Por Hermes C. Fernandes
Sim, Jesus traiu. Não se espante com esta afirmação. Ele só
foi traído, porque traiu antes. Ele traiu as expectativas de Seus discípulos ao
desperdiçar Sua popularidade, e em vez de marchar em direção ao palácio para
depor tanto Herodes, quanto Pilatos, preferiu invadir o Templo, derrubar as mesas dos cambistas e ferir os interesses
da casta sacerdotal.
Imagine uma conversa em off entre Jesus e Judas, antes que
este se suicidasse. Judas, como sempre, tentando aplacar sua culpa por haver
traído o movimento.
“Jesus, o erro não foi seu. Na verdade, o erro foi nosso, ao
permitir que as coisas tomassem o rumo que tomaram. Bem que poderíamos ter
evitado, chamando o Senhor para uma conversa franca e séria. Mas deixamos rolar
e deu no que deu. O Senhor sabe que só chegou aonde chegou porque eu e alguns
outros trabalhamos nos bastidores para isso. Fomos nós que atiçamos a massas
para que saíssem ao Seu encontro e o recebessem com mantos e palmas na entrada
da cidade. Nós que puxamos o coro: “Hosana! Hosana ao que vem em nome do
Senhor!” E mais: Fui eu que convoquei os discípulos para orar quando vimos que
as coisas estavam ficando feias para o Seu lado. Mas parece que o Senhor não
entendeu. Por isso, não me restou
alternativa senão pular fora.”
Judas não apenas pulou fora do movimento. Ele se uniu ao que
havia de pior. Ele somou forças com quem antes havia traído Jesus, conspirando
para mata-lo. E não apenas isso: ele o vendeu a eles por causa de uma maldita
agenda política. Talvez por acreditar que dava para fazer do movimento um
trampolim político.
Com isso, os sacerdotes conseguiram atingir o coração do
movimento, alguém muito próximo de Jesus, um dos Seus mais chegados discípulos.
Como se não bastasse, o vírus conseguiu contagiar outros
dois, Pedro e Tomé, fazendo com que um o negasse, e outro viesse a duvidar
dele. Sem contar os próprios familiares de Jesus que desde o início duvidavam
dele. As multidões que o seguiam foram reduzidas a um punhado de seguidores. O
movimento parecia ter chegado ao fim. E por incrível que pareça, Jesus não
facilitava as coisas. Pelo contrário, Ele dava cada vez mais munição para quem
queria derrubá-lo.
Enquanto os discípulos se desagregavam, a ponto de só restar
um ao pé da cruz, alguns inimigos resolviam se reconciliar para combater um
inimigo em comum. Lucas diz que “nesse mesmo dia Pilatos e Herodes tornaram-se
amigos; pois antes andavam em inimizade um com o outro” (Lc.23:12). É aquela velha estória... inimigo de inimigo meu é meu
amigo.
O que eles não sabiam era que assim se cumpria uma antiga
profecia que dizia: “Levantaram-se os reis da terra, e os príncipes se
ajuntaram à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido. Porque verdadeiramente
contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes,
mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o
que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de
fazer” (Atos 4:26-28).
Não há improvisos nos planos de Deus! Mas há uma enorme
diferença entre participar deste plano sendo João, fiel até o último momento, e
sendo Judas ou mesmo Tomé ou Pedro.
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