Sabe qual o comentário que se fazia quando os discípulos chegavam a uma cidade? “Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui” (At.17:6).
Temos vivido uma espiritualidade atraente ou repelente?
Como igreja de Cristo deveríamos exercer um poder de atração semelhante ao Sol, capaz de manter os planetas em sua órbita.
As principais características da igreja primitiva eram:
a) Tinham tudo em comum (amor) – Atos 2:44
b) Perseveravam na doutrina apostólica (verdade) – v. 42
c) Oração (espiritualidade e fé) – v. 42
d) Ambiente alegre impregnado de louvor (alegria) – vv. 46-47
e) Caíam na graça de todo o povo (simpatia) – v.47
Aquela era uma igreja atraente. Todas à sua volta se deixavam contagiar pela graça que se sobressaía entre eles.
Os únicos que nutriam antipatia contra a igreja eram os religiosos invejosos, que se viam ameaçados pelo seu crescimento.
Um episódio extraído do Antigo Testamento para exemplificar o que estamos falando, é o que narra o encontro entre Salomão e a Rainha de Sabá.
O texto bíblico diz que “quando a rainha de Sabá ouviu a fama de Salomão, no que se refere ao nome do Senhor, veio prová-lo por enigmas” (1 Reis 10:1).
A fama do rei a intrigou. Ela queria tirar a prova dos nove. O que a atraía em Salomão não era sua aparência física, ou mesmo a riqueza que ostentava, e sim o que referia ao nome do Senhor. Jamais podemos nos esquecer que carregamos esse nome. Ser “cristão” é carregar a reputação de Cristo.
É vergonhoso para nós ouvir alguém como Gandhi, confessar admirar Jesus, mas não se sentir atraído pelo modo de vida daqueles que dizem segui-lo.
A rainha de Sabá chegou a Jerusalém cercada por uma enorme comitiva. Ela jamais empreenderia uma viagem tão longa sozinha. Da mesma forma, quando atraímos alguém, não podemos perder de vista aqueles que o acompanham.
O carcereiro que se rendeu a Cristo na prisão através do testemunho de Paulo e Silas, levou consigo toda a sua família.
O problema é que enfatizamos demais a salvação individual, e nos esquecemos de que o propósito de Deus abarca toda a nossa rede social, o inclui nossa família e nossos amigos.
O texto prossegue:
“Chegou a Jerusalém com uma grande comitiva, com camelos carregados de especiarias, e muitíssimo ouro e pedras preciosas. Apresentou-se a Salomão, e lhe disse tudo o que lhe ia no coração” (v.2).
Não se abre o coração pra qualquer um! Para que alguém chegue ao ponto de desnudar sua alma, é necessário que haja confiança. Acredito que a rainha de Sabá trazia não apenas curiosidades, mas também questões existenciais que a atormentavam. Se Salomão não desfrutasse de alguma credibilidade, ela jamais se atreveria a abrir-lhe o coração.
Uma igreja atraente deve gozar da confiança da sociedade. Portanto, urge resgatarmos a credibilidade da igreja cristã.
“Salomão respondeu a todas as suas perguntas; nada houve difícil demais que o rei não pudesse explicar” (v.3).
Perdemos a sintonia com o mundo. Este foi o preço do nosso isolamento. Já não nos preocupamos com suas questões. Dizemos em alto e bom som: Cristo é a resposta! Mas sequer procuramos saber quais são as perguntas. Queremos que o mundo nos ouça, porém não paramos para ouvi-lo.
Vale aqui a recomendação de Pedro: “Estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe.3:13b).
“Vendo a rainha de Sabá toda a sabedoria de Salomão, a casa que edificara, a comida da sua mesa, o assentar dos seus oficiais, o serviço de seus criados e os trajes deles, seus copeiros, e os holocaustos que ele oferecia na casa do Senhor, ficou fora de si” (1 Reis 10:4-5).
Gostaria de propor aqui um paralelo entre este texto e aquela que é considerada a rainha das epístolas de Paulo, a carta aos Efésios.
