria de uma elucidação deste tema de forma mais inteligível.
    Agradeço desde já a gentileza.

    ResponderExcluir
  2. A existência Universal anterior ao advento da Cruz e a existência assistida após o ministério de Cristo representa um hiato entre o tempo cronológico e o tempo linear que só o presente Eterno representado pelo tempo Kairós pode abarcar a rotatividade a que estamos condicionados. A possibilidade da coexistência harmônica de duas naturezas de tempo é que dificulta a nossa compreensão. O tempo Kairós e a circularidade do tempo cronos contam com realidades diversas, as divisões determinadas pelo passado presente e futuro de forma cíclica é a realidade na qual estamos condicionados. A linearidade do tempo kairós é ausente à nossa realidade. Não conseguimos conectar à nossa percepção estas duas naturezas temporais.
    Gostaria de uma elucidação deste tema de forma mais inteligível.
    Agradeço desde já a gentileza.

    PAIXÃO, Edson.

    ResponderExcluir