Por Hermes C. Fernandes
Hoje estive em uma reunião com a Associação de Ministros Evangélicos da Flórida Central. Diferente das outras vezes, hoje a atmosfera estava tensa. Motivo: na próxima segunda-feira, será votada uma nova lei que concederá aos policiais da Flórida o poder de checar o status do imigrante, prendê-lo e deportá-lo, caso seja indocumentado (ilegal). A partir da eventual aprovação dos projetos de lei SB 2040 e MP 7089, os imigrantes ilegais passariam a ser considerados criminosos. Trata-se de uma lei semelhante ou mais severa do que a aplicada no Arizona. Se esta lei passar (e pelo jeito, deve passsar), qualquer oficial da polícia poderá abordar um imigrante pelo simples fato de haver tido algum pressentimento. Atualmente, a polícia só se envolve com imigrantes, se estes forem pegos cometendo algum crime, mesmo que não seja grave, como por exemplo, dirigir sem habilitação, atravessar sinal vermelho, etc. O receio dos pastores é que seja deflagrada uma caça aos imigrantes, semelhante ao que tem acontecido no Arizona. Isso faria com que muitos, inclusive membros das igrejas, sofressem injustiças, tivessem suas famílias desmanteladas, ou, no melhor das hipóteses, mudassem para outro Estado, provocando assim, o esvaziamento das igrejas. Pesquisas feitas em 2008 estimam que haja cerca de 300 mil brasileiros residindo na Flórida, e a maioria deles é indocumentada.
Depois de discutirmos e orarmos, chegamos à conclusão de que algo precisa ser feito. A comunidade hispânica já se mobilizou. Centenas de crianças latinas se reuniram com suas famílias na capital da Flórida no início desta semana pedindo para parar a reforma da imigração. Temendo que a reforma da legislação da imigração pudesse separar suas famílias, os manifestantes começaram os protestos na segunda-feira, em Little Havana, em Miami e em Tallahassee, capital da Flórida.
Cecília Perez, de 16 anos, participante da manifestação, declarou: "Estou aqui para representar milhões de crianças que não querem que esta lei seja aprovada (…) nós não queremos que nossas famílias sejam separadas, e também não queremos ter a discriminação racial em todo o estado da Flórida." Dirigindo-se à multidão que lá se reunia, Cecília perguntou: "Quantos de vocês têm fé em Deus que essa lei não vai passar? Meu pai é um cidadão americano e minha mãe não é. Eu sou uma cidadã americana. Eu nasci aqui fui criada aqui e eu não quero ser separada da minha família." Sua situação é semelhante a de milhares de outras crianças, não só de origem hispânica, mas também brasileira. Por isso, a comunidade brasileira precisa igualmente mobilizar-se.
Gostaria de propor neste artigo o exame da questão sob duas perspectivas, uma bíblica e outra política.
Tenho encontrado brasileiros cristãos naturalizados americanos, ou já em posse de seu Green Card, que apoiam a iniciativa do governo de perseguir os ilegais. Segundo eles, os imigrantes indocumentados estariam cometendo um tipo de pecado, por desobedecerem as leis do Estado. Ora, apesar de este tipo de postura estar embasado no texto bíblico, carece de um exame mais profundo da questão. Há vários precedentes bíblicos de pessoas retas que em algum momento de suas vidas foram imigrantes. A principal delas é o próprio Jesus, que fugindo da perseguição de Herodes, foi levado pelos seus pais para o Egito, onde viveu os primeiros anos de sua infância. Um Deus que conhece na pele o que é viver em terra alheia, sendo vítima de todo tipo de preconceito cultural e racial, pode perfeitamente identificar-se com aqueles que vivem a mesma situação. Será que ele viveu legalmente no Egito? Bem, se viveu escondido, como diz a Escritura, logo, viveu na clandestinidade.
E o que dizer de Moisés? Pelo decreto de Faraó, todos os recém-nascidos dentre os hebreus deveriam morrer. Mas as parteiras o desobedeceram deliberadamente. Por algum tempo, Moisés, além de filho de imigrantes, viveu na ilegalidade, até ser descoberto e adotado pela filha do monarca egípcio.
Poderíamos apontar outros precedentes bíblicos, mas em vez disso, que tal buscar a instrução dada por Deus quanto ao trato que deve ser dispensado ao imigrante?
Logo durante a organização civil do povo hebreu, Deus ordena:
“O estrangeiro não afligirás, nem o oprimirás, pois estrangeiros fostes na terra do Egito” (Êx. 22:21).
O Supremo Legislador chama Seu povo à consciência!