Ao todo, são sete itens observados pela Rainha de Sabá que comprovavam a sabedoria de Salomão:
1 – A casa que edificara
2 – A comida da sua mesa
3 – O assentar dos seus oficiais
4 – O serviço de seus criados
5 – Os trajes deles
6 – Seus copeiros
7 – Os holocaustos que oferecia na casa do Senhor
Cada um desses itens pode ser encontrado em Efésios. Eles são sombras de uma realidade que só nos foi plenamente revelada no Novo Testamento.
Exploremos cada um deles:
1 – A casa que edificara – Em Efésios 2:19-22 lemos: “Assim já não sois estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra angular. Nele todo edifício bem ajustado cresce para templo santo no Senhor. E nele também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito”. Apesar de toda a suntuosidade, o Templo erguido por Salomão era apenas uma figura do verdadeiro templo que seria construído por outro descendente de Davi, a saber, Jesus. Este novo e definitivo templo é a igreja de Deus, a nova humanidade. Bastava olhar a obra empreendida por Salomão para ter uma idéia de quão extraordinária era a sua sabedoria. Semelhantemente, o mundo tem que olhar para nós, para o nosso modo de vida, e perceber que através dele a sabedoria de Deus se expressa. E mais: a casa construída por Cristo deve ser acolhedora. Ninguém deve sentir-se estrangeiro ou forasteiro. Afinal de contas, é casa de oração para todos os povos! Além de acolhedora, deve ser ordeira, organizada. Os veteranos devem ser referenciais para os novatos. Era esta a preocupação de Paulo, ao advertir Timóteo: “Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te em breve; para que, se eu tardar, saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e esteio da verdade” (1 Tm.3:14-15).
2 – A comida da sua mesa – Talvez o que tenha causado mais admiração na Rainha de Sabá não tenha sido propriamente os pratos, ou os talheres, mas a maneira como as pessoas repartiam o pão sentados à mesa. Lembre-se que em Atos, lemos que uma das características marcantes da igreja primitiva era o “partir do pão”e o compartilhar todas as coisas. Este é o sentido original de “comunidade”. Somos uma comunidade edificada ao redor do Trono da Graça. Por isso, temos tudo em comum. A mesa está posta, e o que nela for colocado deve ser repartido. Isso é comunhão. Em Efésios, Paulo adverte: “Aquele que furtava, não furte mais, antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o necessitado” (4:28). Nossa preocupação deve ser sempre com a necessidade do outro, e não com a nossa. Não vale entre nós o ditado que diz “a farinha é pouca, meu pirão primeiro”. E esse “partir do pão” não deve ser apenas no aspecto material, mas também no espiritual. Paulo diz em outra epístola: “O que eu recebi do Senhor, isso também vos dei” (1 Co.11:23). Tudo o que vemos e ouvimos, deve ser compartilhado com outros, caso contrário, não haverá verdadeira comunhão. “O que vimos e ouvimos”, disse João, “isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco” (1 Jo.1:3a). Assim como não devemos furtar, isto é, nos apropriar do que é de outros, também não deve sair de nossa boca qualquer palavra torpe, “mas só a que for boa para promover a edificação, conforme a necessidade, para que beneficie aos que a ouvem” (Ef.4:29). A mesa está posta, todos são convidados!
3 – O assentar dos seus oficiais – A rainha de Sabá ficou impressionada com a disciplina que havia entre os oficiais do Rei. O fato de serem autoridades, não lhes conferia a liberdade de fazer o que quisessem. Eles só poderiam exercer autoridade, se estivessem sob autoridade. E era por reconhecer em Salomão a autoridade outorgada por Deus, que esses oficiais primavam pelo respeito e pela reverência. Em outras palavras, a rainha admirou a maneira como os oficiais exerciam seu ofício, sempre respondendo àquele que estava sobre eles. O trono de Salomão estava acima de seus assentos. Era de lá que vinha a autoridade que lhes fora delegada. Em Efésios 1:18-23, lemos: “Oro também para que sejam iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos, e qual a suprema grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o sentar-se à sua direita nos céus, acima de todo principado, e autoridade, e poder, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro. E sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche tudo em todos.” Toda autoridade provém daquele que está acima de tudo e de todos. Os vinte e quatro anciãos de Apocalipse reconhecem isso ao dispor de suas coroas, e depositá-las aos pés d’Aquele que está no Trono. O fato de Cristo estar assentado em Seu trono de glória é que nos dá a possibilidade de com Ele reinarmos. Se não nos submetemos a Ele, e às autoridades por Ele estabelecidas, tampouco podemos exercer qualquer autoridade. A autoridade de Cristo provém do Pai. Foi Ele quem O exaltou e Lhe deu um nome sobre todo o nome. A nossa autoridade provém de Cristo, que nos elevou juntamente com Ele, e “nos fez assentar nas regiões celestiais, em Cristo Jesus” (2:6).
