terça-feira, janeiro 11, 2011

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Tal pai, tal filho - Sendo modelo para as próximas gerações



Por Hermes C. Fernandes




“É mais fácil passarmos aos filhos as nossas paixões que os nossos conhecimentos.” Barão de Montesquieu

Defendemos até aqui que o relacionamento entre Jesus e João Batista nos fornece um padrão para o relacionamento entre pessoas de gerações distintas. Estou convencido de que o segredo para resolvermos o conflito entre gerações repousa sobre isso. Daí surge a seguinte questão:  Por que Jesus e João se davam tão bem, apesar das diferenças? Por que não havia inveja ou ciúmes entre eles? Por que não encontramos o menor indício de rivalidade, tão comum a primos e até a irmãos? Para respondermos a estas questões, teremos que encontrar resposta para outra questão igualmente importante: Quem foi a referência de João?


O mesmo anjo que anunciou a Zacarias que sua mulher Isabel conceberia um filho, também anunciou a Maria que ela conceberia o Filho de Deus. Isabel não foi informada acerca da gravidez de sua prima Maria, mas o anjo contou a Maria que Isabel teria concebido em sua velhice (Lc.1:36). 


O que Maria fez ao saber da gravidez de Isabel? Saiu-lhe ao encontro. Não foi uma viagem muito fácil, pois Maria teve que caminhar em terreno íngreme até a casa de Isabel nas montanhas.


Maria e Isabel também pertenciam a gerações diferentes. Maria era uma menina, talvez ainda adolescente. Isabel era uma anciã. Por isso, Maria não esperou que Isabel viesse a ela, mas tomou a iniciativa de ir ao seu encontro.
“Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e Isabel foi cheia do Espírito Santo. Exclamou ela em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. De onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?” (Lc.1:41-43).

Observemos a humildade de Isabel ao reconhecer que o que era gerado no ventre de sua prima era superior ao que era gerado em seu próprio ventre. Não houve inveja, ciúmes, questionamentos, mas humildade e reconhecimento. O salto dado pela criança em seu ventre indicava que houvera uma identificação espiritual entre os que eram gerados em seus ventres.


Isabel poderia ter reagido diferente. Imagine ela dizendo a Maria: Quem você pensa que é, mocinha? Meu filho foi concebido antes do seu! Ele terá primazia! Ou ainda: Imagine se ela questionasse a justiça divina, alegando: Eu esperei tanto tempo, e essa menina inexperiente que vai ser mãe do Salvador? Isto não é justo!


Se houvesse algum tipo de inveja ou competitividade entre elas, isso fatalmente afetaria a relação entre João e Jesus no futuro. Nossos filhos observam a maneira como tratamos as gerações que nos antecederam. Há o risco de eles reproduzirem nossos acertos, tanto quanto nossos erros. Se formos desrespeitosos com nossos pais e avós, o que devemos esperar de nossos filhos para conosco? Pensando bem, deveríamos ser modelos.


Tanto João, quanto Jesus, cresceram em ambientes impregnados de amor e respeito. E nossos filhos, em que ambiente os estamos criando? Que tipo de críticas eles nos ouvem fazer aos nossos pais? Que tipo de comentário fazemos acerca dos tios, primos, avós, cunhados e outros parentes?


Assim como Maria, compete aos mais novos buscarem um reencontro com os mais velhos. Portanto, a conversão das gerações deveria partir dos filhos para com os pais, dos mais jovens para com os veteranos. Um telefonema, um encontro para jantar juntos, ou simplesmente um papo despretensioso na sala de estar, podem ajustar uma relação desgastada por anos.


