“Porém, a respeito DAQUELE DIA e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas unicamente o Pai.” Mateus 24:36
A partir do verso 36 de Mateus 24, Jesus fala acerca de Sua Vinda no último dia para julgar os vivos e os mortos. Do verso 1 ao verso 35, Jesus trata do juízo de Deus sobre Jerusalém, e isso pode ser comprovado pelo uso da expressão “naqueles dias”, e pela afirmação de que tudo aquilo aconteceria ainda naquela geração. Entretanto, ao chegar ao verso 36, Jesus entra em um novo assunto. Jesus já não estava falando “daqueles dias”, em sim acerca “daquele dia”, quando Ele vier em glória.
Convém ressaltarmos que Jesus só desconhecia o dia de Sua Vinda pelo simples fato de ter se esvaziado de Sua glória original durante o tempo de Sua encarnação; porém, uma vez tendo sido entronizado, seria ridículo afirmar que Ele ainda o ignore.
“Quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória. Todas as nações se reunirão diante dele, e ele apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas.” Mateus 25:31-32Esta passagem encontra seu paralelo em Apocalipse 20:11-15:
“Então vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele. Da presença dele fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se livros. Abriu-se outro livro, que é o da vida. Os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. O mar entregou os mortos que nele havia, e a morte e o além deram os mortos que neles havia, e foram julgados cada um segundo as suas obras. Então a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. E todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo.”
É importante frisar que Cristo aparecerá segunda vez com o objetivo de trazer à luz todas as obras humanas (Hb.9:27-28). Ele não vem para estabelecer o reino, como defendem alguns, uma vez que isso Ele fez em Seu primeiro advento. Agora Ele virá para julgar os vivos e os mortos. Em seu discurso na casa de Cornélio em Cesaréia, Pedro testificou: “Ele nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e dos mortos” (At.10:42). Paulo endossa: “Mas Deus, não levando em conta o tempo da ignorância, manda agora que todos os homens em todos os lugares se arrependam. Pois determinou UM DIA que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou. Ele disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At.17:30-31).
E quais serão os critérios desse julgamento?
Eis um terreno minado! Muitos não conseguem compreender os critérios que Cristo usará no Juízo Final. Basta uma leitura superficial de Mateus 25, a partir do verso 31 para concluir que Deus julgará os homens tendo por base as suas obras. De acordo com o texto, Ele dará boas vindas aos que estiverem à Sua direita, e apresentará as razões pelas quais serão bem-vindos às benesses do Reino Celestial: “Pois tive fome, e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estavas nu, e me vestistes; estive enfermo, e me visitastes; preso e fostes ver-me” (vs.35-36). Ao ser indagado pelos justos acerca de quando isso teria acontecido, Jesus dirá: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (v.40).
Quanto aos que insistiram em viver uma vida centrada em si mesmos sem ao menos se compadecer dos famintos e excluídos deste mundo, Cristo os julgará por sua apatia e egoísmo. Jesus conclui Seu sermão dizendo: “E irão estes para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna” (v.46).
Há ainda muitas passagens que comprovam que as bases do juízo serão as obras praticadas em vida. Por exemplo, em Mateus 16:27 lemos: “Pois o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então recompensará a cada um segundo as suas obras.”
E quanto a Paulo? O que teria dito o Apóstolo que ensinava a justificação pela fé à parte das obras? Será que seus ensinos contradizem o que fora dito pelo próprio Cristo? A resposta é um sonoro 'não'. Confira o que ele diz:
“Deus recompensará a cada um segundo as suas obras: Dará a vida eterna aos que, com perseverança em fazer o bem, procuram glória, honra e incorrupção. Mas indignação e ira aos que são contenciosos, e desobedientes à verdade, e obedientes à iniquidade (...) Isto sucederá no dia em que Deus há de julgar os segredos homens, por meio de Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.” Romanos 2:6-8,16
O que houve com Paulo, afinal? Não é nesta mesma epístola que ele diz que ninguém será justificado diante de Deus pelas obras (veja Rm.3:20)? Terá Paulo incorrido em contradição? Óbvio que não! É justamente aqui que os escritos de Paulo e de Tiago se reconciliam. Paulo não ensinava uma “graça barata” como tem sido fartamente ensinada em alguns púlpitos. Ele defendia acirradamente que somos justificados pela fé somente. É mediante essa fé que temos paz com Deus, sendo aceitos como filhos em Sua presença. É também por ela que recebemos a justiça de Cristo em nossa conta, reconhecendo que os nossos pecados recaíram sobre Ele na cruz. Tudo isso é pela fé! Não é por obras! Neste exato momento, nossa situação com Deus está acertada. Já não nos resta condenação.
Não obstante, temos que verificar nos textos paulinos que a fé que o apóstolo pregava era uma fé operante. Esta fé não apenas nos faz aceitos aos olhos de Deus, como também produz as boas obras que a justiça divina requer de nós. Embora estas obras não sejam a causa da nossa salvação, elas serão a base do juízo de Deus.
A fé nos coloca em Cristo, e a natureza divina que recebemos d'Ele opera em nós as boas obras. É assim que a justiça requerida pela lei se cumpre naquele que está em Cristo (Rm.8:4).
Se não somos salvos mediante as obras, por quê o juízo de Deus será segundo elas?
Nossas contas com Deus já foram acertadas. Não resta condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus. Ele mesmo afirmou: “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo.5:24). Já em outro texto, lemos que “todos devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal” (2 Co.5:10). Como conciliar as duas afirmações?
