É... Nada será como era antes. Sinto falta de ver na nova geração os sonhos que sonhei em minha mocidade. Não que não me sinta mais jovem (claro! rsrs), ou que tenha deixado de ser um sonhador, mas os sonhos que ainda sonho e os sonhos que já realizei começaram muito cedo. Embora não soubesse exatamente como realizar, sabia muito bem o que queria. Não me faltava utopia, nem ícones em quem pudesse me inspirar.
Queríamos mudar o mundo, gritamos “diretas já”, “abaixo a ditadura”, fomos às ruas, unimos nosso povo, mobilizamos nossas igrejas, lutamos por liberdade de expressão, contra o preconceito racial, denunciamos a corrupção, derrubamos a ditadura, elegemos um presidente, pintamos nossa cara e derrubamos o presidente que elegemos.
Tínhamos ícones na política e na cultura. Verdadeiros heróis! A música que ouvíamos era boa e carregada de utopia, sonhos e fome de justiça. Ah, como era bom estar na rua cantando “vem vamos embora que esperar não é saber...”!
Não só sonhávamos com um mundo melhor como também com uma igreja de fiéis mais ativos, que transpassassem os limites das quatro paredes do templo, que acolhessem o sofredor e não fossem tão fúteis e mesquinhos.
O que aconteceu?
Aconteceu que, como disse Cazuza, “meus heróis morreram de overdose” e ninguém mais se levantou para agitar a grande massa. Hoje temos uma geração carente de um herói. Seus objetivos resumem-se em ouvir música de péssima qualidade, cuidar da própria vida, com pés no chão, sem cometer os mesmos erros utópicos de seus pais.
Quanto a minha geração, a grande maioria, abandonou o sonho, “tá em casa, guardada por Deus, contando vil metal”, exatamente como constatou Belchior, em ‘Como Nossos Pais’, que ainda dizia que “apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.
Onde foi que erramos?
O problema é que não precisávamos de heróis. Precisávamos de pais. Tivemos verdadeiros heróis na política e na cultura, mas não na família. E, diga-se de passagem, dentre os poucos filhos afortunados que tiveram pais heróis, a maioria, não soube reconhecer o heroísmo de seus pais. Minha geração foi marcada pela despaternidade, vivendo num processo de transição social onde a estrutura familiar abalada oscilou entre os extremos de pais ausentes (separados) e pais presentes, porém, austeros e incompreensíveis, tão heróis quanto bandidos. Na falta deste ícone familiar, buscamos ícones pop-stars, ao som de quem caminhamos e cantamos e seguimos a canção. Porém, quando estes ícones se calaram, muitos de nós ficamos caminhando ao vento “sem lenço e sem documento”, sem ter em quem se espelhar e sem servir de espelho para ninguém.
Então, QUE NADA SEJA COMO ERA ANTES!
Nossos filhos não precisam dos heróis da TV, nem da música, nem da política. Só precisam de pais... pais heróis, presentes, que os ensinem a sonhar, a serem livres e libertadores, a “amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, a serem justos e denunciarem as injustiças, a serem responsáveis, honestos e jamais deixarem de crer no futuro.
O SONHO NÃO ACABOU!
Texto de Julio Zamparetti Fernandes
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