terça-feira, abril 03, 2018

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DE VOLTA AO PASSADO



Por Hermes C. Fernandes 

Se pudesse entrar numa máquina do tempo, voltar ao passado e alterar sua própria história, o que você faria? De que situações você se pouparia? Que amizades que mais tarde se revelariam falsas você evitaria? E se isso significasse que ao retornar ao presente você não fosse quem você se tornou? Dizem que o futuro está em aberto, mas que o passado está irremediavelmente fechado. Ainda não inventaram a tal máquina do tempo, e para alguns, a prova de que ela jamais será inventada é o fato de não estarmos recebendo viajantes do futuro. E se o tais viajantes do futuro alcançaram um grau de sabedoria tal que chegaram à conclusão de que não é recomendável que se altere o passado? E se eles até vieram nos visitar, mas preferiram se manter incólumes, evitando, assim, que se alterasse o curso da história? 

Elucubrações à parte, o fato é que o passado segue aberto. Não para ser alterado, mas para ser ressignificado. E para tal, recomendo que se troque as lentes paranoicas por lentes pronoicas. Pronoia é o inverso de paranoia. A mentalidade pronoica é a que acredita que todas as coisas contribuem para o seu bem, enquanto que a mente paranoica acredita que tudo conspire para o seu mal. Para romper com a paranoia e aderir à pronoia, temos que passar pela metanoia que é a expansão da consciência. Quando passamos pela metanoia, nossa mente transcende o tempo e o espaço e enxerga os fatos a partir do prisma da eternidade. Quem não possui uma mentalidade pronoica dificilmente consegue perdoar. E sabe por quê? Porque sempre acha que o mundo lhe deve algo. Todos parecem conspirar contra ele. Mas quando experimentamos a metanoia, concluímos que, no fundo, ninguém jamais nos fez mal algum. Todos, sem exceção, contribuíram para que chegássemos aonde chegamos, e nos tornássemos em quem nos tornamos. 

Veja, por exemplo, o caso de José do Egito. Se ele pudesse voltar no tempo, será que desbarataria a conspiração de seus irmãos, impedindo-os que o vendessem como escravo? Será que evitaria ficar a sós com a esposa de seu patrão para que não fosse acusado de assédio sexual e tentativa de estupro? Já parou para imaginar o que José pode ter sofrido durante os primeiros dias de prisão? Será que naquela época os acusados de estupro eram melhor tratados do que hoje? Porém, tudo pelo que passou, conspirou para que ele chegasse ao segundo mais importante de cargo no Egito. A prova de que José perdoou a seus irmãos está no fato de ele ter ressignificado sua própria história. Ao reencontrá-los, José os reconheceu, porém, não foi reconhecido por eles. Afastando-se, foi para o seu quarto e chorou tão alto que o palácio inteiro ouviu. Aquele choro estava entalado em sua garganta por muitos anos. Ele chorou por toda a injustiça que sofreu. Por tudo de que foi injustamente acusado. Mas logo em seguida, recompôs-se, voltou-se para seus irmãos e se revelou. Perplexos, eles imaginaram que José iria à forra, e mandaria que seus guardas os degolassem. Em vez disso, José lhes disse: 
“Eu sou José, seu irmão, aquele que vocês venderam ao Egito! Agora, não se aflijam nem se recriminem por terem me vendido para cá, pois foi para salvar vidas que Deus me enviou adiante de vocês. Já houve dois anos de fome na terra, e nos próximos cinco anos não haverá cultivo nem colheita. Mas Deus me enviou à frente de vocês para lhes preservar um remanescente nesta terra e para salvar-lhes as vidas com grande livramento. "Assim, não foram vocês que me mandaram para cá, mas sim o próprio Deus. Ele me tornou ministro do faraó, e me fez administrador de todo o palácio e governador de todo o Egito.” Gênesis 45:4b-8 
Se é verdade o que diz Paulo em Romanos 8:28, posso afirmar convictamente que ninguém jamais nos fez mal algum. Ainda que sua intenção tenha sido esta. Deus é aquele que transforma o mal em bem. Perguntaram-se certa vez se eu pudesse viajar no tempo impediria o parto precoce da minha filha, responsável por sua deficiência. Pensei um pouco e respondi: Sim. Acho que não permitiria que isso acontecesse. Então me perguntaram se eu havia realmente perdoado a médica que cometeu o erro. Eu prontamente respondi que sim. Tanto a perdoei que não me neguei a prestigiar o casamento de seu filho. A pessoa, então, me confrontou, dizendo que se houvesse perdoado realmente, não alteraria em nada o que aconteceu. A verdade é que foi através de minha filha especial que cheguei à revelação da graça. Foi necessário algo drástico para me desarraigar de minha religiosidade legalista. Olhando do ponto de vista meramente humano, é óbvio que se pudesse evitar todo o sofrimento pelo qual minha filha passou, eu evitaria. Mas olhando do prisma do propósito divino, e do bem que esta situação produziu para tantos, eu preferiria dizer o mesmo que disse Jesus ante o pavor da morte: “Que não seja feita a minha, mas a tua vontade.” Jesus sabia o que estava em jogo! Era a salvação da humanidade. Mesmo assim, Ele tremeu na base. Sua carne, como de qualquer outro, mostrou-se fraca. Todavia, Ele se rendeu à vontade do Pai. Era melhor Seu sofrimento temporário do que o sofrimento eterno de toda a humanidade. Talvez José imaginasse que o que estava em jogo era apenas a sobrevivência de seu pai e seus irmãos. Mas para Deus, estava em jogo muitíssimo mais que isso. Era daquele estirpe que viria o Messias. Portanto, o futuro da raça humana dependia de sua preservação. Para desarraigar José da barra das saias de seus pais, foi necessário passar por tudo aquilo. O mal que lhe sobreveio visava um bem infinitamente maior. Por isso, ele prontamente perdoou a seus irmãos. Da mesma maneira como Jesus perdoou os Seus algozes na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o fazem.” 

Quem hoje lhe faz algum mal, talvez não tenha ideia da dimensão daquilo que está fazendo, nem da dor que lhe está causando. Porém, Deus sabe exatamente aonde pretende leva-lo e de como aquilo contribuirá para que chegue ao lugar onde Ele deseja lhe plantar. Se suas raízes são deveras profundas num lugar ou circunstâncias, talvez seja necessária um vendaval daqueles para lhe arrancar. Caso não entenda o que lhe acontece agora, não se precipite em se pronunciar. As pessoas tendem a interpretar à maneira delas. Perdoe-lhes! Uns não sabem o que fazem. Outros não sabem o que dizem. É melhor calar-se e confiar em quem conduz a sua vida. No final de tudo, Seus propósitos subsistirão.

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