terça-feira, novembro 23, 2010

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Transpondo o abismo entre gerações - Introdução



Por Hermes C. Fernandes 

Por que decidi escrever sobre este tema? Primeiro, porque tenho visto uma preocupação crescente no meio empresarial e acadêmico acerca dos conflitos entre gerações. Seminários, congressos, workshops acontecem em todo o País e no Exterior, reunindo sociólogos, antropólogos, psicólogos, pedagogos e profissionais da área de recursos humanos em busca de respostas que expliquem e ofereçam ferramentas para melhor lidar com esta realidade. E segundo, porque anacronicamente, a igreja cristã tem se mostrado apática quanto ao tema, enquanto vai perdendo a sua relevância a cada nova geração que emerge.

O fato inegável é que a igreja está envelhecendo! O número de jovens que evadem das igrejas a cada ano é assustador. E o dado mais preocupante é que a maioria deles nasceu em berço cristão. Há mais jovens de origem cristã deixando a igreja, do que jovens de outras origens ingressando nela, engrossando as fileiras dos chamados desigrejados. Muitas famílias cristãs se vêem impotentes diante desta realidade. O abismo entre gerações começa em casa, e se agiganta na igreja, no mercado e na academia.[1] 

Enquanto são pequenos é fácil conduzir os filhos à igreja, mas quando chegam à adolescência, vêm os questionamentos, a rebeldia típica dessa fase, e o poder atrativo do mundo. De repente, os pais se sentem na ponta de um cabo de guerra. Os colegas, a cultura pop, e os hormônios estão na outra ponta, disputando a lealdade dos seus filhos. E à medida que perdem os jovens, as igrejas também perdem sua influência na sociedade. Para impedir isso, muitas igrejas têm lançado mão de programas voltados para o público juvenil. Algumas igrejas chegam a se transformar em verdadeiros clubes noturnos, oferecendo eventos dançantes com música cristã contemporânea. Outras utilizam o pátio do templo para a prática de skate, bike, e outros esportes radicais. Será que tais estratégias têm sido eficazes e suficientes? Será que bastaria mudar a estrutura do culto para atrair uma audiência mais jovem? Por que nossos filhos se mantém tão indiferentes em relação à nossa fé?

Nem o lar de pastores e líderes cristãos proeminentes tem escapado deste conflito. Recentemente o filho adotivo de um famoso bispo brasileiro protagonizou um episódio escandaloso em que aparece em vídeos postados no Youtube fazendo gestos obscenos e indicando simpatia com símbolos satanistas. Apesar da suposta criação cristã que recebera, rebelou-se, tornando um motivo de constrangimento para sua família e toda a direção da igreja. Infelizmente, este não é um caso isolado. Até o mais importante evangelista do século XX não foi poupado de assistir à derrocada de seu filho, que deixou a igreja para entregar-se às drogas. Felizmente, Frank Graham, filho de Billy Graham, retornou ao caminho, tornando-se hoje no sucessor do legado ministerial de seu pai. Somente aos 22 anos teve um encontro real com Cristo, e hoje é o herdeiro do ministério de seu pai. Um caso muito conhecido nos Estados Unidos é o de Ronald David Roberts, filho primogênito do famoso evangelista Oral Roberts [2], que depois de assumir sua homossexualidade, suicidou-se com um tiro no coração. Outro caso mais recente que tem repercutido na mídia é o de Katy Perry, filha de pastores pentecostais, que recebeu uma criação rigída, chegando a cantar no coral da igreja, e hoje está entre as principais estrelas da música pop mundial. Canções que fazem apologia ao homossexualismo feminino estão em seu repertório, para vergonha de seus pais. Numa recente entrevista à revista Rolling Stone, Perry declarou que apesar de sua conduta mundana, ainda cultiva o hábito de falar em línguas. Fica a pergunta: o que estaria acontecendo com os filhos dos pastores? Talvez alguns deles se perguntem: Onde foi que eu errei?[3]

Seria tudo isso sintomático? Tenho conversado com vários pastores, tanto americanos, quanto brasileiros, que têm atravessado momentos dificultosos em seu relacionamento com os filhos. Um deles, pastor americano, desabou em lágrimas sentado comigo num restaurante enquanto confessava seu desgosto por ver seu filho abandonando a fé cristã depois de decidir tornar-se um cineasta. Sei de casos de filhos de pastores presos aqui nos Estados Unidos por tráfico de entorpecentes. Drogas, rebeldia, promiscuidade são alguns dos sintomas de algo que está acontecendo em muitas famílias pastorais e que precisa ser tratado. De fato, não é fácil ser filho de pastor. Eu que o diga! Sou filho e neto de pastores. Sei da pressão a que são submetidos… Da cobrança… Do dever de serem exemplo para os demais jovens da igreja. Alguns acabam herdando o púlpito de seus pais. Outros preferem traçar seus próprios caminhos, negando-se a viver à sombra do pai.

