Por Hermes C. Fernandes
“Forrest
Gump – O contador de histórias” foi um filme estrelado por Tom Hanks que se
tornou num fenômeno de bilheteria no ano de 1994. O filme começa com uma pena caindo aos pés de Forrest
Gump, sentado numa parada de ônibus.
Ao pegá-la e colocá-la dentro de um livro, Forrest começa a contar a história
de sua vida a uma mulher sentada ao seu lado. Os ouvintes na parada de ônibus
variam.
Quem não gosta de ouvir uma boa história? Uma de suas
interlocutoras perde seu ônibus só para continuar a ouvi-lo. E o que mais atrai
em suas histórias é o fato de se confundirem com a história recente de seu
próprio país. Acontecimentos emblemáticos como a guerra no Vietnã são alguns
dos quais Forrest teve participação. Sem contar figuras importantes que
cruzaram o seu caminho, dentre as quais John Lennon e os presidentes John
Kennedy e Richard Nixon. Porém, em suas histórias, tais personagens entram como
coadjuvantes, e, às vezes, meros figurantes. Forrest Gump é o protagonista.
Cada ser humano é protagonista em sua própria história,
que por sua vez, contribuiu na composição do grande mosaico que é a História da
Humanidade. Mas, ao mesmo tempo, somos coadjuvantes na história daqueles que
integram nosso círculo de amigos e familiares. Às vezes, heróis. Outras, vilão.
E de quebra, somos figurantes na história de todos que cruzam nosso caminho a
cada dia. Como tais, entramos mudos, e saímos calados, limitando-nos a servir
de componentes no cenário de outras tantas histórias.
Deus é, por assim dizer, o Senhor das circunstâncias, o
Arquiteto das contingências, Aquele que promove encontros e desencontros, que
liga os pontos de cada história particular, enriquecendo assim a trama
universal. Através de cada história, Deus revela facetas do Seu plano redentor.
Israel sabia de sua vocação para ser luz para as
nações. Desde o início, Abraão, o patriarca, foi avisado que sua história se
entrelaçaria com a história de todos os povos. Ele e sua descendência seriam
bênção para todas as famílias da terra. Ser escolhido não significa ser
preferido. Deus escolhe alguns para o bem de todos. Onde há preferidos, também
há preteridos. Se fosse questão de predileção, logo, uns sairiam ganhando,
outros, perdendo.
Porém, aos poucos, Israel perdeu de vista sua missão.
Começou a achar-se o povo predileto de Deus, ou melhor, os únicos com os quais
Deus tratava. Passou a referir-se aos demais como “eles”, os gentios, os
pagãos. A expressão “propriedade exclusiva” deixou de significar que pertenciam
exclusivamente ao Senhor para significar que eram os únicos a gozarem deste
status.
Até que Deus levantou profetas para adverti-los e
conclamá-los ao arrependimento. Um deles foi Amós, o profeta cowboy, o John Wayne dos profetas menores. Talvez por não ter pedigree profético, Amós se viu com
liberdade para dizer o que precisava ser dito, sem temer por sua reputação.
Dentre as coisas que disse, talvez a mais corajosa tenha sido esta:
“Não me sois, vós, ó filhos de Israel,
como os filhos dos etíopes? diz o SENHOR: Não fiz eu subir a Israel da terra do
Egito, e aos filisteus de Caftor, e aos sírios de Quir?” Amós
9:7
Deve
ter sido desconcertante descobrir que não era tão importante quanto se imaginava,
e ainda ser comparado à gente de um país distante na África. Deus e sua mania
de pôr nosso preconceito à prova...
Então,
o Êxodo de Israel não foi o único? Tanto os filisteus quanto os sírios (ambos
desafetos de Israel) tiveram seu próprio êxodo? Os mesmos poderosos braços que
arrancaram Israel do Egito também arrancaram os filisteus de Caftor e os sírios
de Quir?
Logo, a conclusão a que
chegamos é que a história de Israel não é o único fio através do qual Deus está
trançando a teia da trama universal. As
histórias das nações se cruzam, e o mesmo se pode dizer da história de cada ser
humano.
