quarta-feira, outubro 14, 2009

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Deus e seus estranhos instrumentos

Habacuque 1:1-11

A primeira coisa que descobrimos quando estudamos as ações de Deus é que pode parecer que Ele esteja estranhamente silencioso e inativo em cir­cunstâncias provocativas. Por que Deus permite que certas coisas aconteçam? Por que a Igreja Cristã é o que é hoje? Veja sua história no decurso dos últimos quarenta ou cinqüenta anos. Por que permitiu Deus tais condições? Por que ele não fere de morte as pessoas que proferem blasfêmias e negam a fé que deveriam pregar? Por que permite ele que se façam tantas coisas erradas até mesmo em seu nome? Também, por que Deus não respondeu às orações de seu povo fiel?

Vimos orando pelo reavivamento durante trinta ou quarenta anos. Nossas orações têm sido sinceras e urgentes. Temos deplorado o estado das coisas e temos clamado a Deus por causa dessa situação. Mas ainda assim parece que nada acontece. A semelhança do profeta Habacuque, muitos perguntam: "Até quando clamarei eu, e tu não me escutarás? gritar-te-ei: Violência! e não salvarás?" Muitas vezes as pessoas se impacientam com a demora. Como podemos entender que um Deus santo permita que sua própria Igreja seja o que é hoje?

A segunda coisa que descobrimos é que Deus, às vezes, dá respostas inesperadas às nossas orações. Isto, mais do que qualquer outra coisa, foi o que deixou Habacuque perplexo. Por um longo tem po Deus parece não responder. Então, quando responde, o que diz é mais misterioso até do que sua aparente falha em ouvir as orações. Na mente de Habacuque estava perfeitamente claro que Deus tinha de castigar a nação e depois enviar um grande reavivamento. Mas quando Deus disse: "Estou respondendo à sua oração suscitando o exército caldeu para marchar contra suas cidades e destruí-las", o profeta não conseguia acreditar no que ouvia. Mas foi o que Deus lhe disse, e o que realmente ocorreu.

Todos nós temos a tendência de prescrever as respostas às nossas orações. Pensamos que Deus pode manifestar-se somente de uma forma. Mas a Bíblia ensina que Deus às vezes responde às nossas orações permitindo que as coisas piorem muito antes que possam melhorar. Ele pode, às vezes, fazer o contrário do que prevemos. Ele pode esmagar-nos, colocando-nos frente a frente com um exército caldeu. Mas é um princípio fundamental na vida e caminhar da fé que, quando tratamos com Deus, devemos estar sempre preparados para o inesperado. Gostaria de saber o que nossos pais teriam pensado há quarenta anos se pudessem prever o estado atual da Igreja Cristã. Eles já se sentiam infelizes com o andamento da época. Já estavam realizando reuniões de despertamento e buscando a Deus. Se pudessem ver a Igreja de nossos dias, não creriam no que viam. Jamais poderiam ter imaginado que a igreja se afundasse tanto espiritualmente. Mas Deus permitiu que isto acontecesse. Tem sido uma resposta imprevista. Deve mos apegar-nos à esperança de que ele tem permitido que as coisas piorem antes que, final mente, melhorem.

O terceiro aspecto surpreendente dos caminhos de Deus é que Ele às vezes usa instrumentos estranhos para corrigir seu povo. Os caldeus, dentre todos os povos, são os que Deus vai suscitar para castigar a Israel! Não se podia imaginar tal coisa. Mas aqui também está um fato evidente em toda a Bíblia. Deus, se assim o quiser, pode usar até mesmo os ímpios caldeus. No curso da história ele tem usado toda sorte de instrumentos estranhos e inesperados para a realização de seus propósitos.

Este é um fato pertinente aos nossos dias, pois parece que, segundo a Bíblia, muito do que acontece no mundo agora deve ser examinado nesta luz. A importância de tudo isto reside no fato que, se não virmos as coisas do modo certo, nossas orações serão erroneamente concebidas e erroneamente dirigidas. Temos de admitir o verdadeiro estado da Igreja e reconhecer sua iniqüidade. Devemos entender a possibilidade de que as forças que hoje mais se opõem à Igreja Cristã talvez estejam sendo usadas por Deus para seu próprio propósito. O ensino claro do profeta é que Deus pode usar instrumentos muito estranhos, e às vezes o último instrumento que teríamos esperado.

Martyn Lloyd Jones (Título original: O estado da igreja atual e a singularidade dos caminhos de Deus) Via Reflexões, blog do Pr. Edmilson.

Nota de Hermes Fernandes: Este texto parece ter sido escrito ontem, mas foi escritos há muitas décadas. De fato, Lloyd Jones foi um homem à frente do seu tempo. Quem diria que um pastor reformado, extremamente ortodoxo em sua doutrina, admitiria a possibilidade de Deus usar instrumentos de fora da igreja? Isso nada mais é do que a Graça Comum levada às últimas conseqüências. É nisso que creio! Por isso, não tenho qualquer dificuldade em publicar aqui neste espaço textos atribuídos a pessoas que não professem a fé reformada, como eu. Fico extremamente à vontade, e chego até mesmo a aplaudir, quando escuto a verdade de Deus pelos lábios de profetas de outros arraiais. Frei Betto, Leonardo Boff, e até profetas seculares, dentre eles, alguns cantores como Renato Russo e Cazuza, engrossam as fileiras daqueles que Deus tem usado fora dos limites da igreja evangélica. Também dou boas vindas às vozes emergentes, como MacLaren, Rob Bell, e outros, e ainda que não concordemos com tudo o que dizem, pelo menos nos fazem sair um pouco do nosso aquário, e levantar questões antes desprezadas em nossos círculos.

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