Por Hermes C. Fernandes
“E propôs-lhes esta parábola: O campo de um homem rico produziu com abundância. Então ele arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos. Descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: LOUCO, esta noite te pedirão a tua alma. Então o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus” (Lc.12:16-21).
Jesus contou esta parábola na ocasião em que fora procurado por um homem que disputava uma herança com seu irmão. Em vez de tomar partido, Jesus lhe chama a atenção pela avareza de seu coração, e diz que a vida do homem não consistia na abundância dos bens que possuía.
Jesus contou esta parábola na ocasião em que fora procurado por um homem que disputava uma herança com seu irmão. Em vez de tomar partido, Jesus lhe chama a atenção pela avareza de seu coração, e diz que a vida do homem não consistia na abundância dos bens que possuía.
Imagine dois irmãos que cresceram juntos, receberam a mesma educação, e que deveriam se amar, agora, depois da partida de seu pai, tornam-se inimigos. Tiago estava certo ao perguntar: “De onde vem as guerras e contendas entre vós? Não vêm disto, dos prazer que nos vossos membros guerreiam? Cobiçais, mas nada tendes. Matais e invejais, mas não podeis obter o que desejais...” (Tg.4:1-2a). Tudo isso porque insistimos no erro de amar as coisas e usar as pessoas para obter o que desejamos. Que revolução experimentaríamos em nossa sociedade se aprendêssemos a usar as coisas e a amar as pessoas!
Desde cedo em nossas vidas, aprendemos a comparar o que temos com o que os outros possuem. Daí nasce a inveja, a competitividade e as desavenças. Quem não lembra do momento em que a família se reunia para abrir os presentes de natal? A gente abria o presente mirando o presente do irmão, e se perguntando a razão do dele parecer maior que o nosso.
A grama do vizinho sempre parece mais verde que a nossa. Ficamos mais incomodados com o sucesso alheio do que o nosso próprio fracasso. E tem gente que se atreve a recorrer a Deus em busca de uma explicação, ou mesmo de uma restituição. Acham que Deus tem a obrigação de repartir todas coisas igualmente. Foi exatamente o que aquele homem fez, e acabou ouvindo de Jesus: “Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?”
Compete aos homens repartirem entre si. A terra e todas as suas riquezas estão aí para serem compartilhadas e não concentradas em poucas mãos. Não é o governo, nem qualquer instituição humana que deve intrometer-se nisso. É a consciência transformada pela graça que nos estimula a repartir nosso pão. O que precisamos não é de novas leis que nos obriguem a isso, mas de novas referências que nos estimulem a isso.
Quem tem sido nossa referência de sucesso? Em quem nos espelhamos? Muitos cristãos sinceros elegeram Bill Gates, considerado o homem mais rico do mundo, como o alvo a ser perseguido. – Quero ser como ele quando crescer! Diriam alguns. Outros elegeram os pastores das megaigrejas, que aparecem com freqüência na TV. Outros elegeram personagens revolucionários da história, como Che Guevara, Gandhi ou Mandela. Outros preferem grandes nomes do cinema ou dos esportes. Todos têm em comum a fama e o sucesso naquilo que se propuseram fazer, seja no campo empresarial, político, cultural ou religioso. E quem não almeja o sucesso? Quem não gostaria de ser reconhecido, ter seu nome nos anais da história, exibir troféus e medalhas, ter suas pegadas gravadas na calçada da fama?
Nesta parábola contada por Jesus, é-nos apresentado um homem que sem dúvida poderia ser tomado como exemplo de sucesso em nossa sociedade capitalista. Naquele ano, seu campo produziu em abundância (Lc.12:16). Para os ouvintes imediatos de Jesus, aquilo era sinônimo de sucesso. Ele já era rico, e agora ficara mais rico ainda. Teria coisa melhor que isso? Por causa de seu ininterrupto sucesso, “ele arrazoava consigo mesmo, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens”. Para ele, seu único problema era logístico. Onde armazenar tudo aquilo? Em momento algum ele considerou repartir seus frutos com outros. Seu objetivo era amealhar, concentrar, preservar e desfrutar sua riqueza.
Nossa sociedade capitalista vive num círculo vicioso. Quanto mais produz, mais necessita de consumo. As pessoas são bombardeadas de propagandas que as estimulam a acumular bens, até que não tenham mais onde guardar.
