Por Hermes C. Fernandes
Vinte quatro anos atrás, nossa família deixava o ministério a
que pertencera por quase vinte anos para começar uma nova denominação (detesto
este termo!). Nascia, então, a Missão Apostólica Mundial, igreja tipicamente pentecostal, com seus vícios e virtudes. Aliás, eu diria que naquele fatídico dia 26 de Dezembro de 1991,
a Reina era concebida. Começava, então, uma longa gestação de doze anos. O
embrião tornou-se feto, desenvolveu-se no ambiente intrauterino da oração para,
somente em 2003, vir ao mundo, não mais como Missão Apostólica, mas agora como
Reina.
No último final de semana, nossa sede
esteve superlotada na celebração de mais um aniversário de sua fundação. No sábado, tínhamos uma
multidão do lado de fora que não conseguiu entrar nas dependências da igreja. Lembro-me de que no ano anterior, quando celebrávamos os 23 anos da igreja, a mensagem que preguei bem que poderia ter recebido o título
de “A Reina foi feita pra acabar”. Muitos ficaram atônitos ao me ouvirem dizer
exatamente isso. Como dizer uma coisa
dessas em plena festa de aniversário da igreja? Principalmente depois de
anunciar que começamos a contagem regressiva para o nosso Jubileu de Prata em
2016. Chegamos até a lançar um selo comemorativo! Como assim, “feita pra acabar”? No último dia da festa, acho que fui ainda mais incisivo. Fiz
questão de dizer que estou trabalhando duramente para isso. Estou investindo
minha vida num projeto que visa acabar com a igreja que desde 2001 tenho a
honra de servir como líder. E não só isso. A Reina goza do mesmo destino de
todas as instituições eclesiásticas do mundo. Todas desaparecerão! Foram feita
para isso. E não estou me referindo ao tal arrebatamento que muitos aguardam e
alguns até almejam.
A igreja, enquanto instituição, serve como invólucro, ou
aproveitando a analogia da gestação, equivale à placenta que envolve a
criança até o dia de seu nascimento. Obviamente que a vida da criança depende
deste invólucro. Se a gestante levar um tombo, a placenta amortecerá a queda, garantindo
a sobrevivência do feto. Embalada pelo líquido amniótico, ela está protegida de
bactérias e outras ameaças externas. Todavia, esta proteção não durará para
sempre. Afinal, a igreja foi feita para o mundo. Na medida em que for crescendo, o que
antes garantia seu conforto, passa a comprimi-la, podendo eventualmente sufocá-la.
Até o cordão umbilical através do qual ela se alimentou durante sua estada no
ventre materno, agora corre o risco de prover-lhe uma forca. Se ela não for
expelida pelo corpo da mãe, certamente morrerá. E se isso não acontecer, quem
morrerá será a própria mãe. Assim que ela nasce, o cordão é cortado e a
placenta é expelida. Ambos serão igualmente descartados. Não conheço ninguém
que tenha criado uma placenta, e você? Por maior que seja a dívida de gratidão
que a mãe e seu filho tenham com a placenta, não lhes restará alternativa senão
livrar-se dela. Caso contrário, vai apodrecer e empestear o ambiente, trazendo
riscos severos à saúde de todos na casa.
Assim ocorre com a instituição 'igreja'. Ela é a placenta na
qual está sendo formada a nova humanidade. Ou se preferir outra analogia, ela equivale
aos andaimes usados na construção deste edifício chamado reino de Deus. Tão
logo esteja pronto, os andaimes serão removidos. Caso contrário, manterá escondida a fachada do prédio. Não confunda a remoção deles com a demolição do prédio, assim
como não devemos confundir a placenta descartada com um aborto.
A sociedade que emergirá disso não será religiosa, como
pensam alguns que se apaixonam pela placenta. Por isso a Nova Jerusalém
esboçada em Apocalipse não possui templos. Ora, se não possui santuários, logo,
também não possui religião, pois esta já terá cumprido seu papel e já não será
necessária.
