Esse lento despertar do indivíduo de seu sono no seio coletivo está refletido no próprio fio narrativo da Bíblia. No Pentateuco e, em grande medida, nas crônicas históricas, a coletividade prevalece de forma muito evidente sobre o indivíduo. Os mandamentos e as promessas, as injunções e as ameaças, dizem respeito ao povo como um todo e requerem coletiva obediência1. Mesmo notáveis como Moisés, Abraão e Davi são celebrados menos pelos seus traços de personalidade do que pelo seu papel na sustentação e fixação do caráter da comunidade. Num certo sentido só existe o coletivo: os méritos de Israel são medidos pelo desempenho do grupo, e todos são castigados pelo erro de uns poucos.
Então, em algum momento da história e talvez sob a influência transversal dos gregos, os profetas abandonam a ênfase tradicional na responsabilidade coletiva e começam a enfatizar a responsabilidade individual. A justiça divina passa a ser compreendida de uma nova maneira, e nela os filhos deixam de ser punidos pelas transgressões dos pais. Deus deixa de visitar as gerações e a massa indistinta dos “filhos de Israel” e passa a procurar homem a homem um coração contrito em que possa reclinar a cabeça.
O ensino de Jesus surge num momento em que o conceito de responsabilidade individual já está bastante desenvolvido no tecido cultural de Israel. O Filho do Homem, por um lado, reforça ao extremo essa tendência, denunciando os abusos da religiosidade coletiva-institucional e requerendo de cada um o posicionamento e o engajamento que o distinga da ilusão da massa. Por outro lado, Jesus reverte por completo o alvo e o fim da individualidade, deixando claro que o indivíduo só encontra realização, significado e verdadeira satisfação no serviço voluntário e não-condicionado do próximo. O conceito de metanoia, como apresentado por Jesus e pelo seu precursor, diz respeito a esse duplo despertar do humano para sua individualidade e para seu destino glorioso no seio do Outro. Porque para Jesus só existe o indivíduo, mas a qualidade da relação do indivíduo com Deus e consigo mesmo tem uma única medida, a da qualidade da sua relação com o outro. “Sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, a mim o fizestes”.
Dos discursos ausentes de Atos e do Novo Testamento, o mais revelador – tanto da mentalidade da comunidade original quanto da nossa – talvez seja o apelo ao indivíduo que caracteriza toda a evangelização contemporânea, e encontra sua manifestação mais comum na fórmula “Jesus te ama”.
Os colonizadores bíblicos do reino encontraram muitas maneiras de propor a boa nova, mas parece que nenhuma delas passa por enfatizar o amor individual e incondicional de Jesus (ou de Deus) pelo ouvinte. A Bíblia está muito mais inclinada a dizer que Jesus é Deus, e que Deus é amor, do que a fornecer ao seu leitor o conforto (que oferecemos a qualquer um) de que Jesus o ama. Isso porque articular a boa nova como “Jesus te ama” requer como pré-condição uma sociedade inteiramente obcecada com a ideia do indivíduo: a nossa sociedade.
Há um oceano de diferença entre dizer, como a o Novo Testamento, “Deus é amor”, e dizer, como dizemos, “Jesus ama você”; entre dizer como a Bíblia “andem em amor, como Cristo também os amou”, e dizer como dizemos “Jesus te ama”. A articulação bíblica, de que Deus é amor, requer uma resposta ativa de amor ao outro, e sugere um trajeto que resgate o ouvinte do abismo sem fundo do individualismo. A conclusão necessária de ouvir “Deus é amor” é um incômodo devo amar. Nossa própria articulação, “Jesus te ama”, requer uma resposta meramente passiva e ignora por completo a questão da minha relação com o outro. A conclusão necessária de ouvir “Jesus te ama” é um confortável sou amado. Para a Bíblia, o amor é um desafio que me resgata de mim mesmo; para o evangelismo contemporâneo, é um conforto que me faz afundar ainda mais dentro de mim.
Porque o Novo Testamento, que não cessa de atestar o amor de Deus, não se rebaixa como nós a usar esse amor como fonte de conforto e acomodação. Ao contrário, o amor divino requer a mais urgente e intransigente das respostas, a imitação:
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
Amados, se Deus assim nos amou, nós também devemos amar-nos uns aos outros.
