domingo, abril 19, 2020

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Já que o Messias demora a voltar... Eis o novo Messias!


Por Hermes C. Fernandes 

O povo já não suportava mais ficar confinado em suas tendas no deserto enquanto Moisés, seu líder, se mantinha incomunicável no alto do monte Sinai. Inconformado, o povo pressionou a Arão para que assumisse a liderança e confeccionasse um ídolo em quem pudesse depositar sua devoção e esperança. Arão não pensou duas vezes. Deu-lhes um bezerro de ouro. Sem qualquer recato, o povo começou a festejar. Caberia àquele novo deus conduzi-los do confinamento até a terra prometida. Quando Moisés descia do monte com as tábuas da lei dada por Deus, ouviu o som que saia do arraial. Josué, que o esperava na metade do caminho, acreditou tratar-se de barulho de guerra. Porém, Moisés disse que não era o som nem de vencedores, nem de vencidos. Tudo não passava de festa, oba-oba, completamente destituída de  bom-senso.

Quando Moisés confrontou a seu irmão Arão, este atribuiu a culpa ao povo que era inclinado à maldade. Não é difícil de perceber a situação análoga que vivemos em nosso país nestes dias de pandemia. Há uma classe de Arões responsável pela idolatria idiotizante que se faz ao novo messias. Para derrubar este bezerro de ouro, temos que confrontar quem o transformou num mito capaz de conduzir a população numa marcha contrária à própria vida, bem como aos direitos essenciais. Lamentável assistir manifestantes com cartazes absolutamente contraditórios, em que se pede o retorno do AI-5 e ao mesmo tempo se defende o direito de ir e vir. Usar a prerrogativa democrática de livre manifestação para pedir o retorno da ditadura militar é agir como os hebreus recém-saídos do Egito, que usaram o ouro que de lá levaram para fazer um ídolo em forma de bezerro, e a recém conquistada liberdade para pedir o retorno à escravidão.

Assim como os hebreus confinados no deserto à espera do sinal dos céus para prosseguir em sua marcha, nosso tão sofrido povo está sendo levado a acreditar que não vale a pena esperar pelo sinal das autoridades médicas para deixar o isolamento social.  A diferença é que eles tinham um ídolo que nada dizia, enquanto nosso povo tem um ídolo que não sabe o que diz. Não são apenas gado, mas um rebanho levado ao matadouro. Espero que Deus levante vozes dissonantes como a de Moisés para confrontar esses Arões vendidos e rendidos às pressões econômicas e políticas. O som que ouço nas ruas não é de vencedores, nem de vencidos, pois nesta polarização, quem ganha é o vírus e quem perde é a vida.

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