quarta-feira, outubro 26, 2011

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Tão grande, mas tão miserável



Por Antônio Carlos Costa

Para onde quer que o homem lance o olhar contempla aquilo que pode representar a sua destruição. A condição do homem é trágica. Os cristãos sempre levaram em consideração esse fato. Para eles a vida de um incrédulo sempre foi um enigma, pois os que tem as certezas do evangelho não sabem como alguém pode viver sem uma esperança adequada - suficiente para atender às aspirações do espírito humano e baseada em evidência racional. Foi Pascal quem disse:

É preciso ter a alma muito elevada para compreender que não há... satisfação verdadeira e sólida; que todos os nossos prazeres não passam de vaidade, que os nossos males são infinitos; que, finalmente, a morte que nos ameaça a cada instante deve colocar-nos infalivelmente, dentro de poucos anos, na terrível necessidade de sermos eternos, ou aniquilados, ou infelizes.

Foi Pascal, como poucos pensadores, quem pôde descrever o caráter ambíguo da condição humana – sua grandeza e a sua miséria, que ironicamente, coincidem:

A grandeza do homem é grande na medida em que ele se conhece miserável. Uma árvore não se conhece miserável. É, pois, ser miserável conhecer-se miserável; mas, é ser grande conhecer que se é miserável. Todas essas misérias provam a sua grandeza. São misérias de grande senhor, misérias de um rei destronado... numa palavra, o homem conhece que é miserável. Ele é, pois, miserável, de vez que o é... o homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante.

Um caniço pensante! Um ser frágil e que o sabe. Como atender as demandas da alma de um ser racional e que se vê ao mesmo tempo exposto à tragédias das quais procura fugir com horror? Como lidar com o receio de ter que enterrar os filhos em lugar de ser enterrado por eles, de ser abandonado pelo que ama, se privar mediante morte do convívio com alguém estimado, perder a reputação, ser objeto de uma escaramuça, fazer um câncer, sofrer um acidente grave, presenciar uma terceira guerra mundial ou ver um asteróide se chocar contra o planeta terra e destruir toda a espécie humana e tudo aquilo que esta produziu, sem deixar registro algum de um poema ou composição musical? E isto sem ter ninguém do lado de fora para chorar. Será que as palavras que William Shakespeare põe nos lábios de um dos seus personagens estão com a resposta final?

Apaga-te, vela fugaz!
A vida não é senão uma caminhada
Sombria, um pobre ator
Que se pavoneia e gasta a sua hora
No cenário,
E logo ninguém mais o ouve;
Vem a ser um conto
Narrado por um idiota,
Cheio de ruído e fúria,
Que não significa nada.

O que Cristo trata de fazer nessa passagem é apresentar uma forma de o homem aprender a lidar com os seus temores. Ele não apresenta um mandamento tão além do que o homem julga ser capaz de alcançar, sem ao mesmo tempo revelar a razão de ser do mandamento. Cristo nunca pede do homem o que este não pode dar. Deus não deixaria os seres humanos sem uma saída para as suas preocupações, muitas das quais suficientemente fortes para deixar qualquer pessoa aturdida.

A partir do versículo 25 Cristo trata de apresentar os motivos para crer da razão iluminada pelo evangelho. Sim, há duas formas de usarmos a mente. A forma natural e a forma iluminada. A fé cristã não tem nada a dizer para aquele que rejeita o evangelho. O evangelho provê luz. Sem a luz do evangelho a mente humana terá que funcionar inevitavelmente sob a influência das trevas dos condicionamentos mais diferentes impostos pelo pecado. Sem o evangelho o homem natural pode até chegar à conclusão de que Deus existe. O que ele não conseguirá jamais será conceber um Deus confiável.

Antônio Carlos Costa (Via Palavra Plena)

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