quarta-feira, janeiro 13, 2010

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Por uma igreja mais vulnerável

Até onde vai o espírito triunfalista dos crentes atuais? Aprendemos que o poder de Deus nos faz invulneráveis, gente sobrehumana, intocável, imune a qualquer sofrimento. E se por uma desventura formos vítimas de alguma enfermidade, ou cataclismo, as únicas explicações possíveis é a nossa falta de fé ou o nosso pecado. O pseudo-evangelho nos propõe viver numa espécie de redoma, que acaba se revelando como uma frágil bolha que a qualquer momento pode estourar.

Como explicar que uma pessoa que fez bem a tanta gente, possa ter sua vida ceifada num acidente trágico? Como encontrar sentido num terremoto que derrubou não apenas o palácio do governo de um país famoso por seu envolvimento com bruxaria, mas também igrejas e hospitais?

Por que Deus permite tais coisas? Por sermos 'justos', não deveríamos ser poupados do juízo que cai sobre os ímpios?

Quem pensa assim demonstra não ter entendido nada do Evangelho de Jesus Cristo. Deus jamais nos prometeu tornar-nos invulneráveis. Basta uma rápida averiguada na história da igreja, para dar-nos conta das inúmeras perseguições e tragédias que a abateram ao longo dos séculos.

E isso só aconteceu pelo fato dos cristãos exporem suas vidas, transitando por lugares suscetíveis a todo tipo de males, para ir ao encontro do necessitado, do sofredor. Eu diria que a vulnerabilidade é uma de nossas principais características como seguidores de Cristo. E é justamente aí que reside nossa força. Não foi debalde que Paulo declarou que o poder de Deus se encaixa perfeitamente em nossa fraqueza.

Hoje as igrejas buscam estabelecer-se nos lugares mais privilegiados. Seu público alvo prioritário é a classe média alta. Buscam esses lugares para obterem prestígio social e dinheiro. E quando investem em comunidades mais pobres, seu objetivo é angariar votos para seus políticos, e usar suas obras sociais como justificativa para levantar mais dinheiro da classe abastada.

Bem-aventurado é quem perde sua vida no serviço aos mais necessitados. Bem-aventurado é quem expõe sua própria vida por amor despretensiosamente. Bem-aventurado é quem não faz de sua obra uma vitrine através do qual possa gloriar-se e obter alguma vantagem.

Bem-aventurados os que "da fraqueza tiram força" (Hb.11:34), que escolheram como seu habitat "desertos e montes", "covas e cavernas", favelas e ruínas, e onde quer que haja quem necessite de socorro. Esses são aqueles de quem o mundo não é digno!

O mundo não será impactado por uma igreja triunfalista, formada de crentes insensíveis, mimados e pirracentos, que só sabem contar vantagens como se fossem testemunhos. O mundo será transtornado por uma igreja vulnerável, que desça de seu pedestal em direção à miséria, ao desespero, e às mais profundas carências humanas. Uma igreja que se compadeça, em vez de buscar desculpas teológicas para sua letargia e frigidez. Uma igreja que não se preocupe em teodicéias mirabulantes para tentar explicar a razão das tragédias frente à realidade de um Deus amoroso e todo-poderoso. Em vez disso, se mete em meio à tragédia para revelar num gesto a face neglicenciada do Deus todo-amoroso. Deus não carece de advogados, mas está recrutando embaixadores do Seu amor.

O terremoto no Haiti é mais uma oportunidade de expressarmos o amor de Deus. Saiamos ao encontro dessa gente sofrida, não com o dedo em riste, mas com as mãos estendidas, sem que isso seja mais uma estratégia proselitista. Deixemos que nosso amor pregue por nós.

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