terça-feira, julho 19, 2011

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Liberdade para ser criativo


Por Marcello Comuna

Sou um cara extremamente grato ao Pai. Não sou grato só porque ele me abençoa, sim, também sou por isso, mas sou grato principalmente porque ele me fez livre.

Deus me libertou duas vezes. Primeiro ele me libertou de mim mesmo, quando eu andava totalmente refém do meu hedonismo, das minhas vontades, da minha falta de controle.

Depois ele me libertou da religião. Me libertou do cristianismo judaizante que me oprimiu durante dois anos com uma roupagem moderninha e cheio de gritinhos idiotas do tipo: Uhuu!

Que babaquice!

Deus me libertou dos mitos da religião. Deus me libertou do proselitismo doutrinário e intimidador que me angustiava e me gerava diversas crises, e consequentemente, recaídas no vômito.

Deus me deu um dom. Eu sou um artista. Amo e faço arte desde que me entendo por gente, principalmente música. Preciso mais de música do que de oxigênio. Sim, é verdade, o oxigênio é apenas um meio, a música é minha razão.

E por isso também sou grato a Deus. Por que ele me fez assim. O meu DNA é uma partitura.

Dias atrás eu caminhava pela rua retornando do trabalho, e como sempre, com meu mp4 no ouvindo. Naquele instante minha trilha sonora era o último álbum do Zeca Baleiro, e me lembro de ter um êxtase de alegria e glorificação a Deus por minha liberdade em Cristo.

Alegrei-me por lembrar que minha gaiola agora faz parte do meu passado. Lamentei por um segundo o tempo perdido, mas logo me regozijei por toda eternidade de liberdade que tenho pela frente. Por toda inspiração artística que ainda vou receber apreciando um artista verdadeiramente cristão ou não. Porque quem é livre na mente, na alma e no espírito, consegue ver Deus além de um rótulo. Porque se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.

Digo isso, porque nem todo aquele que muda de um caminho moralmente condenável para um caminho moralmente aceitável foi, obrigatoriamente, liberto por Cristo. Diversas sociedades e religiões também pregam valores morais admiráveis e muitos os seguem.

Passei anos debaixo de um jugo doutrinário, cheio de observâncias de regras e costumes. Não, eu não estava em uma igreja tradicional, pelo contrário, na igreja onde eu estava tinha até uma prancha de surf no púlpito. Eu descobri que o demônio da religiosidade tem muitas facetas. 

Nenhum homem está habilitado a dizer o que é aprazível ou não a Deus e nem criar dogmas e costumes segundo seus gostos e pontos de vista e imputar sobre o povo.

Nossa regra de fé são as prescrições bíblicas da Graça. Nada mais.

A alegria que me fez refletir e escrever esse texto também se deu pelo retorno da liberdade criativa. A religiosidade atrofiou o meu talento. A religiosidade coloca rédeas sobre a arte.

Com o tempo, percebi que minhas criações estavam limitadas ao formato gospel. E por fim, foi deixando de ser prazeroso criar, porque o assunto tinha se esgotado, porque a forma da religiosidade tinha castrado minha biodiversidade de expressar Deus.

Como escutei da minha amiga Célia, missionária urbana que trabalha com artes há treze anos: "A arte não tem que ter, necessariamente, um “para”; a arte é". Não são as palavras JESUS ou DEUS que glorificam suas divindades, mas o exercício do dom que SOMENTE ELES NOS DERAM.

Eu sou grato porque eu devia demais, devia quando vivia de acordo com os padrões da babilônia, depois quando passei a viver de acordo com os padrões da religião. Jesus fechou a conta e passou a régua!

Hoje sou livre e vivo somente de acordo com os padrões de Cristo.

Beijo grande no seu coração.


Via Verbo Primitivo

2 comentários:

  1. Eu me identifiquei TOTALMENTE com esse post.

    Desde o MP4 e as observações sobre Deus, até a "igreja atrofiando a minha arte".
    Quantas vezes vi Deus em cantores fora do mundo gospel...

    Estou nessa fase boa também, de liberdade.
    Curtindo novamente o que curti um dia, que Deus nunca me condenou curtir, mas a igreja sim.
    Amo arte e arte não combina com a limitação comportamental da igreja.

    Quando falo que vejo Deus fora da igreja, as pessoas me olham atravessado.

    A ultima vez que falei isso numa célula, ouvi a seguinte resposta de uma garota do grupo de louvor: "Você tem que entender que tais pessoas, fora da igreja vão pro inferno"

    A mansidão e o temor, passaram longe no tom de voz. Foi tétrico.

    Santa mãe da ignorância.
    Não soube nem avaliar o que eu falei, as pessoas estão TOTALMENTE cegas as regras da igreja, deviam ficar cegos as regras da bíblia.

    Desculpe o comentário gigantesco.
    Mas é bom saber que não estamos sozinhos.

    O VERBO PRIMITIVO tá mais que favoritado!
    O texto vai pro meu TUMBLR.
    Conte com minhas visitas, Marcello.
    Obrigada, sempre, Hermes.

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  2. Olá Hermes!
    Fico muito honrado em ver meu texto publicado aqui. Seus textos são uma influência direta no meu pensamento. Foi através da sua escrita que consegui entender o contexto de subversão no Evangelho.

    Deus te mantenha de pé e no estreito caminho da subversão.

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