Por Hermes C. Fernandes
Não basta adquirir a
verdadeira sabedoria comparada ao ouro e a prata como material com o qual
construiremos nosso edifício existencial. Há que se tomar todos os cuidados
para que este mesmo material não seja desviado de seu propósito original, e
tenha outra utilidade.
Foi o que aconteceu
com o povo hebreu recém-saído do Egito.
Enquanto Moisés estava
no monte, recebendo do Senhor as instruções que deveriam guiar o Seu povo até a
conquista da Terra Prometida, os filhos de Israel resolveram amotinar-se e dar
àquele ouro um novo destino.
Imagine: o que poderia
ter acontecido a um homem idoso, que já demorava quarenta dias no topo de um
alto monte no deserto?
“Vendo o
povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e disse-lhe:
Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este
Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu.” Êxodo 32:1
Qual deveria ser a
resposta de Arão? No mínimo, deveria ter repreendido o seu povo, chamando-o à
consciência. Mas em vez disso, o irmão mais velho de Moisés preferiu trair sua
confiança e dar ao povo o que lhe era pedido.
Semelhantemente, há
muitos em nossos dias que parecem discípulos de Arão. Inescrupulosamente, dão
ao povo o que lhes pede. Não têm compromisso com a verdade. Em vez de se
importarem com o que é certo, pautam suas decisões naquilo que dá certo. Para
os tais, o que vale não é o que diz a Palavra de Deus, e sim, o ditado popular:
a voz do povo é a voz de Deus!
Já que o povo deseja
um ídolo para adorar, vamos providenciá-lo. Sem titubear, “Arão lhes disse: Arrancai os pendentes de ouro, que estão nas orelhas
de vossas mulheres, e de vossos filhos, e de vossas filhas, e trazei-mos. Então todo o povo arrancou os pendentes de ouro, que
estavam nas suas orelhas, e os trouxeram a Arão. E ele os tomou das suas mãos, e trabalhou o ouro com
um buril, e fez dele um bezerro de fundição. Então disseram: Este é teu deus, ó
Israel, que te tirou da terra do Egito. E Arão, vendo isto, edificou um altar diante dele; e apregoou Arão, e
disse: Amanhã será festa ao SENHOR. E
no dia seguinte madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas
pacíficas; e o povo assentou-se a comer e a beber; depois levantou-se para
farrear” (Êxodo
32:2-6).
O ouro que deveria ser destinado à fabricação dos utensílios do tabernáculo do Senhor, agora era usado na
confecção de um ídolo para afrontar Àquele que os havia tirado do Egito com
braço forte, com sinais e prodígios jamais vistos na história da humanidade. Isso os tornavam indesculpáveis aos olhos de Deus! Nenhuma justificativa plausível! Sem o
menor recato, eles promoveram uma noite de orgia, comendo, bebendo e farreando
diante do ídolo confeccionado com o ouro que o Senhor lhes provera.
“Então disse o SENHOR a Moisés:
Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste subir do Egito, se tem corrompido,
E depressa se tem desviado do caminho que eu lhe
tinha ordenado; eles fizeram para si um bezerro de fundição, e perante ele se
inclinaram, e ofereceram-lhe sacrifícios, e disseram: Este é o teu deus, ó
Israel, que te tirou da terra do Egito. Disse mais o SENHOR a Moisés: Tenho visto a este povo, e eis que é povo
de dura cerviz.”
Êxodo 32:7-9
Êxodo 32:7-9
Que decepção! Deus não
merecia tamanha traição! Embora nosso estômago pareça embrulhar diante deste
relato, temos que admitir que a igreja tem incorrido no mesmo erro durante séculos.
Veja o que temos feito com tudo aquilo que o Senhor nosso Deus tem investido em
nossa vida...
O que era destinado ao
louvor de Sua glória, agora tem sido usado na confecção de novos ídolos, não
feitos de ouro ou prata propriamente, ou de qualquer outro material, mas feitos
a partir de concepções distorcidas da verdade, de ideologias sacramentadas, de modelos
e burocracia eclesiásticos, de orgulho denominacional, de líderes carismáticos,
de credos e confissões que passam a ter relevância semelhante à das Escrituras,
de liturgias ultrapassadas, de estratégias evangelísticas, etc.