4 – O serviço de seus criados – Os criados de Salomão buscavam o padrão da excelência. Nada era feito de qualquer maneira. Mesmo na ausência do Rei, eles trabalhavam com afinco para que tudo correspondesse às suas expectativas. Serviam aos convivas, como se servissem ao próprio Rei. Paulo também fala sobre isso em sua epístola aos Efésios. Confira: “Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo. Não obedeçais a vossos senhores apenas quando estão olhando, só para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus” (6:5-6). Uma igreja atraente é aquela que se dispõe a servir a todos à sua volta. Infelizmente, o que temos visto é uma igreja voltada para si mesma. A única razão de estarmos aqui é o mundo. E nosso serviço é constantemente avaliado, não apenas pelo Rei, mas por aqueles a quem servimos. E jamais haverá um tempo em que seremos promovidos de “servos” a “senhores”. Mesmo aqueles que usufruem certa autoridade, nada mais são do que servos do seu povo.
5 – Os trajes deles – Que elegância! Deve ter sido o comentário da rainha. Não é por serem criados, que eles devem andar maltrapilhos. A excelência deve se manifestar tanto no seu serviço, quanto na sua apresentação. Como temos nos apresentado ao mundo? Quais têm sido nossas vestes? Encaremos essas roupas como uma alegoria do nosso modo de vida. Paulo diz aos efésios que eles deveriam se despir do “velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano”, e se renovarem no “espírito do entendimento”, revestindo-se do “novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef.4:22-24). Esta nova roupagem, que nada mais é do que a nova vida em Cristo, deve atrair a atenção do mundo. Não se trata de uma santidade legalista, repelente, nauseante, mas de uma santidade atraente e contagiante. Porém, deve-se ter muito cuidado, porque há peças que não combinam com nossa nova vida. Uma delas é a mentira. Daí a admoestação paulina: “Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo” (v.25). A mentira destoa com o resto da nossa roupa espiritual. Além de “toda amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfemais e toda a malícia”, que devem ser igualmente “tiradas” de entre nós (Ef.4:31). Despidos desses trapos imundos, devemos nos vestir da justiça de Cristo, e “sobre tudo isso”, nos revestir de amor, “que é o vínculo da perfeição” (Cl.3:14).
6 – Seus copeiros – A atenção da rainha de Sabá se volta para os copeiros. Ela os destaca dentre todos os demais criados de Salomão. Por quê? Aquele era um cargo de alta confiança. Ele era o responsável por tudo o que o rei bebia. Naquela época, havia sempre conspirações para derrubar o rei. E uma das armas usadas pelos conspiradores era o veneno que geralmente era colocado na bebida do rei. Antes de servi-lo, o copeiro tinha que provar o vinho em sua frente. Se ele continuasse vivo, era porque o vinho estava puro, sem veneno. Portanto, era um cargo ocupado por pessoas de muita confiança. Não podia haver qualquer mistura na bebida servida ao rei e aos seus convidados. Além disso, as taças tinham que estar permanentemente cheias. Paulo escreve aos Efésios: “E não vos embriagueis com vinho, em que há devassidão, mas enchei-vos do Espírito” (5:18). Mas como se dá esse enchimento? Como manter nossas taças cheias? Eis a resposta: “...falando entre vós com salmos e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” (vv.19-21). Ninguém mantém sua taça cheia isolando-se dos demais. O enchimento do Espírito se dá de maneira coletiva. É “falando entre vós”. Fora do contexto congregacional, estaremos fadados a uma espiritualidade vazia. Mas é quando nos voltamos para os demais, buscando encher suas taças, que nossa taça é repleta. Lembre-se que “estavam todos reunidos no mesmo lugar”, quando “todos foram cheios do Espírito Santo” (At.2:1,4). Eis a razão porque o escritor de Hebreus é tão enfático: “Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixando de congregar-nos, como é costume de alguns” (Hb.10:24-25a).
