quarta-feira, agosto 13, 2014

13

Diga-me o que vestes, e eu direi quem tu és...



Hermes C. Fernandes


Antigamente não havia grifes e etiquetas. As roupas eram feitas sob medida por costureiras e alfaiates anônimos. Mais tarde, criou-se a etiqueta para identificar o fabricante, porém, esta ficava escondida do lado avesso. Ainda mais tarde, algumas calças jeans começaram a exibir sua marca discretamente, costurada do lado externo do bolso. Agora, tenho a impressão que as pessoas usam a etiqueta, e não a roupa. As pessoas fazem questão de exibi-la, porque tornou-se sinônimo de status. O que elas não percebem é que estão fazendo propaganda dessas marcas, sem receber nada por isso.

É claro que para que uma marca se destaque no mercado, tem que satisfazer seus clientes com produtos de qualidade. Aos poucos vai conquistando credibilidade junto ao mercado, e às vezes, chega a valer mais do que seus produtos. A marca “coca-cola”, por exemplo, é uma das mais valiosas do mundo, ultrapassando em valor os seus produtos.

Não há nada de errado em querer usar um produto de grife famosa. O problema é quando isso passa a nos definir.

Não sou o que uso, o que como, o que visto, nem mesmo os lugares que frequento.

Então, o que nos definiria?

Muitos dos que seguiam a Jesus, seguiram antes a João Batista. E desde que este apresentou seu primo da Galileia como “o Cordeiro de Deus”, o número de seus seguidores caiu drasticamente. Questionado acerca disso, João respondeu: “Convém que Ele cresça, e eu diminua”. Mesmo acusado de ter cometido suicídio ministerial, João estava convicto de que cumprira sua missão, e que agora deveria sair de cena para ceder lugar ao tão esperado Messias.

Certo dia, depois de responder a alguns enviados de João acerca de Sua identidade e missão, Jesus dirigiu-se à multidão, e perguntou: “Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?” (Mt.11:7). Diferente de Jesus que desenvolveu um ministério urbano, João escolheu o deserto como cenário de sua missão. Seu ministério contrariava todas estratégias apontadas pelo marketing para que se alcance êxito. A começar pela localização. Quem, em sã consciência, faria de uma região inóspita seu QG? Mas o fato é que João conseguiu arrastar uma multidão para o deserto. E isso, sem apelar às performances miraculosas ou a sermões popularescos.

Aquele profeta excêntrico não era definido pelo ambiente.

Jesus prossegue com suas perguntas à multidão:

“Sim, que fostes ver? Um homem ricamente vestido? Os que trajam ricamente estão nos palácios dos reis” (v.8).
Somos informados em outras passagens que João se vestia como um homem das cavernas. Em vez de linho, pele de camelo. Bem diferente de Jesus, que trajava uma túnica tão fina que foi disputada pelos soldados romanos que o crucificaram. Porém, nenhum dos dois era definido por aquilo que vestia. Jesus se vestia para a cidade. João, para o deserto. Nenhum estava preocupado em impressionar quem quer que fosse. Embora as portas dos palácios sempre estivessem abertas para recebê-lo, mesmo que sua mensagem fosse, às vezes, ofensiva ao rei, o Batista se sentia mais à vontade no deserto.

Jesus prossegue:
“Mas, então que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta. João é aquele de quem está escrito: Adiante da tua face envio o meu anjo, que preparará diante de ti o teu caminho” (vv.9-10).
Eis o que o definia: o propósito de sua existência. Sua missão era preparar o caminho para Cristo. Ao cumpri-la, João declarou: “Agora, minha alegria está completa”. Quanta satisfação há em cumprirmos nossa missão! É isso que nos torna pessoas realizadas. Engana-se quem imagina que a sensação de realização dependa da aquisição de bens materiais. Muito mais do que a sensação que temos quando adentramos um carro zero e inalamos aquele cheiro de estofado novo, muito mais do que quando fazemos aquela tão sonhada viagem, muito mais do que quando pára aquele caminhão em frente à nossa casa para descarregar móveis novos, é a sensação sublime de havermos cumprindo nossa missão.

