quarta-feira, abril 15, 2015

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Por que causa temos sido perseguidos?



Por Hermes C. Fernandes

Desde sua origem, a fé cristã tem sofrido perseguições implacáveis. Primeiro, por parte dos judeus, conforme o próprio Jesus havia previsto. Depois, por parte dos romanos. Porém, cada uma das perseguições tinha sua própria razão. Os judeus perseguiram a igreja porque não aceitavam uma fé que não fosse centralizada no templo em Jerusalém. Não era bom para os negócios. Jerusalém havia se tornado num centro de peregrinação. Judeus de todo o mundo vinham várias vezes ao ano para festejar as festas ordenadas pela lei mosaica. E isso rendia um exorbitante lucro. Quando os apóstolos começaram a anunciar que um novo templo estava sendo erigido, não de pedras mortas, mas de pedras vivas, e que os ritos judaicos haviam perdido sua validade, a perseguição se tornou inevitável. A igreja representava uma ameaça ao controle da casta sacerdotal. Além disso, os cristãos afirmavam que seu Mestre era ninguém menos que o Messias prometido, que por sua vez era o próprio Deus encarnado. Isso era inadmissível. Razão pela qual os discípulos foram expulsos das sinagogas e tiveram seus bens confiscados.

A segunda perseguição se deu por motivos políticos. A máxima “Jesus Cristo é o Senhor” era considerada extremamente subversiva, uma vez que desafiava a supremacia de César, o imperador romano. Qualquer um que alegasse lealdade a outro rei que não fosse César era um traidor e deveria pagar caro por sua rebelião. Portanto, as duas primeiras perseguições tiveram motivos econômicos, políticos e religiosos.

E quanto às perseguições que a igreja tem sofrido em nossos dias?

Sei do risco de ser mal interpretado com o que vou expor aqui, mas não me vejo em condição de me acovardar ante a constatação que tenho feito. 

Há dois principais motivos pelos quais a igreja cristã tem sido perseguida em nossos dias, e, sinceramente, não os considero legítimos.

O primeiro deles é a postura nada ética de muitos dos seus líderes. Ser preso por evasão de divisas, com milhares de dólares escondidos em bíblias, não me parece um motivo louvável. Isso nada tem a ver com sofrer por amor a Cristo. Muitos líderes vivem nababescamente à custa da ignorância do seu povo. Obviamente que as autoridades estão atentas a isso. Mais cedo ou mais tarde, acabam sendo investigados e acusados de charlatanismo e coisas mais.

O segundo deles é bem mais delicado. Desde que o império americano descobriu que a mensagem cristã, em sua versão fundamentalista, poderia ser usada para espalhar sua supremacia cultural pelo mundo, milhares de missionários foram enviados. Houve uma reação muito forte por parte de países que se negaram a render-se, por perceberem a verdadeira intenção dessa investida. A mensagem do evangelho foi diluída numa visão conservadora do mundo, enquanto que qualquer outra ideologia considerada progressista passou a ser tachada de demoníaca. Quando missionários americanos começaram a ser rechaçados em países onde predominava uma visão mais progressista, espalhou-se pelo mundo a notícia de que aquele país perseguia os cristãos. Talvez, se o evangelho fosse apregoado sem aquela bagagem cultural e ideológica, não haveria tanta resistência. 

O fato é que os missionários passaram a ser visto como embaixadores do american way of life (estilo de vida americano), e por isso mesmo, tornaram-se personas non gratas por onde passavam. Combatê-los era combater o imperialismo que eles representavam. 

Imagine se os apóstolos houvessem se associado ao império romano para divulgar o domínio de César pelo mundo afora. É claro que seriam combatidos! 

Em países socialistas como a antiga União Soviética, somente a igreja ortodoxa estava autorizada a dar prosseguimento em suas atividades religiosas. E isso, pelo fato de não ter qualquer vínculo com os Estados Unidos. Já em Cuba, dada a proximidade com a América, o cristianismo teria sido totalmente banido (segundo algumas fontes; não há consenso sobre isso). Somente recentemente teria sido permitido que igrejas voltassem a trabalhar na Ilha de Fidel. Na China, dá-se o mesmo. Contudo, há uma igreja vigorosa em franco crescimento, ainda que na clandestinidade. 

Urge que a igreja cristã se livre deste ranço a fim de que sua mensagem seja recebida em países completamente avessos ao domínio norte-americano. A igreja brasileira tem um enorme desafio pela frente. Em qualquer lugar, o povo brasileiro é bem-vindo. Graças ao nosso jeito despojado, ao nosso futebol e à nossa música. 

Isso não significa que as perseguições não ocorrerão, eventualmente. Mas, certamente serão atenuadas. Se tivermos que sofrer, sofreremos pelos motivos certos. 

Devo admitir que, no último século, nenhum país investiu tanto em missões quanto os Estados Unidos. Porém, os motivos nem sempre foram os melhores. Aqui mesmo no Brasil, quando os militares tomaram o poder, o país recebeu uma onda de pregadores americanos. Tudo para tentar coibir ideias ditas ‘comunistas’. O mundo estava dividido entre duas grandes potências bélicas. Por isso, era mister que se propagasse que o comunismo era o diabo em pessoa. Obviamente, nem o comunismo soviético deve ser visto como o grande vilão da história, nem o capitalismo americano deve ser visto como o salvador do mundo. Ambos tentaram dominar o mundo. O império soviético ruiu. Mas o americano segue vigoroso, invadindo países, se apropriando de suas riquezas sob o pretexto de levar os valores da democracia.

A bem da verdade, a perseguição sofrida por cristãos nesses países acaba servindo aos interesses do império americano, pois reforça e justifica suas pretensões expansionistas.

Se quisermos poupar nossos irmãos do sofrimento terrível que lhes tem sido impingido em países muçulmanos e em ditaduras ao redor do globo, devemos romper com qualquer associação que se faça entre o evangelho e o american way. E para isso, nosso discurso precisa passar por um processo de desideologização e desamericanização. O mundo carece de um evangelho puro, que conserve o que é bom, mas também desafie a sociedade humana a rever seus valores e progredir. Um evangelho que se adeque às culturas locais, sem, contudo, perder a sua essência. Que acolha a contribuição que cada cultura tem a fazer no estabelecimento do reino de Deus.

E se tivermos que sofrer, não fugiremos, a exemplo dos milhões de cristãos ao redor do mundo que bravamente têm resistido a regimes totalitários. Como eles, sofreremos pela causa da justiça e não por interesses alheios às demandas do verdadeiro evangelho. 

2 comentários:

  1. Anônimo1:47 PM

    Ser um cristão é ser um guerreiro. O bom soldado de Cristo não deve esperar tranquilidade neste mundo - ele é um campo de batalha! Nem deve ele se apoiar na amizade com o mundo, pois isso seria inimizade contra Deus. Sua ocupação é a guerra. Enquanto ele põe, peça por peça, a armadura que lhe foi dada, ele deve sabiamente dizer a si mesmo: Isso me avisa do perigo; isso me prepara para a batalha; isso profetiza oposição.
    Você pode ser de um espírito bem quieto, mas seus adversários não o são! Se você tentar brincar na guerra cristã, eles não irão brincar. Encontrar os poderes das trevas não é qualquer coisa. Eles intentam roubar, matar e destruir. Nada além de nossa danação eterna irá satisfazer os corações selvagens de Satã e sua turba.
    Charles Spurgeon.

    Eu voltarei...I promisse!
    JESUS É O SENHOR!

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  2. Anônimo6:13 PM

    No mundo espiritual, há muitos inimigos de Jesus Cristo, que também não gostam dos seus seguidores..Há também os "anjos caídos" ...potestades dos ares...

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