Se assumirmos como sintomático o que tem acontecido a muitos filhos de pastores, teremos que examinar o que estaria por trás deste fenômeno, para que, então, buscássemos o remédio. Poderíamos simplesmente espiritualizar tal fenômeno, apontando como remédio a oração e demais disciplinas espirituais. Porém, sugiro que o diagnóstico seja mais complexo que isso, e que envolva, entra outros fatores, o tal “conflito de gerações”. Se estiver certo em minha conclusão, qual seria a melhor forma de lidar com isso?

Desde os fervescentes anos 50, o abismo entre as gerações parece ter aumentado significativamente. Cada nova geração parece pretender romper com todos os valores e paradigmas da anterior. O que parecia um movimento ingênuo no tempo da brilhantina, tomou proporções inimagináveis. O jovem de hoje pensa: - Ora, se meu pai pôde rebelar-se contra meu avô, por que eu não posso rebelar-me contra ele? De repente, o pai que era considerado o super-herói do filho, passa a ser visto como vilão, ou quando não, um mero coadjuvante, ou ainda pior, figurante. A comunicação entre pais e filhos tornou-se quase impossível. Cada geração elabora seu próprio dialeto. É possível superar as diferenças? Como reconquistar nossos filhos? Como voltar a ser seu mentor? Ou ainda: como nos reaproximar de nossos pais, sem reavivar velhas questões? Seria esse um fenômeno relativamente recente? Seria um sinal dos tempos? Como era nos tempos bíblicos?

Se amamos a nossos filhos, e nutrimos alguma esperança quanto ao futuro da humanidade, devemos lutar para que este abismo seja aterrado. Com isto em vista, sentimo-nos desafiados a escrever este livro, em que tratamos exclusivamente do conflito geracional, que engloba tanto a relação entre pais e filhos, como também entre veteranos e recém-chegados, tanto no ministério, como na vida empresarial, social e cultural.

Outro exemplo de conflito geracional é a transição de uma gestão pastoral à outra, principalmente quando se trata de um pastor ancião que passar o bastão a um mais jovem. Quantas igrejas têm sofrido amargamente com a sucessão de pastores? Seminaristas aprendem homilética, hermenêutica, teologia sistemática, história eclesiástica, e tantas outras matérias igualmente importantes para o desempenho do seu ministério. Mas não tenho conhecimento de qualquer seminário que ensine a arte de suceder outro ministro. Se por um lado encontramos veteranos que se negam a ceder espaço aos que estão chegando ao ministério, por outro encontramos novatos ávidos por oportunidade, mas que se negam a reconhecer e a honrar os que lhes antecedem. De uma gestão pastoral a outra, a igreja sofre uma reviravolta. Como atenuar esse tipo de crise?

Assuntos como comunicação, honrar as gerações que nos precederam, preparar o caminho para as que nos sucederem, famílias e igrejas voltadas para o futuro, são alguns sobre os quais nos debruçamos nesta singela obra.

[1] Mais assustador ainda é constatar que é cada vez mais comum encontrarmos detentos com nomes bíblicos nas cadeias públicas do País. Moisés, Davi, Samuel, Abraão são alguns dos nomes recebidos de seus pais, porém substituídos por codinomes mais sugestivos no mundo do crime.[2] O evangelista Oral Roberts começou em uma humilde tenda de avivamento e depois fundou um ministério que administrava milhões de dólares, além de criar uma universidade que leva seu nome. [3] “Onde foi que eu errei?” Este era o bordão de um personagem protagonizado por Jorge Dória em um programa humorístico da TV brasileira e expressava a desilusão de um pai que havia criado o filho na expectativa de que fosse um garanhão, ao se dar conta de que seu filho era gay. Talvez por não ser considerado politicamente correto, o quadro acabou extinto. 

Bem gente, conto com você para melhorar esta introdução. Lembrem-se, é apenas uma INTRODUÇÃO. Os assuntos serão desenvolvidos ao longo da obra. Preciso de sugestões. E quanto ao título do livro, o que acham de "Transpondo o abismo entre gerações"?

