sábado, junho 13, 2020

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QUANDO O AMOR TESTA POSITIVO


Por Hermes C. Fernandes

Ontem foi dia dos namorados e a frase mais lida em postagens nas redes sociais foi “eu te amo.” Uns a disseram em rede o que poderiam dizer no pé do ouvido, mas fizeram questão de que todos ouvissem, assim como todos ouviram quando do céu uma voz se dirigiu a Jesus no momento de seu batismo: “Este é meu filho amado!” Outros, porém, publicaram na rede o que não poderiam dizer cara a cara por causa do distanciamento social. Mas como saber se tudo o que foi dito é verdadeiro? Como ter certeza de que amamos e somos amados? Não me refiro apenas ao amor romântico, mas ao amor de forma geral. Haveria uma espécie de testagem para saber o que é ou não é amor?
Acredito que haja um texto dos evangelhos que nos oferece a tal “prova dos nove”.

De acordo com as palavras de Jesus, no último dia, todos se reunirão para ouvir dos Seus lábios o veredito. Caberá a Ele, e tão somente a Ele, separá-los em dois grupos: os que viveram somente para si e os que fizeram do amor a mola propulsora de sua existência. Por favor, não pare sua leitura aqui. Você poderá se surpreender da mesma maneira como me surpreendi com o que foi ministrado ao meu coração.

Ao grupo que fizera do amor sua motivação, Ele dirá: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Pois tive fome, e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era estrangeiro e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; estive enfermo e cuidastes de mim; preso e me visitastes. Então perguntarão os justos: Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? (...) Responderá o Rei: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt.25:34-37, 40).

Convido-o a olhar com mais atenção cada elemento apresentado neste texto, pois o mesmo nos oferecerá um método seguro de testagem do amor.

1. “Que Tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber” – O genuíno amor compreende que nossa natureza é caracterizada pela carência, e por isso mesmo, dispõe-se a supri-las. Fome e sede representam a totalidade de nossas necessidades, tanto físicas, quanto emocionais e espirituais. Não se trata apenas de subsistência. Precisamos nos sentir saciados, plenos, satisfeitos. E quem nos ama se propõe a encontrar maneiras para isso. A mulher samaritana abordada por Jesus no poço de Jacó já estava em seu sexto relacionamento, pois sua sede existencial jamais havia sido saciada. Não há quem seja autossuficiente. Todos somos contados entre esses pequeninos que carecem de atenção, que procuram quem realmente se importe.

2. “Era estrangeiro e me acolhestes” – Ser estrangeiro é o mesmo que ser alguém que decidiu recomeçar sua vida em outro lugar. Quem ama se importa a ponto de apoiar novos começos. O estrangeiro deixou para trás amigos que não puderam ou não quiseram acompanha-lo em sua nova vida, portanto, precisa construir novas amizades. Nesse novo lugar existencial, o estrangeiro necessita de acolhida, de espaço, de dicas e conselhos de quem já passou por situações semelhantes. A última coisa que ele precisa de quem o julgue, o discrimine, e fique o tempo inteiro perguntando sobre seu passado, sua origem e a razão que o fez deixar tudo para trás.

3. “Estava nu e me vestistes” – Pense para além da nudez física. Pense na exposição, no linchamento moral a que muitos são submetidos. Pense na nudez de Noé, depois de haver se embriagado. Enquanto um dos seus filhos se pôs a apontar-lhe o dedo acusador, chamando a atenção de todos para a nudez de seu pai, os outros dois vieram com uma capa para cobri-lo respeitosamente. Vestir o nu é atribuir-lhe dignidade, mesmo que esta lhe esteja faltando. Vestir o nu é entender a sua fragilidade e não atentar contra a sua reputação. Quem ama faz exatamente isso. Quem ama prefere se calar em vez de se pronunciar diante da fragilidade alheia.

4. “Estive enfermo e cuidastes de mim” – A maior demonstração de amor não é o sacrifício, mas o cuidado. O sacrifício é eventual, mas o cuidado deve ser cotidiano. Qualquer um pode adoecer repentinamente. E o amor não nos permitirá abandoná-lo. Pode-se adoecer do corpo, mas também da alma. Em ambos os casos, o cuidado é imprescindível. Não há sensação mais triste e deprimente do a provocada pelo abandono de quem diz nos amar, principalmente, no momento da dor e da enfermidade. Quem se manteve ao seu lado quando você já não tinha o que oferecer?

5. “Estive preso e me visitastes” – Talvez aqui esteja a mais contundente prova de amor. O que o teria levado à prisão? Seria ele culpado ou inocente? O que ele aprontou, afinal? Nada disso importa. O amor nos fará sair ao encontro daquele que sofre as consequências de suas escolhas. Não para acusa-lo, para encarcera-lo na prisão da culpa, mas para demonstrar o quanto nos importamos.  Ser solidário não é o mesmo que ser conivente. É permanecer ao lado do outro, mesmo que este seja culpado de tudo o que lhe acusam.

6. “Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer?” – Repare que eles fizeram o bem sem esperar qualquer recompensa. Na verdade, eles nem ao menos perceberam que o que faziam ao outro era-lhes creditado como sendo feito ao próprio Senhor. O amor genuíno não espera recompensa, nem tem como motivação o cumprimento de uma agenda moral. Simplesmente, ama por amar, dando-se por satisfeito ao ver o bem da pessoa amada. Esta é a sua recompensa!

Da próxima vez que disser “eu te amo” a alguém, pense no que você estaria disposto fazer para demonstrar este amor de maneira concreta.

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