Por Hermes C. Fernandes
"Para criar inimigos, não precisa declarar guerra... basta dizer o que pensa!"
Martin Luther King, Jr.
Quando comecei meu ministério há 29 anos, não poderia imaginar que colecionaria desafetos. Como alguém poderia tornar-se meu inimigo se tudo quanto almejava era servir a Deus dedicando-me aos meus semelhantes?
Porém, aos poucos, eles foram surgindo (ou, se revelando).
Os primeiros que tive eram de fora. Vizinhos que reclamavam do som da igreja (hoje, olhando em retrospectiva, não lhes tiro a razão). Teve um que entrou bêbado durante um culto portando uma arma, vociferando que queria me matar. Eu tinha acabado de subir ao púlpito. Fechei os olhos e, com o coração na boca, comecei a orar. Uma de nossas diaconisas avançou nele, tirou-lhe a arma e o colocou para fora.
Cresci sabendo que sofreria hostilidade de alguns de fora. Foi assim com meu pai e certamente não seria diferente comigo. Quantas vezes tivemos nossa casa apedrejada enquanto dormíamos! Numa das vezes eu e meus irmãos acordamos com um paralelepípedo próximo da cabeça de um de nós. Outras vezes tivemos o carro apedrejado na rua vizinha à igreja. Até aí, tudo bem...
Mas jamais poderia supor que encontraria 'inimigos' dentro da própria igreja.
Alguns movidos por inveja, outros por discordância doutrinária ou administrativa. Achava que, como cristãos, poderíamos discordar numa ou noutra coisa, porém, mantendo o respeito recíproco. Nada de acusações levianas, suspeitas infundadas, ataques pessoais ou coisa parecida.
Em vez disso, deparei-me com pessoas que mais pareciam agentes inimigos infiltrados, munidos de todo tipo de arma carnal, cujo propósito era minar nossa credibilidade e destruir o que com tanto sacrifício foi edificado.
Nesses casos, sempre preferi perdoar. Com isso, a hemorragia estancava, porém, a ferida mantinha-se aberta por muito tempo. Qualquer novo ataque abria-a novamente e a fazia sangrar. Para evitar isso, resolvi tomar outra medida além do perdão: distanciar-me. Com isso, impeço que a ferida volte a inflamar. Faço coro com Davi: os que usam de engano, quero-os longe de mim.
Nunca saí em defesa própria. Não me atreveria a dispensar meu Advogado Fiel. A Ele confio todas as minhas causas. Porém, tenho me tornado cada vez mais criterioso na escolha daqueles que desfrutam de minha amizade. Acabo pagando um alto preço por isso, isolando-me, preferindo a solicitude à companhia.
Sei que há amigos circunstanciais que a qualquer instante poderão nos abandonar ou mesmo se tornarem desafetos. Quando se ocupa uma posição de liderança que, em tese, nos confere poder de fazer o bem ou o mal a alguém (em outras palavras, promover ou rebaixar), somos cercados de pseudoamigos. Basta que não correspondamos às suas expectativas e logo saem atirando para todo lado, tentando nos alvejar.
Outros ficam à espreita, afoitos por flagrar-nos num único deslize para que justifiquem sua insurreição.
Devo confessar que muitas vezes me precipitei ao ordenar alguém ao ministério. Gente que só queria se locupletar, mas que, tão logo receberam 'autoridade', insurgiram-se e revelaram seu verdadeiro caráter.
Hoje, estou mais criterioso do que nunca. Não basta carisma. Tem que ter caráter. Não basta formação acadêmica. Tem que ser forjado no campo de batalha.
Cansei de obreiros fraudulentos. Elogios e bajulações não vão comprar minha amizade e confiança. Quem lhe paga o almoço hoje vai querer cobrar favores amanhã. Toda cautela é necessária.
Já vi casos de pastores que quando souberam que receberiam uma contribuição financeira significativa, trataram de romper imediatamente com a sua denominação a fim de não precisarem prestar contas dela. Os tais pensam que passaram incólume, porém, Deus conhece todas as coisas e faz com que venham à tona na hora certa.
O que mais me incomoda nisso tudo são os efeitos colaterais. Uma pessoa honrada pode deixar nosso círculo sem qualquer alarde. Mas nem todos são honrados. Alguns querem prejudicar a obra e para tal, não poupam o rebanho. Gente inocente acaba por deixar-se seduzir pelos tais. Calúnias são engendradas. Insinuações são lançadas ao ar. E quem não conhece a verdade compra qualquer versão que lhes é apresentada.
O que me consola é saber que todos terão que prestar contas a Deus. Os fins não justificam os meios. Não vale mentir achando que isso resultará num bem maior. Não vale ser covarde. Mais cedo ou mais tarde, a verdade virá à tona.
Quanto a mim, entrego-me Àquele que julga retamente e ao meu Advogado.
