sábado, novembro 21, 2009

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Cuidado com a cabeça! O bumerangue sempre volta!

Recentemente tive a oportunidade de comprar um bumerangue por uma pechincha, numa garage sale*. Pra quem não conhece, o bumerangue é uma espécie de arma usada pelos aborígenes da Austrália para caçar cangurus. Sua característica principal é que ele sempre volta contra quem o arremessou. Se o caçador não tiver habilidade para pegá-lo de volta, poderá sair machucado com um golpe na cabeça.

Apreciando a beleza do bumerangue (muito parecido com o da foto), lembrei-me de um episódio ocorrido há pouco mais de dois anos.

Estava em meu gabinete na igreja que pastoreei
no Engenho Novo, Zona Norte do Rio, quando soube que um pastor conhecido meu desejava falar comigo. Qual foi minha surpresa quando deparei-me com alguém que já não via há cerca de vinte anos.

Ao entrar em meu gabinete, aquele homem se pôs de joelhos e com lágrimas rogou o meu perdão.

Naquele instante, minha mente viajou no tempo, e lembrei de algo de que eu preferia esquecer para sempre.

Era um domingo no ano de 1986. Eu era presidente estadual da mocidade da denominação da qual meu pai era o líder estadual e vice-presidente internacional. Naquela manhã de Santa Ceia, quis fazer uma surpresa ao meu pai, e fui para a praça próxima da igreja, interceptar os jovens para que entrassem juntos na igreja numa apresentação especial.

Ao sentir minha falta, meu pai perguntou por mim ao microfone. "Onde está meu Hermes?" (Era assim que se referia a mim). Esse pastor dirigiu-se ao meu pai, e contou que eu estava lá fora namorando enquanto o culto transcorria.

Mentira! Eu estava reunido com os jovens.

Sem pensar duas vezes, meu pai disse:

- Meus irmãos, a lei começa em casa. Se meu filho Hermes não estiver aqui em cinco minutos, ele será suspenso de comunhão e das demais atividades da igreja.

Quando disse isso, eu já estava me aproximando da igreja, e alguém foi correndo ao meu
encontro me avisar. Entrei correndo pela igreja, mas por estar muito cheia, com os corredores lotados, tive dificuldade de me aproximar do púlpito. Enquanto ainda caminhava, meu pai anunciou:

- Como meu filho não me atendeu, anuncio que a partir de agora ele está suspenso por três meses. Não posso admitir que ele esteja lá fora namorando durante o culto.

Naquele instante, todos os pastores que lá estavam, quase trezentos, se puseram de pé e começaram a aplaudir. Tudo isso na frente de quase três mil pessoas.

Foi um dos piores dias da minha vida.

Saí de lá chorando muito. Na saída encontrei minha namorada, e sem explicar nada, tomei-a pela mão e saímos em direção à estação de trem do bairro vizinho.

Naquela época, muito apostaram que eu me afastaria da igreja. Mas em vez disso, foi o período em que mais me apeguei a Cristo.

Tive que deixar a liderança da juventude, o ministério de louvor, e passar a frequentar a igreja como uma pessoa comum, sem nem ao menos poder comungar.

Aprendi a duras penas que a melhor coisa a fazer quando se é injustiçado é calar-se. Quem advoga sua própria causa, está usurpando o lugar de Cristo, nosso Advogado.

Jamais poderia supor que aquela experiência estava me preparando para situações muito mais complicadas, em que eu seria acusado injustamente, e pessoas que diziam me amar passariam a me caluniar.

Vinte anos se passaram. E agora o homem que inventou aquela calúnia estava diante de mim, de joelhos dobrados, rogando o meu perdão.

Seguindo o mandamento de Jesus, perdoei-o prontamente, sem sequer lhe pedir qualquer explicação ou reparação.

Na verdade, já o havia perdoado muito tempo atrás. Não carregava aquela peso comigo. Porém, este perdão só lhe seria manifesto quando houvesse arrependimento.

Foram necessárias duas décadas até que ele se sentisse apto a demonstrar arrependimento.

Segundo ele, já não era possível lidar com aquela culpa por mais tempo. Mesmo sendo um homem extremamente carismático, seu ministério ficou comprometido todos esses anos por causa de uma mentira.

No início, seu ministério pareceu deslanchar, fazendo com que ele rompesse com a antiga denominação e fundasse sua própria. Mas depois, as coisas começaram a desandar, porque aquela mentira ainda pesava contra ele diante de Deus.

Um dia a verdade vem a tona. Quem fez contra você, fará contra outros. Quem lhe foi infiel, acabará traindo a confiança de outros que hoje lhe dão os braços.

Não vale a pena carregar mágoas, ressentimento. Perdoe em silêncio e espere. Um dia o bumerangue volta pra quem o lançou. Ainda que demore, principalmente quando o bumerangue foi lançado com muita força, mas que ele volta, não tem dúvida... volta!

***

* Garage Sale é um costume muito comum aqui nos Estados Unidos, quando famílias resolvem se desfazer de algumas coisas, vendendo-em frente a garagem de suas casas. Sábado é o dia do Garage Sale. A gente encontra muita coisa boa, nova e barata. Alguns fazem Yard Sale, onde os produtos são expostos no jardim da casa. Outros fazem Moving Sale, quando abrem as portas de sua casa para vender até os móveis e eletrodomésticos, por estarem de mudança. Interessante que da outra vez que moramos aqui, as pessoas jogavam muita coisa boa fora, como computadores, TVs, brinquedos, móveis. Devido à crise acentuada que o País vem passando, em vez de jogar fora, os americanos estão preferindo vendê-las. Às vezes juntam vários vizinhos para fazer uma Garage Sale comunitária. Este bumerangue que talvez custasse 25 dólares numa loja, me saiu por míseros 2 dólares.

3 comentários:

  1. Blog muito top!!!
    bomdmais

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  2. Tenho sofrido muito com coisas assim parecidas, mas também vou perdoando. Gostei do post.
    tomei a liberdade de postar no nosso blog se não gostar me avise
    paz!!

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