Após criar todas as coisas, Deus as avaliou com um sonoro “Muito bom!”. Porém, depois de criar o homem, Deus deparou-se com algo que julgou não ser nada bom: “Disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só...” (Gn.2:18a).
O mal detectado por Deus na criação não era algo que Ele havia criado, e sim a ausência de algo, ou melhor, de alguém que pudesse suprir a carência do primeiro homem. Ainda que o homem desfrutasse da companhia divina, ele precisava de alguém que lhe correspondesse, que possuísse sua própria natureza, e assim, compreendesse suas limitações e carências. Foi daí que Deus inventou a família.
O Salmista declara:
“Deus faz que o solitário viva em família, e liberta aqueles que estão presos em grilhões” (Sl.68:6a).
De fato, a solidão é uma escravidão. Cristo nos propõe uma vida familiar plena, livre dos grilhões da solidão e do egoísmo.
A pós-modernidade valoriza o individualismo em detrimento da vida familiar. "Esperto" é todo aquele que sabe se virar sozinho, que não depende de ninguém. Porém a Bíblia nos mostra outra realidade. O sábio Salomão constatou que “o que vive isolado busca seu próprio desejo; insurge-se contra a verdadeira sabedoria” (Pv.18:1).
O preço do isolamento é altíssimo. E somente os insensatos se dispõem a pagar.
A Família nos confere um senso de pertencimento. Ela nos revela nossa origem e destino no Mundo. E como é importante saber de onde viemos e para onde estamos caminhando!
A Família nos provê elos de conexão com o passado, o presente e o futuro. Em seu seio construímos nossa individualidade, ao mesmo tempo em que nos descobrimos parte de algo maior e mais importante.
# Elos com o Passado
Nossos ancestrais mais próximos (pais e avós) são os elos que nos conectam ao passado.
Como devemos nos relacionar com eles para que esses elos permaneçam intactos?
“Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, pois isto é justo...” (Ef.6:1).
À luz das Escrituras, devemos obediência aos nossos progenitores. E a única razão que elas nos oferecem é porque “isto é justo”. Portanto, desobedecê-los seria uma injustiça de nossa parte. Quem, afinal, nos aturou quando éramos crianças? Quem nos sustentou? Quem nos carregou por nove meses no ventre? Desobedecê-los corresponde ao rompimento de uma aliança.
E quando os filhos crescem e se tornam independentes? Ou quando seus pais morrem? Será que sua obrigação para com os pais termina? Absolutamente, não.
Ainda que não lhes prestemos mais obediência, pelo fato de terem partido deste mundo, ou por não vivermos mais sob sua tutela, temos a obrigação de continuar a honrá-los:
“Honra a teu pai e a tua mãe – que é o primeiro mandamento com promessa – para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra” (Ef.6:2-3).
Como devemos honrá-los? Guardando suas instruções, louvando sua memória, e retransmitindo para as próximas gerações os valores que eles nos passaram. E a promessa de Deus é clara: Quando honramos nosso passado, temos a garantia de um futuro promissor.
E nossos filhos, vendo a maneira como tratamos nossos pais, nos tratarão da mesma forma.
Honrando quem nos precedeu no Mundo, seremos honrados pelos que nos sucederem.
# Elos com o Presente
Nossos irmãos e nosso cônjuge são os elos que temos com o presente.
O relacionamento entre irmãos é geralmente caracterizado pela rivalidade. Os próprios pais estimulam disputas entre eles. Às vezes o fazem inconscientemente, quando elogiam um, enquanto criticam o outro, ou quando agem com predileção.
Uma relação saudável entre irmãos deve ser pautada na cooperação, e não na competição.
Veja a constatação que Salomão faz:
“O irmão ofendido é mais difícil de conquistar do que uma cidade fortificada, e as contendas são como os ferrolhos de um castelo” (Pv.18:19).
O simples fato de um irmão obter sucesso, pode constituir-se numa ofensa ao outro. Porém isso pode ser evitado, quando a família provê uma atmosfera onde o sucesso de um é considerado o sucesso de todos. Cabe aos pais criarem um ambiente familiar onde a inveja e o ciúme não sejam estimulados, nem bem-vindos.