Aqui nos Estados Unidos as pessoas usam suas garagens para guardar o que já não cabe mais dentro da casa. Quando a garagem já não comporta, elas fazem uma “garage sale”*, ou simplesmente jogam fora. É comum ver televisores, computadores e outros bens de consumo jogados no lixo.
Se o consumo cai, a produção é afetada, e isso acaba provocando demissões e desemprego. Para manter o pique da produção, o governo estimula as empresas a exportarem.
O século XXI deverá ser caracterizado como o século do desperdício. Para manter a economia aquecida, as pessoas compram o que não precisam. Novas tecnologias surgem, e com elas, novas necessidades. A roda não pode parar!
As pessoas são levadas a acreditar que a aquisição e o acúmulo de bens, além de produzir conforto material, também elevam seu status, garantindo-lhes realização e satisfação.
Vendo seus celeiros abarrotados, aquele homem convidou sua alma para uma conferência:
“Então direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos. Descansa, come, bebe e folga.”
Quem não almeja este estado de espírito? Quem não quer se realizar profissionalmente? Garantir uma aposentadoria regalada? Este é o sonho de consumo de onze em cada dez pessoas. E em certo sentido, não há nada de errado com isso. O livro de Eclesiastes está aí para justificar tal postura.
Então, por que Jesus encerra a parábola dizendo que Deus o chamou de louco?
“Mas Deus lhe disse: LOUCO, esta noite te pedirão a tua alma. Então o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.”
Sua farta colheita lhe garantia o que vender por muitos anos. Seus grãos estavam bem guardados e prontos para serem consumidos. Seus armazéns estavam prontos para serem concorridos por uma clientela exigente.
Era hora de descansar e deixar que seus empregados trabalhassem na venda de seus produtos. O que ele não esperava era que naquela noite alguém pediria sua alma.
Se pedissem trigo, ele tinha de sobra. Se pedissem vinho, ele tinha estocado. Se pedissem azeite, idem. Mas que estória era essa de pedir sua alma?
Este tem sido o preço pago por nossa sociedade em seu afã de acumular bens. Nossa alma está hipotecada. Nossa cama confortável é incapaz de nos garantir um sono tranqüilo. Nossa geladeira abastecida é incapaz de garantir que tenhamos um momento de comunhão à mesa com nossa família. Nossa lareira é incapaz de aquecer o frio que nos faz tremer por dentro. Nossas TV’s de LCD podem até nos distrair, mas não podem preencher o vazio de nossa alma. Nossas férias não podem nos prover genuíno descanso.
Nossa alma foi negociada juntamente com os produtos e serviços que oferecemos. E a reboque, nossa família tem sido preterida, os verdadeiros amigos desprezados e trocados por colegas do mesmo ramo. Chega um momento em que já não temos com quem compartilhar nossas realizações e ficamos a sós com nossa alma. Tentamos, então, driblar nossa consciência, tranqüilizando nossa alma, convencendo-a de que valeu a pena todo o sacrifício. Noites mal dormidas, casamento destruído, filhos perdidos no mundo, tudo isso foi o preço que tivemos que pagar por algo que desse maior prazer à nossa própria alma. Mas ela ainda não está convencida. Ela sabe que no fim, ela mesma será o preço final que teremos que pagar. Por isso Deus o chama de louco. Ele negociara o inegociável.
O que fazer alguém que não tem com quem conversar, senão com sua própria alma? Ela fora tudo o que lhe restara. Mas naquela noite, ela seria pedida.
“Então, o que tens preparado, para quem será?”, pergunta o Criador.
Sendo aquela a sua última noite, de que serviria todos os seus bens? Embora esta seja uma questão pertinente, não é a que fora levantada por Jesus.
Não se trata de não poder desfrutar dos bens adquiridos, e sim, para quem seriam deixados.
Afinal, para quem estamos trabalhando o tempo inteiro?
Você já viu um caminhão de mudanças seguindo um carro fúnebre? Ou mesmo um caixão com gavetas? Ora, se não podemos levar nada deste mundo, para quem estamos deixando o fruto do nosso trabalho?
“Porque nada trouxemos para este mundo, e nada podemos levar dele” (1 Tm.6:7).
