sábado, maio 17, 2014

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Matriculados na Escola de Caim


Por Hermes C. Fernandes

"Ai deles! Entraram pelo caminho de Caim..." (Judas 11a).

"O caminho de Caim" é a rota de colisão entre o homem e Deus, e entre o homem e seu semelhante. O Caminho ( que é Cristo! ) proposto pelo Evangelho é o do encontro, da reconciliação entre o Criador e a criatura, e entre o homem e seu próximo.

Tanto a colisão quanto o encontro são frutos de uma convergência entre pontos. A diferença é que no encontro as partes se integram, se unem, e às vezes se fundem. Já a colisão tem efeitos colaterais devastadores. As partes se chocam, produzem atrito, e às vezes se esfacelam.

O texto bíblico diz que Caim irou-se por achar que Deus não atentara para sua oferta, como para a oferta de seu irmão Abel. Esse descontentamento foi fruto da comparação. - Por que ele, e não eu?

Toda inveja/ciúme é fruto da comparação. Quando nos comparamos uns com os outros, temos a tendência de achar que somos injustiçados, preteridos, e que, de alguma maneira, nossos direitos estão sendo lesados. Daí vem o senso de justiça própria.

O invejoso é aquele que acusa Deus de agir com injustiça, por preferir uns, e preterir outros. Mas a Bíblia é clara ao dizer que para Deus não há acepção de pessoas.

Abel não era o favorito de Deus, como insinuava Caim. Suas ofertas eram aceitas porque eram feitas com o coração puro, sem a pretensão de desbancar seu irmão. Já as ofertas de Caim tinham a marca da presunção.

Infelizmente, muitos que se dizem cristãos parecem ter se matriculado na escola de Caim. Até testemunhos são dados com a intenção de demonstrar o quanto são importantes para Deus, em detrimento de seus irmãos. Acham que dar testemunho é contar vantagem, se cartar, instigando seus irmãos à inveja. - Vejam, vocês não têm a fé que eu tenho.

Esse espírito de Caim tem sido estimulado até dentro dos lares, onde os filhos disputam a atenção e predileção dos pais.

As Escrituras nos advertem a não sermos como Caim, "que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão, justas" (1 Jo. 3:12).

A existência de Abel se tornou uma afronta para Caim. Por isso, ele não hesitou em matá-lo. Convidou-o para um passeio no campo, e quando seu irmão se distraiu, apunhalou-o pelas costas, cometendo o primeiro homicídio narrado pelas Escrituras.

Talvez não tenhamos a coragem que ele teve de tirar a vida do próprio irmão. Mas se nutrimos um sentimento de ódio, alimentado pela inveja e pela justiça própria, aos olhos de Deus somos tão homicidas quanto Caim.

"Todo que odeia a seu irmão é homicida..." (1 Jo.3:15a). E esse instinto homicida, uma vez nutrido, pode nos levar a matar nosso irmão, pelo simples fato de sua existência se nos tornar numa afronta.

Há muitas formas de "matar" alguém. Podemos matá-lo à prestação, usando nossa língua como arma. Podemos matá-lo ao privá-lo de seus direitos. Podemos interditar seus sonhos, boicotá-lo com nossos comentários maldosos, ou simplesmente ignorá-lo.

O Caminho de Caim é o caminho do ódio, do extermínio, que busca se auto-justificar alegando ser vítima de uma injustiça. Já o Caminho de Cristo é o caminho do amor, que em vez de tirar a vida, se oferece para dar a vida, sem qualquer pretensão de ser recompensado.

"Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E devemos dar a nossa vida pelos irmãos" (1 Jo.3:16).

O amor faz cessar toda contenda, toda demanda, toda reivindicação. O foco deixa de ser nossos direitos, para ser o bem-estar de nosso semelhante.


Publicado antes em 26/10/2009

6 comentários:

  1. Texto excelente, Hermes, explicando muito bem a motivação de Caim. Infelizmente o "caminho de Caim" permanece bastante atual e, a menos que estejamos atentos, todos somos susceptíveis a ele.

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  2. Êta escolinha desgraçada, sô! Tô fora! Mas, infelizmente, muitos estão dentro. Na verdade, já existem doutores graduados por essa "escola". Seus "tristemunhos" valem ouro e são disputados por "igrejas" ávidas por assistência, igualmente ávida por sensacionalismo barato (que na verdade custa muito caro!). Temos que ficar atentos e filtrar com cuidado toda sorte de pretensos "testemunhos", pra ver se não são apenas promoções de santarrões de plantão. Desses que, volta e meia, são "arrebatados" pro céu, fazem escala no inferno e depois voltam pra contar lorotas. T'esconjuro, coisa ruim! Vai pra lá "demonho"! Basta de tirar retrato do Caim e fazer trapaça,revelando a fotografia do Abel!

