Por um fio… A aventura para tirar minha habilitação nos EUA

Ontem tive um dia atípico. Saí cedo de casa para tirar minha driver license (carteira de motorista). Já estou aqui há quase um ano e meio, e só agora pude cuidar disso. O que me preocupou foi assistir a uma palestra dirigida por advogados especializados em Imigração para os pastores brasileiros aqui da Flórida. Quando os ouvi dizer que se alguém fosse pego dirigindo sem habilitação poderia ser deportado, saí dali determinado a não deixar passar mais nem uma semana sem resolver o problema. Não foi displicência minha. Eu já havia tentado tirar minha habilitação antes, mas me negaram porque meu processo de mudança de status em meu visto ainda não havia terminado. Evitando cometer qualquer deslize, continuei a dirigir apenas com minha carteira do Brasil. As regras aqui sempre mudam. Da outra vez que morei na Flórida, soube que podia dirigir com a habilitação do Brasil por seis meses. Agora soube que o tempo regular é de trinta dias. E o pior é que desde que aqui cheguei em Abril do ano passado, já fui parado duas vezes pela polícia. Na primeira vez, estava numa estrada federal, viajando com minha família e chovia muito. Fui parado porque as lâmpadas que deviam iluminar minha placa estavam queimadas. Talvez tenham se queimado por causa da chuva. Como eu estava recente aqui, não tive problema com a habilitação. O policial foi até compreensivo e me liberou sem multa. Já na segunda vez que fui abordado, estava estacionando no banco, e um policial de moto parou ao meu lado e pediu minha habilitação. Muito educado, me disse que eu havia feito retorno em um lugar proibido. Aquela rua estava em obras, e não observei isso. Foi ele que me disse que eu não poderia estar dirigindo sem a habilitação do estado da Flórida depois de trinta dias que estivesse aqui. Vendo minha situação e desinformação, também quebrou meu galho e me liberou, sem nem ao menos me multar. Em pensar que ele poderia ter me deportado…


Agora que meus documentos saíram, resolvi não perder tempo e fui em busca de minha habilitação.

Fiz dois testes escritos e passei. Cada teste tinha vinte perguntas de múltipla escolha. No primeiro, acertei 18. No segundo, 16. O importante é que passei. Em seguida, me apresentei para fazer o teste de direção. Pediram-se o seguro do meu carro, pois o teste seria feito nele mesmo. Quando o apresentei, disseram-me que estava vencido. Só aí me dei conta de que o papel que eu carregava comigo era do seguro do ano passado. Mesmo garantindo que o seguro estava pago, eles não permitiram que eu fizesse o teste sem os comprovantes. Tentei ligar para a pessoa com quem esses comprovantes estariam, mas ela não me atendia, pois sua mãe estava passando por uma cirurgia naquele exato momento. Depois de tentar contactá-la inutilmente inúmeras vezes, me ocorrreu que eles poderiam permitir que eu fizesse o teste em outro veículo pertecente a um amigo. Graças a Deus, eles concordaram. Não sei porque, mas imaginei que talvez houvesse no meio daquela multidão alguém que eu conhecesse. Passei os olhos e pensei: De onde tirei isso? Não conheço ninguém por estas bandas. Liguei imediatamente para um pastor amigo meu, para que me trouxesse seu carro. Enquanto falava com ele, deparei-me com um pastor que conheci alguns meses atrás. Por incrível que pareça, eu não o tinha visto lá dentro, mas ele havia me visto e esperara o momento certo para falar comigo. Ele havia vindo tirar a carteira de seu sobrinho. Interrompi a ligação que estava fazendo, e perguntei se ele poderia me emprestar seu carro. Aquilo foi uma provisão de Deus, não tenho dúvida, apesar de seu carro ser uma van enorme. Pois além de me ceder seu veículo, ele também me deu valiosas dicas para que não fosse reprovado na avaliação. Uma delas era que ao dar marcha-ré, eu deveria colocar a mão direita no banco do carona, e olhar para trás. Isso é exatamente o inverso do que é exigido no Brasil. Também me falou sobre uma manobra chamada “três pontos”, que eu sinceramente desconhecia. O que me assustou foi quando me disse que a mulher que me atendera era a mais exigente de todas, e que já vira ela reprovar nove dentre dez motoristas. Quando chegou minha vez, enquanto anotava a placa do carro, ela olhou no relógio e disse: Me desculpem, mas preciso dar uma parada para o almoço. Aleluia! Salvo pelo gongo, ou melhor, pelo estômago. Porém, a que a substituia não parecia muito simpática. Pedi que ela tivesse paciência comigo, e falasse devagar para que a compreendesse melhor. Ela já entrou no carro gritando e dizendo: Não me diga o que fazer! Não me interessa que língua você fala. Mas foi só o susto. Ela foi bem mais simpática do que esperei. Fiz tudo direitinho. Mas quando chegou a hora da baliza, o celular disparou. Mas não me deixei distrair. Fui aprovado!

Na fila para pagar e pegar meu comprovante (um tipo de papagaio que usarei até que minha habilitação chegue pelo correio em três semanas), encontrei outro pastor acompanhado de um rapaz que tiraria sua primeira habilitação aqui. Da maneira como fui ajudado, também ajudei. Dei-lhe todas as dicas e espero que também tenha sido aprovado.

Que lição tirei de tudo isso?  Não adianta se afobar; Deus tem tudo sob controle. Se não fosse o problema com o seguro do meu carro, eu não teria precisado do carro daquele pastor emprestado, e não teria recebido as dicas que me ajudaram a ser aprovado. Nos próximos meses, terei que passar por tudo isso novamente, mas agora, para tirar a carteira dos meus filhos. Aqui eles podem dirigir a partir dos 15 ao lado dos pais, e com 16 já tiram a habilitação. Oh Deus…