Somos, portanto, definidos pela nossa vocação. Somos aquilo para o qual fomos enviados ao mundo. Nem mais, nem menos.

Um pouco mais adiante no texto, Jesus diz:
“Mas, com quem compararei esta geração? É semelhante a meninos que se assentam nas praças e gritam aos seus companheiros: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes. Pois veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo de cobradores de impostos e pecadores” (vv.16-19a).
Definitivamente, João e Jesus tinham estilos completamente diferentes. João se alimentava de mel e gafanhotos. A dieta de Jesus era basicamente pão, peixe e vinho. João parecia um eremita, preferindo a solicitude do deserto. Jesus vivia cercado de gente, e nem sempre gente da melhor estirpe. Porém, nenhum dos dois era definido pela companhia, pelos ambientes que frequentavam, ou mesmo pelo estilo. Se o adágio popular que diz “diga-me com quem andas, e direi quem tu és” estiver certo, teremos que presumir que Jesus não era lá estas coisas…

Jesus não se deixava definir nem pela maneira como as pessoas O recebiam. Suas opiniões não O afetavam. Chegaram mesmo a acusá-lO de estar possuído de demônios. Mas Jesus não dançava conforme a música que tocavam. Seu compromisso era com a agenda do Reino de Deus, e não com as expectativas humanas. Se dependesse de alguns de Seus discípulos, Jesus teria Se aproveitado da enorme popularidade que alcançara em Jerusalém para tomar o poder, organizar um exército e banir de lá os romanos. Porém, Sua mensagem era tão subversiva que não servia a qualquer interesse político, quer das castas sacerdotais, ou das classes populares.

Que digam o que quiserem sobre nós. Que nos julguem pela embalagem, pela maneira como nos vestimos ou pelo carro que dirigimos, ou mesmo pelos amigos que temos. Não importa! Nada disso poderá distrair-nos de nossa missão. Como João, creio que fomos enviados a preparar caminho para as próximas gerações, e sobretudo, preparar o caminho para Cristo.

13 comentários:

  1. Estimado Irmão Hermes! Excelente artigo. Tiremos as vestes antigas da hipocrisia.
    Meu Blog que vc seguia teve problema com o Layout. Gostaria que vc seguisse este meu novo Blog, se for de sua vontade. Fique na Paz de Deus: http://eugeniochristi.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  2. Anônimo4:17 PM

    Pôxa, que descoberta seu blog..Precisava ler uma mensagem dessa, estava mesmo a questionar sobre o assunto ultimamente, a importancia de se SER e Ter atravês das marcas.Perdemos nossa identidade, precisamos ensinar a resgatá-la..principalmente para nosso filhos adolescentes..
    Muito inspirado você Deus abençõe!
    Visite meu blog, é apenas uma sementinha!Rs!

    ResponderExcluir
  3. Anônimo5:17 PM

    assim caminha os evangélicos,uns de paulo outros de pedro outros disto e daquilo,cheios de rotulos e marcas.

    ResponderExcluir
  4. Hermes

    Sigo seu blog, mas nem sempre posto comentários. Mas saiba que suas mensagens sempre me fazem refletir a maneira que o Evangelho é vivido atualmente.

    Com relação a essa em especial, eu pelo menos não me enquadro nesse grupo consumista, pois nunca me vestir pela marca, mas pelo que me deixa confortável no corpo e no bolso rsrsrs

    Acredito que a única marca que devemos fazer questão de ter é a MARCA DE CRISTO. Essa sim merece ser exibida com orgulho.

    Deus o abençoe sempre!