Nem precisam me pedir perdão. Já os perdoei. Peçam perdão a quem seguiu às suas dissoluções. Arrependam-se antes que venha o Senhor e lhes peça conta, tim-tim por tim-tim. Deus é amor! Mas não é condescendente com os erros de ninguém.
Sei que sempre teremos inimigos por perto... E devemos estar prontos a convidá-los a tomar assento na mesa que o Senhor houver preparado para nós. Todavia, aqueles que se diziam amigos e se revelaram falsos, prefiro-os distantes. Talvez assim a ferida um dia cicatrize. Enquanto isso, proponho-me a enviar-lhes 'quentinhas' com o que Deus tem me concedido em Sua misericórdia. Aliás, acho que é isso que tenho feito aqui no blog... Alguns que antes sentavam-se à mesa comigo, hoje se alimentam por aqui.
Bacana seu texto... te acompanho nas leituras e pensamentos... me encaixo em boa parte de suas colocações aqui... nunca consegui me incluir no pensamento da igreja há 30 anos atras, mas resisti...continuo no evangelho, cansado de igreja sim, mas sobrevivo, plantei uma igreja na Orla Sul do Leblon há cerca de 11 anos...nao sou pastor, mas apoiei... parabens pelo trabalho, um dia quem sabe te visito para participar no culto... fique na paz!
ResponderExcluirPr. Hermes seu texto revela uma inquietação que há muito venho refletindo.
ResponderExcluirSou uma pessoa de poucos amigos, por medo de me doar e ser machucado.
Ja tive algumas surpresas nada agradáveis ha tempos atrás.
Ha momentos em que o distanciamento e inevitável, mas penso que nao pode ser a regra.
Abcs
Comungo ipsis litteris desses sentimentos expostos. Mais de 21 anos no Ministério, e toda vez que a ferida cicatriza, ou quase, outra pessoa se prontifica a abri-la.
ResponderExcluirE nesse exato momento sofro mais uma vez outro golpe. Às vezes a vontade é de abandonar, mas respiro fundo e prossigo.
Suas palavras, mais que um desabafo, está ajudando nesse momento a muitos que sofrem os mesmos problemas, pois nos permite perceber que não estamos sós nessa.
Esses dias eu refletia sobre a possibilidade de uma ovelha atacar e ferir seu pastor. Penso não ser possível, visto não tratar-se de um animal selvagem, muito pelo contrário, é o animal mais manso e dócil que existe. Então, só me resta acreditar que esses que assim agem, não são ovelhas.
Como pode uma pessoa em retribuição de amor, dedicação, amizade, tempo, cuidado e carinho, oferecer hostilidade, traição, conspiração e destruição?
Mas, seguimos em frente, buscando todos os dias o mesmo espírito de Estevão, que doou intercessão e perdão aos seus algozes enquanto o matavam.
Bispo, obrigado por ter postado isso exatamente nessa semana.
Abraços,
EDMILSON RAMOS DE PAULA
Salve, pr...
ResponderExcluirCreio que o mais difícil disso tudo é não cedermos à tentação de desacreditar do ser humano, quando aquele que - supostamente? - teve um contato real com o Criador de universos simplesmente age com tamanha vileza e mesquinharia.
Duro.
Paz.
Crer na possibilidade de crescimento em profundidade e emancipação, progeta o ser e a comunidade num mergulho existencial significante.
ResponderExcluirO amor original é tão radical quanto a verdade que liberta.
PAIXÃO, Edson.
Ô Edson vc não para de falar bobagem não?
ResponderExcluirJesus é radical? Pois a verdade que liberta é Jesus! Se explique seu fariseu filósofo de buteco!
Meu caro! Vc só fala asneira! Vc é doido? Só pode!
Caro bispo,
ResponderExcluirEmbora não tenhamos muito contato. Saiba que tem um amigo que ora e torce por vc. O que nos une é um laço de sangue, sangue vertido na cruz. A nossa causa é comum, o Reino de Deus, que é muito maior do que qualquer ideologia, corrente teológica ou filosófica.
Aprendi algo:
Os urubus andam em bandos,já as águias voam solitárias, porém, alçam voos muito mais altos do que os urubus.
Graça e Paz!
Quem diria, Allan Felipe, que um dia você estaria voando conosco? Na ocasião em que você fez o comentário acima, não me manifestei. Mas hoje quero lhe agradecer. Não apenas pelo comentário que muito me abençoou à época, mas também pela sua companhia nesta jornada pelo reino.
ResponderExcluirA gratidão é minha por poder desfrutar da sua companhia e de toda a sua família. Louvo a Deus por sua vida e por poder aprender tanto com o senhor. Abracei a cosmovisão reinista de vez. E percebo que a família reinista vai muito além da Reina. Não podemos mensurar sua extensão, pois seus membros estão em lugares que nem imaginamos. Sou um exemplo disso. Forte abraço!
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