- Lembrem-se que vocês também foram imigrantes. Não tratem o estrangeiro da maneira como vocês foram tratados no Egito!
Além do mandamento claro, Deus ainda adverte:
“Se de alguma maneira os afligirdes, e eles clamarem a mim, eu certamente ouvirei o seu clamor. A minha ira se acenderá” (Êx.22:23-24a).
Ora, os Estados Unidos são um país construído por imigrantes. Os mesmos americanos que vociferam contra os ilegais são filhos e netos daqueles que deixaram a Europa, a Ásia e a África em busca de oportunidades na América. O próprio presidente Barack Obama é filho de imigrante, o que gerou enormes expectativas por parte da comunidade de imigrantes de que tão sonhada reforma migratória finalmente sairia.
Muitos acham que a decadência moral e espiritual da América se dá por conta da proibição de se fazer orações nas escolas, como antigamente. Pode até ser que isso tenha colaborado. Porém, não encontramos advertências bíblicas de que a ira de Deus se acenderia caso as crianças não orassem mais nas escolas, ou tivessem que aprender outra teoria que não fosse o criacionismo. Em vez disso, a advertência de Deus diz respeito ao tratamento dado aos estrangeiros. Pelo jeito, tem muita gente coando mosquito e engolindo camelos.
Outros alegam que tais leis imigratórias visariam coibir o aumento de criminalidade, diretamente ligado à imigração ilegal. Afinal, dizem eles, uma significativa parcela de crimes é praticada por estrangeiros. Ora, este raciocínio, além de preconceituoso, é raso e falacioso. Por que jovens imigrantes se envolvem com o crime? Não será pelo fato de não poderem concluir seus estudos? Ou ainda por não terem acesso ao mercado de trabalho formal? Quiçá estejamos invertendo a ordem, enxergando causas onde há efeitos, e efeitos onde há causas.
Quantos jovens imigrantes são vítimas de bullying nas escolas americanas… Pergunte aos meus filhos. Eles te dirão o que têm testemunhado cotidianamente. Se isso não é afligir o imigrante, o que é, então? Com quem estas crianças aprendem a desprezar colegas de outras etnias ou nacionalidades? Muitos ouvem seus pais acusarem os imigrantes por estarem desempregados, e acabam descarregando suas frustrações nos colegas da escola.
Não basta simplesmente não aflingir o imigrante. A orientação bíblica vai além:
“Como o natural entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco. Amá-lo-eis como a vós mesmos, pois fostes estrangeiros na terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv. 19:34).
O imigrante precisa ser aceito, amado, acolhido. E mais: Deve ser tratado como se fosse nativo. Em momento algum Deus ordena que se dê privilégios aos imigrantes, e sim, que seja tratado sem discriminação. Caso contrário, o juízo de Deus vem.
Deve-se amar o estrangeiro, pelo simples fato de que Deus o ama (Dt.10:17-19).
O trato que Deus ordenou que Seu povo dispensasse ao estrangeiro era de tal ordem, que é usado como referência para o trato que devemos dispensar a nossos irmãos, quando estes atravessarem alguma dificuldade econômica:
“Quando teu irmão empobrecer e as suas forças decaírem, sustentá-lo-ás como a um estrangeiro ou peregrino, para que viva contigo” (Lv.25:35).
Quem diria... Em vez de o estrangeiro ser tratado como irmão, o irmão que deveria ser tratado como estrangeiro. Porém, hoje, tratar um irmão como se fosse um estrangeiro, seria considerado um total descaso, dado o desprezo com que tratamos àqueles que consideramos diferentes de nós.
Portanto, não se pode tomar o estrangeiro como bode expiatório da crise econômica. É comum justificar a perseguição aos imigrantes alegando que estes estejam tomando as vagas de emprego que poderiam ser ocupadas por americanos. Será que o americano estaria disposto a assumir o tipo de serviço exercido pela mão-de-obra estrangeira?
Ocupemo-nos por um pouco sobre os aspectos políticos que envolvem a reforma migratória promovida por alguns Estados americanos.
Recente relatório do censo populacional sobre a população latina nos Estados Unidos com aproximadamente 50 milhões, tem desencadeado um debate de que serão a “chave” nas eleições de 2012 do país norte-americano. Há mais latinos do que negros no EUA. Se todos os imigrantes latinos fossem legalizados e com isso, obtivessem o direito ao voto, poderiam decidir qualquer eleição. A perseguição aos imigrantes, sobretudo, de origem latina, tem o sórdido objetivo de diminuir sua influência política. Algo semelhante ao que Faraó intentava, ao ordenar a morte dos infantes hebreus.