    ResponderExcluir
  5. Barbosa8:49 AM

    BISPO HERMES,DEUS TE ABENÇÕE!
    PARA REFLEXÃO DO DIA!
    HÁ VÁRIOS CAMINHOS.
    NA BÍBLIA SAGRADA,NO LIVRO DE PROVÉRBIOS 14.12, DIZ O SEGUINTE:
    HÁ,CAMINHO QUE AO HOMEM PARECE DIREITO,MAS O FIM DELE SÃO OS COMINHOS DA MORTE.
    ASSIM DIZ A PALAVRA DO DEUS VIVO!
    A SABEDORIA HUMANISTA É INSUFÍCIENTE PARA DETERMINAR O QUE É VERDADEIRO OU FALSO,BOM OU MAU.
    A REVELAÇÃO ESCRITA DA PARTE DE DEUS É A ÚNICA FONTE INFALÍVEL PARA SE DETERMINAR O CAMINHO CERTO DA VIDA.
    O CAMINHO TRAÇADO PELO HOMEM CONTÉM AS SEMENTES DA MORTE;O CAMINHO DE DEUS LEVA À VIDA ETERNA.
    No livro de Salmos 86.11 diz: Ensina-me,SENHOR,o teu caminho,e andareis na tua Verdade;une o meu coração ao temor do teu nome.
    ENSINA-ME,SENHOR,O TEU CAMINHO.
    Em meio às suas lutas,o salmista pede humildemente que DEUS lhe ensine seus caminhos e sua Verdade,para o sirva de coração. Nas provações e dificuldades devemos clamar a DEUS,pedindo sabedoria para andar em seus caminhos,e um coração que Verdadeiramente o tema e que se deleite na sua Vontade;
    (SOMENTE A DE DEUS O TODO PODEROSO!).
    TERMINANDO: No livro de Salmos 119.105 diz:
    Lâmpada para os meus "PÉS" é tua Palavra e "LUZ",para o meu "CAMINHO".
    LÂMPADA PARA OS MEUS PÉS É A TUA PALAVRA!
    A Palavra de DEUS contém os princípios espirituais que nos ajudarão a evitar tristezas,ciladas e tragédias causadas por decisões e escolhas erradas. Portanto,devemos ter em grande estima a sua sabedoria,e sermos fiéis aos seus preceitos em todas as circunstâncias da vida; ver Salmos 119.106,112,este versículo 112 diz: Inclinei o meu coração a guardar os teus estatutos,para sempre,até ao fim.
    JESUS CRISTO DIZ:EU SOU O "CAMINHO","A VERDADE" E "A VIDA".
    A VERDADEIRA MARCA DE JESUS CRISTO EM NÓS,É: (" O NOSSO NOME ESTÁ ESCRITO NO LIVRO DA VIDA")
    ATRAVÉS DE JESUS CRISTO,E SEU SANGUE QUE FOI DERRAMDO NA CRUZ! OH! GLÓRIAS!
    IRMÃO HERMES,FICAI FIRME EM JESUS CRISTO DE NAZARÉ! PORQUE VIRÁ TEMPOS DIFÍCEIS,AS PERSEGUIÇÕES VIRÃO AOS VERDADEIROS CRISTÃOS.
    DEUS TE ABENÇÕE MEU IRMÃO!

    ResponderExcluir
  6. Excelente e CONTEMPORÂNEA essa mensagem. Estamos em época de definição quanto a sistema de vida e comportamento. Mais que nunca, o povo de Deus é desafiado a se definir quanto aos propósitos de sua existência. Não há, aliás nunca houve, a "confortável" posição de indefinição, em cima do muro. Ou nos colocamos ao lado das fiéis testemunhas do passado, ou nos alinhamos com os fariseus, saduceus e os vendilhões do templo. Tenho só um gravíssimo defeito a apontar nessa postagem. Defeito esse quase imperdoável por mim, que sou Paranaense, criado entre fazendas de plantação de café, lá do Norte do Paraná. Que negócio é esse de "CAFÉ GELADO", hein, seu herege? Sentí arrepios só em iumaginar o gosto desse "café". Nesse exato momento, estou degustando uma enorme e transbordante caneca de CAFÉ QUENTÍSSIMO, quase fervendo. Espero que ese meu "ato profético" espante qualquer tipo de maldição, inclusive as hereditárias...