Quantas pessoas têm sido abençoadas através daquilo que produzimos? Quantas serão beneficiadas quando deixarmos este mundo? Deixaremos apenas uma herança, ou também um legado?
Em vez de nos deixarmos consumir por um sonho de consumo, abracemos o sonho de deixarmos nossa contribuição particular por um mundo mais justo. Toda vez que estabelecemos um sonho de consumo como alvo de nossa existência, é a nossa alma que é consumida. Aos poucos ela é carcomida pela avareza e pelo auto-engano.
Não negocie sua alma. Não a penhore. É um preço que você não poderá cobrir depois.
Jesus termina Sua parábola dizendo que semelhante àquele homem “é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus”.
O problema não é ajuntar, e sim, ajuntar para si. Cristo nos convida a ajuntar terouros no céu, e assim tornarmo-nos ricos para com Deus.
Como enviar uma remessa para o céu? Pelo que eu sabia, não há bancos por lá.
Jean Paul Sartre, o filósofo existencialista francês, diz que “o inferno é o outro”. Como ateu que era, Sartre não acreditava em céu nem inferno. Mas ele entendia que o abismo que nos separa do outro é tão grande, que seria impossível transpô-lo. Por isso, para ele a figura do outro era a representação do mais profundo abismo, o inferno. Na contramão deste tipo de existencialismo, o Evangelho parece nos indicar que o outro é o céu. Voltar-nos para o próximo é voltar-nos para Deus. Deixar nosso egoísmo para viver em função do bem comum é vivenciar o céu aqui na terra.
Toda vez que investimos em nosso próximo, estamos depositando em nossa conta celestial. Quando usamos os recursos de que dispomos em prol do futuro da humanidade, estamos depositando no banco do céu.
Por isso Paulo ordena que os ricos não ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, e que façam o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir, e que, assim, acumulem para si mesmos um BOM FUNDAMENTO PARA O FUTURO (1 Tm.6:17-19).
Quando nossa voz se calar, nosso legado falará por nós. Partiremos deste mundo, mas deixaremos um bom fundamento para o futuro, para que as próximas gerações edifiquem sobre ele.
Pensar apenas no aqui e agora é loucura aos olhos de Deus. Trabalhar visando apenas nosso aprazimento é no mínimo insensatez. Mas enfocar nossos esforços no bem comum é sabedoria do alto.
Se vivermos tais princípios de sabedoria, a única coisa que deixaremos além de um legado, será saudade.
Postado originalmente em 01/02/10
A cada dia que passa minha felicidade é encontrar alegria na alegria do próximo. E passar isso adiante...
ResponderExcluirFazer com que minha mão esquerda nem saiba pra quem eu doei o que tinha na mão direita. É uma luta pra todos os dias, confesso, mas há um tal prazer nessa luta que não dá pra negociar...
Lembro-me de certo momento Jesus dizer ao Pai que tudo o que ele tinha era do Pai e que tudo o que o Pai tinha era dele..., pra mim demonstra total desprendimento (não sei se essa é a melhor palavra!) e total dependência do Pai e interdependência nos seus relacionamentos.
Se entendermos que tudo o que temos é do Pai e tudo o que o Pai tem é nosso, talvez compartilharíamos mais, mesmo porque o próprio fato de ajuntar, tendo esse coração, seria um compartilhar com o Pai consequentemente com seus filhos...
Mais uma vez obrigado Hermes. Muito bom!!
A propósito de comentário: fala de uma mulher na região mais atingida pelo terremoto no Japão:
ResponderExcluir"Quero deixar registrado aquí, tenho dinheiro comigo, tenho bom dinheiro da conta bancária, mas não consigo comprar água e alimento.
Vocês que me ouvem, entendam, dinheiro não vale nada, ele não é a coisa mais importante, pensem nisso"
Bispo Hermes, quando Cristo e a trombenta lá no céu mandar tocar, oh quão dia gloriosoo há de ser. DEUS SEJA LOUVADO PARA SEMPRE!
ResponderExcluirGraça e paz de Jesus meu irmão!
Bispo Hermes eu estava pensando sobre as parábolas das semeaduras.
"PARÁBOLAS."