Do ponto de vista econômico, a reforma migratória da Flórida equivale a dar um tiro no pé. Só em 2009, os brasileiros injetaram mais de 4 bilhões de dólares na economia americana. No ano seguinte, teriam sido mais de 10 bilhões. Não são só os pastores que estão preocupados. O comércio, a indústria hoteleira, e até os parques têm razões de sobre para se preocuparem. Imagine, por exemplo, se os brasileiros, que hoje são responsáveis pelo segundo maior número de visitantes de Orlando, resolvessem boicotar a cidade? Não se esqueçam que a Disney não é exclusividade da Flórida. Além dos parques da Califórnia, também há parques na Europa e Ásia.
Urge que se levante alguém com o cacife profético de Martin Luther King Jr., para conclamar a população latina a unir-se em busca por seus direitos civis. Brasileiros e hispanos estão no mesmo barco. Somos todos latinos, com nossas convergências culturais, e não podemos disperdiçar a oportunidade histórica de lutarmos pelas próximas gerações. Este país ainda será governado por um presidente de origem latina. Quem viver, verá.
Bispo Hermes, não é só aí na Flórida que vai começar a caça.
ResponderExcluirJá Passei o mesmo em Portugual, onde o Brasileiro é totalmente mal vindo.
Me pesrseguiram até eu não aguentar mais, e voltar para o Brasil, olha que eu estava legalmente no país.
Esta onda de terrorismo no mundo, os países estão fechando as portas para os imigrantes seja lá quem for.
Este versículo que vc relatou em Lv 19.34 concordo plenamente e vou mais além.
Amar o próximo inclui amar os estranhos( os forasteiros e residentes estrangeiros) que vêm morar onde vivemos.
Jesus Cristo destaca a mesma coisa na parábola do bom samaritano em Lucas 10.25-37.
O próprio Deus amava o seu povo quando eram estrangeiros, e requer que façamos o mesmo.
Deus quer abençoar todas as nações do mundo
Gêneses 12.3; Jo 3.6.
Meu irmão, se Deus não quizer nada poderá fazer o homem.
Tudo está no controle de Deus.
Olha Bispo, eu acho que se a pessoas é crente em Jesus e está ilegal lá fora está errado. Eu sei que muitas igrejas vivem do dizimo e das ofertas dos imigrantes ilegais. Eu acho que os que sao crentes de verdade deveriam retornar às sua pátrias crendo que Deus suprirá as suas necessidades, muitos que estão lá fora nao estao por uma missão, mas por pura ganância, um desejo cada vez maior de ter mais e mais. Os pastores devem incentivar a honestidade, a fé e o bom caráter. Que possamos orar para que as pessoas se convertam de verdade e deixem de lado o "sonho americano" que muitas vezes está recheado da mais sórdida ganância.
ResponderExcluirOlha Bispo, eu acho que se a pessoas é crente em Jesus e está ilegal lá fora está errado. Eu sei que muitas igrejas vivem do dizimo e das ofertas dos imigrantes ilegais. Eu acho que os que sao crentes de verdade deveriam retornar às sua pátrias crendo que Deus suprirá as suas necessidades, muitos que estão lá fora nao estao por uma missão, mas por pura ganância, um desejo cada vez maior de ter mais e mais. Os pastores devem incentivar a honestidade, a fé e o bom caráter. Que possamos orar para que as pessoas se convertam de verdade e deixem de lado o "sonho americano" que muitas vezes está recheado da mais sórdida ganância.
ResponderExcluirNão sei se respondo a Vivian ou a João Marcos...
ResponderExcluirComo são os mesmos comentários, respondo aos dois, mesmo porque, parece-me que são marido e mulher, certo?
Não estou defendendo a ilegalidade. A maioria dos imigrantes brasileiros aqui na América deseja se legalizar. O problema é que não há interesse político de legalizá-los.
Como se não bastasse tudo o que sofrem neste país, ainda têm que aguentar a acusação vinda de muitos irmãos, entre os quais, aqueles que um dia estiveram na mesma situação. É lamentável.
Acho precipitado afirmar que tais imigrantes estejam aqui por "sórdida ganância". Será que poderíamos dizer o mesmo daqueles que deixaram o nordeste brasileiro para tentar a vida nas capitais do sudeste? Creio que não. O que os motiva é a busca por oportunidade, o que nem sempre encontram em sua própria terra.
vocês gostam tanto dos imigrantes, acolham-nos nas vossas casas e cedam-lhes os vossos empregos seus parasitas
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