6 comentários:

  1. Barbosa3:02 PM

    IRMÃO HERMES,GRAÇA E PAZ!
    Meu irmão! O Salmista reconhecia que seus caminhos não era o agrado de DEUS e diz no livro de Salmos 25.4 o seguinte:Faze-me saber os teus caminhos,SENHOR;ensina-me as tuas veredas.
    Pode passar geração para outra geração,mas o único caminho é a cruz de Jesus Cristo e renúncia total do pecado. "SANTIFICAÇÃO"."E OBEDIÊNCIA A PALAVRA DO DEUS VIVO". SE NÃO FOR ATRAVÉS DE JESUS CRISTO E O DOCE SANTO ESPÍRITO,TEREMOS GERAÇÃOES PERVESAS E CORRUPTAS.
    Assim como nos dias de Moisés ler Êxodo 33.13,o salmista ansiava intensamente por conhecer os caminhos de DEUS. É possível o cristão conhecer algo das obras de DEUS,salvação,milagres;mas nunca realmente conhecer a DEUS ou entender os seus caminhos,os princípios da sabedoria por meio dos quais Ele opera em nós e nos guia.
    Os princípios básicos para nossa geração e também a geração vindoura conhecer os camininhos de DEUS.
    1- Devemos ter um desejo sincero de conhecer os retos caminhos de DEUS e à verdade da sua Palavra; ler Salmos 25.4.
    2- Precisamos estar dispostos a esperar em DEUS "todo o dia"; ler Salmos 25.5.
    3- Devemos com humildade obedecer a DEUS ter sempre um caráter segundo a vontade de DEUS e temer ao SENHOR; ler Salmos 25.9,10,12,14.
    4- Visto que o pecado é um obstáculo para se conhecer a DEUS e seus caminhos,precisamos abandonar o pecado e sermos purificados e perdoados. "Se eu atender à iniquidade a rebelião no meu coração,o Senhor não me ouvirá"; ler salmos 25.4,8; 66.18; I João 2.1,6.
    5- Contratempos na vida não são primeiramente um sinal de desagrado de DEUS. Conhecer a DEUS e seus caminhos pode resultar em sofrimentos e perdas,que do contrário não teríamos tido. O Exemplo ímpar dessa verdade é o próprio Jesus,que obedeceu perfeitamente à vontade de DEUS;no entanto sofreu tristeza,traição e a cruz. O cristão,que permanece na vontade de DEUS,deve contar com isso; ler Salmos 34.19; Atos 14.22; 20.22,23; Mateus 10.24.
    "PARA GERAÇÕES PERVESAS E REBELDES".
    No livro de Salmos 25.12 diz: QUAL É O HOMEM QUE TEME AO SENHOR? ELE ELE O ENSINARÁ NO CAMINHO QUE DEVE ESCOLHER.
    O plano de DEUS nos pode ser comunicado por meios extraordinários,tais como sonhos,visões e profecia. Porém,a maneira normal de Ele nos guiar e comunicar sabedoria é através das Sagradas Escrituras,e por meio do Espírito Santo,habitando em nosso coração. O plano de DEUS para o cristão e o homem,pode deixar de realizar-se caso a pessoa desconheça a Palavra de DEUS ou a interprete erroneamente e tome decisões contrárias à vontade de DEUS. Se as convicções,os posicionamentos e doutrinas básicas da Bíblia não estiverem solidamente arraigadas em nosso espírito,cairemos no erro.
    Uma área fundamental do homem e o cristão é a santidade de vida,pois DEUS nos guia "pelas veredas da justiça". ler Atos 2.17; 9.12; 10.3; 13.2; I Coríntios 14.1; Atos 21.10;
    2 Timóteo 3.16; João 14.26; Atos 8.29; 10.19; 13.2; 15.28; 16.6; I João 2.20,27;
    Salmos 25.21; Romanos 8.11,14; Salmos 23.3.

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  2. Olá!