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  3. Há muitas formas de "matar" alguém. Podemos matá-lo à prestação, usando nossa língua como arma. Podemos matá-lo ao privá-lo de seus direitos. Podemos interditar seus sonhos, boicotá-lo com nossos comentários maldosos, ou simplesmente ignorá-lo.

    Hermes, parece algumas intuições cristãs que conheço! rsrsrsrs

    otimo texto.

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  4. Caim foi o criador da expressão "Eu acho que..."

    Eu acho que Abel está me passando para trás.

    E o eco desse "eu acho" continua ainda hoje:

    Eu acho que fulano não presta...

    Eu acho que estou sendo preterido por aquele outro.

    Eu acho que ele é invejoso

    Eu acho que ele está me imitando.

    Eu acho que ele...(e por aí vai)

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  5. Mano Hermes,
    Parabéns pelo seu trabalho. Tenho os acompanhado também no Genizah.
    Théo Pimenta

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  6. Missionário Luiz4:20 PM

    Bispo Hermes, paz de Jesus Cristo seja com o irmão e todos os seus.
    " NENHUM HOMICIDA TEM A VIDA ETERNA."
    I João 3.15.
    "QUEM NÃO AMA SEU IRMÃO PERMANECE NA MORTE"
    I Jo 3.14.
    A Bíblia geralmente faz uma distição entre tipos diferentes de pecados: Pecados involuntários; vejam em Lv 4.2,13; 5.4,6;
    Nm 15.31.
    pecados contra os mandamentos; vejam em
    Mt 5.19; pecados voluntários vejam em
    I Jo 5.16,17; e os pecados que levam à morte espiritual; vejam em
    I Jo 5.16.
    João enfatiza que há certos pecados que o cristão nascido de novo não deve cometer; vejam em I Jo 2.11,15,16; 3.6,8,10,14,15; 4.20; 5.2;
    2 Jo 9.
    Esses pecados, por causa da sua gravidade e da sua origem no próprio espírito da pessoa, evidenciam uma rebelião resoluta da pessoa contra Deus, um afastamento de Jesus Cristo, um decair da graça e uma cessação da vida vital da salvação; vejam em Gl 5.4.
    Exemplos de pecados nos quais há evidência clara de que a pessoa continua nos laços da iniquidade ou que caiu da graça de Deus são:
    A apostasia; o ódio; a impureza ou imoralidade sexual; abandonar a própria família; fazer o próximo pecar; e a crueldade e falta de amor etc; vejam em
    I João 2.19; 4.6; Hb 10.26-31; I Jo 3.15; 2.11; Rm 1.21-27; I Co 5; Ef 5.5; Ap 21.8
    I Tm 5.8; Mt 18.6-10; 24,48-51.
    Esses pecados abomináveis evidenciam uma total rejeição da honra devida a Deus, e da solicitude amorosa para com o próximo; vejam em
    I Jo 2.9,10; 3.6-10; I Co 6.9-11; Gl 5.19-21;
    I Ts 4.5; 2 Tm 3.1-5; Hb 3.7-19; I Jo 3.1,12.
    Por isso, quem disser: "O Espírito Santo habita em mim, tenho comunhão com Jesus Cristo e estou salvo por Ele", mas pratica tais pecados, engana a si mesmo e "é mentiroso, e nele não está a verdade"; vejam em I Jo 2.4; 1.6; 3.7,8.
    O cristão deve ter em mente que todos os pecados, até mesmo os menos graves que é pecado, podem levar ao enfraquecimento da vida espiritual, à rejeição da direção do Espírito Santo e, dai, à morte espiritual; vejam em
    Rm 6.15-23; 8.5-13.
    No livro de I Jo 3.17 fala: Quem, pois tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar o seu coração, como estará nele o amor de Deus?
    O amor se expressa pela ajuda sincera aos necessitados ao seu próximo, compartilhando com eles nossos bens terrestres; vejam em
    Tg 2.14-17.
    Recusar a doar parte do nosso alimento, das nossas roupas, ou do nosso dinheiro para ajudar os necessitados, é fechar-lhes o nosso coração; vejam em Dt 15.7-11.
    Por amor, devemos também contribuir com o nosso dinheiro para ajudar a propagar o evangelho aos que ainda não o ouviram; vejam em I Jo 4.9,10.

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