“Se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado
do opressor.”
Desmond Tutu
C
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omo
poderíamos dizer que amamos a alguém sendo condescendentes com as estruturas
que o oprimem? O amor nos impele a lutar por justiça. Este é o imperativo do
amor. Não se pode dizer “eu te amo”
enquanto se faz vista grossa à todo tipo de opressão, exploração e descalabro
de que o ser amado é vítima. E para tal, há que se mobilizar, lançando mão de
todos os recursos disponíveis para viabilizar a existência do outro com
dignidade. Ao menor sinal de que seus direitos estão sendo violados, nosso amor
nos fará abrir a boca em seu favor, ainda que ao custo da própria vida. Pelo
menos, é o que aprendemos com Jesus.
Lamentavelmente
constatamos que muitos dos que se dizem seguidores de Cristo preferem cerrar fileiras
com o que há de mais retrógrado, sujeitando-se,
assim, à agenda dos poderosos. Como discípulos de um preso político,
torturado e morto por um Estado opressor, devemos nos posicionar invariavelmente
ao lado dos desvalidos, dos que foram vítimas deste sistema cruel de que os
poderosos se valem. “Até quando
defendereis os injustos, e tomareis partido ao lado dos ímpios?”, questiona
o salmista, para então arrematar: “Defendei
a causa do fraco e do órfão; protegei os direitos do pobre e do oprimido. Livrai
o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios. Eles nada sabem, e nada
entendem. Andam em trevas.”[1]
Foi
com vista a isso, que Paulo engrossou o coro ao declarar que “os poderosos deste mundo” estão
destinados a serem aniquilados, pois nenhum deles conheceu a verdadeira
sabedoria, “pois se a tivessem conhecido,
jamais teriam crucificado o Senhor da glória.”[2]
Por isso, o salmista diz que “eles nada
sabem, e nada entendem”. Aliar-se a tais poderes, é o mesmo que aliar-se a
algo destinado a ser completamente aniquilado, ou ainda, é como embarcar num
navio em pleno naufrágio. Devemos, antes, como povo de Deus, optar pelos
oprimidos, pelos fracos, pelos explorados, pelos excluídos, pelos pobres, pelas
minorias.
Até
quando os que alegam representar a Cristo na Terra continuarão se promiscuindo
com os opressores? Não há meio termo. Quem deseja viver e propagar a justiça do
reino tem que fazer opção pelos oprimidos, e não pelos opressores, trabalhando
para tirá-los das mãos dos seus algozes. Isso é amor. Esta é, por assim dizer,
a dimensão política do amor que o evangelho nos requer.
O
sábio rei Salomão declarou: “Informa-se o
justo da causa dos pobres; mas o ímpio não quer saber disso.”[3]
O ímpio está sempre “lavando as mãos”, como fez Pilatos. Ele prefere omitir-se,
em vez de tomar posição em favor dos menos favorecidos.
Tanto
os profetas, quanto os apóstolos, aliaram-se às camadas mais necessitadas, e
não aos poderosos. Por serem considerados subversivos, foram duramente
perseguidos e mortos.
Entenda:
não se trata de predileção, mas de prioridade. Deus não tem filhos prediletos.
Porém, o pobre ocupa lugar de proeminência na agenda divina.
Contrário
a qualquer tipo de discriminação social, Tiago escreve:
“Se na vossa reunião entrar algum homem com anel de ouro no dedo,
e com trajes de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso, e atentardes para
o que tem os trajes de luxo, e lhe disserdes: Assenta-te aqui em lugar de
honra, e disserdes ao pobre: Fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do estrado dos
meus pés, não fazeis distinção entre vós mesmos, e não vos tornais juízes
movidos de maus pensamentos? Ouvi, meus amados irmãos: Não escolheu Deus aos
que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino
que prometeu aos que o amam? Mas vós desonrastes o pobre. Não são os ricos os
que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais?”[4]
Fica
claro nessa passagem que o próprio Deus é que prioriza o pobre, o oprimido, o
necessitado. Portanto, se pretendemos imitá-lo como filhos amados, não nos
resta alternativa.
Como
discípulos do Libertador, temos a obrigação de livrar o fraco e o necessitado,
transmitindo-lhes a verdade emancipadora do evangelho. Eles precisam ser
informados através dos nossos lábios acerca da dignidade que Cristo lhes conferiu.
“Glorie-se o irmão de condição humilde na
sua alta posição”, conclama Tiago, “o
rico, porém, glorie-se na sua insignificância, porque ele passará como a flor
da erva.”[5]
O evangelho
preconiza a chegada de uma revolução sem precedentes, mas que não demandará
derramamento de sangue, nem violência. Trata-se, antes, da revolução do amor,
da paz e da justiça, anunciada exaustivamente pelos profetas. Porém ela não
será fruto de uma intervenção divina futura, mas de nossa resposta aos Seus
constantes apelos. Quem dera se tais apelos ecoassem agora mesmo no coração de
todo ser humano que habita este planeta.