Isaías, contemporâneo de
Amós, reforçou a ideia:
“Naquele dia haverá estrada do Egito até a
Assíria. Os assírios virão ao Egito, e os egípcios irão à Assíria. Os egípcios
adorarão com os assírios ao Senhor. Naquele dia Israel será o terceiro com os
egípcios e os assírios, uma bênção no meio da terra. O Senhor dos Exércitos os
abençoará, dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo, a Assíria, obra das minhas
mãos, e Israel, minha herança.” Isaías 19:23-25
Por mais de quatrocentos
anos, o povo de Israel amargou a escravidão no Egito. E agora vivia sob a
ameaça assíria. Seria maravilhoso ouvir do juízo iminente que cairia sobre tais
nações que exploravam e oprimiam o “povo escolhido do Senhor”. Mas agora,
Isaías, usado pelo Espírito de Deus, leva-os a compreender as coisas de uma
inusitada perspectiva. Deus estava prestes a inaugurar uma estrada entre o
passado (Egito) e o presente
(Assíria). Uma estrada de mão-dupla. Os
egípcios iriam à Assíria, e os assírios viriam ao Egito. Haveria intercâmbio
entre os povos e ambos adorariam ao Senhor, o Deus de Israel. Sim, Ele é o Deus
de Israel, mas também é o Deus de todos os povos. Chegaria o dia em que Israel, que se
acostumara a enxergar-se como o filho predileto de Deus, seria o terceiro,
vindo logo após os egípcios e assírios. Quem diria... Israel em terceiro.
Geograficamente, Israel
ficava no meio do caminho entre o Egito e a Assíria. Talvez até pudesse se
aproveitar deste intercâmbio entre as duas potências criando um pedágio. Mas em
vez de lucrar com isso, Deus diz que eles estavam estrategicamente localizados
para serem bênção para ambos os povos.
Todos querem se locupletar
de alguma maneira. Ninguém está interessado em ser bênção. O importante é se
dar bem, ser cabeça em vez de cauda, ser primeiro, jamais segundo ou terceiro.
Mas a lógica do reino subverte isso. Quem quiser ser o maior, tem que ser o
menor, aquele que serve.
Como se não bastasse, o
Senhor se refere ao Egito como “meu povo”
e a Assíria como “obra das minhas mãos”,
porém, não tiraria de Israel o título de “minha
herança”.
Não deve ter sido fácil
ouvir Deus referindo-se ao Egito nesses termos.
Não, depois de ter amargado quatro séculos de escravidão naquele país.
Talvez Israel nem se incomodasse tanto se Deus chamasse “meu povo” alguma nação
amiga.
Dizer que Deus é fiel não
significa afirmar que Seus planos se limitem a nós e àqueles com os quais
mantemos laços amistosos. Pode ser que Ele inclua muitos dos nossos desafetos
em Seus planos. Quem poderia argui-lo por isso?
Só questiona a Sua justiça quem, de fato, não compreendeu nada de Sua
graça. Se Ele agisse de acordo com os critérios da justiça, ninguém escaparia,
nem mesmo nós. Seríamos todos igualmente condenados. Porém, Ele decidiu que
agiria tomando por base a Sua graça. Assim como não há méritos nossos envolvendo
o que te bom nos aconteça, não há deméritos por trás do que de ruim nos
aconteça. Tudo é graça! Ele faz nascer o sol sobre justos e injustos, mas
também faz chover sobre ambos.
Deus é fiel... não a mim,
ou a quem quer que seja, mas ao Seu propósito. E este, por sua vez, inclui, de
uma maneira ou de outra, a cada ser humano que já viveu, vive ou viverá na face
da Terra.
Quantas vezes dizemos que
perdoamos aos nossos desafetos e até pedimos que Deus os abençoe. Porém, quando
os vemos prosperar, questionamos a justiça de Deus. Afinal, se nossa oração foi
sincera, deveríamos agradecer a Deus por termos sido atendidos.
Chamar a Assíria (império
sediado na Babilônia) de “obra das minhas mãos” parecia um insulto. Aquilo só
podia ser obra do diabo! Mas Deus não vê assim. Devemos redobrar nossos
cuidados antes de creditar algo a Deus ou ao diabo.
Se Ele é o Senhor das
circunstâncias, o arquiteto das contingências, logo, sabe exatamente como
conduzir a História a fim de que Seus propósitos sejam alcançados. Como dizia
Lutero: Deixe Deus ser Deus! Ele não nos deve explicação alguma.
João 14:10 Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é que faz as obras.
ResponderExcluirPAIXÃO, Edson.
muito bom. Faz a gente viajar se sair do lugar. Uma verdadeira parabola.
ResponderExcluirQue palavras são essas???Só podem ter vindo do coração de Deus!!!Obg Jesus,Tu és Gracioso...
ResponderExcluirHermes, leio todos os textos que você publica no seu blog.
ResponderExcluirCom certeza, esse é um dos melhores que você já escreveu.
Parabéns!! Que o Arquiteto do Universo continue dando inspiração e coragem para publicar textos que trazem uma reflexão a nós, leitores.
Grande abraço.