Por Hermes C. Fernandes
Quão condicionados estão nossos olhos a enxergar o que nossa
mente foi sugestionada a procurar. Daí sermos capazes de encontrar a forma de
animais nas nuvens. Assim como os discípulos identificaram um fantasma na
silhueta surgida no nevoeiro, podemos ser enganados pela nossa percepção. O tal
fantasma era apenas a projeção do que estava instalado em seu próprio
inconsciente. Para a sua surpresa, tratava-se de Cristo caminhando sobre as
águas para socorrê-los. Quando estamos predispostos a julgar alguém, sempre
enxergamos o pior, sem perceber que o problema pode estar em nós. Por isso
Jesus diz: "Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz.
Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas.
Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas
são!" (Mateus 6:22-23).
Todo bom motorista sabe que ao enfrentar um nevoeiro na
estrada, deve usar o farol baixo, não o alto. O farol baixo é aquele que é
projetado para o chão para que o motorista saiba exatamente onde está passando.
Já o farol alto é projetado para a frente a fim de identificar as curvas,
obstáculos e sinais. Se insistir no farol alto durante o nevoeiro, ele não
conseguirá identificar nem uma coisa, nem outra, pois o nevoeiro reflete a luz
projetada e acaba cegando o condutor. Os critérios que usamos para julgar ou
avaliar uma situação ou a conduta de alguém é a Palavra. Ela é o farol que lança
luz sobre quaisquer circunstâncias. Todavia, durante um nevoeiro em que as
coisas podem não estar muito claras para nós, antes de ser luz para o nosso
caminho, ela deve ser lâmpada para os nossos pés (Salmos 119:105). Em outras
palavras, antes de se projetar na direção do outro em busca de eventuais
falhas, a Palavra deve mirar nossos próprios pés.
Faríamos bem em dar ouvidos à advertência do apóstolo Paulo:
"Quem é você para julgar o servo alheio? É para o seu senhor que ele está
de pé ou cai. E ficará de pé, pois o Senhor é capaz de o sustentar"
(Romanos 14:4). E mais: "Aquele, pois, que pensa estar em pé cuida para
que não caia" (1 Coríntios 10:12). Ou se preferir, que tal as palavras do
próprio Jesus? "Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o
juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido
vos medirão a vós. Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, mas
não percebes a trave que está no teu? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar
o cisco do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave
do teu olho e ENTÃO VERÁS CLARAMENTE para tirar o cisco do olho do teu
irmão" (Mateus 7:1-5). Podíamos dormir sem esta, não? Não! O que não
poderíamos era viver doutra maneira senão desta proposta por Jesus. Caso
contrário, nos adoeceremos, buscando disfarçar nossos erros enquanto lançamos
os holofotes nos erros alheios. E assim, em vez de projetarmos no outro nossa
luz, projetamos nele nossa sombra. Em vez de revelar o que nele é latente, acabamos por revelar o que em nós está patente.
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