Por Hermes C. Fernandes
Nego-me a crer em um evangelho que reata o relacionamento entre Deus e o homem, mas não promove relações sociais justas, simétricas e equitativas. As hastes da Cruz apontam para o fato de que Deus tenha o propósito de promover a reconciliação tanto entre a Divindade e a humanidade (haste vertical) quanto entre todos os homens, desfazendo as distinções que os segregam (haste horizontal). Se Seu propósito fosse apenas reconciliar-se com os homens, Cristo teria morrido em um poste, não numa cruz.
Ele também não morreu enforcado, o que pode indicar que a espiritualidade proposta no Evangelho não é asfixiante, como a que temos visto promovida por alguns segmentos cristãos.
Ele não morreu decapitado, o que parece indicar que Sua proposta não inclui privar-nos da razão. Não se trata de um suicídio intelectual. Ninguém deve perder a cabeça por abraçar o Evangelho. Pelo contrário, a genuína espiritualidade cristã reconcilia a cabeça e o coração, a razão e as emoções, apaziguando o ser.
Nego-me a crer em um evangelho que nos livra do inferno, mas que, ao invés de nos tornar agentes pacificadores, equipa-nos de argumentos para só servem para infernizar a vida dos outros.
Nego-me a crer em um evangelho que não produza transformações sociais profundas, de modo que passemos a enxergar a todos à nossa volta, não como prosélitos em potencial, mas como seres humanos feitos à imagem e semelhança de Deus, e que, portanto, devem ser respeitados em suas escolhas.
Nego-me a crer em um evangelho que só enxerga a graça como um meio de chegar-nos a Deus, mas sonega esta mesma graça para aterrar o abismo que nos separa uns dos outros, reforçando esteriótipos, fomentando preconceitos e estimulando a segregação.
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