Ninguém escapa! Todos
somos igualmente culpados do mesmo pecado. Temos dado ao povo o que o povo
quer. Nem sequer nos preocupamos com a decepção que provocamos no coração do nosso
Deus. Ele ao menos é consultado.
Já que Cristo demora tanto a vir, achamos que
a igreja agora é nossa, e que, portanto, fazemos dela o que bem entendermos. Só nos esquecemos
da advertência feita pelo apóstolo:
“Aos presbíteros, que estão entre
vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições
de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós,
tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância,
mas de ânimo pronto; nem como
tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho.
E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a
incorruptível coroa da glória.”
1 Pedro 5:1-4
1 Pedro 5:1-4
O dia da prestação de
contas está chegando! Dele ninguém escapará! Ninguém poderá dar carteirada no
Senhor, alegando ser ‘apóstolo’, ‘bispo’, ‘reverendo’, ou qualquer outra coisa.
Temos recebido do
Senhor um voto de confiança que nem mesmo os anjos receberam, embora acredite
serem bem mais competentes do que nós. Não temos o direito de decepcioná-lo, como temos feito ao longo de nossa história.
Isaías profetiza que “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e
ficará satisfeito” (Isaías 53:11). Mas o que
será se em vez disso, houvermos recebido a graça em vão, como admoesta Paulo (2
Co.6:1)?
Em vez de satisfação,
decepção. Qual tem sido a avaliação que Deus tem feito do nosso trabalho? Temos
sido Moisés ou Arão? Que destino temos dado ao ouro que recebemos? Que temos
feito com a graça? Estaríamos transformando-a em justificativa para nossa
libertinagem como fizeram os gálatas?
O apartheid, regime de segregação racial que predominou na África do
Sul por mais de 40 anos, foi criado a partir de uma concepção errada da
doutrina da eleição.[1]
Foram protestantes que diziam crer nas doutrinas da graça e que abraçavam
confissões de fé históricas que criaram aquele monstro. Quantos monstros
semelhantes não têm sido criados a partir do mesmo ouro que recebemos do
Senhor? Quantos regimes autoritários já não apoiamos com base em Romanos 13,
por exemplo? Quanto preconceito não temos fomentado ao longo da História? De onde vem a famigerada "Teologia da Prosperidade"?
Nossa teologia e, consequentemente, nossa práxis, lembram o monstro criado no laboratório de Frankenstein. O "deus" que criamos reflete exatamente o que somos, uma colcha de retalhos onde verdades e preconceitos são costurados entre si. Esse deus caricato não é o Deus revelado em Jesus, mas um ídolo, projeção de nossas mentes enfermas pelo pecado.
Até que ponto não
temos usado a graça descaradamente para justificar nossas perversões e idiossincrasias?
Urge darmos meia volta,
abandonando nossos ídolos, por mais caros que nos sejam, e voltando-nos para
Aquele que nos confiou tão grandiosa graça. E que Ele, o Sumo Pastor, ao
manifestar-Se em glória, dê-se por satisfeito ao encontrar-nos pavimentando a estrada
do futuro com o ouro que houvermos recebido.
[1] O apartheid foi um
regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África
do Sul, no qual os direitos da grande maioria dos
habitantes foram
cerceados pelo governo formado pela minoria branca.
* Sugiro que sejam lidos os dois posts anteriores a este para uma compreensão mais abrangente do que colocamos aqui.
Seu link se encontra no meu blog.
ResponderExcluirAbraços a todos, na Paz do Senhor Jesus!
Ótimo texto Hermes !!! Irei compartilhar o link desta postagem no blog Evangelho In Natura.
ResponderExcluirQue a Verdade seja sempre a sua motivação.
Um Abração !!!
Que o nosso bom Deus continue te inspirando, para que voce possa continuar escrevendo textos tão primorosos, igual a este. Permitá-me publicá-lo no meu Blog
ResponderExcluirHermes, se quer ver, está cheio de pastores e líderes evangélicos Frankenstein pregando em cima dos púlpitos nas chamadas " igrejas evangélicas ".
ResponderExcluirCristianismo hipócrita!
Maranata Jesus Cristo de Nazaré.