Jesus ensinava frequentemente por parábolas. Parábola é uma ilustração da vida cotidiana, revelando verdades aos que estão com o coração disposto a ouvir, e, ao mesmo tempo, ocultando estas mesmas verdades àqueles cujo coração não está preparado; leiam Is 6.9,10; Mt 13.3.
No livro de Mateus 13.3 diz:
E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear.
"AS PARÁBOLAS DO REINO."
No capítulo 13 de Mateus temos as parábolas do reino dos céus, que descrevem o resultado da pregação do evangelho e das condições espirituais prevalecentes na terra, na esfera da mainifestação visível do reino dos céus, até o fim dos tempos.
1- Em quase todas estas parábolas, Jesus Cristo ensina que dentro da esfera da mainfestação visível atual, do reino dos céus entre os homens, haverá o bem e o mal, e o verdadeiro e o falso. Entre aqueles que professam aqui o seu nome, haverá a apostasia e o mundanismo, bem como infidelidade e falta de piedade. No fim da presente era, o mal será destruído; leiam
Mt 13.41,49, mas "os justos resplandecerão como sol, no Reino de seu Pai" Mt 13.43.
2- Estas parábolas foram proferidas a fim de que os verdadeiros seguidores de Cristo saibam que o mal e a oposição da parte de Satanás e seus seguidores existirão aqui na terra, até mesmo dentro do atual reino visível dos céus; leiam Mt 13.25,38,48, que é a igreja, uma manifestação parcial do pleno e futuro reino prometido por Deus a Davi, e que será regido por Jesus; leiam 2 Sm 7.12,16; Lc 1.32,33; Dn 2.44; Ap 11.15.
A única maneira da pessoa vencer Satanás e a influência do mal será pela dedicação sincera e total a Cristo, e vivendo em santidade para exemplos de bem e do mal dentro das igrejas; leiam Mt 13.44,46 V.43;
Ap 2-3.
3- As parábolas são histórias tiradas da vida diária para descrever e ilustrar certas verdades espirituais. Sua singularidade consite em revelar a verdade aos espirituais e, ao mesmo tempo, ocultá-la dos incrédulos; leiam
Mt 13.11. A Parábola pode, às vezes, demandar uma decisão da pesoa; leiam Lc 19.30.37.
As palavras dita pelo irmão, que se encaixam nos dias de hoje em Tg 4.1,2b e acrescento o versículo 3.
" DONDE VÊM AS GUERRAS E PELEJAS ENTRE VÓS.?"
A origem principal das contendas e conflitos na igreja concentra-se no desejo de reconhecimento, honrarias, glória, poder, prazer, dinheiro e superioridade. A satisfação dos desejos egoístas torna-se mais importante do que a retidão e a vontade de Deus; leiam
Mc 4.19; Lc 8.14; Gl 5.16,20. Quando isso ocorre, surgem conflitos egocêntricos na congregação. Os causadores dessa situação demonstram que não têm o Espírito e que estão fora do reino de Deus; leiam Gl 5.19,21;
Jd versículos 16,19.
"GUERREAIS." TIAGO 4.2.
Esta palavra pode ser usada aqui figuradamente no seintido de odiar; leiam Mateus 5. 21,22.
O versículo de Tg 4.3 diz: Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vosso deleite.
" PEDIS E NÃO RECEBEIS."
Deus deixa de responder as orações dos que amam os prazeres e que desejam honra, poder e riquezas; Leiam Tg 4.1.
Todos devemos tomar consiência disso, porque Deus não ouvirá as nossas orações se tivermos o coração cheio de deseijo egoístas.
As Escrituras nos nos dizem que Deus aceita somente as orações dos justo, daqueles que o invocam em verdade, dos genuinamente arrependidos e humildes e daqueles que pedem segundo a sua vontade; leiam
Sl 34.13,15; 66.18,19; 145.18; Lc 18.14; I Jo 5.14.
Bispo Hermes, infelizmente algumas igrejas estão contaminadas pelo poder financeiro, e prazeres carnais.
Que Deus tenha misicordia dos seus santos, seu povo.
"MARANATA JESUS!"
A nota do Dólar diz "In God We Trust", a nota do Real diz "Deus seja louvado". A "igreja" adoradora do dinheiro diz "In Money We Trust" e "Mamom Seja Louvado". Triste isso.
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