terça-feira, agosto 28, 2012

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O que sobra do Evangelho se eliminarmos a Graça?



Por Hermes C. Fernandes

Subtraindo o conceito de “graça” do Evangelho, o que sobra? É possível pregar um Evangelho sem graça? Daria pra aproveitar alguma coisa?

Talvez alguém responda que tirando a graça, sobraria ainda o conceito de “reino”, e isso, de alguma forma, preservaria pelo menos uma parte da essência do Evangelho.

Já houve até quem diferenciasse o Evangelho da Graça do Evangelho do Reino, afirmando que este último teve que sair de cena, tão logo Cristo fora rejeitado por Seu povo, para dar lugar ao Evangelho da Graça, pregado por Paulo. Ledo engano!

Não há, nem jamais houve dois evangelhos. De acordo com Paulo em Gálatas 1:6-7, um ‘outro’ evangelho só poderia ser uma farsa, e por isso, deveria ser prontamente rejeitado.

O Evangelho do Reino anunciado por Jesus é o mesmo Evangelho da Graça anunciado por Paulo. Em outras palavras, Jesus anuncia a chegada do Reino de Deus aos homens, e Paulo anuncia a disposição de Deus em receber tais homens neste reino.

Se o reino anunciado por Jesus não tivesse em seu centro um trono de graça, estaríamos todos perdidos. Seria como se fôssemos invadidos por forças alienígenas, sem dó nem piedade, prontas a dominar-nos a seu bel-prazer. Em vez de um Deus soberano, teríamos que submeter-nos a um Deus tirano.

Os conceitos de reino e graça devem entrelaçar-se, a fim de que nos acheguemos a Deus com confiança, sem o risco de sermos rejeitados.

O fato é que Aquele que está assentado no trono é três vezes santo, enquanto que nós somos pecadores. A base do Seu trono são a retidão e a justiça (Sl.97:2). É a Sua justiça que garante a estabilidade do Seu reino. Seu trono está firme pelos séculos dos séculos. O terreno sobre o qual Seu trono se ergue é plano e, por isso, nenhuma de suas pernas necessita de calço.

Se Ele cometesse um único ato de injustiça, isso abalaria todo o Universo, pois afetaria a base, e, por conseguinte, a estabilidade do Seu reino.

Este, porém, é apenas um lado da verdade.

A mesma Escritura que diz que “retidão e justiça são a base do seu trono”, também afirma que “com AMOR sustém ele o seu trono” (Pv.20:28).

As quatro pernas do Seu trono apontam para as múltiplas dimensões do amor, reveladas nas quatro palavras do grego neotestamentário traduzidas por amor: Agape, Eros, Storge e Phileo. Nenhuma delas é maior que as outras (Falo mais sobre isso no meu livro Amor Radical).

Como evitar o atrito entre esses dois atributos divinos, a justiça e o amor? Ora, se a justiça insiste em que o pecador seja devidamente punido, o amor exige que este seja perdoado. Como manter a estabilidade no reino, tendo que harmonizar dois atributos aparentemente antagônicos?

Sabemos que o pecado abalou a estrutura do Universo, porém, manteve intacto o reino de Deus. Como isso seria possível?

Recentemente, o Japão foi sacudido por um dos maiores terremotos de sua história, sendo seguido por um enorme tsunami. Uma das imagens que mais chamaram minha atenção foi a dos prédios que se moviam, mas não sucumbiram aos abalos sísmicos repetidos. O que os manteve de pé? Por que não caíram como tantos outros?

Graças aos constantes terremotos, os japoneses desenvolveram uma inusitada técnica de engenharia, em que o prédio tem em sua base uma espécie de amortecedor, semelhante aos usados nos carros. Os amortecedores têm como função, controlar as oscilações da suspensão, mantendo as rodas do veículo em contato permanente com o solo estabilizando a carroceria do veiculo, propiciando conforto, segurança, estabilidade e prevenindo o desgaste excessivo dos componentes da suspensão e dos pneus. No caso dos prédios, esses amortecedores fazem com que eles se mantenham de pé mesmo quando o terreno no qual estão construídos é severamente sacudido por abalos sísmicos.

De maneira análoga, a graça serve como amortecedor, impedindo o atrito entre a justiça e o amor, mantendo assim a estabilidade do Reino de Deus.

No Salmo 46, a graça é apresentada como um rio que traz alegria à Cidade de Deus, Capital do Reino de Deus.

“Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza. Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela; não se abalará. Deus a ajudará, já ao romper da manhã” (Sl.46:2-5).

