quinta-feira, janeiro 15, 2009

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Marciano solta pum?

SÃO PAULO - Cientistas americanos confirmaram a presença de grandes massas de metano, um componente do gás natural, na atmosfera de Marte. Na Terra, 90% do metano existente no ar é produzido por seres vivos, e o mesmo pode ser verdade no planeta vermelho. "Tanto a origem biótica quanto a abiótica são possíveis", diz o principal autor do estudo que descreve o metano marciano, Michael Mumma, do Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa. "Isso eleva substancialmente a probabilidade de que houve vida lá ou que ela sobrevive até o presente", acrescentou, com a ressalva de que a presença de vida em Marte ainda está longe de ser provada.

A alternativa à explicação biológica seria uma origem geoquímica, a partir de uma reação envolvendo rocha aquecida do interior do planeta e água, ou da liberação de metano antigo congelado, aprisionado no subsolo. Segundo Mumma, apenas missões com astronautas ou robôs, enviadas aos locais da onde o metano parece se originar, poderão eliminar a dúvida.

Ao comentar a descoberta em um evento realizado pela Nasa, a geóloga Lisa Pratt, da Universidade de Indiana, disse que o metano de origem geológica na Terra é tão raro que considera que a origem biológica para o gás em Marte "pode até ser mais plausível". Ela lembrou que existem seres vivos que se alimentam de metano, e que poderiam se acumular junto a fontes do gás. "Essa descoberta nos dá um alvo. O metano é também um recurso".

Ela disse que para confirmar a presença de vida nesses locais seria preciso escavar vários metros abaixo da superfície.

Os pesquisadores obtiveram a confirmação realizando uma análise espectroscópica da luz solar refletida por Marte em direção à Terra, e encontraram a assinatura do metano. A análise das flutuações na intensidade dessa assinatura fez com que concluíssem que o gás é emitido nos meses quentes - primavera e verão - e que se origina, provavelmente, em três regiões do hemisfério norte: Arabia Terra, Nili Fossae e Syrtis Major. Junto com o metano, a equipe de Mumma também viu a assinatura de água, que é um ingrediente essencial para a vida.

Esse caráter sazonal da emissão indica que há algo mais ocorrendo, para além de uma simples produção geológica do gás. "Se o efeito é geológico, a variação com as estações poderia ser resultado do aquecimento do ambiente próximo à superfície. Esse aquecimento poderia derreter o gelo, com um aumento da água disponível no primeiro metro do solo e a abertura de poros nas encostas. Esses poros ficariam lacrados durante o inverno e o outono".

O artigo que descreve a descoberta, publicado online na tarde desta quinta-feira, 15, pelo serviço ScienceExpress, da revista Science, cita, como um modelo para a possível fonte biológica do gás, algumas comunidades de micro-organismos encontradas vivendo a quilômetros de profundidade, na Terra, e que se alimentam de hidrogênio, desligado das moléculas de água pela radiação natural das rochas, e gás carbônico. Esses organismos produzem metano.


Fonte: Estadão

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