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sábado, agosto 06, 2016

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Os deuses do Olimpo desceram até nós!




Por Hermes C. Fernandes

Algumas horas antes da abertura das Olimpíadas 2016, eu estava com minha esposa no hospital. Enquanto ela era medicada, fui para o lado de fora do hospital e fiquei a observar o céu estrelado. Um segurança se aproximou de mim e comentou que naquela noite havia seis planetas visíveis a olhos nus. Próximo da lua, podíamos ver três deles, Júpiter, Vênus e Mercúrio. Bem acima de nós, estavam Marte e Saturno. E do outro lado, Netuno (não o pudemos ver por causa do prédio do hospital). O único planeta ausente era Urano. Comentei com ele (que se disse um astrônomo amador nas horas vagas) que os deuses do Olimpo resolveram aparecer para a abertura dos jogos. Não é corriqueiro aparecer tantos planetas numa mesma noite. Para quem não sabe, os planetas do nosso sistema solar são batizados com nomes dos deuses do panteão greco-romano, os mesmos que, de acordo com a mitologia, habitavam numa montanha chamada Olimpo. Razão pela qual os jogos iniciados na Grécia são chamados de Jogos Olímpicos. A diferença é que os planetas são chamados pelos nomes que os romanos deram a tais divindades. Júpiter no lugar de Zeus, Mercúrio no lugar de Hermes, Vênus no lugar de Afrodite, e assim por diante.

Eles não devem ter se arrependido de terem dado as caras por aqui. A abertura dos jogos foi apoteótica. Sem dúvida, uma das melhores que já assisti. 

Lembrei-me de uma conversa que tive com o meu pai vinte anos atrás, justamente no dia da abertura das Olimpíadas de 1996.  Morávamos na mesma rua. Ele chegou sem avisar e me chamou ao quintal. A noite estava estrelada como a de ontem. Perguntou-me se eu havia assistido à abertura e confessou-se ter ficado emocionado com o desfile das comitivas. Disse-me que imaginou algo assim promovido pela igreja. Que seu sonho era que um dia tivéssemos igrejas espalhadas por cada um daqueles países, e que suas caravanas entrassem desfilando com suas respectivas bandeiras numa convenção internacional. Meu pai já estava com a saúde bem debilitada à época. De repente, apontou para as estrelas e disse-me: - Está vendo essas estrelas no céu? Minha mente as alcança, mas meu corpo não corresponde. Mas onde eu não conseguir chegar, você e sua geração chegarão.

Lá estava meu velho pai, a quem eu considerava um herói, expondo-me sua fraqueza e humanidade. No auge de sua carreira ministerial, quando reunia até 80 mil pessoas num único evento, chegando a batizar 5 mil numa manhã (foi capa do Jornal O Globo), sofreu uma parada cardíaca que por pouco não o matou. Ele costumava contar que Deus lhe deu um beliscão para lembrá-lo de que ele não era um deus, mas um homem mortal. De fato, meu pai era idolatrado. As pessoas projetavam nele expectativas sobre-humanas. Até que um dia o andor balançou, e o santo se revelou de barro. 

A julgar pelos últimos acontecimentos envolvendo personalidades do panteão gospel, tenho a impressão de que Deus está desmontando nossa fábrica de deuses.

Mas não pensem que isso seja um fenômeno recente. Já nos primórdios do cristianismo, Paulo e Barnabé cortaram um dobrado para impedir que o povo de Listra lhes oferecesse sacrifícios por considerá-los deuses do Olimpo que haviam descido até eles. Acharam que Barnabé fosse o próprio Júpiter (Zeus para os gregos), o “deus dos deuses”, e que Paulo fosse Mercúrio (Hermes), seu mensageiro. Tudo porque curaram um paralítico. Os discípulos tiveram que rasgar suas vestes em protesto, e argumentar que não passam de seres humanos de carne e osso, “sujeito às mesmas paixões”.  Repare bem nisso: eles não disseram que eram sujeitos às mesmas intempéries apenas, nem sujeitos a ficarem enfermos ou coisa parecida, mas que eram sujeitos às mesmas paixões (confira Atos 14:8-18).

É cômodo para muitos líderes venderem uma imagem de seres infalíveis, detentores de poderes especiais.  Tem-se a impressão de que se rasgarem suas vestes como fizeram Paulo E Barnabé, revelarão o traje do super-homem por baixo de seus ternos Armani. Até que num belo dia, o casamento perfeito desmorona, o marido do ano é acusado de pedofilia, o pastor-deputado santarrão é acusado de tentativa de estupro, um pastor político (ex-candidato a presidente do país) que tem histórico de violência doméstica ameaça uma jovem de morte, um líder evangélico considerado suprassumo da honestidade é flagrado recebendo suborno e em seguida aparece agradecendo a Deus pela "provisão", e por aí vai.

O que causa escândalo não é a fraqueza em si, mas a hipocrisia do discurso e o uso do poder para extravasar a tara contida. Há sempre algo podre por trás de quem arrota santidade e ainda desdenha dos que considera abaixo de seu suposto padrão moral.

A credibilidade da igreja repousa sobre a admissão de suas fraquezas e idiossincrasias. Temos que rasgar nossas vestes para mostrar que abaixo delas não há uniforme de super-herói. Somos seres plenamente humanos, capazes de atos heroicos, bem como de vergonhosos gestos de vilania. É justamente isso que nos faz 100% dependentes da graça de Deus.

Nem Deus, nem o mundo, esperam de nós perfeição, mas tão somente coerência. Somos admitindo nossas fraquezas seremos aptos a ganhar os fracos, admitindo nossa ignorância poderemos alcançar os ignorantes. Nossa pseudo-santidade só serve para disfarçar taras inconfessáveis, agravando sobremaneira nossas neuroses, alimentando nossos monstros.

Quando, enfim, nossos ídolos se espatifam no chão, sentimo-nos órfãos, traídos por aqueles que considerávamos padrão moral e ético.

De quanta dor, decepção e vergonha seríamos poupados se fitássemos a Cristo e não os que se dizem seus porta-vozes. E de quanta dor, decepção e vergonha pouparíamos os que amamos se não nos atrevêssemos a bancar uma santidade de fachada, desprovida de compaixão e amor.

Os deuses não desceram até nós. Foram derrubados! E mesmo se fazendo passar por divindades, serão julgados “como homens” (Sl. 82:1-8).

No final das contas, a ninguém mais veremos, senão a Jesus (Mt. 17:8), cujo esplendor ofusca a glória da Lei e dos Profetas, quanto mais a glória estapafúrdia dos homens. 

***

P.S.1 - A imagem acima é apenas ilustrativa. Não tem a pretensão de fazer qualquer insinuação acerca das pessoas representadas, mas apenas denunciar nossa mania de eleger heróis, semi-deuses acima do bem e o mal. 

P.S.2 - O objetivo deste post não é acusar, nem levantar suspeita. Alguns comentários nas redes sociais foram feitos por quem nem se deu o trabalho de lê-lo até o fim. O que questiono não é a idoneidade de A ou B, nem sua culpa ou inocência, mas a nossa mania de construir ídolos. Nesse sentido, o problema não são propriamente eles, mas nós. Tratá-los como ídolos é nocivo tanto para nós, quanto para eles, haja vista a sua incapacidade de atender às nossas expectativas. As acusações que pesam sobre Felipe Heiderich ainda não foram provadas. Há fortes indícios de que possam ser falsas. A justiça decidirá. Os fatos envolvendo Marco Feliciano ainda estão sob investigação. Não se pode sentenciar ninguém sem que antes seja levado a juízo. 

sexta-feira, julho 08, 2016

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Mascarados ou descarados?




Por Hermes C. Fernandes

Dois Felipes causaram um terremoto nas redes sociais nesta semana. Um, desmascarando a santa hipocrisia de um parlamentar evangélico. O outro, sendo desmascarado publicamente pela esposa que o acusa de ser homossexual e pedófilo.  Apesar de distintos, tais fatos se conectam por um elo: a maneira como a religião evangélica enxerga a homossexualidade.

Nem mesmo as saias justas do Felipe Neto inibiram a postura anacrônica de Marco Feliciano acerca do tema. O vlogueiro demonstrou ter feito o dever de casa ao disparar passagens bíblicas, recorrendo até aos textos originais. Chego a desconfiar que o rapaz tenha tido passagem por alguma igreja. Ou, no mínimo, pesquisou bastante antes de adentrar o gabinete do parlamentar. Feliciano manteve-se firme até o fim, e o debate que começou com um pedido de desculpas de Felipe Neto pela maneira deselegante como se referiu ao deputado nas redes sociais, terminou com rasgação de seda do Feliciano, afirmando que suas filhas são fãs do vlogueiro. Aliás, gostei de saber que Felipe Neto é proveniente do Engenho Novo, o mesmo bairro carioca onde exerço a função pastoral.

Nada demove Feliciano da convicção de que homossexualidade seja pecado. Para Silas Malafaia, seu colega de púlpito e amigo particular, o que se constitui pecado é a prática homossexual. Portanto, se o indivíduo tiver desejos homossexuais, mas não chegar às vias de fato, ele não estará pecando propriamente. Esta posição tem sido quase unanimidade entre os evangélicos no Brasil. Não importa o que se sente, mas apenas o que se faz, o que, a meu ver, parece destoar da proposta original de Cristo, que num dos seus mais importantes sermões, afirmou que se um homem desejasse uma mulher que não fosse sua, em seu coração já teria adulterado, ainda que isso jamais se consumasse. Ele também disse que se nutríssemos um sentimento de ódio contra nosso semelhante, isso nos tornaria homicidas aos olhos de Deus. É do coração que brota todas as coisas, boas e ruins. Mas para os que se dizem porta-vozes da moral cristã, o que importa é a aparência, e não o que é sentido no coração. Portanto, se a prática homossexual for pecaminosa, teremos que admitir que o desejo homossexual também o seja. Assim também, se o desejo homossexual não é pecaminoso em si, então, sua prática também não o é.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, eles ensinam que tanto o amor, quanto o perdão, não são sentimentos, mas meramente atitudes. Portanto, devo declarar ter perdoado a meu ofensor, mesmo que meu coração ainda esteja magoado. Devo afirmar que amo, mesmo não amando. Os que abusam de tal ensino chegam a dizer que se deve confessar uma cura, ainda que esta não tenha ocorrido. Tudo isso em nome de uma fé divorciada do amor. O que estes gurus evangélicos ensinam como verdade, Jesus chamou de hipocrisia.

E o que tudo isso tem a ver com a traumática separação da pastora Bianca Toledo? Tudo! Bianca vinha de uma separação também traumática quando conheceu Felipe. Seis meses após a separação, eles se casavam sem terem dado um único beijo durante o namoro.  Tornaram-se nos queridinhos da família tradicional evangélica e garotos-propaganda do movimento "Eu escolhi esperar". O fato de ter se recuperado de uma enfermidade mortal era a prova de que Deus poderia reverter qualquer quadro. E o fato de ter reconstruído sua vida amorosa depois da primeira separação era a prova de que o mesmo Deus que a teria "ressuscitado", também ressuscitaria sonhos. Resultado: Bianca se tornou numa campeã de vendas de DVD’s, CD’s e livros nos quais relata seu testemunho. Seu segundo casamento se tornou num modelo a ser copiado. Ela e seu marido eram onipresentes no instagram com fotos perfeitas que lembram famílias de comercial de margarina. Suas viagens eram acompanhadas por milhares de fãs pelo snapchat.

Tudo corria mil maravilhas até que... boom! A verdade teria vindo à tona. De acordo com Bianca, seu marido confessou-lhe sua homossexualidade, e como se não bastasse, tentou suicídio após confessar ter abusado de seu filhinho de apenas 5 anos.

O assunto tomou as redes sociais de assalto. Só se falou nisso ao longo da semana. E uma das frases mais ditas foi “a máscara caiu”. E o pior é que isso é dito em tom de comemoração. Surge daí uma pergunta que não quer calar: Quem foi mesmo que forneceu a máscara? Em que baile de máscaras ele costumava desfilar?

Quem dera os cristãos finalmente entendessem o que o apóstolo Paulo intentava dizer ao declarar que onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade. Não se trata, como muitos pensam, de liberdade para cultuar do jeito que bem entendermos, pulando, dançando, plantando bananeira, etc. E sim, liberdade para ser o que se é, sem receio de ser julgado por quem quer que seja.

Todos somos seres em fase de acabamento. Ou se preferir usar uma expressão filosófica, somos um devir. Ninguém está pronto. Por isso, Paulo é incisivo: se almejamos tornar-nos seres humanos melhores, temos que nos manter com “o rosto descoberto” enquanto transitamos num ambiente impregnado de liberdade, amor e respeito mútuo.

Sob as máscaras fornecidas pela religião, monstros eventualmente se formam. Se vivessem na luz, não haveria ambiente propício a isso.

Se Felipe Heiderich é, de fato, um homossexual, jamais deveria ter se casado com uma mulher. Em compensação, provavelmente não teria sido acolhido pela igreja. No fundo, não temos nada contra homossexuais, desde que permaneçam no armário e não nos importune. Santa hipocrisia, batman! Se contraírem matrimônio com pessoas do sexo oposto, melhor ainda. Isso provaria que nossa teoria de cura gay está correta. Mas é aí que as coisas mudam de figura. Forja-se uma conversão (não apenas religiosa, mas sexual), e, para provar estar “curado”, casa-se e passa a viver uma mentira. Muitas vezes, o cônjuge é cúmplice. Noutras tantas, é vítima.

Por favor, parem com esta ladainha que insiste em vincular homossexualidade à pedofilia. Ser homossexual não é crime. Apesar de muitos acharem que é pecado. Porém, pedofilia é tanto crime quanto pecado. Ademais, está estatisticamente comprovado que raramente o abuso de crianças é perpetrado por homossexuais. Geralmente, são praticados por héteros.  Se abusou de uma criança, deve ser preso, mas não odiado por quem deveria amá-lo.

O estuprador, o pedófilo, ou qualquer outro criminoso, não podem escapar do rigor da lei. O que não significa que devam ser alvo de nosso ódio e desprezo. São seres humanos, tão carentes da misericórdia divina quanto cada um de nós.

A julgar pela reação de boa parte dos cristãos, não foi só a máscara do tal pastor que caiu, mas a de todos eles. Todo amor que pregamos foi por terra abaixo. Nosso desejo de vingança depôs contra nós, tanto perante a sociedade, quanto perante o próprio Deus.

Permitam-me, agora, uma opinião sincera sobre a postura da pastora, considerada por muitos, corajosa. Teria sido ela cúmplice ou vítima de toda esta situação?

De acordo com o que saiu na mídia, tanto escrita, quanto televisiva, Bianca havia sido informada pela babá que seu atual esposo abusava de seu filho desde que tinha 3 aninhos. Mas ela nada fez. Preferiu fazer vista grossa. A babá relatou ter comunicado a Bianca que o menino estava sempre sem fralda no berço e que seu padrasto era visto constantemente saindo de seu quarto de madrugada, e que todas as vezes que Bianca viajava, ele dispensava a babá e dormia com o menino em sua cama. Por que só agora ela resolveu jogar tudo no ventilador?

E quanto à forma como trouxe a público a situação? Por que expor o próprio filho dessa maneira? Não bastava tratar do caso na esfera privada?

Ela poderia até expor o fato de seu marido não demonstrar interesse sexual por ela desde o sexto mês de casamento, e revelar a todos sua homossexualidade e até sua tentativa de suicídio. Mas não vejo razão para expor uma criança que poderá carregar este estigma para sempre.

E o que me causa ainda mais repulsa é perceber o viés espiritual que está se tentando dar ao caso, como que prevendo a repercussão e a maneira como poderá poupar seu ministério de um escândalo, incrementando as vendas de seu material. Já, já, teremos mais um best-seller contando como sobreviveu a isso. Não consigo ver com bons olhos tal estratégia de marketing ao custo da exposição de uma criança inocente.  

Imagine daqui a vinte anos, quanto for adulta, e fizer uma busca no google pelo seu nome, com o que esta criança se deparará. Tudo isso poderia ser evitado.

Hoje mesmo, Bianca postou um banner com sua foto e a frase: “Bianca Toledo alerta a igreja: Uma tempestade vai limpar os altares cristãos em toda a terra.” E mais: “Vejam que muitos outros cairão nos próximos dias porque sujaram o que é santo conscientemente e a igreja vai despertar para o que ignora: satanismo infiltrado nas lideranças, pedófilos e imorais, corruptos e adúlteros, gananciosos e manipuladores. Para que haja temor e cura.”

Antes de se preocupar com a igreja e com o seu ministério, ela deveria se preocupar com o seu filhinho. O mesmo apóstolo diz que quem não cuida dos da sua casa, como poderá cuidar da igreja de Deus?

Acho até que ela deveria dar um tempo com as redes sociais. Tirar um ano sabático. Dedicar-se inteiramente à restauração de seu filho.

Finalmente, devemos considerar o direito que seu ex-marido tem de vir à público e expor sua versão dos fatos. Até o presente, não há provas de que a criança foi abusada. Ele está preso por medida cautelar, seguindo o protocolo nessas situações.

O advogado de Felipe Heiderich, Leandro Meuses, usou o perfil de seu cliente no facebook para dizer que  “as acusações formuladas contra Felipe são inteiramente falsas” e que “a polícia saberá investigar para, ao final, esclarecer a verdade”. Segundo ele, nem o pastor nem o advogado vão procurar a mídia para esclarecer os fatos: “Não iremos em busca da mídia para promover qualquer de nossos interesses, iremos sim provar a inocência de Felipe nos autos do inquérito policial, confiando no trabalho da Polícia e da Justiça!”, explicou. “Orem por Felipe para que ele tenha forças para superar essa grave injustiça, e peçam a Deus que ele faça apenas justiça, nada mais!”

Se for comprovado seu crime, que pague pelo que fez. Mas, por outro lado, se for comprovada sua inocência, que sejamos cristãos o suficiente para pedir-lhe perdão pelo linchamento público a que o estamos submetendo. 

Enquanto isso, que tal abandonarmos nossa hipocrisia e deixarmos de projetar nos astros do mundo gospel nossas fantasias de perfeição? Que tal assumirmos de vez nossa humanidade e olharmos com misericórdia as idiossincrasias alheias?

Mais amor, menos rancor, por favor. 

sexta-feira, abril 29, 2016

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"Saia justa" de Hermes Fernandes em Marco Feliciano viraliza na internet

segunda-feira, abril 18, 2016

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Um cuspe na cara da hipocrisia




Por Hermes C. Fernandes

“Por Deus e pela família!” Nunca o nome de Deus foi tão evocado no plenário da Câmara de Deputados Federais quanto na sessão de ontem. Pena que a maior parte dos que assistiram ao horrendo espetáculo não se deu conta do que estaria por trás de menção do nome sagrado. Talvez até haja dentre os nobres parlamentares alguns que se veem investidos de um propósito divino para defender a célula mater da sociedade. Mas, ouso afirmar que a maioria deles apenas feriu o terceiro mandamento sem o menor constrangimento. Porém, ambos, os sinceros e os picaretas, compõem o mesmo coro, regido pelos que camuflam suas verdadeiras intenções.

A bancada evangélica é o que há de mais retrógrado naquela casa. Seus componentes foram eleitos para defender exclusivamente os interesses de suas agremiações religiosas. São bravos em lutar por concessões de rádio e TV, por privilégios para seus líderes (como a anistia que Eduardo Cunha conseguiu para o Silas e o R.R. Soares), e isenções tributárias para as igrejas.  Entre eles, não há preocupação com os desassistidos, com as minorias, com a justiça social. Mas como poderiam ser eleitos sem oferecer ao povo alguma promessa concreta?  

Simples. Descobriram na moral cristã a melhor artimanha para se elegerem sem o menor esforço.  Inventaram que a família tradicional estava sob um ataque acirrado de quem pretende aniquilá-la. Quem seriam os inimigos? Aqueles gays pervertidos! A partir daí, começaram a criar factoides, mentiras deslavadas. Disseram que havia um projeto de lei que seria levado a plenário que obrigaria pastores a casarem homossexuais. Depois que derrubaram a PL 122, procuraram outra desculpa para continuar brigando e garantindo seu capital político. Inventaram a tal “ideologia de gênero”. Assustaram os pais afirmando que seus filhos seriam iniciados sexualmente nas escolas.  Que menino poderia usar banheiro feminino e vice-versa.  Mentirosos! Seguem a cartilha de Hitler que dizia que uma mentira contada muitas vezes é tida como verdade. 

Precisavam de um inimigo que encarnasse tudo isso. Elegeram Jean Wyllys. Transformaram-no num monstro, num ser asqueroso. Criaram memes onde palavras terríveis foram postas nos lábios do deputado que se assume homossexual.  E mesmo vindo à público para desmentir os boatos, eles continuaram a circular livremente pela internet.

Resultado: boa parte dos evangélicos têm ojeriza a Jean Wyllys. Comentários do tipo “ele vai destruir as famílias” são cada vez mais frequentes nas redes sociais. Xingamentos vindo de quem deveria destilar amor são comuns. Quem acompanha a sua legislatura dá testemunho de quão ética é sua postura. Até quando provocado com perguntas capciosas, Wyllys procura manter o tom respeitoso. Sou testemunha disso.

Um dos deputados que ontem gritavam “Tchau Querida”, disse na minha presença e de outros pastores, com todas as letras, que Jean Wyllys, seu desafeto, o havia cantado no dia anterior. Todos começaram a gargalhar. Eu abaixei a cabeça e me afastei. Que triste. A que ponto chegaram. Duvido muito que tal coisa tenha acontecido.  Não bastasse tentar desmoralizar o rapaz pelo simples fato de ser homossexual, ainda tentam achincalhá-lo em off.  Ah, os bastidores... se todos os conhecessem... teriam ideias completamente diferentes das que defendem.

Depois de elegerem um vilão, precisavam encontrar um herói. Feliciano, na qualidade de profeta, tomou o vaso usado por Samuel para ungir a Davi, e declarou numa conversa vazada recentemente, que só conhece um Messias: Jair Bolsonaro. Numa tacada, negou a Cristo. Alguns dirão que a conversa foi editada. Sim, há retalhos de várias conversas ali. Mas isso não diminui o que ele disse em alto e bom som, dirigindo-se ao próprio Bolsonaro. Cabe lembrar que o mesmo vaso (que na verdade era um chifre) usado para ungir a Davi, foi antes usado para ungir a Saul. 

Já temos um vilão, um herói, faltava uma luta épica. E pelo jeito, esta ocorreu ontem durante a votação pelo impeachment da presidente Dilma. Após ter votado contrário ao embuste, Jean foi xingado por Bolsonaro de viado, queima-rosca, entre outras coisas. Bullyng em pleno congresso. Se isso não é quebra de decoro, o que é, então? Quem suportaria tanta afronta? E isso ao longo de toda a sua legislatura. Ontem foi só a gota d'água. Com o sangue quente, Jean se virou em sua direção e deu-lhe uma cuspida. Se ele fez certo? Não. Acho até que também quebrou o decoro parlamentar. Se eu o condeno por isso? Também não. Bolsonaro fez por merecer tal reação. Não duvido nada que isso tenha sido pensado. Conheço poucos tão calculistas quanto ele. 

Mas ele agora é o herói dos crentes. É o defensor da família tradicional. Tanto que já está no terceiro casamento e o último foi celebrado por ninguém menos que outro arauto da família tradicional, o sempre esbravejante Silas Malafaia. A crentaiada se sentiu aviltada pelo cuspe que Jean deu em seu herói.

Não se esqueçam de que quem é herói para uns, é vilão para tantos outros. E quem é vilão para uns, igualmente é heróis para outros. Davi era o herói dos hebreus, mas o vilão dos filisteus. Golias era o heróis dos filisteus, mas o vilão dos hebreus. 

Aquele cuspe foi  emblemático. Deveria ser registrado nos anais da história. Foi o cuspe das minorias massacradas pelo nosso maldito preconceito na cara de nossa hipocrisia religiosa. Bolsonaro não me representa. Wyllys também não. Porém, me alinho muito mais com aqueles a quem Wyllys representa do que com aqueles cujos interesses são representados por Bolsonaro. Mania que aprendi com um certo Galileu de me posicionar pelas vítimas e não por seus algozes...

Muito mais grave do que ser insultado por um cuspe é dedicar seu voto a um torturador que quebrou os dentes de uma jovem de 23 anos que em seu idealismo lutava contra o golpe militar de 64. Pois foi justamente isso que fez o novo herói dos crentes. Ele não apenas cuspiu, mas vomitou na cara da sociedade, principalmente, dos que tiveram familiares presos e torturados pelo regime militar.

O cuspe de Wyllys lambuzou a cara de pau do Bolsonaro, mas também lavou a alma de milhões de brasileiros, sobretudo das minorias, dos negros, dos gays, das mulheres, dos deficientes físicos.

Sei o quanto pode me custar um artigo como este. Vou perder seguidores. Alguns que nutriam admiração pelo meu trabalho, ficarão decepcionados. Sinto profundamente. Não gosto de perder amigos. Mas não poderia me calar, nem ser hipócrita. Escrevo o que penso. Escrevo com o coração.

Se prefere continuar acreditando nos políticos evangélicos e em suas mentiras deslavadas; se prefere dar crédito a líderes que negociam o voto de seu rebanho, e tocam terror anunciando uma guerra inexistente contra a família, sinta-se à vontade. Posicione-se. Não vejo como é possível beber do que jorra aqui e continuar bebendo de fontes turvas como Olavo de Carvalho, Nando Moura, Danilo Gentilli, e outros que engrossam o coro do ódio, do preconceito, dos factoides. Mas lembre-se: você estará em companhia de gente muito boa que se aglutina ao redor destes mestres. Só lamento profundamente por você. Falo de todo o meu coração. Falo porque me importo com você e sei o dano que tudo isso fará à sua alma.

Só tome cuidado porque certos posicionamentos equivalem a cuspir no rosto d’Aquele que preferia a companhia de prostitutas e pecadores.

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P.S. Seu Messias é Bolsonaro, seu profeta é Malafaia, seu mestre é Olavo de Carvalho e ainda considera Cunha um gênio. O que mais esperar do mais proeminente representante da bancada evangélica? Refiro-me a Marco Feliciano. Deprimente. 

quinta-feira, março 31, 2016

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O ato patético do Malafaia e o comunismo mequetrefe do PT



Por Hermes C. Fernandes

Isenção. Parece que esta palavra não anda muito em alta ultimamente. Todos requerem que saiamos de cima do muro, escolhendo um dos lados. Porém, quando falo de isenção profética, refiro-me a olhar para além do muro, posicionando-se de maneira tal a tornar possível uma avaliação desprovida de paixão.

Tomo como parâmetro as cartas de Jesus registradas no livro de Apocalipse endereçadas às igrejas da Ásia Menor. Nelas, Jesus elogia o que podia ser elogiado, critica o que devia ser criticado, encoraja o que precisava ser encorajado, adverte no que tinham de ser advertidas. À igreja em Éfeso, por exemplo, Ele diz:

“Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Apocalipse 2:2-4

Quando pendemos para um lado, fazemo-nos cegos ante os equívocos, enfocando apenas os acertos, ou vice-versa. Tal dicotomia é falaciosa e, pelo bem da verdade, deve ser evitada e denunciada.

Permita-me expor um pouco do que penso sobre o atual governo e o partido que está no poder a 13 anos.

O Partido dos Trabalhadores me proporcionou duas grandes surpresas. Primeiro, positiva. Depois, negativa.  A positiva se deve ao fato de haver crescido ouvindo horrores acerca dos “comunistas”.  Cresci durante o regime militar. Fui doutrinado em sala de aula por matérias como OSPB (Organização Social e Política Brasileira) e “Moral e Cívica”. Na escola pública onde estudava, tínhamos que nos formar no pátio e jurar a bandeira embalados pelo Hino Nacional todos os dias. 

Diferentemente das crianças dos anos 80 e 90 que cresceram aos cuidados de Xuxa e Cia, eu cresci assistindo ao Capitão Aza, programa infantil comandado por um personagem militar que usava um capacete com o símbolo do Capitão América. Minha visão de mundo foi diretamente influenciada pelos enlatados Made in USA transmitidos na sessão da tarde, em que o homem branco era sempre o mocinho e o índio, também chamado de pele vermelha era sempre o bandido.

Meu pai, filho do seu próprio tempo, nos advertia que se um dia os comunas chegassem ao poder, teríamos que dividir nossa casa com outras famílias e estar dispostos a morrer por nossa fé. Foi para frear a ascensão comunista que ele apoiou Moreira Franco para o governo do Rio em oposição a Leonel Brizola. Mais tarde, ele foi o orador do lançamento da candidatura de Fernando Collor de Mello, o caçador de marajás, num restaurante do Rio de Janeiro. Portanto, posso assegurar que nasci e cresci num lar tipicamente cristão e conservador. Infelizmente, meu pai não viveu o suficiente para ver seus temores ruírem com a eleição de um metalúrgico ao mais importante posto político do país.

Assim que Lula assumiu o poder, uma das primeiras medidas que tomou foi convidar líderes evangélicos para um encontro no Palácio do Planalto. Ainda desfrutando do prestígio alcançado pelo meu pai no cenário político-religioso, fui convidado com outros 39 líderes de várias denominações para nos reunir com aquele a quem por anos chamávamos de “sapo barbudo”.  Alguns dos que hoje vociferam em seus programas de TV contra o governo também estavam lá, faceiros, orgulhosos por entrarem pela primeira vez no centro do poder para uma audiência com ninguém menos que o presidente da república (o mesmo que eles duramente criticaram durante a campanha). Nunca antes na história de nosso país, pastores haviam sido convidados para participar de políticas sociais que pretendiam tirar milhões de pessoas da mais absoluta miséria. Em vez de nos enviar para o temido paredão (houve quem pensasse que aquela reunião fosse uma armadilha), Lula nos pediu que o ajudasse, mas não nos prometeu nada. Soava-me ingênuo de sua parte acreditar que alguns daqueles homens se engajariam numa luta contra a miséria sem esperar algo em troca. Assim que cheguei a Brasília, pensei com os meus botões: com o que será que nossos pastores estão se metendo? Mas depois de ouvir os comentários dos mesmos nos bastidores, pensei: Este presidente é que não sabe onde está se metendo...

Devo confessar que não saí dali convencido. Cheguei a imaginar que tudo aquilo poderia ser uma manobra de alguém que quisesse implantar um regime totalitário no país. Verdade é que alguns daqueles líderes acabaram se envolvendo em tais políticas sociais; eu preferi manter distância. Não apenas por não estar convencido da sinceridade do presidente, mas por haver decidido manter nossa igreja distante de qualquer envolvimento político-partidário.

Os anos se passaram. Lula foi reeleito e terminou seu governo com o maior índice de popularidade entre todos os presidentes. Pela primeira vez, ao apresentar-me no exterior como pastor brasileiro, perguntavam-me por Lula e não mais por Pelé. Percebi em minhas viagens aos EUA que o fluxo migratório havia se revertido. Havia mais brasileiros voltando para o Brasil cheio de esperanças, do que o abandonando e trocando-o pelo american dream. O brasileiro passou a ser tão cobiçado pela indústria turística, que alguns países deixaram de exigir dele um visto de entrada. Até os EUA passaram a estudar a possibilidade de suspender a dura política de vistos para brasileiros. Mesmo que não tenha suspendido, é muito mais fácil conseguir um visto hoje em dia do que há quinze anos. Tudo graças ao período de prosperidade que vivemos nos últimos anos.  Sem contar que o país deixou de ser mero coadjuvante para tornar-se num poderoso e respeitado protagonista no tabuleiro da política internacional. Deixamos de ser vistos como república das bananas para ser visto como uma potência em ascensão.

Trinta e seis milhões de cidadãos brasileiros foram içados de sua condição de miséria absoluta. Outros tantos milhões foram introduzidos à nova classe média.

Visitando os membros de nossa igreja que moram em comunidades carentes, pude observar quantos tiveram acesso a bens de consumo. A velha geladeira com a porta pendurada com arame cedeu a um refrigerador duplex. Aparelhos de ar condicionado nos quartos. TVs de tela fina. Celulares. Internet e TV por assinatura. E não raras vezes, um carro estacionado no pé do morro. Vibrei cada vez que celebrei o aniversário de quinze anos da filha de uma família pobre ou o casamento dos sonhos de um casal de origem humilde.

Comemorei cada vez que um irmão de comunidade vinha me contar que seu filho ou filha havia entrado para uma universidade pública.

Se por um lado, vibrava com as conquistas sociais, por outro, preocupava ver as alianças que o governo fazia em nome da governabilidade. Constrangia-me ver Lula posando ao lado dos caciques da política, gente do quilate ético de José Sarney e Paulo Maluf. Também ficava constrangido cada vez que lia a notícia de que “nunca na história do país” os bancos haviam lucrado tanto. Temia que o PT houvesse vendido sua alma ao diabo e que, eventualmente, ele viria cobrar. E veio.

Detestei ver Dilma desfilando nos púlpitos de igrejas evangélicas durante sua campanha presidencial (ela não foi a única!). Não gostei de vê-la na inauguração do Templo de Salomão. Durante todo o seu governo, a IURD colou feito um carrapato. Jamais gostei de vê-la falar em público. Uma lástima. Falta-lhe o traquejo e o carisma de seu mentor. Mas, sinceramente, não consigo ver nela uma pessoa de má fé. Mesmo não me passando confiança em seu discurso, respeito sua história de luta contra o regime militar, o que lhe rendeu prisões e torturas.

Sem dúvida, minha maior decepção se deu quando começaram a estourar os escândalos de corrupção. Parafraseando Jesus aos Efésios, parece que o PT deixou o seu primeiro amor. Todo o discurso ético que marcou sua trajetória foi lançado na lata do lixo.

Posso dizer, sem medo de errar, que o PT traiu o seu povo e a sua própria história, e, certamente pagará um alto preço por isso. Seria tolice acreditar que ele esteja só nesta lama. Quase todos os partidos estão atolados até o pescoço. Porém, nenhum deles tem o histórico do PT. Que todos errassem, mas ele não tinha o direito de errar. Pelo menos, não no que tange à corrupção. Que fosse por gestão incompetente, mas nunca por corrupção.

Como todo brasileiro que se preze, estou farto de corrupção. O país precisa ser passado a limpo. Todo este mar de lama tem que ser varrido de uma vez por todas.

O Brasil precisa de muito mais que um “lava-jato”. Ele precisa de uma faxina completa, e não apenas de uma ducha rápida na carroceria para inglês ver. Nossas instituições precisam ser aspiradas do lado de dentro, e ter suas rodas devidamente calibradas e balanceadas. O país precisa de um pitstop para trocar o óleo do motor que a esta altura já virou uma gosma queimada que perdeu sua viscosidade. E isso, antes que o motor entre em pane.

Pelo jeito, teremos que cortar na própria pele. Deixar de lado as paixões ideológicas e partidárias. Admitir que fracassamos como sociedade, a que instituiu o jeitinho e despudoradamente se orgulha disso como se fosse um patrimônio tombado.

Isso não significa que vale tudo para destituir uma presidente democraticamente eleita. Sim, eu disse “democraticamente eleita”, porque não acredito em teorias da conspiração em torno das urnas eletrônicas. Se isso fosse verdade, por que o PSDB conquistou o governo do mais importante estado da federação? E os outros estados onde o PT perdeu? Se houvesse fraude, por que permitir um segundo turno tão conturbado? Quem frauda no segundo turno, poderia ter fraudado ainda no primeiro, evitando tanto desgaste e uma vitória tão apertada.

Não vale tudo para reverter o que está aí. Devemos pautar pela ética, pelo estado de direito, pelo o que é justo e verdadeiro. Infelizmente, boa parte das lideranças evangélicas há muito trocou a Bíblia por Maquiavel. Paulo, o apóstolo, nos adverte a que não usemos armas carnais em nossa militância contra o mal (2 Coríntios 10:4). Dentre tais armas está a mentira, as meias-verdades, as insinuações, as calúnias.

Como cantava Cazuza, “eu vejo o futuro repetir o passado, um museu de grandes novidades.” Ou como disse o sábio Salomão, “não há nada novo debaixo do sol. O que é, já foi um dia.”

Os mesmos argumentos usados em 1964 pelos que participaram da “marcha pela família com Deus pela liberdade”, são exaustivamente repetidos nos púlpitos e programas evangélicos televisivos. Aceitamos a oferta de Saul e vestimos sua armadura.

Como se não bastasse a mentira de afirmar que o atual governo é comunista, conclama-se o povo evangélico para um “ato profético” na esplanada do planalto, no afã de dar uma aura espiritual àquilo que esconde pretensões políticas e econômicas inconfessáveis.  Quando aprenderemos, afinal?

A manifestação de demonstração de poder (não passa disso!) está prevista para coincidir com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Congresso e deve mobilizar caravanas de todo o país. Malafaia disse em entrevista que o evento tem o objetivo de profetizar o fim da corrupção e da crise econômica no Brasil. Chega ser cômico, não fosse trágico. Como o mundo poderia nos levar a sério com um mico desses?

Será que o Eduardo Cunha, paladino da transparência e da honestidade, estará no palco com a dupla dinâmica, Malafaia e Feliciano, como esteve tantas outras vezes? Será que basta meia dúzia de palavras mágicas “em nome de Jesus” e tudo se reverterá? É este o tipo de espiritualidade ensinada por Jesus? Ou será que o objetivo seria mandar um recado ao próximo mandatário do país?


Por que um governo que fosse uma ameaça comunista, como alega Malafaia, isentaria as igrejas de IPTU? Se houvesse pretensão de instalar uma ditadura, por que ainda não o fez, mesmo tendo aparelhado o estado? O que é que estão esperando? Que comunismo mais mequetrefe, que nem sequer cassou concessões de TV que lhe fazem oposição aberta diuturnamente!

Que governo totalitário permite que a polícia federal e o judiciário façam o que estão fazendo? O que, aliás, outros governos considerados conservadores nem de longe permitiram.

De acordo com Renato Janine, professor de Ciências Políticas da USP, “o princípio de todo partido ou militante comunista é a abolição da propriedade privada dos meios de produção. Quer dizer que só a sociedade pode ser dona de fábricas, fazendas, empresas. Já residências, carros, roupas e hortas para uso pessoal ou familiar não precisariam ser expropriadas de seus proprietários privados. A casa em que eu moro não é ‘meio de produção’. Menos ainda, minha roupa. Mesmo a horta, em vários países comunistas, ficou em mãos particulares. Seja como for, o ponto de partida do comunismo é: a propriedade privada dos meios de produção — fazendas, fábricas — é injusta e, também, ineficiente. Deve ser suprimida. Sem essa tese, não há comunismo.”

Ora, até o presente momento, não se ouve falar de latifúndios que teriam sido desapropriados pelo governo em benefício do MST, por exemplo. A tão esperada reforma agrária nunca saiu do papel. E por que as estatais privatizadas pelos tucanos a preço de banana não foram ainda retomadas?  Que comunismozinho mais sem vergonha!

Outra coisa: os Malafaias e Felicianos da vida seguem aterrorizando os crentes dizendo que o comunismo trabalha para destruir o conceito de família tradicional, com sua agenda LGBT e sua ideologia de gênero. Ora, ora, quem introduziu a equivocadamente chamada “ideologia de gênero” não foi algum país comunista, mas a maior potência capitalista do mundo, os Estados Unidos. Países considerados comunistas como a China punem severamente a prática homossexual.

A que conclusão podemos chegar com o que expus até aqui? Há muito que criticar o atual governo, mas será um baita equívoco criticá-lo por ser comunista. Por trás da falsa e alardeada conexão entre o PT e o comunismo está uma visão de mundo reducionista, fruto de um raciocínio raso e primitivo, que atrela qualquer grupo ou ato da esquerda política ao bolchevismo ou ao bolivarismo.

Definitivamente, 1964 é um filme que não vale a pena ver de novo. Os argumentos são os mesmos. As mentiras, idem. Alegavam que João Goulart pretendia dar um golpe comunista e que a única maneira de evitá-lo seria um contragolpe. Deu no que deu.  Que não se repita nunca mais. No que depender de mim, a menos que se comprove o envolvimento da presidente na corrupção, NÃO VAI TER GOLPE. Até o momento, o nome de vários de seus detratores conta na lista do Lava-Jato, exceto. O dela, não. 

Se quisermos limpar o país, comecemos pelos nossos púlpitos. Que nunca mais políticos transitem por eles. Que nunca mais líderes negociem os votos de seu rebanho. Que nunca mais usem o prestígio advindo de sua posição para pressionar governos a atenderem suas solicitações nem sempre louváveis. 

quinta-feira, março 28, 2013

10

O Beijo de Fernanda ou o Beijo de Judas?




Por Hermes C. Fernandes

Muita gente incomodada com o beijo que a atriz Fernanda Montenegro, de 83 anos, deu na boca da atriz Camila Amado, de 77, em protesto contra a permanência do deputado e pastor Marco Feliciano à frente da CDH. O beijo aconteceu durante a 7ª edição do Prêmio APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio), na noite do dia 25 de março. Alguns chegaram a protestar nas redes sociais. De repente, a rainha do teatro brasileiro foi considerada inimiga mortal da moral cristã e dos bons costumes. Uma carreira de mais de 60 anos jogada no lixo por causa de um beijo! Quem mandou mexer com o povo evangélico! Prepare-se para ser execrada até que este episódio caia no esquecimento. Crucificamos a Xuxa e agora vamos apedrejar a protagonista do “Central do Brasil”.

Sinceramente, sinto-me muito mais incomodado, e até enojado, com o "beijo de Judas" de alguns que se dizem representantes do povo evangélico. Traem Seu Mestre em nome de uma agenda política e ideológica. Escandalizo-me cada vez que vejo um político cristão de mãos dadas com o que há de pior naquele meio, traindo seus próprios eleitores, e, pior, traindo suas convicções religiosas que tanto afirmam defender. Poupam a moral, mas traem a ética. O que expressa nossa histórica mania de coar mosquitos e fazer gargarejo com dromedários.

Incomoda-me muito mais os pecados dos de dentro, dos que, em tese, conhecem a verdade, do que os daqueles que desconhecem as demandas do evangelho.

Com isso, não estou abonando o gesto de Fernanda Montenegro, mas apenas conclamando a meus irmãos à consciência, a fim de que deixemos de apontar o cisco no olho dos outros, enquanto trazemos uma trave atravessada no nosso.

Vergonha para nós! Que tipo de políticos temos produzido! São a nossa cara! Frutos de púlpitos despreparados, de sermões vazios, de discursos superficiais.

Bem da verdade, o que nos incomoda não é o beijo em si. Hebe Camargo vivia distribuindo selinhos em homens e mulheres, ninguém jamais se importou. O problema é o que se pretendeu dizer através do tal beijo. A igreja que antes produziu gente da estirpe de Martin Luther King, Jr., agora produz pregadores/políticos que afirmam haver uma maldição sobre determinada etnia, e chamam de privilégios desnecessários os direitos pleiteados por homossexuais. Aquele "beijo" expôs nossas entranhas...

Aplaudo a coragem de Fernanda ao expor sua reputação em nome daquilo em que acredita (mesmo que não coincida com aquilo em que temos acreditado). Uma carreira brilhante e uma história que inclui um casamento que durou mais de cinquenta anos (o que é raro entre os artistas) não podem ser desprezados por causa de um beijo que não passou de uma encenação em protesto contra o que, a seu ver, ameaça o interesse de minorias, dentre as quais os negros e homoafetivos. 

sexta-feira, março 22, 2013

42

Marco Feliciano x Jean Wyllys: O tiro sai pela culatra



Por Hermes C. Fernandes



Não sou advogado do diabo, como afirmam alguns. Apenas me posiciono pela verdade e justiça. Estejam do lado de quem estiver.

Tenho assistido estarrecido à sórdida campanha caluniosa que tem sido feita contra o deputado Jean Wyllys, acusando-o de defender a pedofilia e de disseminar o ódio aos cristãos, chamando-os de idiotas. Posso discordar respeitosamente dele e ou de qualquer outro parlamentar, mas nada me confere o direito de difamá-lo. Os vídeos postados foram claramente editados e as frases creditadas a ele são apócrifas ou pinçadas do contexto.

A impressão que fica é que estamos prestes a assistir à eclosão de uma guerra religiosa em nosso país. E quem está provocando isso é ninguém menos que aqueles que deveriam pautar sua vida pela promoção da paz. Pastores acostumados a pregar o que quiser sem ser contestado pela congregação tendem a achar o mesmo se dá no campo da política. Falta-lhes maturidade para compreender que todos têm direito ao contraditório, sem o qual a democracia não passaria de um embuste. 

Trocando a Bíblia por Maquiavel, achamos que neste guerra nada santa vale tudo; desde que estejamos devidamente amparados e justificados na defesa de valores caros à família. Vale mentir, caluniar, difamar, jogar a reputação dos outros na lama, etc. 

Alguns dirão: Não é isso que eles fazem conosco? Temos que pagar com a mesma moeda! Olho por olho, dente por dente. Se nos perseguem, vamos persegui-los. Se nos difamam, vamos detoná-los! Afinal, a verdade está conosco!

Desde quando a verdade se alia à mentira? Desde quando os fins justificam os meios? Temos muito que aprender com Jesus e Seus apóstolos:
"Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente."  1 Pedro 2:21-23

Ninguém mais dá a outra face? E a segunda milha, ninguém se candidata a percorrer? Quem se dispõe a assinar o que, para muitos, não passaria de um atestado de idiotice? 

Em vez disso, somos dominados por uma visão triunfalista barata. Não somos mais aquele Zé Povinho que costumávamos ser. Cansamos de ser cauda. Agora somos cabeça... o preço disso é que perdemos o coração.

Deixamos de ser igreja para sermos casa de marimbondos. Nossos ferrões revelam nossa natureza. Se ao menos fôssemos abelhas... mas não há mel, somente ferroadas. Nosso ódio, desprezo ou preconceito garantirá que jamais se convertam a Cristo. Somos uma vergonha! Uma vacina antievangelho.


Vamos mostrar nossa força! Vamos para as ruas marchar pra Jesus! Vamos desbancar a parada gay! Vamos pressionar nas redes sociais até que Jean Wyllys seja cassado no congresso. Não vamos poupar nem a Xuxa. Mexeu com um dos nossos, vai experimentar nossa fúria... Pena que não é por força nem por violência... algo está errado com aqueles que se dizem povo de Deus. Em vez de amor... revanche.


Assista abaixo a recente entrevista em que Jean Wyllys desmente a boataria em torno do seu nome e anuncia que vai entrar com ação contra os seus difamadores.





P.S.: Quando querem ridicularizá-lo, afirmam que ele teve pouco mais de 13 mil votos, enquanto Marco Feliciano recebeu mais de 200 mil. Esta guerrinha certamente vai alavancar sua carreira política, garantindo votação recorde no próximo pleito. Aliás, tanto um quanto o outro colherão dividendos eleitorais. Os únicos que saem perdendo são os cristãos que sofrem o desgaste de sua credibilidade ao lançar mão de expedientes tão desprezíveis.