A importância dos sentimentos no caminhar cristão
Quem disse que sentimento não importa? Já ouvi de vários pregadores que a fé só funciona quando os sentimentos são ignorados. Segundo eles, os sentimentos poderiam inibir, e até impedir a eficácia da fé. Tal argumentação carece de respaldo bíblico, e é totalmente desbaratada quando nos deparamos com Jesus, cujos milagres eram sempre motivados pela compaixão. E o que é ‘compaixão’, senão um sentimento?
A própria fé deve ser operada pelo amor (Gl.5:6). Uma fé que não seja motivada por amor, nada mais é do que exibicionismo, se contenta com o espetáculo, sem se preocupar em beneficiar o semelhante.
Se os sentimentos não fossem importantes em nosso caminhar cristão e no exercício de nossa fé, Paulo não recomendaria que tivéssemos “o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus” (Fp.2:5).
É claro que o nosso culto a Deus deve ser ‘racional’, mas isso não significa que devamos deixar de lado as emoções. Temos a mente de Cristo, mas também devemos ter o Seu coração.
O Espírito do Evangelho propõe a integração entre o que é racional e o que é emocional. Mente e coração devem locupletar-se no Espírito de Cristo.
Em Ezequiel 11:19 encontramos a promessa de que sob a Nova Aliança, Deus nos daria “um mesmo coração”, e um “espírito novo”. No lugar do “coração de pedra”, Ele colocaria um “coração de carne”.
Não há lugar para apatia numa espiritualidade saudável. O coração de carne é aquele que se compadece, que “chora com os que choram”, que lamenta o que deve ser lamentado, que se abre à possibilidade da entrega.
O que Deus quis dizer com “um só coração”?
Ao sermos batizados em Cristo, tornamo-nos um só espírito e um só corpo com Ele. Somos, por assim dizer, o Corpo Místico de Cristo. Ele é a Cabeça, nós somos os membros. Parafraseando Paulo, “há um só corpo e um só Espírito (...) um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai”, e... um SÓ CORAÇÃO! (Ef.4:4-6).
Na simbologia bíblica, o coração é a sede das emoções, dos sentimentos. Só podemos ter o mesmo sentimento que houve em Cristo, por sermos parte de Seu Corpo. E em Seu Corpo só há lugar para UM coração.
Os cristãos primitivos experimentaram uma revolução em seu modo de vida por conta disto.
Lucas, em sua reportagem relatada em Atos dos Apóstolos, diz que “era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns” (At.4:32).
A maior evidência da presença do Espírito Santo em suas vidas não eram as línguas, como defendem alguns, nem mesmo os poderes miraculosos, mas a maneira como compartilhavam seus bens. De fato, “o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm.5:5).
Era esse novo coração que fazia com que eles se dessem mutuamente em amor. Não fazia sentido dizer que algo pertencia unicamente ao indivíduo. Tudo era comum! Não por imposição dos apóstolos, mas pela disposição gerada em seu novo coração. Eis o caminho da revolução!
Não se trata de imposição, mas de disposição.
Eles não apenas pregavam a mensagem, senão que eram a própria mensagem encarnada.
Paulo nos oferece um exemplo disso:
“Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas também as nossas próprias almas, porque nos éreis muito queridos” (1 Ts. 2:8).
Só se pode pregar a verdade, quando se vive o amor. Caso contrário, a verdade se torna insuportável e destruidora. Temos que seguir a verdade em amor (Ef.4:15), e assim, comunicaremos muitos mais do que palavras.
Um olhar compassivo é infinitamente mais eloqüente que um sermão bem construído. Mãos estendidas comunicam mais do que dedos apontados.
Imagine se todos fôssemos batizados com este mesmo batismo! Se todos experimentássemos o que Paulo chamou de “caminho mais excelente”!
Não haveria traições, falsidade, desonestidade, inveja, simplesmente porque tais sentimentos não encontram abrigo no coração de Cristo.
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