Foi a inveja de um irmão que causou o primeiro homicídio da história. Logo depois de Caim haver tirado a vida de Abel, Deus lhe perguntou: “Onde está Abel, teu irmão? E ele respondeu: Não sei. Acaso sou eu guardador do meu irmão?” (Gn.4:9).
Aos olhos de Deus, todos temos responsabilidade de guardar uns aos outros. Deve ser cultivada o que as Escrituras chamam de “aliança de irmãos” (Amós 1:9).
E quanto à vida conjugal?
Veja o conselho que Salomão nos dá acerca disso:
“Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de vida da tua vaidade, os quais Deus te deu debaixo do sol (...) Porque esta é a tua porção NESTA VIDA, e do teu trabalho, que tu fazes debaixo do sol” (Ecl. 9:9).
A vida conjugal deve ser prazerosa para ambos, marido e mulher. E deve ser caracterizado pela lealdade, pois toda relação familiar é mediada por uma aliança. Onde há aliança, deve haver fidelidade.
Em nossos dias, os relacionamentos estão cada vez mais descartáveis. As pessoas usam-se mutuamente, mas não se dispõem a amar integralmente. Cabe aqui a advertência divina registrada por Malaquias:
“...o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança. Não fez ele somente um? Em carne e espírito são dele. E por que somente um? Ele buscava uma descendência piedosa. Portanto cuidai-vos de vós mesmos, e ninguém seja desleal para com a mulher da sua mocidade” (Malaquias 2:14-15).
Ser desleal com o presente equivale a trair o futuro. Ser desleal com a esposa é também ser desleal com os filhos. Pode-se inventar mil justificativas para a traição, mas como encarar o olhar decepcionado de um filho?
E quando acaba ou diminui o prazer? O que fazer?
Embora o casamento deva ser prazeroso, o propósito maior de Deus é que ele seja saudável, a fim de que produza indivíduos emocionalmente sadios para a sociedade.
O prazer é o bônus dado por Deus. Deve-se buscar cultivá-lo, não deixando que a vida conjugal seja vítima da monotonia.
Porém, o supremo propósito é garantir que a família ofereça um ambiente onde os filhos possam crescer, ser educados e preparados para o futuro.
Podemos afirmar que o matrimônio é um elo que temos com o presente, porém voltado para o futuro.
# Elos com o Futuro
Os filhos são nossos elos com o futuro.
Deus está trabalhando pela restauração do Mundo. Porém, esta restauração é gradativa, e um empreendimento que demanda a participação e o empenho de várias gerações.
Os pais devem ser visto como os visionários, os arquitetos do futuro, aqueles que planejam e lançam os fundamentos. Enquanto os filhos são os que edificam, os construtores do amanhã.
Isaías 58:12 tem uma promessa maravilhosa acerca disso:
“Os que de ti procederem edificarão os lugares antigamente assolados, e levantarás os fundamentos de geração em geração...”
Em Joel 2:28 lemos que quando o Espírito Santo fosse derramado sobre a humanidade, os pais teriam sonhos, enquanto os filhos teriam visões:
“E depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões.”
O maior legado que um pai pode deixar para seus filhos são os seus sonhos. Pais sonhadores produzem filhos visionários.
Nosso desafio é deixarmos para os nossos filhos um mundo melhor do que o que nossos pais nos deixaram. E mais: devemos desafiá-los a tornar este mundo ainda melhor para as gerações que vierem depois.
Nossos filhos são mensagens vivas que enviamos para um tempo que não viveremos. Eles manterão viva a nossa memória para as gerações que os sucederem.
Confira o que diz o salmista:
“Uma geração louvará as tuas obras a outra geração; anunciarão as tuas proezas” (Salmos 145:4).
E mais:
“A posteridade o servirá; falar-se-á do Senhor às gerações futuras. Proclamarão a sua retidão ao povo que há de nascer, pois ele o fez” (Salmos 22:31).
Devemos, portanto, prepará-los para ir aonde jamais conseguiremos chegar, e assim sejam a extensão de nossa própria existência. Foi isso que o salmista intentou dizer ao declarar:
“Os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão. Como flechas na mão do valente, assim os filhos da mocidade” (Salmos 127:3-4).
As flechas alcançam aonde as mãos do guerreiro não podem alcançar. Que a educação e a disciplina que dermos a eles sejam como o arco que os lançará em direção a um futuro glorioso.
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