Por Hermes C. Fernandes
Estou ciente de todos os riscos de se trilhar o caminho da graça até às últimas consequências. Não encontro melhor analogia disso do que andar na corda bamba. Não se pode fazer estripulias ali. Há que se tomar os devidos cuidados, vigiando cada passo, sem olhar nem para a direita, nem para esquerda, muito menos para trás ou para baixo. Nossos olhos devem ser mantidos na direção do alvo que se deseja alcançar. Olhar para qualquer outra direção poderá provocar vertigem e, eventualmente, nossa queda.
Se pendermos para a esquerda, cairemos no fosso do fundamentalismo, onde nossa liberdade é restringida por regras e tradições humanas. Se pendermos para a direita, cairemos no abismo do hedonismo, onde a liberdade é confundida com licenciosidade e libertinagem.
Geralmente, o equilibrista recorre ao uso de um bastão que o acompanha em sua caminhada sobre a corda bamba. Se quisermos alcançar o equilíbrio em nossa caminhada sob a graça, teremos que recorrer constantemente à cruz. Não é à toa que a cruz tem duas hastes, uma vertical e outra horizontal. Repare que a horizontal, sobre a qual os braços de Jesus foram estendidos, aparece numa posição reta, sem pender para nenhum dos lados. Uma graça sem cruz não passa de desgraça em potencial.
A corda da graça é suspensa sobre o abismo. Qualquer desequilíbrio pode ser fatal e provocar uma queda livre. Dura coisa é cair da graça! Mas isso só ocorre quando nos separamos de Cristo, apelando ao nosso senso de justiça própria. Todos os que recorrem ao mero cumprimento dos mandamentos para serem justificados por Deus acabam separando-se de Cristo e caindo da graça. Veja o que Paulo diz sobre este terrível risco:
“Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.”Gálatas 5:4
Não é possível caminhar por esta corda bamba sem depender inteiramente de Cristo. Para tal, nosso ‘eu’ tem que estar crucificado. Em outras palavras, nosso ‘eu’ é alguém com quem não podemos mais contar, posto que devemos considerá-lo morto com todas as suas presunções. Paulo percebeu isso, razão pela qual já não se atrevia a depender de si mesmo. Ele sabia que se retornasse às obras da Lei, Cristo de nada o aproveitaria (Gálatas 5:2). Estar firme na liberdade conferida pela graça não é algo facultativo (Gálatas 5:1). Negligenciar isso é o mesmo que separar-se de Cristo e de Sua cruz, caminhando sobre a corda bamba sem um bastão para prover-lhe equilíbrio.
Lembre-se de que não há rede protetora lá embaixo. A queda é livre! Por isso, resta-nos fazer coro com o apóstolo: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu em vão” (Gálatas 2:20-21).
Alguém se atreve a dizer que Cristo morreu em vão? Mas é justamente isso que dizemos quando teimamos em depender de nossos próprios esforços para nos manter de pé. Graça sem cruz é corda bamba sem bastão para equilibrar-se. Não arrisque! Fie-se na obra consumada na cruz e não em sua performance religiosa. Não vá meter-se a fazer malabarismo, misturando lei e graça num mesmo combo. Ou vivemos toda a liberdade que a graça dá ou voltamos para debaixo do jugo da Lei.
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