Por Hermes C. Fernandes
Imagine a cena: Jesus está sob tortura cruel do estado romano. Com as costas em carne viva, o pouco que restou de sua barba arrancada violentamente pela mão de algum soldado, está banhado com o sangue que jorra sem parar de sua fronte perfurada pela coroa de espinhos. A imagem é grotesca.
Enquanto, aos gritos, recebe os golpes do martelo que o prega numa rústica cruz de madeira, alguns de seus discípulos distraídos comentam a crueldade de Pedro ao desembainhar sua espada e decepar a orelha de um soldado enviado pelo sinédrio para prender seu mestre. Surreal, não?
Como comparar a violência promovida por um estado repressor com a reação exacerbada de quem sai em defesa de quem ama ou mesmo de um ideal? Obviamente que Jesus não deixou passar em branco. Repreendeu severamente a seu fiel discípulo. "Guarda tua espada, Pedro. Quem com ferro fere, com ferro será ferido". Tal admoestação ainda ecoa no imaginário popular vinte século depois.
Todavia, o assunto morreu ali. Não foi alvo de comentários nem dos discípulos, nem dos demais judeus. Não há uma menção sequer nas epístolas. E não foi porque Jesus colocou de volta a orelha decepada, e sim porque o fato isolado foi ofuscado pelo suplício do Filho de Deus.
Precisamos aprender a enxergar as coisas em perspectiva, para não sermos injustos e precipitados em emitir qualquer juízo.
O cuspe dado deputado Jean Wyllys foi uma reação extremada ao posicionamento injustificável de quem defende o que há de mais vil e desumano: a tortura. Ele não só cuspiu, mas também foi cuspido de volta pelo herdeiro de Bolsonaro, numa clara reação em defesa do pai. Já o caso envolvendo o ator global José de Abreu, até onde me consta, não passou de uma troca de insultos, porém dentro do mesmo contexto de nervos à flor da pele devido ao momento político vivido pelo país.
Nenhuma violência é justificada, nem por parte do estado (a menos que seja para evitar uma violência maior), nem por parte dos que são injustamente submetidos a ela. Apesar disso, podemos, ao menos, buscar compreender a razão. Ânimos acirrados. Egos insuflados. Injustiças perpetradas por quem deveria combatê-las. Insultos gratuitos. Tudo isso nos torna numa panela de pressão prestes a explodir.
De nada adianta apelar à violência. Posso até compreender quem, por um momento, perdeu a estribeira, mas jamais poderia encorajá-lo a agir de maneira impensada. Somente a paz, sob o patrocínio do amor, interrompe o ciclo do ódio.
Antes de sair por aí cuspindo em quem te xinga, lembre-se de que Jesus também foi cuspido, antes de ser espancado até os limites de suas forças. Porém, não revidou. Pelo contrário, morreu suplicando ao Pai que perdoasse os que não tinham noção do que faziam.
Apesar disso, devo asseverar que um cuspe sincero ainda é menos ultrajante que um beijo de falsidade. Jesus que o diga. O beijo de Judas certamente lhe doeu bem mais que os cuspes dos soldados romanos.
______________
P.S. Houve duas ocasiões em que Jesus usou Sua saliva para curar. Numa das vezes, Ele cuspiu no chão, misturou sua saliva ao barro, fez lodo e o aplicou aos olhos de um cego, restaurando-lhe a visão. Da outra vez, ele cuspiu diretamente na língua de um mudo e surdo, aplicou a saliva também em seus ouvidos e restaurou-lhe a habilidade de comunicar. Nos dois casos, o cuspe de Cristo teve o objetivo de resgatar indivíduos de sua alienação, fazendo-os enxergar a realidade, e interagir nela através de uma comunicação de mão-dupla. Não vale a pena gastar saliva para insultar ou revidar insultos. Se for para gastar nossa saliva, façamos para espalhar amor e justiça, para abrir os olhos dos que não percebem o que se está configurando no mundo, e desobstruir os canais de comunicação entre os homens, entupidos pela ganância, pelo ódio e pelo preconceito.
______________
P.S. Houve duas ocasiões em que Jesus usou Sua saliva para curar. Numa das vezes, Ele cuspiu no chão, misturou sua saliva ao barro, fez lodo e o aplicou aos olhos de um cego, restaurando-lhe a visão. Da outra vez, ele cuspiu diretamente na língua de um mudo e surdo, aplicou a saliva também em seus ouvidos e restaurou-lhe a habilidade de comunicar. Nos dois casos, o cuspe de Cristo teve o objetivo de resgatar indivíduos de sua alienação, fazendo-os enxergar a realidade, e interagir nela através de uma comunicação de mão-dupla. Não vale a pena gastar saliva para insultar ou revidar insultos. Se for para gastar nossa saliva, façamos para espalhar amor e justiça, para abrir os olhos dos que não percebem o que se está configurando no mundo, e desobstruir os canais de comunicação entre os homens, entupidos pela ganância, pelo ódio e pelo preconceito.
Hermes essa não era a dor maior de Jesus, a dor maior de Jesus Cristo de Nazaré não foi ser crucificado, nem torturado, nem maltratado e cuspido, a dor maior de Jesus Cristo foi levar consigo sobre si em seu corpo foi todos os pecados e enfermidades da humanidade da geração passada e atual, e ter que ver Deus se calando para Ele, mas era a missão de Jesus na terra para que hoje temos vida eterna em Jesus.
ResponderExcluirMuito bom, excelente reflexão!
ResponderExcluir