    ResponderExcluir
  7. É claro que não dispenso um café bem quente, como o que eu estou tomando agora mesmo. Mas um café gelado também entra muito bem. Principalmente se for um frapé.Experimenta e depois me diz. Eu também achava que deveria ser horrível quando via algum amigo meu americano tomando. Depois que experimentei, tornei-me adepto desta heresia. rs

    Obrigado a todos pelos comentários.

    ResponderExcluir
  8. Brother descobrí mais uma coisa que tenho em comum com você, além do texto que concordo 100% e Starbucks rsrsrs. Infelizmente percebo que uma grande parte dos ditos evangelicos não entendem o que venha a ser reino e muito menos chamado. Abraços, Carlos Rizzon
    www.igrejaurbana.org

    ResponderExcluir
  9. Hermes,
    Ótimo texto, parabéns!

    ResponderExcluir
  10. Anônimo10:25 AM

    Mt legal esse post!
    Inovador! =)
    Nunca vi ninguém abordar esse assunto.

    @danysussa

    ResponderExcluir
  11. Anônimo12:52 PM

    Diga-me o que vestes, e eu direi quem tu és... Este Título condiz com a imagem que encabeça o texto, mas, o texto é profundamente mais Rico que a mensagem introdutória.
    O Mundo está perdido numa confusa valorização do periférico sediado na superfície materializada do Ser. A parte introdutória do texto aponta pra esta nuance vazia de significados que engorda e falsifica mais e mais a autenticidade originária do Ser.
    O Mundo observa as túnicas e aparências e releva o que estas transportam no âmago sediado na profundeza da essência inconsciente com a adição manifesta da consciência.
    Este exercício lacaniano vai nos auxiliar a valorizar o Ser e ajudá-lo a 'parar' de conjugar o verbo da Mídia que arrebanha multidões deficitárias de existência.
    A História secular é uma Via de mão Única, mas, aquele que consegue renunciar a macha prescrita pela Mídia transitória e congregar com os que visualizam a possibilidade de vestir-se do mesmo modelo de Túnica durante toda a sua macha sobre a Terra, vão marcar sua legitimidade no meio da vulnerável existência dos que rezam a profecia proclamada pela Mídia.
    O caldo do texto está no exercício manifesto por João no Deserto e no ministério contemporâneo de Jesus que anunciava a humanidade que o Reino dos Céus era chegado.

    ResponderExcluir
  12. Diga-me o que vestes, e eu direi quem tu és... Este Título condiz com a imagem que encabeça o texto, mas, o texto é profundamente mais Rico que a mensagem introdutória.
    O Mundo está perdido numa confusa valorização do periférico sediado na superfície materializada do Ser. A parte introdutória do texto aponta pra esta nuance vazia de significados que engorda e falsifica mais e mais a autenticidade originária do Ser.
    O Mundo observa as túnicas e aparências e releva o que estas transportam no âmago sediado na profundeza da essência inconsciente com a adição manifesta da consciência.
    Este exercício lacaniano vai nos auxiliar a valorizar o Ser e ajudá-lo a 'parar' de conjugar o verbo da Mídia que arrebanha multidões deficitárias de existência.
    A História secular é uma Via de mão Única, mas, aquele que consegue renunciar a macha prescrita pela Mídia transitória e congregar com os que visualizam a possibilidade de vestir-se do mesmo modelo de Túnica durante toda a sua macha sobre a Terra, vão marcar sua legitimidade no meio da vulnerável existência dos que rezam a profecia proclamada pela Mídia.
    O caldo do texto está no exercício manifesto por João no Deserto e no ministério contemporâneo de Jesus que anunciava a humanidade que o Reino dos Céus era chegado.

    PAIXÃO, Edson.

    ResponderExcluir