7 – Os holocaustos que oferecia na casa do Senhor – Acredito que nada chamou mais a atenção da rainha de Sabá do que este item, a qualidade da oferta e do culto que se ofereciam ao Senhor. Aquela era a prova final de que a sabedoria de Salomão excedia à de todos de sua época. Vivemos sob a égide da Nova Aliança, em que os sacrifícios levíticos cessaram. O sacrifício do Filho de Deus foi definitivo, e maneira que não há mais a necessidade de qualquer sacrifício meritório. Entretanto, um novo tipo de sacrifício foi instituído, que Pedro chama de “sacrifícios espirituais” (1 Pe.2:5). O mesmo escritor sagrado que diz que “não resta mais sacrifício pelos pecados” (Hb.10:26b), também diz: “Portanto, ofereçamos sempre por meio dele a Deus sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb.13:15). Os sacrifícios atuais não são motivados pela culpa, mas por gratidão e louvor. Não é por serem espirituais, que tais sacrifícios não devam ter algum aspecto físico e material. Paulo diz aos Romanos que devemos apresentar os nossos corpos “como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, que é o nosso culto racional (Rm.12:1). Portanto, nosso culto a Deus envolve aspectos físicos, e não apenas espirituais. Nossos corpos são oferecidos como instrumentos do Seu amor e da Sua justiça. Já não estamos entregues às nossas paixões e apetites desenfreados. Negamos a nós mesmos, tomamos a nossa cruz, e O seguimos. Esses mesmos sacrifícios espirituais também incluem aspectos materiais. Paulo diz aos Filipenses que a oferta que lhe fora enviada chegou a Deus “como cheiro suave, como sacrifício agradável e aprazível a Deus” (Fp.4:18). Se não fosse assim, não faria sentido a admoestação: “Não vos esqueçais de fazer o bem e de repartir com outros, pois com tais sacrifícios Deus se agrada” (Hb.11:16). Não concordamos que as pessoas devam ser motivadas a sacrifícios como barganha para serem abençoadas. Isso tem provocado escândalo entre os de fora da igreja. Trata-se, antes, de sacrifício de amor, não apenas pela causa do Reino, através de ofertas, mas também pelo bem do próximo, sem importar a fé que professe. É, de fato, uma questão de amor. Paulo diz aos Efésios: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados, e andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Ef.5:1-2). O exemplo foi dado, agora nos cabe segui-lo.
Voltando para o relato do encontro entre Salomão e a rainha de Sabá, deparamo-nos com esta confissão: “Foi verdade a palavra que ouvi na minha terra, acerca dos teus feitos e da tua sabedoria. Porém eu não acreditava naquelas palavras, até que vim, e vi com os meus olhos. Deveras, não me disseram metade; sobrepujaste em sabedoria e bens a fama que ouvi” (1 Reis 10:6-7).
Repare nisso: ela não foi ao encontro de Salomão porque cria. Pelo contrário. Ela foi porque não cria. Se quisermos atrair os que não crêem, devemos, no mínimo, buscar ser coerentes com aquilo que pregamos. E quando as pessoas vierem, que fiquem igualmente surpreendidas! Pois afinal de contas, o Deus a quem servimos é “poderoso para fazer tudo muitos mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” (Ef.3:20).
Que fiquemos além, e jamais aquém das expectativas que o mundo tem a nosso respeito.
Maravilha irmão!Que possamos ser aquilo que dizemos ser e dar testemunho de nossa verdadeira vocação..como seguidores de Jesus!
ResponderExcluirTenho aprendido muito com seus textos...Amém!
Leio-os com fome de quem precisa de alimento p vida, para alma e os confronto com a palavra do Senhor..é só benção, que outros possam beber dessa fonte...
Shalom