“Um só alvo, uma só chance, uma visão além do alcance”. Este foi o lema adotado pela REINA, igreja que pastoreio, anos atrás. Proponho que o examinemos, ponto a ponto.
Ora, se há um só alvo, qual seria? Quando falamos de alvo, falamos de objetivo, propósito. Qual seria, afinal, o propósito de nossa existência como igreja, ou mesmo como seres humanos?
Uns responderiam: ganhar almas; outros diriam: adorar a Deus; e ainda outros: tornarmo-nos parecidos com Cristo. Todas as respostas estão corretas, porém não abrangem o principal. Ganhar almas é o nosso alvo evangelístico. Mas por que devemos ganhar almas? Adorar a Deus é o nosso alvo cúltico. Porém, qual a razão pela qual devemos adorá-lO? Tornarmo-nos parecidos com Cristo é o alvo do nosso discipulado. Mas qual a finalidade disso tudo? Haveria um alvo que englobasse todas estas respostas?
Imagine um alvo formado de vários círculos. Há um círculo menor no centro de todos os outros. Quem atingir a este círculo estará atingindo a todos os demais. Partindo do maior círculo para o menor, todos sobrepõem-se uns aos outros. Portanto, o menor que está no centro sobrepõe-se aos demais. A flecha que o perfurar estará perfurando a todos. Mas se atingirmos os maiores, negligenciaremos os demais que estiverem sobrepostos a eles.
Qual, portanto,será o alvo dos alvos, aquele que engloba em si mesmo todos os demais? Para onde devemos direcionar nossa mira?
Deixemos que a própria Palavra nos indique:
Deixemos que a própria Palavra nos indique:
“Olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé” (Hb.12:2a).
Olhar firmemente nada mais é do que mirar, fixar pontaria. Ele é o alvo-mor de nossa existência. É para Ele que todas as coisas devem convergir, pois não é o alvo apenas da igreja, mas de todas as coisas que estão no céu na terra (Ef.1:10).
Ele encerra em Si mesmo toda a realidade. Nem o céu dos céus O podem conter (2 Crônicas 6:18), porém todas as coisas estão contidas n’Ele. No dizer de Paulo, “nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At.17:28). Ele é o ponto de encontro entre o Criador e a criação. N’Ele habita, ao mesmo tempo, a plenitude da criação e a plenitude da divindade (Cl.1:19; 2:9). Por isso Ele pode reconciliar “consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus” (Cl.1:20).
N’Ele todas as coisas existentes são ressignificadas. Mirando n’Ele, miramos o Mundo para o qual Ele foi enviado. Nosso alvo é Ele, mas Seu alvo é o Mundo. Nosso amor ao mundo deve derivar-se de nosso amor a Ele. Amamos o Mundo n’Ele, e não à parte d’Ele.
Se mirarmos no mundo, atingiremos os círculos periféricos do alvo, e não o seu centro. O nome disso é pecado. Por isso se diz que se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele (1 Jo.2:15).
Permita-me uma analogia.
O sexo é bom. Foi Deus quem o criou. Porém, deve ser cultivado dentre de um relacionamento perene. Assim também, o mundo, enquanto criação de Deus é bom (1 Tm.4:4). Foi Deus quem o criou, e amou a tal ponto de dar Seu Unigênito para redimi-lo. Porém, nosso amor a ele deve ser fruto de nosso amor a Cristo. Amar ao mundo à parte de Cristo é o mesmo que praticar sexo casual, descomprometido.
Quando nos casamos com a pessoa a quem amamos, o sexo é como um bônus. Quem não se sentiria ofendido se soubesse que seu cônjuge casou-se interessado somente em sexo?
Ao buscarmos o Reino de Deus em primeiro lugar, fazendo de Cristo, o padrão da justiça divina, nosso alvo, todas as demais coisas nos são acrescentadas. O que não podemos é inverter a ordem e fazer de tais coisas nosso alvo. Quando nos dispomos a perder tudo por Cristo é que ganhamos todas as coisas.
“E, na verdade, tenho também por perda TODAS AS COISAS, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem sofri a perda de TODAS ESTAS COISAS, e as considero refugo, para que possa ganhar a Cristo”(Fp.3:8).
Portanto, não sobra nada. É perda total! Porém, perda momentânea que resulta em ganho eterno.
“Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele TODAS AS COISAS?” (Rm. 8:32).
Quando focamos nossa vida n’Ele, perdemos tudo, para ganharmos tudo. Ele Se torna nosso único bem. “Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti”(Salmos 73:25).