Ora, se já passamos da morte para a vida, por quê, então, teremos que estar diante do tribunal de Cristo? Por que teremos de prestar contas de nossas obras?
Quero sugerir duas respostas:
1. Para recebermos os galardões provenientes das obras que praticamos. Embora estas obras sejam frutos do Espírito de Deus, ainda sim, mediante a Sua inefável graça, Deus deseja nos recompensar, apesar de sermos meros instrumentos de Sua justiça. Quanto a natureza de tal recompensa, teremos que tratar disso em outra ocasião.
2. Deus deseja trazer todos diante do Seu tribunal, para que ninguém jamais possa se queixar de não ter tido um tratamento justo. Há uma diferença entre entrar em juízo, e comparecer ao tribunal. Nós não seremos julgados, mas teremos que comparecer ante o Tribunal de Cristo. Ali ouviremos d' Ele o que o Espírito já tem testificado em nossos corações. Judas nos diz que “o Senhor vem com milhares de seus santos, para fazer juízo contra todos, e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram, e de todas as duras palavras que ímpios pecadores contra ele proferiram” (Jd.14-15). Observe que Ele não vem apenas para fazer juízo, mas também para fazer convictos todos os que viveram impiamente. Ao assistirem o pronunciamento do justo Juiz àqueles que foram salvos por Sua graça, os ímpios hão de se convencer de que a sentença de Deus para eles será justa. Ninguém será condenado sem ter a convicção de que aquela sentença é absolutamente justa. Não haverá quem possa recorrer dela, pelo simples fato de não haver instância superior àquela.
Quando se dará o Juízo?
Quando se dará tudo isso? Quando se instaurará o Tribunal de Cristo? Esta pergunta é muito pertinente porque, para alguns, a igreja será julgada numa instância superior, ao adentrar os portais da glória. Os que defendem tal tese afirmam que a Vinda de Cristo será dividia em duas etapas: O Arrebatamento e o Juízo Final. No Arrebatamento, os crentes em Jesus ressuscitariam e seriam levados ao céu, e lá chegando, seriam submetidos a um Tribunal que visaria apenas recompensá-los. Já no Juízo Final, somente os ímpios e os que se convertessem durante a chamada Grande Tribulação seriam ressuscitados e submetidos a um julgamento que ditaria o seu destino eterno. Esta interpretação carece de uma exegese mais acurada.
A começar pelo fato de não haver na Bíblia distinção entre o dia do Arrebatamento e o do Juízo. Na verdade, trata-se de um mesmo evento que vai acontecer no último dia da história humana. Depois daí, a criação entrará no Estado Eterno.
Em segundo lugar, não há na Bíblia nenhuma base real para se distinguir as ressurreições dos justos e dos ímpios como sendo dois acontecimentos separados por um espaço de tempo. Se for verdade que os justos vão ressuscitar no Arrebatamento, e os ímpios vão ressuscitar sete anos depois, como advogam alguns, então o que dizer da afirmação de Marta: “Eu sei que ressurgirá na ressurreição, no último dia” (Jo.11:24)? Se Lázaro ressuscitaria no último dia, logo, ele não estaria entre aqueles que seriam salvos! Se Marta errou ao afirmar isso, então, por que Jesus não a corrigiu? Porque Ele mesmo ensinara a Marta que todos, justos e ímpios, haveriam de ressuscitar no último dia.
Veja o que o próprio Jesus ensinou:
“Não vos maravilheis disto, pois VEM A HORA em que TODOS os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: Os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação.” João 5:28-29Jesus não deixou dúvida de que tanto a ressurreição dos justos, quanto a dos ímpios ocorrerão simultaneamente.
Em nosso estudo sobre o Milênio, abordamos de forma mais esmiuçada este assunto, e tratamos daquilo que João chama de primeira e de segunda ressurreição.
A doutrina do Arrebatamento, como é concebida atualmente não possui respaldo bíblico. O que chamamos de vinda secreta de Jesus também não encontra respaldo bíblico. Quando se diz que Ele viria como um ladrão, refere-se ao fator surpresa que envolve a Sua Vinda. Quando Ele vier para julgar os vivos e os mortos, todos os olhos O verão. Definitivamente, não haverá uma vinda secreta, e outra pública como temos ouvido por aí.
Quando escrevia aos cristãos de Tessalônica, Paulo diz que “o Senhor descerá do céu com grande brado, à voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro” (1 Tess.4:16). É aqui que muita gente se confunde. Se pararmos aí, teremos a impressão de ter ouvido Paulo afirmar que os justos ressurgirão primeiro que os ímpios. Mas não podemos parar aí. O que Paulo está querendo dizer é que nós “os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem” (v.15). Isto quer dizer que, antes de sermos levados às alturas, os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor” (v.17).
Muitos encontram neste texto a indicação de que ao sermos arrebatados seremos levados para o céu, e lá passaremos sete anos com o Senhor, enquanto o mundo fica entregue nas mãos do anticristo. Esta passagem não fala nada disto ! Nós vamos ao Seu encontro para recebê-lO por entre as nuvens.
É provável que Paulo tivesse em mente o que acontecia quando o Imperador Romano voltava de uma batalha vitoriosa. Ao se aproximar dos portais da Cidade, o povo saía ao seu encontro para recebê-lo com honras e glórias.
Assim também, quando Jesus, o grande Imperador do Universo despontar no céu, nós e os santos de todas as eras iremos ao Seu encontro para recepcioná-lO, e então, Ele juntamente com todos os Seus santos e anjos pisará nesta Terra, e aqui, estabelecerá o Seu Juízo.
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