Por Hermes C. Fernandes
Mães deveriam viver eternamente. Quando uma se vai, a porta pela qual chegamos ao mundo se fecha para sempre.
Seu colo é o mais próximo que podemos estar do ventre em que ficamos confinados por nove meses, onde estávamos devidamente guardados das agruras da vida. Porém, gradativamente, na medida em que crescíamos, ele foi se tornando pequeno para nos conter. Mas o que faltava de espaço no ventre até para nos espreguiçarmos, sobrava de espaço em seu coração. Ali era o nosso universo particular.
Definitivamente, não há coração maior do que o de mãe, onde há espaço suficiente para agasalhar nossos sonhos, falhas, talentos e limitações. Se nosso lugar no ventre é passageiro, nosso lugar em seu coração dura enquanto ela puder respirar.
Já foi provado que o ambiente uterino é tão acolhedor que permite à criança sonhar enquanto espera para vir ao mundo. Com que a criança sonha, afinal? Como sonhar com elementos pertencentes a um mundo que nunca explorou? Que imagens se projetariam em sua mente ainda em formação? De onde elas viriam?
Será que ela enxerga o mundo através dos olhos de sua mãe? Ou será que o cordão umbilical não serve apenas para partilhar nutrientes e oxigênio que garantam sua sobrevivência, mas também material psíquico capaz de produzir atividades oníricas?
Pode-se dizer que por nove meses enxergávamos com os seus olhos, respirávamos com os seus pulmões, mas já éramos capazes de ouvir com nossos próprios ouvidos. Os sons externos que nos poderiam soar assustadores eram abafados pelas batidas de seu coração materno.
Audição e tato foram os primeiros sentidos que desenvolvemos durante nosso santo confinamento. Os famosos chutes nada mais eram do que a maneira de tatearmos na escuridão enquanto fazíamos malabarismos para encontrar a posição certa para o mergulho na luz.
Nossa visão, paladar e olfato estavam reservados para serem inaugurados no mundo no qual mergulharíamos quando deixássemos para sempre o aconchego do seu ventre. Não tínhamos ideia das cores, sabores e odores que nos esperavam do lado fora, muitos dos quais nos foram introduzidos por nossa mãe.
Ela não nos deu apenas a luz, mas também os sabores e os perfumes e a deliciosa sensação de sermos ouvidos, tocados e acariciados com toda a sua ternura e amor.
Mãe não é apenas quem gera (como se isso, por si só, já não fosse maravilhoso!). Mãe é quem abre mão de seu presente pelo futuro de quem gerou.
Mãe não é apenas presença, mas também a que nos prepara para a mais dolorosa ausência, e, assim, reconheçamos o valor de sua existência.
Mãe é mais do que presente, também é saudade que nunca para de doer.
Se ela foi capaz de nos carregar no ventre por meses e nos braços por anos, por que não a carregaríamos para sempre em nossos corações?
A todas as mães que durante esta quarentena se veem privadas da companhia de seus filhos, Feliz Dia das Mães. É o mesmo amor que nos fez abraça-las ano após ano que hoje nos faz deixar de abraça-las para que ainda desfrutemos de sua companhia por muitos e muitos anos.
Lembrem-se de que vocês esperaram tanto tempo para poder nos embalar em seus braços, por que não esperar um pouco mais para poder nos abraçar novamente?
Feliz Dia das Mães, mamãe Mirian de Carvalho Fernandes.
* Se você tem a sorte de ter por perto a sua mãe, cubra-a de amor. Não poupe palavras para dizer o quanto você a ama e lhe é grato por tudo o que fez e tem feito por você.
** Se você já não tem por perto a sua mamãe, saiba que segundo o evangelho de Jesus, um dia vocês se reencontrarão, e aquele abraço que você não pôde dar, poderá ser desfrutado com uma intensidade jamais experimentada do lado de cá da vida.
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