Fomos conquistados por Cristo para conquistarmos a Cristo (Fp.3:12). Não se trata de conquista no sentido de posse, mas no sentido de nos assemelharmos a Ele. Fomos enxertados n’Ele e agora Sua Palavra tem que ser implantada em nós (Jo.15:7). Ele está em nós e devemos ser achados n’Ele (Fp.3:9). Ele nos adquiriu, agora temos que ganhá-lO (Fp.3:8). Em termos de salvação, sou monergista. Creio numa salvação que parte d’Ele, sem qualquer colaboração nossa. Porém, em matéria de comunhão, sou sinergista. Fomos escolhidos para ser Sua esposa. Isto foi obra inteiramente d’Ele. Porém, quando adentramos os Seus aposentos, somos seduzidos por Seu amor, e não violados. Há, portanto, uma cumplicidade. E quem poderia resistir ao Seu galanteio? Ele Se torna nosso único tesouro, pelo qual nos dispomos a abrir mão de tudo.
O mundo já não nos enche os olhos. Já não é objeto de nosso desejo, porém, torna-se objeto de nosso amor à medida que nos tornamos canais de Seu amor. Amamos a criação por ela remeter-nos ao Criador, mas jamais a honraremos e serviremos no lugar d’Ele (Rm.1:25).
Porém, como honraremos e serviremos ao Criador, se não nos dispusermos a honrar e servir à Sua obra? Creio que a resposta a esta aparente contradição está no expressão “n’Ele”. O problema não é honrar e servir à criatura, e sim, honrá-la e servi-la ‘no lugar’ do Criador. Assim como o problema não é o dinheiro e sim o amor ao dinheiro. Não é o sexo, mas sim a promiscuidade. Não é a comida, e sim a glutonaria. Não é o vinho, e sim o alcoolismo. Não é o sono, mas a preguiça.
Tudo quanto fizermos, deve ter como alvo a Cristo.
Mesmo quando estendemos as mãos aos necessitados, o fazemos por identificarmos neles o próprio Cristo, de quem um dia ouviremos: “Tive fome, e me destes de comer…” (Mt. 25:35). É por amarmos a Cristo, que amamos tudo e todos quanto Ele ama, da mesma forma como repudiamos tudo quanto Ele repudia. Por isso Ele diz: “Buscai o bem, e não o mal, para que vivais (…) Aborrecei o mal, e amai o bem” (Amós 5:14-15). E mais: “Vós, que amais o Senhor, detestai o mal” (Sl.97:10). Assim, amamos o pobre, mas detestamos a injustiça que causou sua miséria. Amamos o pecador, mas detestamos o pecado que o destrói. Devemos, portanto, nutrir os mesmos sentimentos que houve em Cristo”(Fp.2:1). Tudo o que foi alvo de Seu amor, deve ser igualmente alvo do nosso.
E não basta ter o mesmo sentimento. Devemos adotar a mesma postura, o mesmo procedimento:
“Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou” (1 Jo.2:6).
“Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (1 Jo.3:16).
“E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor. Quem está em amor está em Deus, e Deus nele. Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos nós também neste mundo (…) E dele temos este mandamento, que quem ama a Deus, ame também a seu irmão” (1 Jo.4:16-17,21).
Não buscamos a Deus em templos feitos por mãos humanas. Quem assim faz, erra o alvo, pois “Deus não habita em templos” (At.7:48). Em vez disso, buscamos a Deus no outro, no excluído, no marginalizado, pois com os tais que Ele Se identifica. Ele não está nas catedrais, mas sob as marquises. Ele não é encontrado sob as abóbadas das mesquitas, mas sob a abóbada celeste, entre aqueles que dormem a relento. Se quisermos encontrá-lO, saiamos ao Seu encontro lá fora, no Mundo. “Saiamos, pois, a ele, fora do arraial” (Hb.13:13a).
O sacrifício que Lhe agrada não se resume em louvor. Mãos erguidas a Ele em adoração, devem ser estendidas ao próximo em doação, caso contrário, seu louvor não passará de bajulação. Deus já está farto de tais sacrifícios! Ele mesmo diz: “De que me serve a multidão dos vossos sacrifícios, diz o Senhor? (…) Cessai de fazer o mal, e aprendei a fazer o bem!” (Is.1:11,16b-17a).
Sacrifícios só Lhe são aprazíveis quando oferecidos “”por meio de Cristo” e resultem na prática do bem, na partilha com os outros.
“Portanto, ofereçamos sempre por meio dele a Deus sacrifício de louvor, que é o fruto dos lábios que confessam o seu nome. Não vos esqueçais de fazer o bem e de repartir com outros, pois com tais sacrifícios Deus se agrada” (Hb.13:15-16).
Pecado é errar o alvo. É viver em função de seu próprio aprazimento. Em suma, pecado é viver para si. Constrangidos por Seu amor, somos desafiados a desviarmos o foco de nós mesmos para Cristo, e assim, passar a nos importar com o que Ele Se importa. “E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu” (2 Co.5:15).
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