Jamais os discípulos de Jesus poderiam imaginar o que assistiram naquela noite: uma inusitada conferência entre Moisés, Elias e Jesus, representando respectivamente três ministérios distintos: a Lei, os Profetas e a Graça (Mt.17:1-8).
Moisés representava a Lei, pois foi o instrumento através do qual ela foi transmitida aos homens. Elias, como principal expoente de uma classe conhecida por sua intrepidez, os profetas. E finalmente, Jesus, o Filho Eterno de Deus, por intermédio de quem a Graça foi revelada aos homens.
De repente, o rosto de Jesus começa a brilhar como o sol, e Suas vestes se tornam resplandecentes. Como que querendo passar uma mensagem, Seu esplendor é tamanho que acaba ofuscando a glória resplandecente nos rostos dos outros dois.
A glória de Cristo absorve a glória da Lei e dos Profetas, sobrepujando-as.
A mensagem era clara e audível: Tanto a glória da Lei, representada ali por Moisés, quanto a glória dos profetas, representados ali por Elias, eram parciais e transitórias, enquanto que a glória revelada em Jesus era completa e definitiva.
Vejamos com mais atenção a diferença entre esses ministérios:
MOISÉS – Em 2 Coríntios 3:13, lemos: “E não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face para que os filhos de Israel não fitassem o fim daquilo que desvanecia”.
Tal era a glória da Lei! Através de um véu, um simples pedaço de pano, podia ser escondida. Seu esplendor era incapaz de transcender o véu. Era uma glória que podia ser ocultada por um tecido fabricado por mãos humanas. Esse véu (tecido) pode representar as obras humanas, que de acordo com Isaías, não passam de trapos de imundície (Is.64:6). A Lei, por ser um pacto de obras, possuía uma glória transitória, que aos poucos deveria desvanecer. Moisés não pôs o véu para que os hebreus lhe pudessem fitar os olhos, como sugerem alguns, e sim, para que eles não percebessem que aquela glória estava diminuindo gradativamente. Era uma glória decadente.
Lição prática – Muitos estão se escondendo por trás de suas obras, porque não querem que os outros percebam sua real condição espiritual. Estes viveram a glória da Lei, que começa tão forte quanto a luz do sol, mas que vai diminuindo com o passar do tempo. Estes estão mais preocupados em fazer, do que em ser. A exemplo do que fez Marta, escolheram ocupar-se com as coisas, e não têm tempo para cuidar do seu ser. Seu ativismo tem como objetivo ocultar uma glória que vai desvanecendo. É como aquele rico que faliu, e agora ostenta o luxo que sobrou, até que seja consumido pela traça e a ferrugem.
ELIAS - Lemos em 2 Reis 2:13-14 que Eliseu, sucessor de Elias “apanhou a capa que caíra de Elias e voltou e parou à margem do Jordão. Então tomou a capa que caíra de Elias, feriu as águas, e disse: Onde está agora o Senhor, Deus de Elias? Quando feriu as águas, estas se dividiram para um e outro lado, e Eliseu passou”.
Enquanto a glória da Lei era refletida na face de Moisés, e podia ser ocultada por um pedaço de pano, a glória dos profetas podia se expressar através de um pedaço de pano. A glória da Lei era ocultar, a glória dos profetas era revelar. A glória da Lei acentuava a santidade, a separação, a reverência. Já o ministério dos profetas conclamava os homens à integração, atraindo-os como um imã. Bastou que Elias passasse com sua capa no rosto de Eliseu para que este se sentisse atraído para segui-lo em sua peregrinação profética. Tal era o ministério profético. João, o último dos profetas daquela era, não precisava pregar nos grandes centros para atrair as multidões. Ele pregava no deserto, em lugares inóspitos, e ali as multidões o seguiam.
Lição prática – A exemplo de Maria, irmã de Lázaro, muitos preferem a “melhor parte”, e em vez de lançar-se em um ativismo desmedido, preferem sentar-se aos pés de Cristo para aprender (Lc.10:38-42). Estão mais preocupados em desvendar os mistérios, em vez de ocultá-los. Preferem expor-se aos ensinamentos de Cristo, do que simplesmente disfarçar sua fraqueza através de suas obras. O problema é que, às vezes, tais pessoas acabam negligenciando as obras. Que posição tomar, a de Marta ou de Maria? A quem se aliar, à Lei, ou aos Profetas? Ocultar ou revelar? Fazer ou ser? Santificação ou integração? Qual das partes devemos escolher? Já sabemos que a melhor parte é a que Maria escolheu. Devemos agir como ela? E quanto às obras, vamos negligenciá-las?
CRISTO – o Todo (Pleroma). Quem disse que devemos escolher entre as partes? Por que não ficar com o Todo? A Lei e os profetas eram, respectivamente, a tese e a antítese, o mistério e a revelação. A síntese disso é Cristo, em quem tudo se integra. Nele, a glória já não desvanece, e acaba por se resplandecer em Suas próprias vestes. A glória da Lei podia ser subtraída, e ocultada. A glória dos profetas podia ser acrescida e multiplicada (2 Reis 2:9). Isso demonstra claramente que nenhuma delas era completa em si mesma. Em Cristo, a glória é plena, pleromática, não pode ser nem subtraída, tampouco multiplicada. A glória pleromática é definitiva.
Col.2:9-10 – “Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. 10 E recebestes a plenitude em Cristo, que é o cabeça de todo principado e potestade”.
Jo.1:16-17 – “Da sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça (graça de ser, e graça de fazer; graça de querer, graça de realizar). Pois a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”.
Graça aponta para o “ser” – 1 Co.15:10 - “Mas pela graça de Deus sou o que sou, e a sua graça para comigo não foi vã. Antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo”.
Verdade aponta para o “fazer” – Jo.3:21 - “Mas quem vive de acordo com a verdade vem para a luz, a fim de que se veja claramente que as suas obras são feitas em Deus”.
Em Cristo o “ser” e o “fazer” se encontram, e são absorvidos por Sua Glória. Nele, as obras já não têm o objetivo de ocultar uma glória desvanecente, e sim o de revelar uma glória permanente. Entre uma parte e outra, fique com o TODO, com a Graça e a Verdade, e que suas obras, em vez de ocultar, possam revelar a glória que há em sua vida, por meio de Cristo Jesus. Amém.
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