Hermes C. Fernandes
Perfume de Mulher é um filme americano rodado em 1992, dirigido
por Martin Brest e estrelado por ninguém menos que Al Pacino, o gigante de pequena estatura. Em busca de
realizar um antigo sonho antes de morrer, um militar cego (Al Pacino) contrata
um jovem e inexperiente estudante (Chris O'Donnell) para ajudá-lo a passar um
fim de semana inesquecível em Nova York. Por não desejar piedade
nem tolerar discordância, passa a criticar o comportamento do acompanhante.
Porém, na viagem, aos poucos, ele passa a se interessar pelos problemas do jovem, esquecendo
um pouco sua amarga infelicidade.
A cegueira tirou todos os facínios do Coronel Slade, exceto o seu facínio por
mulheres. Sem poder ver a beleza de uma mulher, o personagem de Pacino passa a
ser seduzido por suas fragrâncias. Porém, isso não é suficiente para que Slade
queira continuar vivo, e é em torno deste eixo que a história do filme se
desenrola, contando como um garoto introvertido do interior de Oregon influencia
o decidido Coronel Slade.
Uma das cenas inesquecíveis é quando eles vão a um luxuoso restaurante, e o
Coronel convida uma moça para dançar tango. Ela hesita e ele lhe diz
bombasticamente “Não se preocupe, o tango não é como a vida; você pode errar e
continuar dançando.” Além de um ótimo olfato, ele adquire uma habilidade especial
de superar limites. Dizem que quando somos privados de algum de nossos sentidos, os outros tendem a se desenvolver mais.
As Escrituras estão cheias de referências a perfumes e unguentos. Dentre
todos, nenhum tem o destaque dado à mirra. Esta é extraída de um arbusto espinhoso que cresce nas regiões desérticas,
especialmente na África, em países como a Etiópia e a Somália. Tem sido usada, desde a antiguidade, para embalsamar
corpos. Os egípcios, por exemplo, a usavam em suas múmias. Além de evitar o mal
odor, a mirra tem ação bactericida, impedindo a proliferação de fungos, vírus
e bactérias. Ao ser ingerida serve como entorpecente, aliviando as dores e
atenuando o contato com a realidade.
Nos tempos bíblicos a mirra era comumente usada para embalsamar os mortos.
Por ser muito cara, era costume da família economizar o equivalente a um ano de
trabalho para comprá-la e guardá-la para ser usada por ocasião da morte de um de seus membros.
Também era usada pelos noivos na preparação do casamento. Ester teve que banhar-se em óleo de mirra por seis meses e em outros unguentos por mais seis meses antes de apresentar-se ao rei Assuero para ser
escolhida como a nova rainha. (Ester 2:12).
Portanto, a mirra tem a ver tanto com casamento, quanto com sepultamento. Então, por que razão
os magos vindos do Oriente a escolheram como um dos presentes do recém-nascido
Jesus?
Confira:
Confira:
“E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra” Mateus 2:11
Que utilidade teria a mirra para um bebê?
Por mais mórbido que pareça, aquele perfume caríssimo era para ser usado no sepultamento de Jesus, e visava poupar Maria e
José de um ano inteiro de trabalho. Talvez houvesse suficiente para usá-lo para embalsar tanto Jesus, quanto
o resto da família.
Mas o fato é que, se aquela mirra chegou a ser usada, não foi em Jesus. Se é verdade que Maria ficou viúva antes que Jesus fosse crucificado (o que
explicaria a ausência de José na cena da crucificação), talvez parte daquela
mirra tenha sido usada para embalsamá-lo.
A mirra, porém, não foi o único presente recebido por Jesus na ocasião de Seu
nascimento. Muito tem sido dito sobre seu simbolismo, mas gostaria de propor uma
interpretação alternativa (ainda que pareça pretensão de minha parte): O ouro
aponta para Sua chegada, o valor de Sua encarnação, o início. O incenso aponta para Sua obra, e a extensão de Sua existência terrena, o meio. Assim como o incenso
se consome à medida que vai queimando, Sua vida terrena seria gasta inteiramente
na dedicação da obra que veio fazer. Já a mirra aponta para Sua morte, a
consumação de Sua obra, o fim. Início, meio e fim. Criação, redenção e
consumação.
Depois do episódio de Seu nascimento, deparamo-nos com a mirra novamente no
episódio em que Ele é surpreendido por uma mulher que, sem pedir licença, quebra
todos os protocolos, invade o recinto em que estava, e derrama-Lhe sobre a
cabeça o precioso bálsamo. Percebendo que os discípulos a censuravam, e que
Judas argumentava que aquele perfume poderia ter sido vendido e seu valor revertido para os pobres, Jesus sai em sua defesa e diz: “Deixai-a,
por que a aborreceis? Ela praticou boa obra para comigo. Sempre tendes os pobres
convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me
tendes. Ela fez o que pôde. Antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.
Em verdade vos digo que em todo o mundo onde este evangelho for pregado, o que
ela fez também será contado para sua memória”(Mc.14:6-9).
