quarta-feira, janeiro 13, 2010

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Zilda Arns morre em Terremoto no Haiti

A médica Zilda Arns Neumann, 75, coordenadora da Pastoral da Criança e três vezes indicada ao Prêmio Nobel da Paz pelo Brasil, foi inspirada a iniciar seu trabalho em 1982, depois de um membro das Nações Unidas incumbir seu irmão, o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, de promover a redução da mortalidade infantil no país por meio da Igreja Católica.

Formada em medicina e com especializações em educação física e pediatria, o trabalho de Zilda com crianças começa no Hospital Cezar Pernetta, na capital paranaense, entre 1955 e 1964. Depois de trabalhar em outras instituições, ela reforça seus laços com os jovens e com a Igreja - também graças ao irmão cardeal, ícone da luta contra o Regime Militar (1964-1985) e desde o início um dos maiores advogados das ações da Pastoral.


Ações de Zilda Arns se estenderam pelo mundo

Pouco depois da fundação da Pastoral da Criança, ligada à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), chegou o apoio do Unicef, agência da ONU que apóia técnica e financeiramente projetos e ações pela sobrevivência, desenvolvimento e proteção de crianças e adolescentes.

Zilda levou a primeira ação da entidade a Florestópolis, no Paraná, onde o índice de mortalidade chegava a 127 mortes a cada mil crianças. Após um ano de atividade, o índice recuou para 28 mortes a cada mil nascimentos. O sucesso inicial incentivou a Igreja a expandir a Pastoral da Criança para todos os Estados do país.

"Um projeto como esse seria essencial para ensinar as mães a cuidar dos filhos", disse Zilda em entrevista a uma publicação católica. "Sempre percebia que elas tinham filhos doentes porque erravam. Quando se inicia algo que vai ao encontro de uma necessidade, a perspectiva de sucesso é maior. E isso não tem fronteiras."

A Pastoral estima que cerca de 2 milhões de crianças e mais de 80 mil gestantes sejam acompanhadas todos os meses pela entidade em ações básicas de saúde, nutrição, educação e cidadania.

Coordenadora
Até sua morte no terremoto do Haiti na terça-feira (12), Zilda coordenava cerca de 155 mil voluntários, presentes em mais de 32 mil comunidades em bolsões de pobreza em mais de 3.500 cidades brasileiras.

"Trabalhamos com alfabetização, que é um fator importante na campanha para a paz. Ela começa com a educação das crianças, trabalhando a autoestima das líderes, com reuniões de reflexão na comunidade. Ensinamos as líderes a ouvir as famílias e identificar sinais de violência dentro de casa", afirmou Zilda na entrevista.

"O fato de elas visitarem mais de 1 milhão de famílias todos os meses no Brasil inteiro cria um vínculo para que as famílias tenham com quem falar, discutir suas ideias e apresentar seus problemas", afirmou ela na entrevista.

O trabalho de Zilda Arns serviu de modelo para vários países, como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau; Timor Leste, Filipinas, Paraguai, Peru, Bolívia, Venezuela, Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai, Equador e México. Em algumas dessas nações a própria médica ministrou cursos sobre como estruturar as ações.

Em 2008, Zilda participou da instituição da Pastoral da Criança Internacional, no Uruguai. Entre os fundadores estão os cardeais arcebispos Dom Geraldo Majella Agnelo, de Salvador, e Dom Odilo Pedro Scherer, de São Paulo, entre outros líderes religiosos e da sociedade civil.

Além do trabalho reconhecido mundialmente com as crianças, Zilda também era fundadora e coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa, fundada em 2004. A entidade visa capacitar líderes locais para ajudar idosos a controlar as vacinas, evitar acidentes domésticos e identificar doenças físicas e emocionais.


Fonte: UOL

Leia aqui o discurso na íntegra que Zilda Arns fez no Haiti antes do terremoto.

Lamentamos profundamente a morte desta heroína brasileira, cuja obra ainda ecoará por muito tempo. Que seu exemplo de amor e solidariedade possa despertar a consciência de muitos, religiosos ou não, católicos, evangélicos ou de qualquer outro credo. O amor está acima de qualquer credo, e não pode ser monopolizado por quem quer que seja. Onde houver amor, ali haverá um exemplo a ser seguido. Engana-se quem pense que Zilda estava no lugar errado e na hora errada. O amor sempre nos faz acercar daqueles que necessitam, fazendo-nos identificar-nos com seu sofrimento e carência. Que sua partida em meio ao cataclismo, chame a atenção do mundo para a pobreza crônica da população daquele pequeno país.

De acordo com o premiê do Haiti, Jean-Max Bellerive, o número de mortos pelo terremoto no país deve superar 100 mil pessoas. O número equivale a mais de 1% da população do país da América Central. Três hospitais da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras no Haiti foram destruídos pelo terremoto de 7 graus na escala Richter. Os pacientes foram retirados e estão sendo atendidos em tendas improvisadas no meio da rua.

Um comentário:

  1. Zilda Arns era uma mulher de fé e ação, um verdadeiro exemplo de cidadã.Creio que as sementes que ela plantou crescerão e o trabalho dela se estenderá pelo mundo.Foi uma grande perda para o Brasil.

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