sábado, dezembro 05, 2009

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A Revolução que Jesus proclamava

Não era meramente uma revolução moral e social que Jesus proclamava: fica claro por um grande número de indicações que seu ensino tinha uma inclinação política muito manifesta. É verdade que ele disse que seu reino não era deste mundo, e situava-se no coração dos homens e não sobre um trono; porém fica igualmente claro que em todo o lugar e na medida em que seu reino se estabelecesse no coração dos homens, o mundo exterior seria naquela mesma medida revolucionado e renovado.

O que quer que a cegueira e a surdez dos seus ouvintes tenham deixado de captar das suas palavras, é muito evidente que não deixaram de captar sua firme resolução de revolucionar o mundo. Todo o método da oposição levantada contra ele, bem como as circunstâncias de seu julgamento e execução, demonstram claramente que para seus contemporâneos ele parecia estar propondo sem rodeios, e de fato propôs sem rodeios, alterar e fundir e alargar toda a vida humana.

Em vista das coisas que Jesus disse claramente, será de espantar que todos que eram ricos e prósperos tenham intuído um horror de coisas insólitas, o naufrágio iminente de seu mundo diante do seu ensino? Ele estava arrastando todas as pequenas reservas que eles haviam levantado contra o serviço social e trazendo-as para fora, para luz de uma vida religiosa universal. Ele era como um terrível caçador moral que forçava a humanidade para fora das cômodas tocas nas quais tinham vivido até aquele momento. No esplendor branco do reino dele não deveria haver propriedade alguma, privilégio algum, nenhum orgulho e nenhuma preferência; nenhum motivo e nenhuma recompensa que não fosse o amor. Será de espantar que os homens se tenham ofuscado e cegado e clamado contra ele? Mesmo seus discípulos clamavam em protesto quando ele não os poupava da luz. Será de espantar que os sacerdotes tenham percebido que entre este homem e eles mesmos não havia outra escolha, senão que ele ou o sacerdócio teriam de perecer? Será de espantar que os soldados romanos, confrontados e estupefatos diante de algo que se alçava muito além da sua compreensão e ameaçava todas as suas disciplinas, tenham buscado refúgio na risada selvagem, tenham-no coroado de espinhos e vestido de púrpura e feito dele uma versão de César da qual pudessem caçoar? Pois levá-lo a sério era adentrar uma vida estranha e intimidadora; era abandonar hábitos, controlar instintos e impulsos, era ensaiar uma incrível felicidade.

H. G. Wells, Breve História do Mundo (1922) (Via Fora da Zona de Conforto)

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