    Na minha opinião, o que vem acontecendo no mundo é um despertar da juventude a respeito das falhas humanas das instituições. Os jovens se desinteressam não só pela igreja, mas pela política, pela família etc. Cada um vem traçando o seu caminho buscando uma verdade que não conseguem ver nas instituições falidas, generalizando para o TODO os vários acontecimentos particulares (escândalos sexuais de padres e pastores, degradação dos laços familiares, corrupção generalizada, para citar exemplos). O perigo disso é que, rebelando-se contra o estado das coisas, o jovem vá parar no extremo oposto.
    Eu sou jovem, mas minha forma de pensar, semelhante às pessoas da minha idade, não me impede de continuar sendo cristã.
    Para entender melhor meu ponto de vista, seguem textos que envolvem as maiores discussões da atualidade:
    ABORTO
    http://muitofosfato.blogspot.com/2010/10/aborto.html
    SEXO E CASAMENTO
    http://muitofosfato.blogspot.com/2010/11/tabu-sexo-antes-do-casamento.html
    HOMOSSEXUALIDADE
    http://muitofosfato.blogspot.com/2010/11/homossexualismo-e-homofobia-querela.html
    Cabe lembrar que essas são expressões individuais de opinião, mas que servem para ilustrar como a falta de esclarecimento religioso pode levar os jovens ao afastamento da igreja.
    Perdoe-me se minha opinião ofender-lhe em algum momento.

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  3. Gordom5:23 PM

    Bispo Hermes,A educação dos homens dos jovens vem do berço ministrados pelos pais e mães.
    Na Bíblia diz: Ensina a criança o caminho em que deves andar,quando crescer não desviará dele,este caminho é Jesus Cristo e sua Palavra de vida eterna.
    Será que estão ensinando? Levando a criança conhecer a Palavra de Deus desde pequeno estão fazendo isto? Fazendo cultos famíliares será que estão fazendo isto? Parece que não!
    vejo que estão querendo por a culpa da rebelião de violência e etc da juventude e até mesmo dos mais grandinhos,nas igrejas,e instituições,sendo que o próprio homem e o pecado que habita dentro dele é culpado de suas atitudes e seus atos.
    De que se queixa o homem vivente? Queixa sim dos próprios pecados.
    Não adianta,se o homem não converter dos seus maus caminhos e não se arrepender converter sinceramente entregando sua vida totalmente a Jesus cristo e a Verdade que é a Palavra salvadora que leva a vida eterna,nada vai mudar,serão os mesmo até pior! Corruptos,maldizentes adúlteros,homicidas,desonestos,avarentos e etc.
    E sempre serão! Geração perversa!
    Se o Filho vos libertar,verdadeiramente sereis livres. Assim disse Jesus Cristo!
    Sem Jesus Cristo não dá para ser feliz!

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  4. Obrigada!
    Eu é que me sinto honrada!
    Já estou seguindo seu blog.

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  5. Existe um livro chamado "Reconectando as Gerações" de Daphne Kirk (no Brasil, publicado pelo Ministério Igreja em Células - título original "Reconecting the generations") que faz uma abordagem muito interessante sobre como transpor esse abismo entre as gerações. Não sei informar como conseguir esse livro nos EUA, mas não deixo de achá-lo interessante como material de pesquisa e consulta para sua proposta.

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  6. Graça e paz amado irmão em Cristo Jesus bp. Hermes, antes de mais nada devo muito lhe agradecer, pois ha uns dois anos atraz vi uma ministração sua atravez do portal CREIO e as escamas dos meus olhos cairam, era uma ministração sobre meio ambiente, não me recordo bem só sei de la pra ca me desliguei da Convenção Quadrangular, das grandes denominações e estou aqui eu minha esposa e alguns amigos naquilo que denominaram "Igreja Emergente", não gosto muito de colocar nomes mas sei que o Senhor tem valorizado este verdadeiro Avivamento que estamos fazendo parte, que é este despertar da Igreja, poderia muito falar sobre o choque de gerações, principalmente aquelas que passei pois cheguei ao pastorado relativamente jovem com 28 anos em uma denominação que preza valores de sua fundadora, mas tão desvirtuada em sua liturgia quanto em sua administração, mas vamos ao ponto estava aqui nesta madrugada brasileira e em meu orkut vi um video do Marcos Botelho do Sepal que achei muito pertinente ao assunto que vc esta abordando segue o link: http://www.youtube.com/watch?v=B5lsaYxSiyA&feature=player_embedded#!
    Louvo a Deus pela sua vida, pelo seu ministério, pela linda historia de sua familia, (minha esposa é educadora e trabalha com educação especial) pela REINA.
    E nesta data estou tendo a oportunidade de lhe agradecer.
    Seja usado e ousado como tem sido na presença do nosso Senhor, pois de homens assim que o mundo precisa.
    Deus os abençoe.

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