Esta mulher era ninguém menos que Maria, irmã de Lázaro, a quem Jesus
ressuscitara poucos dias antes (Jo.12). No Evangelho de acordo com João, Jesus
afirma: “Ela guardou este perfume para o dia do meu enterro”(Jo.12:7).
Pense comigo: aquele perfume custava 300 denários. Praticamente um ano de
trabalho. Era economia de uma vida inteira. Considerado um bem da família, destinado a
ser usado no embalsamento de seus membros. Era de se esperar que ela o tivesse
usado em Lázaro, pelo menos a terça parte do perfume, já que sua família era composta de três pessoas. Se o tivesse feito, não
haveria razão para que Lázaro cheirasse mal no quarto dia após seu sepultamento.
Em vez disso, ela o guardou para Jesus.
De acordo com o testemunho do próprio Jesus, ela se antecipou a prepará-lO
para o sepultamento. O que significa isso?
Ao expirar na cruz, já eram três horas da sexta-feira. O sábado judeu começa às seis horas da tarde. Portanto, faltavam apenas três horas. Pelos romanos, Jesus ficaria pendurado no madeiro sendo devorado pelas aves de rapina, como geralmente acontecia com os demais crucificados. Porém, havia um membro do sinédrio chamado José de Arimatéia que era Seu discípulo secreto. Foi por intercessão dele que Pilatos liberou Seu corpo para ser sepultado (Mt.27:57-60). A correria foi enorme. Um judeu não poderia fazer absolutamente nada no sábado, nem mesmo sepultar seus mortos, quanto mais embalsamá-los. Aproveitaram que havia uma sepultura nova que alguém esqueceu aberta próxima do lugar da crucificação. Só deu tempo de enrolar o corpo do Senhor em lençóis, fechar a sepultura com uma grande pedra e esperar até que o sábado passasse para que pudessem retornar com calma para os procedimentos normais, incluindo o embalsamento.
O texto diz que as duas Marias, entre elas a Madalena, seguiram José de
Arimatéia e viram onde puseram o Seu corpo. A pressa delas em embalsamar Jesus
era tão grande, que mesmo antes de começar o sábado, elas “prepararam
especiarias e unguentos”, e ficaram esperando as primeiras horas do dia seguinte
para prosseguir em sua empreitada (Lc.23:56). Elas devem ter pensado: Vamos ser
mais rápidas do que José de Arimatéia. Quando ele chegar no domingo para
embalsamá-lO, terá uma surpresa.
Outro personagem que entra nesta corrida é citado por João. Trata-se de
Nicodemos, outro discípulo secreto de Jesus. Segundo o relato de João,
Nicodemos providenciou “quase cem libras de uma mistura de mirra e aloés” para
embalsamar Jesus. Mas devido à aproximação do sábado, só deu tempo de perfumar
os lençóis que envolveram o Seu corpo.
Ao chegar bem cedo no sepulcro onde estaria Jesus, quem teve uma surpresa foi
Maria Madalena. Algo inusitado ocorrera. A pedra estava removida. O sepulcro
estava vazio. Não! Ninguém levou Seu corpo, como Maria inicialmente achou que
acontecera. Jesus ressuscitou dos mortos, como muitas vezes avisou aos Seus
discípulos que ocorreria. Maria teve que voltar para casa com aquele perfume.
Porém, Jesus não ficou sem receber o devido tratamento. Ela pode ter chegado
antes dos discípulos secretos, e mesmo antes dos demais discípulos, mas alguém
se ANTECIPOU. Outra Maria fez o serviço.
Talvez Madalena não tenha se dado conta disso. Possivelmente não tenha
presenciado o ocorrido na casa de Lázaro cerca de quatro dias antes.
Maria, irmã de Lázaro agiu antes mesmo da morte. Ela se antecipou à cruz.
Teve um vislumbre do futuro. Tomou para si a responsabilidade.
Maria Madalena, sinto em lhe informar, mas mesmo tendo madrugado em frente ao
sepulcro, você chegou atrasada.
Imagine comigo: quando Jesus entrou em Jerusalém montado no jumento, Ele já
estava devidamente perfumado para ser sepultado. Quando expulsou os cambistas,
ele exalava aquele perfume forte. Pilatos, enquanto O julgava, devia ter
pensado: que fragrância maravilhosa é esta? E enquanto era crucificado, aquele
perfume se espalhava pelo ar…
* "Apenas para uso externo..."
* "Apenas para uso externo..."
De repente, no auge de Seu suplício, alguém se compadece de Sua dor e para
atenuá-la, oferece-Lhe “vinho com mirra” (Mc.15:23). Esta mistura promovia um
efeito semelhante a de um anestésico. Mas Jesus Se recusa a tomá-la. A mirra era
bem-vinda como perfume, mas não como entorpecente. Um “homem de dores, e
experimentado no sofrimento” (Is.53:3b) não podia deixar-Se entorpecer.
Infelizmente, a oferta recusada por Jesus tem sido aceita por Sua igreja em
nossos dias. Perdemos o contato com a realidade. Buscamos desesperadamente o
alívio de nossa dor.
