Por Hermes C. Fernandes
Os gregos se
encantaram com as formas geométricas. O que me impressiona são a proporção e a
disposição das coisas em nosso universo. É assustador saber que,
proporcionalmente, num átomo de hidrogênio, a distância entre o primeiro
elétron e o núcleo que ele orbita é quase oito vezes maior do que a distância
entre o Sol e Plutão, até pouco tempo, considerado o último planeta de nosso
sistema solar. Trocando em miúdos: se pudéssemos tornar o núcleo do tamanho do
Sol, o elétron ficaria a 43.750.280.968 km, enquanto Plutão está a
5.909.000.000 km do Sol. É ainda mais intrigante imaginar que toda esta
distância no átomo é formada por espaço vazio. Por isso se diz que 99,99% da
matéria é constituída de nada. Estima-se que só uma trilionésima parte do átomo
está cheia de matéria. Só não nos damos conta disso devido ao tamanho
absolutamente diminuto do átomo. Se pudéssemos viajar ao interior da matéria,
depararíamos com algo parecido com as bonecas russas: tão logo se descobre uma
nova partícula, suspeita-se que dentro dela haverá outra ainda menor, e assim
por diante. E entre uma partícula e outra, mais espaço vazio.
O corpo humano é
formado por 7 octilhões de átomos. Provavelmente, este não é um número que nos
soe familiar. Imagine um 7 seguidos de 27 zeros à direita (7.000.000.000.000.000.000.000.000.000). Não se tratam de
milhões, nem de bilhões, ou mesmo trilhões. Estamos falando de octilhões!
E quanto às bactérias presentes em nosso corpo? Estima-se que para cada
célula exista ao menos 10 microrganismos (entre bactérias, fungos, amebas,
vermes e parasitas). Carregamos algo em torno de 100 trilhões de microrganismos
em nossos corpos, a maioria dos quais é fundamental à nossa sobrevivência.
Nosso cérebro tem aproximadamente 86 bilhões de neurônios que produzem
trilhões de conexões entre si. Aproveitando um punhado destas conexões neurais, pus-me a imaginar o que
determinaria o tamanho das coisas e, como seria se fosse possível inverter esta
ordem, de modo que o universo se tornasse num uni-inverso.
Permita-me uma digressão: Suponhamos que o ser humano esteja exatamente no
meio da escala de tamanhos. Tanto o macrocosmos, quanto o microcosmos seriam
medidos à partir dele. Parafraseando Protágoras, o homem é a medida de todas as
coisas. E usando a terminologia bíblica, Jesus é Deus que se faz homem, para
como tal, ser o mediador, não apenas entre o homem e Deus (1 Tm.2:5), mas entre
os mundos macro e microcósmico. Em Efésios 1: 9-10, Paulo diz que Deus nos
desvendou o mistério de sua vontade que é de “fazer convergir em Cristo todas
as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra.” Em outra
passagem, o mesmo apóstolo diz que em Cristo habita toda a plenitude (pleroma,
palavra grega que significa a totalidade da realidade) e que, por meio d’Ele
Deus promoveu Sua reconciliação com “todas as coisas, tanto as que estão na
terra (microcosmos), como as que estão nos céus (macrocosmos)” (Cl.1:19-20). O
lugar emblemático escolhido para promover este encontro foi a cruz, com suas
hastes horizontal e vertical. É ali que o paradoxo se resolve. Onde a mecânica
quântica e a teoria da relatividade se encaixam sublimemente. A cruz é a
solução de todos os paradoxos da ciência e da filosofia.
Dito isso, voltemos a soltar a imaginação. E se Deus resolvesse inverter
a ordem natural das coisas? E se o macrocosmos se encolhesse, de maneira que
uma galáxia coubesse na cabeça de um alfinete? E se ao mesmo tempo os átomos se
tornassem do tamanho de sistemas solares? Imagine se tivéssemos que usar o
telescópio para observar os átomos e o microscópio para observar as estrelas.
É claro que Deus tem poder para tal, pois para Ele nada é impossível.
E se isso já estivesse em Seus planos? E se encontrássemos pistas nas
palavras de Jesus que indicassem que a realidade não é o que parece ou está
destinada a revelar-se de maneira surpreendente aos nossos sentidos?
Pense na estrela de Davi, estampada no pavilhão de Israel. Dois
triângulos se cruzam, um em pé e outro de cabeça para baixo. O triângulo em pé
poderia representar a realidade tal como conhecemos, do menor para o maior. O
triângulo invertido seria a representação da realidade tal qual se revelará, do
maior para o menor, do macro para o micro.
Se isso parece loucura aos nossos sentidos, pense por um momento no que
significa afirmar que Deus Se fez homem. Como o infinito poderia caber no
finito? Se nem o céu dos céus é capaz de comportá-lo (2 Crônicas 6:18), como
poderia ser encerrado num corpo humano? Não é em vão que Paulo se refere a tal fato como "o mistério da piedade" (1 Tm.3:16).
Cristo abarca em Si a realidade como um todo. Parafraseando Davi, se
descermos ao coração da matéria, ao mundo subatômico, quântico, ali O
encontraremos. Ele é o Alfa! Se subirmos ao céu, atravessarmos galáxias,
quasares e buracos negros, ali também O encontraremos (Sl.139:7-8). Ele é o Ômega
(Ap.22:13)! N’Aquele em quem estão ocultos todos os tesouros da ciência, encerram-se todos
os paradoxos (Rm.11:33).
N’Ele, realidades paralelas se cruzam e se conectam. O aparentemente contraditório se reconcilia. Soberania divina e livre agência humana se harmonizam. Ciência e fé se abraçam. Justiça e amor se entrelaçam. Espírito e carne se fundem. Céu e terra convergem para o mesmo ponto.
Consideremos que as palavras de Jesus encerrem significados que
ultrapassam o campo da moral e da ética. Por exemplo: quando diz que em Seu
reino, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos, ele indica
uma subversão na ordem temporal (Mt.20:16). Ao dizer que o maior seria o menor
e o menor seria o maior, ele subverte a ordem espacial (Mt.23:11).
Assim como o Espírito de Deus transita livremente dentro do tempo, de
sorte que não há diferença entre passado, presente e futuro, Ele também
percorre todo o espectro da realidade, não havendo diferença entre o
macroscópico e o microscópico. Para Deus, tanto uma galáxia quanto um átomo tem
o mesmo tamanho. Ele viaja entre o espaço estelar e intergaláctico da mesma
maneira como viaja entre o espaço que separa o núcleo de um átomo de seu
elétron. De acordo com o escritor sagrado, Ele sustenta todas as coisas com a
palavra do Seu poder (Hb.1:3), e isso inclui tanto as órbitas planetárias
quanto as órbitas subatômicas.
Imagine ainda se descobríssemos uma maneira de inverter a realidade, de
modo que o macro se tornasse em micro, e o micro em macro. Quem sabe, bastaria que entrássemos num buraco negro, e nos depararíamos com o avesso da realidade. De repente, as
astronômicas distâncias entre os corpos celestiais se tornariam em milionésimos
de centímetro. Em compensação, em vez de um céu estrelado acima de nós,
veríamos um espaço pontilhado de átomos, com seus elétrons orbitando seus
núcleos em velocidade inimaginável. Nosso corpo seria formado de corpos
celestes. Cada cérebro uma galáxia. Cada neurônio, uma estrela. Nosso DNA
estaria escrito nas estrelas, e nosso destino seria lido nas moléculas. O que para nós é um exercício de imaginação, para Deus é a mais pura realidade.
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