“Assim diz o Senhor: Exercei o juízo e a justiça, e livrai o
oprimido das mãos do opressor. Não oprimais mais ao estrangeiro, nem ao órfão,
nem à viúva, e não façais violência, nem derrameis sangue inocente neste
lugar.”[6]
Violência
gera violência. Não se apaga fogo com fogo. Devemos transformar nossas armas em
arados, e qualquer desejo de vingança em perdão. A profecia messiânica diz que
Cristo “exercerá o seu juízo entre as
nações, e repreenderá a muitos povos. Estes converterão as suas espadas em
arados e as suas lanças em podadeiras. Não levantará espada nação contra nação,
nem aprenderão mais a guerra.”[7]
Eis a nossa esperança, razão que nos
impulsiona a apostar no futuro da civilização humana.
O
exercício da justiça nada mais é do que o amor em ação. Porém, isso, não pode
ficar restrito a um conjunto de doutrinas. Não basta o assentimento intelectual
da verdade. O verbo tem que se tornar carne. O discurso tem que se transformar
em práxis. A fé que opera pelo amor se manifesta através de obras de justiça. “Executai justiça verdadeira”, diz o
Senhor, “mostrai bondade e misericórdia
cada um a seu irmão. Não oprimais a viúva, nem o órfão, nem o estrangeiro, nem
o pobre, nem intente o mal cada um contra o seu irmão em seu coração.”[8]
As
viúvas e os órfãos representam para nossa sociedade as classes desassistidas,
aqueles para os quais a corda rompe primeiro. Nossa sociedade está cheia de
órfãos de pais vivos. Nossas crianças e adolescentes estão crescendo sem
qualquer assistência. Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente represente
um avanço considerável, precisamos de políticas mais eficazes, que promovam uma
educação de qualidade para os nossos filhos. O que será de uma geração inteira
que cresceu aos cuidados da babá eletrônica?
E
quanto aos nossos velhos? Até quando morrerão nas filas do INSS? São viúvos do
Estado. Estão entregues à própria sorte, vulneráveis às aves de rapina a
serviço deste sistema pérfido, carcomido pelas traças da corrupção.
O
estrangeiro representa o diferente, o pertencente a outra realidade, outra
crença, outra ideologia, outra cultura. É triste verificar como os imigrantes
brasileiros são explorados no Exterior. Geralmente, trabalham por menos que o
salário mínimo do país. Mas é igualmente lamentável que tratemos os imigrantes
que chegam ao nosso país de maneira semelhante e até pior, fazendo-os de
escravos.
Membros
de uma etnia não têm o direito de dominar os de outra etnia. Não há raças
superiores, nem física, intelectual, ou espiritualmente. Todos possuem a mesma
dignidade intrínseca e, por isso, devem ser respeitados e ter seus direitos
assegurados.
Também
é deprimente assistir ao crescimento dos bolsões de miséria, das favelas e
guetos, habitados por aqueles que deixaram seus rincões, no afã de obterem
melhores oportunidades na cidade grande.
O
mandamento de Deus quanto ao tratamento que devemos dispensar ao imigrante é
categórico: “O estrangeiro não afligirás,
nem o oprimirás, pois estrangeiros fostes na terra do Egito.”[9]
E mais: “Como o natural entre vós será o
estrangeiro que peregrina convosco. Amá-lo-eis como a vós mesmos, pois fostes
estrangeiros na terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus.”[10]E
ainda: “Pois o Senhor vosso Deus é o Deus
dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que
não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno. Ele faz justiça ao órfão e à
viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e vestes. Amai o estrangeiro,
pois fostes estrangeiros na terra do Egito.”[11]
O
Deus Eterno apela à compaixão. Só podemos nos compadecer daquele que passa por
algo pelo qual um dia também passamos. Somos um país de imigrantes. Quem não é
imigrante, é, no mínimo, filho, neto ou bisneto de imigrante. Os únicos que têm
suas raízes fincadas nesta terra há muito mais tempo são os indígenas. Os
demais descendem de europeus, africanos e orientais. Portanto, antes de agirmos
com preconceito, ou explorarmos mão-de-obra estrangeira, lembremo-nos de nossos
ancestrais.
O
trato que Deus ordenou que Seu povo dispensasse ao estrangeiro era de tal
ordem, que é usado como referência para o trato que devemos dispensar a nossos
irmãos, quando estes atravessarem alguma dificuldade econômica: “Quando teu irmão empobrecer e as suas
forças decaírem, sustentá-lo-ás como a um estrangeiro ou peregrino, para que
viva contigo.”[12]
Quem
diria? Em vez de o estrangeiro ser tratado como irmão, o irmão que deveria ser
tratado como estrangeiro. Porém, hoje, tratar um irmão como se fosse um
estrangeiro, seria considerado um total descaso, dado o desprezo com que o
tratamos.
