Por Hermes C. Fernandes
É duro ter que admitir que a igreja evangélica não está preparada para acolher pessoas trans. Algumas até recebem tais indivíduos, desde que abram mão de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Outras mais progressistas chegam a acolhê-los em sua condição, mas jamais admitiriam que alguém que já estivesse na igreja resolvesse assumir sua transexualidade. Este é o caso de Jotta A. Em sua pré-adolescência foi aclamada e considerada um fenômeno dada sua extensão vocal invejável. Ganhou prêmios. Foi contratada por gravadoras do segmento gospel (o primeiro a contrata-la foi a Central Gospel do Silas Malafaia). Mas tão logo se assumiu bissexual, foi execrado. Como alguém nascido e criado na igreja poderia ser bi, gay ou transgênero? Como ficariam as teorias de que a homossexualidade provém de famílias desestruturadas ou de abusos sofridos na infância? Como explicar que alguém criado na igreja estaria possuído pelo demônio?
Ao que tudo indica, nada é mais difícil para a igreja do que admitir que a graça e a sabedoria de Deus são multiformes! “Quão variadas são as tuas obras, Senhor!”, foi o que exclamou o salmista.
Sim, as igrejas estão cheias de homossexuais condenados a viverem inautenticamente por medo do inferno, não só o eterno, mas principalmente o vivido aqui e agora pelos que se submetem ao julgamento dos que se acham o suprassumo da moralidade.
Para que o ambiente eclesiástico fosse seguro e amigável aos LGBTQIA+, teria que ser permeado de graça e amor, “pois onde está o Espírito do Senhor , aí há liberdade”. Não se trata de liberdade para cultuar como bem entender, mas liberdade para ser o que se é, fiado na graça escandalosa de Deus.
Solidarizo-me com Jotta A e com todos e todas que assumem sua sexualidade, sabendo-se amados e amadas por Deus exatamente como são. Desejo sucesso ainda mais retumbante fora do perímetro religioso. Que onde estiver, ela reflita a luz de quem a criou e a conhece por dentro e por fora.
PERGUNTA QUE NÃO QIER CALAR
Se uma mulher trans operada se convertesse ao evangelho, ela teria que retomar sua identidade masculina ou poderia seguir sendo mulher?
E se um homem trans, também operado (remoção dos seios) se converter ao Evangelho, terá que voltar a ser mulher?
Será que a igreja os aceitaria se decidissem manter a identidade atual?
Afinal, o que importa é a alma ou o gênero? A propósito, alma tem gênero?
Se mal estamos preparados para lidar com a homossexualidade, quanto mais com a transexualidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário