Por Hermes C. Fernandes
Esta semana estivemos novamente no Lixão de Jardim
Gramacho na baixada fluminense. É impossível se acostumar às cenas com que nos
deparamos ali. A impressão que temos é de estarmos longe, bem longe de casa.
Porém, a verdade é que estamos a poucos minutos de alguns dos mais famosos cartões
postais da cidade maravilhosa. Urubus, porcos, ratos e seres humanos convivem
num ambiente fétido e inóspito. Quem tem estômago fraco é incapaz de resistir
por muito tempo. Tonteira seguida de ânsia de vômito é quase constante enquanto
caminhamos pelas montanhas de lixo disputadas por catadores, entre os quais,
crianças que podiam estar brincando ou estudando. A pele do rosto delas parece
uma lixa de tão grossa. Seus corpos cobertos de calombos provocados pela picada
de insetos. Apesar do sofrimento a que são submetidas, não parecem pessoas
amargas, mas demonstram claramente que sua carência vai além das coisas
materiais. Elas avançam contra os nossos braços à procura de colo. Oferecem
suas cabecinhas como um melro em busca de carinho.
Estou convencido de que aquela gente precisa ser
socorrida emergencialmente. Todavia, penso que haja outras maneiras de tratar
com aquela situação, além de simplesmente suprir-lhes as necessidades básicas
momentâneas.
Primeiro, precisamos questionar a razão que os
levou à pobreza. Alguns preferem espiritualizar, atribuindo toda e qualquer
miséria à atuação de espíritos malignos. Para estes, bastaria submetê-los à uma
sessão de exorcismo e sua sorte se reverteria. Pena que muitos ainda pensem
assim. Outros, um pouco mais equilibrados, creditam tais
condições ao pecado inerente à natureza caída do homem. Ainda que admitamos tal
possibilidade, não se pode tomá-la como justificativa para a nossa inércia,
como se não houvesse nada que pudéssemos fazer para alterar esta realidade.
A razão pela qual a existência da miséria nos
insulta é que ela depõe contra o nosso egoísmo. Por isso, preferimos
varrê-la para debaixo do tapete. Desde que não esteja sob nossos olhos, tudo
bem. E quando tomamos conhecimento de sua existência, tratamos de arrumar uma
justificativa que drible a nossa consciência. A culpa é do governo, do diabo,
do pecado, etc. Há quem se atreva a culpar o próprio Deus!
A miséria da qual preferimos manter distância
segura nada mais é do que o efeito colateral de uma sociedade consumista,
hedonista e egoísta ao extremo. Não basta sacudir o tapete, fazer a faxina.
Temos que rever nosso estilo de vida e aprender a compartilhar em vez de
concentrar e desperdiçar.
O fato incontestável é que não há
riqueza neste mundo que não tenha sido produto de alguma injustiça. Ainda que
se tenha trabalhado duro e honestamente para adquiri-la; os meios poderão ser
lícitos, porém os efeitos colaterais serão inevitáveis. Todo luxo produz lixo.
É impossível amealhar uma fortuna sem ‘vender a
alma ao diabo’. Em outras palavras, ninguém se torna milionário sem transigir
com alguns princípios éticos. Se não por comissão, ao menos por omissão,
fazendo vista grossa aos descalabros advindos de seu estilo de vida. Caso o
contrário, não faria sentido a advertência de Paulo de que “os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas
concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na
perdição. Porque o
amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram
da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm.6:9-10).
É claro que quem se beneficia do sistema, vai defendê-lo
bravamente até a morte. Porém, quem dele é vítima, vai proporcionalmente
abominá-lo até a alma.
Tanto a riqueza quanto a pobreza são sintomas da
mesma doença, a injustiça. Um cristão, portanto, não deveria desejar ficar
rico, mas ter o suficiente para suprir suas próprias necessidades e para
repartir com os necessitados.
E quando a sorte nos é favorável? Teríamos culpa de
ter nascido numa família abastada? Seria errado se nossos negócios prosperassem?
Não é pecado ser rico! É pecado ser egoísta! O
problema não é ser rico, mas querer ficar rico. A riqueza deve ser vista como
um meio para beneficiar o maior número possível de pessoas e não um fim em si
mesmo.
A prosperidade bíblica e agradável a Deus não é sinônimo
de concentração de bens mas de distribuição dos mesmos. Aos olhos de Deus,
nossa riqueza é proporcional aos benefícios que gera para vida de outros. Por
isso, na mesma passagem, Paulo diz: “Manda
aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a sua esperança na
incerteza das riquezas, mas em Deus, que nos concede abundantemente todas as
coisas para delas gozarmos; que pratiquem o bem, que se enriqueçam de boas obras, que sejam liberais
e generosos” (1 Tm.6:17-18).
Podemos ter nossos nomes na lista das grandes fortunas da Forbes,
mas para Deus não passaremos de “coitados,
miseráveis, cegos e nus” (Ap.3:17).
Se o sistema nos beneficiou, nossa única alternativa é usar disso
para o bem de todos. Foi exatamente isso que Jesus declarou: “Eu vos digo:
fazei-vos amigos com a riqueza injusta, para que, no dia em que ela vos faltar,
eles vos recebam nos tabernáculos eternos” (Lucas 16:9).
Ainda não inventaram caixões com
gaveta, e mesmo que os inventassem, não haveria como levar conosco os bens que
amealhássemos em vida. Todavia, o bem que fizermos nos acompanhará por toda a
eternidade (Ap.14:13).
Que bem poderíamos proporcionar às
vítimas deste sistema injusto do qual temos sido beneficiados?
Stéphannie Oliveira, modelo |
Quero propor algumas respostas:
1 – Podemos compartilhar o que
temos através de obras filantrópicas. Desta maneira, atenuaremos o efeito da
miséria e demonstraremos o amor que Deus tem derramado em nossos corações
(Rm.5:5). Porém, não devemos nos iludir achando que isso é tudo. Quando finalmente
a justiça imperar no mundo, não haverá mais a necessidade de filantropia. Esta
é o remendo usado para tapar o buraco provocado pela nossa ganância. Mas
enquanto houver injustiça, nossa única esperança é a caridade. A filantropia pode deter, por um tempo, o
sangramento, mas não o estanca. Somente a justiça poderá deter a miséria
hemorrágica responsável por nossa anemia ética, razão pela qual deixamos de nos
corar de vergonha ante nossa incapacidade de amar e nos importar com o outro.
2 – Podemos criar meios para que estas
pessoas progridam, oferecendo-lhes educação, oportunidades e políticas públicas
mais humanas.
3 – Podemos e devemos questionar o
próprio sistema, ainda que nos seja favorável. Em vez de pleitear em causa própria, devemos pleitear pela causa daqueles que não têm voz. O sábio Salomão, do alto de sua sabedoria, declarou:“Abre a tua boca a favor do mudo, pela causa de todos que são
designados à destruição. Abre a
tua boca; julga retamente; e faze justiça aos pobres e aos necessitados” (Pv.31:8-9). Abrir a
boca também pode ter o sentido de chamar a atenção do mundo para o problema,
dar visibilidade àqueles que passam despercebidos. Atitudes como a da atriz
Angelina Jolie deveria inspirar a muitos cristãos bem sucedidos para que o
mundo prestasse a devida atenção às populações carentes que vivem abaixo da
linha da pobreza, na mais absoluta miséria. Num momento de grande lucidez, a
atriz teria dito: “O mundo precisa de atitudes, não de opiniões. Opinião nenhuma mata fome
ou cura doença.” Aqui no Brasil, a modelo Stéphannie Oliveira é um exemplo de alguém que tem se dedicado a esta causa. Quantos famosos poderiam usar sua imagem para a mesma
causa! Mas muitos preferem viver encastelados, indiferentes ao que acontece
debaixo de seus narizes empinados. Enquanto mantivermos o problema sob o
tapete, ninguém se sentirá incomodados, senão as vítimas deste famigerado
sistema.
4 – Podemos educar as próximas gerações para que a
distância entre ricos e pobres diminua. E nisso, a igreja tem um papel muito
importante. Urge redescobrirmos a justiça do reino, tão cara para Jesus e Seus
apóstolos. Para tal, teremos que abandonar esta versão pervertida do evangelho,
responsável por introduzir elementos estranhos à proposta de Jesus, incluindo
uma nova trindade, em que, no lugar do Pai, tem-se o capital, no lugar do
Filho, o mercado, e no lugar do Espírito Santo, o consumismo. Um evangelho que
justifica o lucro a qualquer preço e banaliza ou espiritualiza o sofrimento
causado pela miséria não passa de um grande mal entendido e deve ser
sumariamente rejeitado. A mensagem do evangelho não pode servir como
lubrificante das engrenagens do sistema, perpetuando assim a injustiça por ele
perpetrada, mas como ferramenta que emperra e sabota a máquina enquanto denuncia sua malignidade,e fomenta nos homens o desejo de ver a vontade de Deus feita na terra como é feita no céu.
Já que, como disse o Betinho, quem tem fome tem pressa, não se pode cruzar os braços e esperar acontecer. Devemos repartir nosso pão imediatamente e trabalhar para resgatar a dignidade daquela gente tão sofrida e amada por Deus.
Aproveitando que hoje se comemora o dia de Francisco de Assis, ofereço esta lindíssima canção baseada em sua mais popular oração.
Paz! Se a gente contribuisse só um pouquinho repartindo o que temos certamente amenizaríamos em muito o sofrer desse gente. Se soubessemos o que de fato é amor procuraríamos viver como vivia a igreja em Atos: repartindo. O jejum de Isaías 58 seria o nosso jejum, porém, parece que estamos mais preocupados em acusar quem vai pro Rock in Rio e mandar gays e prostitutas ao inferno...Essas coisinhas bobas que não fazem diferença na vida de ninguém ganham mais volume e peso em nosso meio. Bispo, tem algo que daqui eu possa fazer pra ao menos amenizar o sofrer dessa gente? Não consigo mandar alimentos daqui pro Rio mas se tiver um fundo ou uma conta para depósito em favor destes, por favor, informe. Sei que é muito pouco mas se, todos nós, comentaristas e leitores do seu blog, fizermos alguma coisa já ajuda. Proponho que juntos façamos algo em prol dessa gente. Mesmo distante é possível. Abraço, Fabio
ResponderExcluirFazem dois dias que este artigo foi publicado e até agora tivemos somente um comentário, mais o meu... Agora me pergunto: "Será que o povo evangélico leu esse artigo?" Se fosse sobre gay, sexo, aborto e outras cositas mais, tenho certeza de que teria dezenas de comentários teriam sido feitos. Povinho hipócrita!!!
ResponderExcluirHermes, Paz
ResponderExcluirFomos chamados à atenção para Gramacho na igreja Betânia (em Niterói) pelo pastor Paulo Cappelleti, da missão Sal em São Paulo.
Estamos indo em um grupo de aproximadamente 15 pessoas no sábado que vem (12/10) até lá, para vermos o que podemos fazer em curto, médio e longo prazo.
Sua experiência das "idas" já realizadas podem ajudar. Se puder, entra em contato (jeacarvalho@gmail.com - http://coracaodecarne.blogspot.com.br/)
abçs, Zé Eduardo
Hermes, vc está tirando o lixo debaixo do tapete que nada.
ResponderExcluirVc está é trazendo sujeira do mundo e seus prazeres para dentro de sua igreja e este blog meu chapa! Homem carnal tu es!
Hipócrita, e o outro aí em cima seu puxa saco diz aí que só tem um
comentário até agora, não Ô Anônimo baba ovo do Hermes e de sua igreja a Reina, agora tem mais dois comentário, mas vc espera que comentem neste blog de satã? Eu comento para ver a capacidade eloquente do falso evangelho de vcs, falsos profetas que fazem.
Mundanos podres.
Podem mandar a replica que respondo ok?
Aqui tanto é o Blog de Satã que vc tá aqui pra comentar, é sinal que lê também né? rsrsrsrs
Excluirgosta de um pouquinho de Satanás né?rsrsrsrs