“Pois assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a VINDA do Filho do homem. Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres” (Mt.24:27-28).
Ora, se tudo o que Jesus estava predizendo haveria de ocorrer ainda naquela geração, como explicar tal declaração? Estaria Ele mudando de assunto sem aviso prévio? Não! Jesus não está falando de Sua volta à Terra nesta passagem (pelo menos, ainda não). Então, de quê vinda está falando? De Sua "vinda" em juízo sobre Jerusalém. Tal compreensão é embasada em precedentes narrados no Antigo Testamento.
Um desses precedentes é encontrado em Isaías 19:1, que narra o juízo de Deus sobre o Egito naqueles dias: “O Senhor vem cavalgando numa nuvem ligeira, e VIRÁ ao Egito. Os ídolos do Egito tremem perante a sua face, e o coração dos egípcios se derrete dentro deles.” É claro que o profeta está falando acerca do juízo que Deus traria sobre aquela nação, e não sobre uma vinda literal de Deus cavalgando em uma nuvem. E de quê maneira Deus viria sobre o Egito? No verso 4 diz: “Entregarei os egípcios nas mãos de um senhor duro, e um rei rigoroso os dominará”. Esse rei, através do qual Deus viria contra o Egito, foi Nabucodonosor. Ezequiel também profetizou sobre isso: “Eu levantarei os braços do rei de Babilônia, mas os braços de Faraó cairão. Então saberão que eu sou o Senhor, quando puser a minha espada na mão do rei da Babilônia, e ele a estender sobre a terra do Egito” (Ez.30:25). Assim também, Cristo viria em juízo sobre Jerusalém, através de Tito, general romano, em juízo e destruição. Era em suas mãos que estava a espada de Deus para executar juízo sobre a cidade infiel. Tito a atacou de forma repentina, semelhante a um relâmpago que sai do oriente e se mostra do ocidente.
E o que dizer da expressão: “Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres”? Muitos vêem aí uma alusão ao arrebatamento da Igreja. Porém, isto está muito longe do que o Senhor Jesus intentou dizer. Na verdade, trata-se de um provérbio muito popular nos dias de Jesus, cujo significado real é “Onde houver motivos para juízo, aí haverá juízo”. Neste caso, Jerusalém e os judeus seriam os cadáveres que teriam atraído as águias romanas ( Os abutres eram considerados uma espécie de águia ). Quando da primeira destruição a que foi submetida pelas mãos dos Babilônios, Deus ordenou que Oséias advertisse a seus habitantes: “Põe a trombeta à tua boca. Ele vem como a águia contra a casa do Senhor, porque transgrediram a minha aliança, e se rebelaram contra a minha lei” (Os.8:1). Agora seria a vez das águias romanas. Não era por coincidência que a insígnia romana gravada nos escudos e estandartes do seu exército era uma águia.
Colapso Cósmico
“Logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua luz, as estrelas cairão do firmamento e os corpos celestes serão abalados” (Mt.24:29). Este versículo tem sido usado como base para a crença de que o retorno de Cristo se dará em meio a um colapso universal. Entretanto, precisamos entender estas afirmações à luz de outros textos bíblicos. Trata-se, na verdade, de uma linguagem figurativa. Com a queda do templo, o culto judaico chegaria ao fim. A ordem até então mantida, entraria em colapso. O sol e a lua apontam para a ordem civil e religiosa, enquanto que as estrelas correspondem ao povo da antiga aliança, ou seja, os judeus. Com a queda do templo, e a interrupção do culto judaico, a ordem social e religiosa foi subvertida.
Quando Deus prometeu que feriria o Egito pela espada de Nabucodonosor, Ele também disse:“Apagando-te eu, cobrirei os céus, e enegrecerei as suas estrelas; encobrirei o sol com uma nuvem, e a lua não deixará resplandecer a sua luz. Todas as brilhantes luzes do céu enegrecerei sobre ti, e trarei trevas sobre a tua terra, diz o Senhor Deus (...) Pois assim diz o Senhor Deus: A espada do rei de Babilônia virá sobre ti” (Ez.32:7-8,11). A destruição do Egito fez com que a ordem estabelecida naquela nação sofresse um colapso. Assim também foi em Jerusalém nos dias de sua queda.
Se o sol realmente vai deixar de dar a sua luz algum dia, como afirmam os literalistas, logo, teremos que admitir que Jesus algum dia vai deixar de ser o Senhor do Universo. Confira o que disse Davi acerca do Messias em sua última oração antes de morrer: “Ele permanecerá enquanto durar o sol e a lua, de geração em geração (...) Permaneça o seu nome ETERNAMENTE, que ele continue enquanto o sol durar. Todas as nações serão abençoadas nele, e lhe chamarão bem-aventurado”(Sl.72:5,17). Quanta coisa se perde quando fazemos uma leitura das profecias 'ao pé da letra', ignorando a riqueza de seu simbolismo!
Continua...
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