Aleluia! Estamos seguros mesmo em meio ao caos. A graça nos traz segurança. O trono continua ocupado pelo Rei de toda a Terrra. Nada Lhe foge ao controle. O que tiver que ser abalado, será. E isso, para que as coisas abaláveis dêem lugar às inabaláveis, o transitório ceda a vez ao permanente. Portanto, “tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com reverência e santo temor”(Hb.12:28).

Não perca a continuação desta reflexão.


8 comentários:

  1. Não existe tensão alguma entre a justiça e o amor de Deus. São antes duas facetas de Seu caráter: Sua justiça é motivada pelo Seu amor ao que é inerentemente bom; Seu amor se manifesta na Sua justiça contra o que é inerentemente mau. Na verdade Pr.Hermes, o que tem contaminado a mensagem do evangelho não é uma falta, mas antes um excesso de graça: uma graça barata, irresponsável, dissociada da verdade, que tem alargado a porta estreita da qual Jesus nos alertou. E o que é a verdade senão a aplicação equilibrada de todos os aspectos do evangelho? Quando um é valorizado em detrimento de outro, a verdade desaparece, e ai a graça não serve para nada. Quando a mensagem da graça não vem acompanhada pelas mensagens da perseverança, da renúncia, do comprometimento com Cristo, do rompimento com os padrões do mundo, da possibilidade da rejeição e perseguição, da fidelidade incondicional às Escrituras, o que temos não é graça de Deus.

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  2. Legal, esse assunto tá relacionado ao meu último comentário, acho que inspirei...rs rs
    Pois é, o evangelho não tá divido ele se completa em amor, graça, justiça, renuncia, humildade etc...porém quem convence é o Espírito Santo e não nós, somos responsáveis de como passamos o evangelho para as pessoas...por exemplo...um pastor foi na casa do meu sogro pregar o evangelho para ele umas décadas atrás, e disse que ele iria para o inferno se não aceitasse a Jesus, então intimou-o: Aceite a Jesus agora senão vc vai pro inferno! Conclusão, meu sogro disse na cara do pastor...já que vou para o inferno, não aceito Jesus... a maneira rude e grosseira do pastor trouxe consequências, um coração que rejeita qualquer palavra e resistente ao evangelho...é esse o evangelho sem graça que nada se aproveita...não é por força, não é por violência que devemos proclamar as suas boas novas...a gente só fala com autenticidade de alguém que se relaciona, a impressão é que falam de Jesus por aí como por motivação de alguns do livro de Atos, por inveja e não porque tem um relacionamento com Ele, ou por só de ouvir falar...e aí quando passamos o que ouvimos falar, vira telefone sem fio... radio pião...moldes, cópias piratiadas do modelo original...
    Achei legal esse vídeo, deixo aqui para enriquecer o assunto...

    http://www.youtube.com/watch?v=D9-Md7Nicqs&feature=player_embedded#!

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  3. Missionário Barbosa5:00 PM