O que deveria servir como perfume através do qual exalássemos a fragrância de
Seu amor, tem sido usado como entorpecente, para não dizer, alucinógeno.
A mirra pode representar nossa espiritualidade, com todos os dons que o
Senhor nos outorgou pelo Seu Espírito. Se esta espiritualidade nos fizer pessoas
voltadas para dentro de si mesmas, então ela nos entorpecerá. Uma igreja
entorpecida perdeu o contato com a realidade à sua volta, e por isso, já não é
capaz de afetá-la e transformá-la. Tornamo-nos apáticos, incapazes de nos
solidarizar com a dor do mundo. Já não nos importamos com nada que aconteça à
nossa volta. Simplesmente nos desligamos. Isso não é espiritualidade genuína,
mas mera religiosidade, aquilo que Karl Marx chamou de “ópio do povo”. A
verdadeira espiritualidade nos convida à compaixão e a nos engajarmos na
transformação da realidade, para que o sofrimento humano seja atenuado.
Mesmo na Cruz, Jesus demonstrou preocupar-Se com os que estavam à Sua volta.
Desde Sua mãe, passando pelos Seus algozes, até os ladrões crucificados ao Seu
lado, todos foram alvo de Sua compaixão e solidariedade. Desta forma, Ele exalou
o bom perfume de Seu amor em um cenário de dor e crueldade. Se Ele Se deixasse tomar por um sentimento de auto-compaixão, certamente
teria aceitado a oferta daquela esponja, e sorvido por inteiro a mirra que Lhe
aliviaria a dor. Mas Ele recusou.
Agora somos convocados a levar “sempre por toda a parte o morrer do Senhor
Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos
corpos; e assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de
Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal” (2
Co.4:10-11). E é assim que Deus “por meio de nós manifesta em todo lugar o
cheiro do seu conhecimento. Pois para Deus somos o bom perfume de Cristo” (2
Co.2:14b-15a).
Nossa missão é espalhar Seu aroma pelo mundo.
Cantares retrata a esposa do rei, representação da igreja de Cristo, como
aquele cujas mãos “gotejavam mirra”, e os dedos “mirra com doce aroma” (Ct.5:5).
Ela é aquela que “sobe do deserto, como colunas de fumaça, perfumada de mirra”
(Ct.3:6).
Como Esposa de Cristo, temos que deixar um rastro de mirra por onde
passarmos. Os ambientes que frequentamos devem ficar impregnado da fragrância
de Cristo. E isso se dá quando deixamos de viver para nós mesmos, para viver
para Cristo e por aqueles por quem Ele Se entregou na Cruz.
O Mundo pode até estar cego, como o personagem vivido por Al Pacino, mas certamente será capaz de perceber no ar o aroma de Cristo exalado por nós.
Amei.
ResponderExcluirAmo cinema e amo o que vc escreve, combinação perfeita pra uma boa reflexão!
ResponderExcluirAmei (parte dois)
ResponderExcluirHermes
ResponderExcluirQue texto, heim?!
Quando vi a extensão, pensei, depois eu leio o resto, prendendo-me inicialmente ao que se refere ao filme que amo, mas aí fui sendo atraída...Li e reli embevecida.
Que inspiração!
Informativo, reflexivo, poético, lindo demais!
Deus te abençõe!
Mensagem linda, Hermes.
ResponderExcluirDeus te abençoe com graça e sabedoria, cada dia mais.
Felicidades e abração na família e igreja,
Durval.
Olá Bispo Hermes.
ResponderExcluirHá cerca de 02 anos que acompanho seu blog mas nunca comentei nada.
Sou fascinado pela sua forma de escrever, sua abordagem e o conteúdo doutrinário que você expõem em suas narrativas.
Lendo esse texto, fiquei pensando: porque você não experimenta fazer alguns vídeos, como a série Nooma do Pr. Rob Bell (eu sei que ele é um "emergente", mas eu utilizo a máxima do apóstolo; examino tudo e retenho o bem).
Penso que a igreja brasileira merece algo do gênero.
Peço que não aceite meu comentário publicamente pois vou deixar meu e-mail para contato, se não for muita presunção de minha parte: heberpazdelima@hotmail.com
Seu irmão em Cristo.
Héber
Hermes do jeito que a China está dominado o mercado, este perfume de mulher deve ser da China uma porcaria falsificado.
ResponderExcluirSerá que este perfume aí desta atriz cheira a gamba?
Porque estes perfumes Chinaparaguai é terrível.
Olha a cara deste ator cheirando o cangote da mulher, parece que ele estava sentido um ardor desagradável.
Perceba nas foto deles é sério!
Não tem a ver com o texto, mas falou em perfume e eu estou comentando sobre o perfume que está junto ao texto.
Agora sobre o texto que o irmão publicou a Palavra de Deus é muito bom.
Só ficou devendo qual a marca do perfume para sabermos de que país veio ou da China ou do Paraguai, ou foi exportado da rua 25 de março em São Paulo para os atores.
É só isto que quero saber meu irmão Hermes.
Mas o texto está muito explicativo e edificante.