Dizer “Jesus te ama” é sugerir que o sentido do movimento do reino é para dentro do indivíduo; a Bíblia, em contrapartida, insiste que o movimento do reino é no sentido oposto, do indivíduo para fora. Essa, do indivíduo para fora, é na verdade a única definição concebível de amor. Aqui está o padre francês François Varillon, lembrando que amar (isto é, ser salvo; isto é, ser como Deus) requer um movimento, uma transferência de centro, de nós mesmos para o outro:
Descentro-me para que meu próprio centro não mais me pertença; de agora em diante seja você o meu núcleo. [...] Amar é renunciar a viver em si, por si e para si. Eis o mistério da Trindade: se o amor é acolhida, é necessário que haja diversas pessoas em Deus. Ninguém se dá a si mesmo, nem a si mesmo acolhe. A vida de Deus é essa vida de acolhida e dom. O Pai é movimento para o Filho. O Filho é Filho para o Pai e pelo Pai. E o Espírito Santo é o beijo entre eles.
Dizer “Jesus te ama” é dirigir-se circularmente ao indivíduo, e para salvar o indivíduo é preciso resgatá-lo de si mesmo. Na narrativa de Atos a boa nova é que a obra de Jesus libertou seus ouvintes não para descansarem no privilégio inescapável de serem amados – mas para capacitá-los a fazer a coisa certa. E, se pecar é omitir-se, fazer a coisa certa é colocar o amor em prática. É por isso que, para os autores do Novo Testamento, amar (e nisso imitar a divindade) é privilégio e responsabilidade tão grande que diante dele ser amado representa a mais acessória das faculdades.
Nossa tendência é acreditar na pregação que afirma que viver o amor requer a negação do eu e equivale à completa renúncia da individualidade. A verdade é muito mais desafiadora e interessante, porque o amor é a única afirmação possível do eu. Jesus tornou-se grande no que amou; encontrou a mais completa e contagiante humanidade no ato de atribuir valor aos mais desprezíveis dos seus interlocutores. O inferno é o conforto da paralisia do ego, e a inteireza do eu está no trajeto para os outros.
Paulo Brabo - Bacia das Almas (Via Fora da Zona de Conforto)
Irmão HERMES,Graça e Paz daquele que Vive para todo sempre,JESUS CRISTO DE NAZARÉ.
ResponderExcluirIrmão HERMES,gostaria de falar sobre o AMOR se o Irmão me permitir ok?
No livro de Apócalipse 2.4 diz: Tenho, porém,contra ti que deixaste o teu primeiro amor.
Isto se refere ao primeiro e profundo amor e dedicação que os efésios tinham por JJESUS e sua Palavra ver no livro de João 14.15,21, e 21.15,10.
1- Esta advertência nos ensina que conhecer a doutrina correta,obedecer a alguns dos mandamentos e ir aos cultos na igreja não bastam. A igreja deve ter,acima de tudo,amor sincero a JESUS CRISTO e a sua Palavra como todo ver nos livros de Mateus 5.17; 2 Corintios 11.3 Deuteronômio 10.12.
2- O amor sincero a JESUS CRISTO resulta em devoção sincera a Ele,em pureza de Vida em amor à VERDADE QUE É JESUS E SUA PALAVRA ver nos livros de 2 Corintios 11.3; Mateus 22.37,39; João 21.15.
JESUS CRISTO rejeitará toda congregação ou igreja,o povo que não se arrepender de seus pecados e de sua falta de AMOR a seu próximo a seu Irmão,principalmente a obediência ao SENHOR JESUS CRISTO,Ele removerá todos do seu REINO.
No livro de I João 4.16 diz: E nós conhecemos e cremos no AMOR que DEUS nos tem. DEUS é AMOR e quem está em AMOR está em DEUS,e DEUS nele.
Embora o AMOR seja um aspecto do fruto do ESPÍRITO e uma evidência do novo nascimento,é também algo que temos a responsabilidade de desenvolver. Por essa razão,João nos exorta a AMAR uns aos outors,a termos solicitude por eles e procurar o bem-estar deles. João não está falando apenas em sentimento de boa-vontade,mas em disposição decisiva e prática,de ajudar as pessoas nas suas necessidades ver nos livros de Gálatas 5.22,23;
e 2.29; 3.9,10; 5.1; 3.16-18 e Lucas 6.31.
João nos admoesta a demostrar AMOR,por três razões.
1- O AMOR é a própria natureza de DEUS,e Ele o demostrou ao dar seu próprio FILHO por nós,compartilhamos da sua natureza porque nascemos dEle ver no livo de I João 4.7-7,9,10.
2- Porque DEUS nos AMOU,nós,que temos experimentado o seu AMOR,PERDÃO e AJUDA,temos a obrigação de ajudar o próximo,mesmo com grande custo pessoal.
3- Se AMARMOS uns outros,DEUS continua a habitar em nós,e o seu AMOR é em nós aperfeiçoado ver no livro de I João 4.12.
DEUS deixou dois mandamentos: AMAI O TEU DEUS DE TODO O TEU CORAÇÃO E DE TODO O TEU ENTENDIMENTO,E AMAR O TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO.