terça-feira, junho 21, 2022

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IDEOLOGIA DE GÊNERO: ameaça ou falácia?

Por Hermes C. Fernandes 

Com a proximidade das eleições, candidatos desprovidos de qualquer programa de governo que vise o bem-estar da população recorrem a expedientes nada louváveis para atrair votos. Dentre tais expedientes estão as pautas de costume que abordam desde assuntos relativos à sexualidade, passando pelo aborto e pelas drogas. Sem dúvida, o mais usado para aterrorizar as pessoas e convencê-las a confiar-lhes seus votos está a tal “ideologia de gênero.” Pastores transformados em cabos eleitorais vociferam de seus púlpitos, anunciando a sórdida tentativa dos partidos de esquerda em sexualizar nossas crianças, com a intenção de transforma-las em gays, e assim, destruir as famílias, impedindo-as de se perpetuar. Por mais absurda que seja esta argumentação estapafúrdia, ela tem sido a locomotiva de boa parte da propaganda de candidaturas comprometidas com políticas que visam a supressão de direitos da classe trabalhadora e de direitos civis de minorias historicamente oprimidas. 

Não existe esta tal “ideologia de gênero”, e sim uma educação que aborda questões relativas à sexualidade com o objetivo de prevenir o abuso infantil e a disseminação de preconceitos.  

Longe de ser uma doutrinação visando converter as crianças à homossexualidade (como se isso fosse possível!), a educação para a diversidade tem como objetivo criar condições favoráveis no ambiente escolar para que professores e alunos possam aprender e ensinar o convívio com as diferenças, combatendo assim a discriminação, o preconceito, a violência de gênero (contra a mulher, o homossexual e o transexual). A escola deve prover um espaço aberto à reflexão e ao acolhimento dos alunos em sua individualidade, garantindo-lhes a liberdade de expressão. Para tal, deve-se fomentar debates mais aprofundados sobre as questões de gênero e sexualidade, com disciplinas que tratem especificamente do tema. Os pais devem ficar despreocupados. Nenhum filho hétero vai voltar para casa homossexual. Mas certamente vai enxergar seus colegas homossexuais sem as lentes do preconceito que, infelizmente, muitas vezes receberam na educação provida em seu próprio lar.  

O ambiente escolar costuma ser cruel com os diferentes. Por isso, acredito que cabe aos professores trabalhar para atenuar este tipo de comportamento. 

Tempos atrás, um menino de apenas doze anos, colega de algumas crianças que frequentavam nossa igreja, suicidou-se tomando chumbinho e sufocando-se com um saco plástico, por não suportar o bullying sofrido na escola. Não se trata de um caso isolado, mas de um fato cada vez mais frequente, apesar de nem sempre ter a devida cobertura midiática.

Raramente os pais tomam conhecimento do que acontece na escola. E às vezes, mesmo sabendo, não tomam qualquer providência, seja por sentirem-se impotentes, ou simplesmente por não se importarem. Por estas e outras, sou 100% a favor da proposta da educação para a diversidade. Não se trata de ‘ideologia de gênero’, mas de educação, e, portanto, deve ser discutido no ambiente escolar.

Outra razão para que as escolas ofereçam educação sexual é a prevenção de abusos sexuais. O abuso sexual de crianças e adolescentes geralmente é cometido por uma pessoa de confiança da vítima, como um parente próximo. Há abuso mesmo quando não se tem o ato sexual consumado. Expor a criança a carícias impróprias ou a pornografia, ou se exibir para ela, também é considerado abuso sexual. Uma educação sexual escolar que respeite o desenvolvimento físico, psicológico, afetivo, cognitivo e, sobretudo, sexual de uma criança oferece ferramentas para diagnosticar possíveis abusos, incentivando a denúncia com o objetivo de interrompê-los.

A recusa por parte de algumas instituições em abordar o tema que ainda é visto como tabu, ou de denunciar às autoridades casos de violência sexual, tem sido um fator facilitador para os abusadores. Estes deveriam ser os únicos a se sentirem incomodados com a educação sexual das crianças na escola. Está comprovado que a educação promove o adiamento da iniciação sexual, e, consequentemente, previne DST, gravidez indesejada e, por conseguinte, coíbe o aborto. Os que se opõem a educação sexual nas escolas deveriam considerar que seus filhos estão sendo bombardeados por informações erradas sobre sexo, seja através da televisão, da internet ou de propagandas. 

Uma das formas de prevenção é ensinar as crianças com abordagens apropriadas para cada faixa etária, conceitos de autoproteção, consentimento, integridade corporal, sentimentos e a diferença entre toques agradáveis e carinhosos, e toques invasivos, erotizados e desconfortáveis, aumentando as chances de proteger crianças e adolescentes de possíveis violações. É importante falar, por exemplo, em quais partes do corpo da criança qualquer pessoa pode tocar e em quais partes não podem, mesmo por outras crianças. Por exemplo, tocar na cabeça, no ombro, no braço geralmente não oferece qualquer ameaça. Mas elas precisam entender que outra pessoa não pode tocar em suas partes íntimas, seja adulta ou criança. É imprescindível que se ensine às crianças a não permitir maior intimidade com determinadas pessoas. E assim, elas se percebem empoderadas, aptas a dizer não e a fugir da situação. Geralmente, abusadores sabem como conquistar as crianças paulatinamente. Em sua ingenuidade, a criança pode permitir o abuso por receio, medo ou por engano.

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