    Hermes, graça e paz de Jesus Cristo de Nazaré amém?
    Meu irmão Hermes, gostaria de comentar sobre estes versículos do Sl 46 que o irmão mencionou amém?
    " NOSSO REFUGIO E FORTALEZA".
    Embora todo cristão às vezes, passe por tempos de aridez espiritual; leia Salmos 44, isto não é normal. Deus quer estar perto do seu povo e prover-lhe ajuda e consolo.
    Este salmo evidencia fé e confiança em Deus, em ocasiões de instabilidade e insegurança.
    1- Em Deus temos o poder e a capacidade de enfrentar as incertezas e lutas da vida.
    " REFUGIO" fala de abrigo no perigo, mostrando que Deus é nossa real segurança nas tormentas da vida; leia Isáias 4.5,6.
    " FORTALEZA" refere-se à força divina na peleja do cristão contra seus inimigos; leia Salmos 21.8; Êxodo 15.13 e inclui o poder de Deus que opera em nós e nos capacita a vencer os obstáculos da vida; leia Colossenses 1.29.
    2- Conclusão: Deus é "Socorro bem presente na angústia".
    Deus está ao alcance do seu povo e quer que busquemos seu socorro qualquer momento de necessidade; leia Hebreus 4.16.
    Deus é suficiente em qualquer situação e nunca nos deixa só.
    Por isso, não precisamos temer, nem a Satanás e tão pouco aos homens.
    Hermes esta palavra é o que nos alegra em Salmos 46.4.
    " HÁ UM RIO CUJA AS CORRENTES ALEGRAM A CIDADE DE DEUS, O SANTUARIO DAS MORADAS DO ALTÍSSIMO".
    OH! GLÓRIAS! BREVE FAREMOS MORADAS COM O ALTÍSSIMO ATRAVÉS DE JESUS CRISTO QUANDO A TROMBETA SOAR".
    O " RIO" de Deus é o fluxo contínuo da graça, glória e poder no meio do povo salvo; leia Salmos 46.11; Isáias 8.6; Ezequiel 47.1 Apocalipse 22.1.
    Esse rio puro, vivificador, flui de Deus Pai, de Deus Filho e de Deus Espírito Santo; leia Jeremias 2.13; Zacarias 13.1; João 4.14; 7.38,39.
    Flui do trono de Deus e vivifica constantemente os santos, tanto os da terra, como os do céu; leia João 4.13,14; 7.38; Apocalipse 22.1.
    A benção suprema desse rio é que ele traz Deus para o meio do seu povo; leia Salmos 46.5.
    "O SENHOR DOS EXÉRCITOS ESTÁ CONOSCO; leia Salmos 46.7,11.
    DEUS FALA EM SALMOS 46 10:
    Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; serei exaltado sobre a terra.
    " AQUIETAI-VOS".
    No hebraico aqui também admite a Tradução:
    " SOLTEM-SE", E, LARGUEM AS COISAS QUE IMPEDEM O CRISTÃO DE EXALTAR A DEUS E DE DAR-LHE SEU DEVIDO LUGAR NA VIDA.
    A caminho que parece direito ao homem, mas o seu fim são os caminhos da morte. Provérbios 16.25.

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  4. Anônimo4:34 AM

    A perfeição da aliança justiça e amor com Graça é louvada quando o assoalho Oceânico tsunamisado ergue em suas bordas emersas edifícios concretos sobre bases pressurizadas.

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  5. A perfeição da aliança justiça e amor com Graça é louvada quando o assoalho Oceânico tsunamisado ergue em suas bordas emersas edifícios concretos sobre bases pressurizadas.

    PAIXÃO, Edson.

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  6. Mas... quer dizer então que toda aquela conversa de ter que sacrificar meus bens para ser abençoado... de recolher o trízimo - 10% pro Pai, 10% pro Filho e 10% pro Espírito Santo... de dar um dia de trabalho por mês como primícias pro meu sacerdote... tudo aquilo é... ah, não pode ser!!! Sério mesmo??? E está lá na Bíblia??? E qualquer um pode ler e aprender sobre a graça de DEUS Pai sobre TODOS??? Aaawn...

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  7. Mas... quer dizer então que toda aquela conversa de ter que sacrificar meus bens para ser abençoado... de recolher o trízimo - 10% pro Pai, 10% pro Filho e 10% pro Espírito Santo... de dar um dia de trabalho por mês como primícias pro meu sacerdote... tudo aquilo é... ah, não pode ser!!! Sério mesmo??? E está lá na Bíblia??? E qualquer um pode ler e aprender sobre a graça de DEUS Pai sobre TODOS??? Aaawn...

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  8. A Graça é escandalosa mesmo. Deus nos ama, atrai, restaura e inclui no Reino sem que tenhamos mérito em nenhuma desas ações. Somos nós que já estamos contaminados pela mentalidade capitalista de que ninguém dá nada sem esperar a retribuição, ninguém faz nada "de graça" para o outro. Basta ler a parábola dos trabalhadores que começaram a trabalhar em diferentes horas do dia. Os que trabalharam menos receberam o pagamento antes dos demais e por isso os que trabalharam mais horas julgaram que receberiam "algo mais" e atrevem-se a questionar o dono da vinha.
    Porventura o dono da vinha cometeu alguma injustiça em premiar todos com a mesma quantia, diga-se de passagem, a quantia acordada com os primeiros trabalhadores foi paga integralmente.
    Por acaso o pai do filho pródigo cometeu alguma injustiça ao receber o filho com festa? Só aos olhos do primogênito aquilo foi uma insanidade. Despender recursos com quem nos causou desonra certamente seria loucura e desperdício, mas a lógica de Deus passa pelo amor. Ele é justo e amar é a maior das justiças, por isso ele é amor. Quem ama investe na recuperação do pecador, quem ama confere credito a quem se apresenta arrependido (mesmo que setenta vezes, ou setenta vezes sete).
    A Graça faz isso: escandaliza o interesseiro gospel.

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