Se os filhos compreendessem as limitações dos seus pais, e o fato de eles terem menos estrada pela frente, não esperariam nem mais um dia. Lembro bem que pouco antes de meu pai falecer, Deus me deu a oportunidade de estreitar nosso relacionamento. Alguns desentendimentos e desencontros acabaram por provocar um desgaste em nossa relação.
Passamos um tempo sem nos falar. Imagino o quanto isso deve ter doído mais nele do que em mim. Se a mim me custou noites em claro, o que deve ter custado a ele? Depois de quase dois anos meio afastados, tomei a iniciativa e resolvi me reaproximar do meu velho pai. Fizemos até uma viagem juntos à sua terra natal, quando pudemos colocar nossa conversa em dia. Ele até me confiou o desafio de cuidar espiritualmente de sua mamãe que estava muito doente. Coube-me a missão de falar-lhe mais sobre a Graça oferecida por Jesus. Naqueles dias, pude dizer a ele o quanto o admirava e o amava. Ele, por sua vez, dispôs-se a me ouvir, buscando entender algumas de minhas posições.
Na anti-véspera de sua morte, fui convidado de última hora para pregar em sua igreja. Quando Deus o recolheu, meu coração estava em paz.
Quantos filhos já não procuram seus pais há anos? Quantos pais abandonados em asilos, sem saber por onde andam seus filhos!
Minha cunhada trabalhou como auxiliar de enfermagem numa clínica geriátrica no Rio de Janeiro. Ela conta que um ator de novelas famoso vinha uma vez por mês para acertar as contas da internação de sua mãe. Ele sequer subia pra vê-la. Apenas pagava a conta, entrava no carro, e ia embora, não dando a menor importância àquela que com dores o pariu, e com amor o amamentou e criou.
Já dizia Shakespeare, o grande dramaturgo Inglês: “Ter um filho ingrato é mais doloroso do que a mordida de uma serpente!”
Não vale a pena guardar mágoas de nossos pais, nem de nossos filhos. E a melhor maneira de acertar as contas é conversando.
O problema é o orgulho. Ninguém quer dar o braço a torcer. Ficam os dois esperando pela iniciativa do outro. Que tal fazermos como Maria? Em vez de esperar por Isabel, saiamos ao seu encontro. Pode ser que amanhã seja tarde demais.
E se seu filho não quer tomar a iniciativa de vir ao seu encontro, faça como o pai do filho pródigo, que vendo seu filho despontando no horizonte, saiu-lhe ao encontro correndo, e abraçando-o, deu-lhe boas-vindas. Em vez de ficar esperando por nós, Deus veio ao nosso encontro e nos recebeu como filhos. Quer maior exemplo do que esse? O que não podemos é permitir que o abismo entre nós e nossos filhos se abra cada vez mais.
Contei no meu livro Amor Radical o episódio em que meu pai me surpreendeu com um bolo confeitado, depois de ter me deixado preso no quarto, prometendo me dar uma surra, porque eu havia pulado o muro da escola e passado o dia na praia, chegando em casa quando já era noite.[1]
Eis parte do relato:
De repente, ouvi os passos de meu pai. Ele pisava muito forte. Nós reconhecíamos sua aproximação pelos passos fortes no corredor exterior da casa. Minha carne tremeu. – É agora! Pensei.
Para minha surpresa, ouvi um som de euforia por parte dos meus irmãos. – Viva! Viva! Gritavam eles. – Papai trouxe bolo! – Quem é que a fazendo aniversário, papai? Perguntou uma de minhas irmãs. Eu imaginei: - Meu pai deve está querendo me torturar com isso. Mas tudo bem. É isso que eu mereço. Só me resta ele entrar aqui pra me dar a coça prometida.
Eu poderia imaginar qualquer coisa, menos a cena que viria a assistir. A porta do meu quarto se abriu. E lá estava meu pai, em pé diante da porta, segurando aquele bolo de aniversário, e olhando nos meus olhos, disse: - Este bolo é para o melhor filho do mundo!
- Não pode ser! Eu imaginei. – Isso deve ser um sonho. Comecei a chorar, e tomando coragem, agarrei meu velho pai, e pedi que me perdoasse.
Ali, aos doze pra treze anos, tive a primeira grande lição de minha vida acerca do poder do amor.  A partir daquele momento, toda vez que imaginava a possibilidade de aprontar alguma coisa, lembrava da cena do meu pai com o bolo. Eu não poderia ser mais o mesmo. O tempo de rebeldia chegara ao fim.
Nenhuma das surras que levei anteriormente surtiu em mim o mesmo efeito que aquele gesto de amor. Uma ponte pavimentada de glacê me trouxe de volta aos braços do meu pai.


[1] FERNANDES, Hermes C. Amor Radical, MK Editora 2008

* Este é mais um capítulo do meu livro "Conflito de Gerações", que estou escrevendo com a participação dos meus leitores. Leia, reflita, e me envie sugestões, perguntas e críticas, para que possamos melhorá-lo.