O objetivo da igreja no mundo é o estabelecimento do reino de Deus e não a
manutenção da máquina eclesiástica. Ela perde a relevância quando insiste em
trabalhar em função de seu crescimento. Quem tem que crescer é a criança, não a
placenta. A placenta se estica o quanto pode para conter o feto até que
chegue a hora do parto.
A igreja que sobreviverá a todo este processo é a nova
humanidade, a civilização do reino e do amor, e esta, por sua vez, não tem
placa, nem CNPJ, estatuto ou diretoria.
É desconcertante e, ao mesmo tempo, confortável saber que
minha atividade (pastoral) está igualmente condenada a desaparecer. Assim como
está cada vez mais raro encontrar um sapateiro ou datilógrafo em nossos dias,
será cada vez mais raro encontrar pastores (refiro-me aos genuínos!). Nossa vocação também foi feita pra acabar!
Quando ainda houver padeiros, pescadores, agricultores, já não haverá pastores.
E sabe porquê? Porque todos estarão sob a batuta, ou melhor, sob o cajado do
único Pastor.
Repare no que diz Jesus:
“Ainda tenho outras ovelhas que
não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha
voz, e haverá um rebanho e um Pastor.” João 10:16
Nesta passagem Ele indica que havia e há outros apriscos
além daqueles nos quais nos reunimos. A Reina, por exemplo, jamais teve a pretensão
de ser a última coca-cola do deserto. Não
sofremos da síndrome de Elias que acreditava que só ele havia restado.
Certamente que há muito mais do que sete mil pares de joelhos que não se
dobraram ao sistema. Porém, todos estes “apriscos” têm prazo de validade, tanto
quanto a Reina. No final, o que restará será um só rebanho e um só Pastor. Observe bem: Em momento algum
Ele diz que haverá um só aprisco, pelo simples fato de que já não haverá qualquer
necessidade de tais estruturas. O Reino
de Deus será plenificado entre nós. Todas as estruturas de domínio e controle
serão demolidas. Todas as cercas cairão. As ideologias entrarão em parafuso.
Mas estaremos para sempre seguros aos cuidados d’Aquele a quem dedicamos nossa
existência.
Enquanto não chega este dia, compete-nos trabalhar para que
outras vidas se conscientizem disso, buscando assim o reino de Deus e a Sua
justiça, repartindo o pão e compartilhando o amor de Deus.
Por incrível que pareça, não desejo vida longa à Reina. Por mais que ame a nossa Reina, amo infinitamente mais o Reino de Deus. E quando digo que amo a Reina, estou dizendo que amo o seu povo e não a placa em si. O Reino é inimaginavelmente maior que a Reina, que a Batista, a Presbiteriana, a Assembleia, a Metodista, etc. Todas elas se findarão, porém Seu reino durará para sempre.
Que chegue logo o dia em que elas já não sejam necessárias.
Então todos seremos desigrejados, porém, cidadãos do Reino de Cristo Jesus.
Até que cheguemos ao nosso destino, desfrutemos a viagem na companhia dos irmãos com quem nos reunimos no aprisco.
Enquanto medita nestas palavras, assista à apresentação ao vivo de Marcelo Jeneci com a canção "Feito pra acabar":
Até que cheguemos ao nosso destino, desfrutemos a viagem na companhia dos irmãos com quem nos reunimos no aprisco.
Enquanto medita nestas palavras, assista à apresentação ao vivo de Marcelo Jeneci com a canção "Feito pra acabar":
Demais cara! Veio de encontro a um livro do Watchmann Neerlandês que acabei de ler: "Palestras Adicionais sobre a vida da igreja". Lá ele diz que Deus quer que sejamos uma xícara grande e não muitas xicaras pequenas. Se estamos contentes com as divisões, então aumentemos o muro, senão, derrubemos tudo o que nos separa. O que não devemos fazer é darmos as mãos por cima do muro. Abraços!
ResponderExcluirLê-se Watchman Nee
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