Por Hermes C. Fernandes
Ao menos cinco reações deveriam ser despertadas em nós pelas tragédias que acometem a humanidade: horror, empatia, solidariedade, senso de fragilidade e senso de igualdade.
O que temos visto nesses dez dias de guerra na Ucrânia tem exposto as vísceras de nossa ambígua condição humana. Se por um lado, nos horrorizamos com a maldade, solidarizando-nos com suas vítimas, por outro, deparamo-nos com a falta de simetria em nossa empatia, revelada descaradamente em nossa solidariedade seletiva.
Há um texto extraído do evangelho que poderia nos ajudar a ajustar o foco. Dez leprosos vieram ao encontro de Jesus. Depois de cura-los, Jesus os enviou ao templo para que fossem examinados pelos sacerdotes a fim de serem liberados para retomar o convívio social. Dos dez, somente um retornou para agradecer a Jesus por sua cura, e o texto faz questão de frisar que este era samaritano. Enquanto estavam leprosos, não havia distinção entre eles, nem étnica, nem sexista, nem social. Eram apenas seres humanos atingidos pela tragédia da enfermidade. Tão logo foram curados e retomaram suas vidas, as distinções também retornaram. Provavelmente, aquele samaritano voltou não apenas por ser grato por sua cura, mas também por não ter sido recebido no templo, visto que pessoas de sua etnia não eram bem-vindas lá.
A julgar pelo que temos assistido, chegamos a um grau tão baixo de humanidade que as distinções prosseguem mesmo em meio a tragédia. É inadmissível o que tem ocorrido aos negros que têm sido barrados ao tentarem embarcar nos trens em sua tentativa de deixar a Ucrânia. É lamentável ouvir comentários de jornalistas correspondentes de guerra horrorizados pelo fato de que era um país europeu, com gente branca, loura e de olhos azuis que estava sendo atacada e não um país do Oriente Médio ou da África.
(CONTINUA NOS COMENTÁRIOS)
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