4 comentários:

  1. Gostei do texto me trouxe uma visão diferente a respeito desse conflito.
    Foge do 'clichê', pois quando se fala em conflito de gerações logo vem a mente aquela história: os mas velhos vêem os jovens como irresponsáveis e os jovens enxergam nos 'adultos' um pensamento ultrapassado. A conversa concerteza quebra esses préconceitos e nos remete a uma convivência com mais amor.
    Paz.:)

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  2. Anônimo4:13 PM

    A PAZ DO SENHOR.
    AMADO DE DEUS REALMENTE É DE FINO TRATO ESTA SITUAÇÃO, DEVEMOS AGIR COM MÁXIAM CAUTELA E ORAÇÃO PARA NÃO CRIAR DESINTELIGÊNCIAS. SINTO NA PELE OS CONFLITOS DE IDEOLOGIAS POIS FREQUENTO IGREJAS ONDE MINISTRO A PALAVRA QUE SÃO PASTOREADAS POR SENHORES SEXAGENARIOS, SEPTUAGENARIOS QUE FICAM LIERALMENTE INDIGNADOS COM O "MODUS OPERANDI" DAS MINISTRAÇÕES, POR EX: ACHAM O CÚMULO DO ABSURDO USARMOS UM LAPTOP OU PALM, UM DATASHOW, E OUTRAS "MENINICES".
    PRA CITAR UM EXEMPLO: TENHO O COSTUME DE TRABALAHR A MENSAGEM COM O "LAREADO", OU SEJA UM LIVRO FINAMENTE ENCADERNADO COM A MENSAGEM ESCRITA DENTRO. E POR CONSEGUINTE COLOCAR A DISPOSIÇÃO APOSTILAS COM O TEORO DA MESMA, DISPSOR OS TXTOS BÍBLICOS EM DATASHOW NO PAOWER POINT E EXPOR NA TELA, TECNOLOGIAS COMUNS QUE OS ANTIGOS ACHAM ABSURDOS.
    HÁ CONFLITOS TAMBÉM VÁRIOS COM COSTUMES( LEIA-SE VESTES)QUE A GERAÇÃO DE OUTRORA CHAMA EQUIVOCADAMENTE DE DOUTRINA.
    SÃO INÚMEROS CASOS, MAS O QUE FREQUENTEMENTE VEJO SÃO ASSINTES E DISPARATES POR PURA FALTA DE FORMAÇÃO BÁSICA DE OBREIROS E COSNGRAÇÕES DE PESOAS SEM NENHUM PREPARO TEOLÓGICO, O QUE AN SUA GRANDE MAIORIA GERAM INÚMEROS CONFLITOS.
    AMADO EDUCAÇÃO E CULTURA NADA TEM A VER COM ESTUDO E NÍVEL SOCIAL, MAS ONDE FALTMA OS PRIMEIROS NUNCA HAVERÁ UM NÍVEL SOCIAL COMPATIVEL E O QUE SE VE É UM RESULTAOD DE GROSSERIAS E MAUS TRATOS E DOUTRIANS DE HOMENS.

    UM ABRAÇO A PAZ.
    PR CLAUDIO ACCONCI
    12 97258223

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  3. Eu, gracas a Deus, apesar de nao ter crescido em uma familia crista, nunca passei por esse tipo de problema.

    Tanto eu como meus primos, sempre fomos educados com muito amor e dedicacao por nossos pais, mas sei que isso nao reflete a maioria das familias modernas.

    Seu texto eh otimo, e como seria bom se surtisse efeito em todas as familias brasileiras.

    Parabens e que Deus o abencoe.

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  4. Anônimo11:12 PM

    Pastor, que bênção suas palavras.
    Fui criada com uma distância emocional grande do meu pai. Ele era muito rígido na educação que me dava e exigia muito de minha pouca idade. Na adolescência o conflito se intensificou, pois com a conversão dele (eu já era cristã), tive muita dificuldade em comungar no mesmo ambiente.
    Anos depois, meu pai já velho de idade, precisou se internar e lá no leito do hospital,aquele homem austero fez-se frágil e ficou dependente do meu incentivo e apoio. Foi uma experiência tremenda com Deus. Eu já era casada, com filhos, mas ainda tinha resíduos de uma criação tão difícil, sem diálogo e carinho.
    Um dia, após voltar da visita, Deus visitou-me de forma intensa e fez uma cura dos traumas emocionais e falou-me que essa cura era porque Ele me usaria para tratar de tantas outras vidas vítimas de sentimentos mau-resolvidos. E foi assim, Deus curou-me, limpou sobrenaturalmente meu coração de toda mágoa (não precisei de nenhuma regressão ou cura interior como dizem por ai). Deus mesmo restaurou-me.
    Hoje atuo dando palestras em igrejas e comunidades sobre prevenção aos maus-tratos na infância. Tenho oportunidade de falar para muitos pais, porém, sem mencionar o que vivi, porque foi uma experiencia profunda para ser usada no Reino de Deus.
    Gostaria muito de ler o seu livro. Sei que será uma bênção na vida de muitos.
    Deus o abençoe!!!

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