Urge
que se levantem políticos comprometidos com o bem comum, e não com suas
ambições pessoais ou com interesses econômicos. A igreja cristã bem que poderia
fornecer à sociedade tais políticos. Mas na maioria das vezes, candidatos
evangélicos se apresentam apenas como defensores da moral cristã, da família
tradicional ou dos interesses de sua própria denominação, garantindo-lhe
cargos, privilégios, concessões de rádio e TV, etc.
Não
creio que um seguidor de Cristo deveria opor-se aos direitos de qualquer que
seja o segmento social. Ser cristão não é ser anti-gay, anti-feminista,
anti-direitos trabalhistas, anti-qualquer coisa. Não deveríamos ser
vistos como a turma do contra, os estraga-prazeres.
Em nome de uma agenda conservadora, boa parte dos políticos ditos evangélicos
prefere ser flagrada ao lado dos que defendem o porte de arma, a pena de morte,
a redução da maioridade penal, etc. E foi assim que surgiu a união de três
bancadas conhecidas pela sigla BBB: Bancada da Bíblia, da Bala e do Boi.[13]
Imagine
se os políticos e líderes evangélicos defendessem os direitos das minorias com
a mesma veemência com que defendem a moral religiosa. Mas seus escrúpulos
religiosos, bem como seus interesses ideológicos não os permitem. E assim, o
bem se passa por mal, e o mal por bem. Aos tais, vale a advertência: “Ai dos que ajuntam casa a casa, e reúnem
herdade a herdade, até que não haja mais lugar, e fiquem como únicos moradores
da terra (...). Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal, que fazem da
escuridade luz, e da luz escuridade, que põem o amargo por doce, e o doce por
amargo.”[14]
Em
uma sociedade capitalista, onde o capital tem supremacia sobre o trabalho, enriquecer
às custas do trabalho alheio é visto como um sinal de esperteza, de sagacidade,
de inteligência. Trata-se de uma clara inversão de valores.
Infelizmente,
assistimos à igreja sucumbindo a este espírito. Pastores bradam de seus
púlpitos que o crente deve almejar ser patrão, em vez de conformar-se em ser
empregado. Deve ser cabeça em vez de cauda, alusão à promessa contida na Lei
de Moisés: “E o Senhor te porá por
cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos
mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir.”[15]
Em contraste a isso, Paulo diz que não devemos fazer nada “por contenda ou por vanglória, mas por humildade”, e que cada um
deve considerar “os outros superiores a
si mesmo”, não atentando “cada um
para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros”
(Isso é revolucionário!), “de sorte que
haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus.”[16]
De fato, a Nova Aliança da graça contém promessas infinitamente superiores às
da Antiga Aliança da Lei.[17]
E a maior delas é a de nos tornarmos semelhantes a Cristo. Portanto, o que vale
agora não é mais ser cabeça ou cauda, mas ser coração. O que está em jogo não é
mais quem está por cima ou por baixo, mas no centro. E o centro ao redor do
qual tudo deve orbitar é o amor. Já não vivemos em função de provar nada a quem
quer que seja. Já não nos preocupamos em ficar nos comparando aos outros para
ver quem é melhor ou mais bem sucedido. O que nos interessa é parecermos cada
vez mais com Cristo, a começar pelo mesmo sentimento que o motivava.
O
problema não está em encorajar as pessoas a melhorarem sua condição econômica.
Não há nada de errado em querer ascender socialmente. O problema é quando esta
ascensão é desejada apenas pelo glamour,
pela vaidade, desprezando a responsabilidade social que ela demanda. Quem dera
estivessem atentos à sabedoria que diz que “onde
os bens se multiplicam, ali se multiplicam também os que deles comem.”[18]
Ao
estimular seu povo a ascender socialmente, o pregador deveria focar as
oportunidades de trabalho que um empregador poderia criar, diminuindo assim o
alto índice de desemprego, e consequentemente, a criminalidade. Mas em vez
disso, enfatiza-se apenas o conforto material e o status social que tal
ascensão poderá promover a ele e à sua família.
Testemunhos
são colhidos de pessoas que usam suas conquistas materiais, como a aquisição de
carros luxuosos, ou coberturas de frente para a praia, como aferidor de sua fé.
Ainda não se viu um pastor midiático perguntando a tais empresários emergentes,
quantos foram beneficiados através de sua prosperidade, quantos chefes de
família foram empregados, quantas iniciativas foram tomadas para ingressar os
jovens no mercado de trabalho, etc. O que tem sido chamado de “testemunho” não
passa de ostentação. Testemunhar tornou-se sinônimo de contar vantagem,
estimulando os ouvintes à inveja e à esperança de que um dia chegará a sua vez
de ganhar nesta loteria de fé.
A
advertência profética diz que Deus esperava que Seu povo exercesse justiça, mas
viu opressão, esperou retidão, mas ouviu clamor, e um tipo de clamor que jamais
gostaria de ouvir.[19]
De quem seria este clamor? Daqueles que são explorados pelos que almejam
concentrar riquezas. Quem dera atentassem ao mandamento que diz: “Não explorarás o assalariado pobre e
necessitado, seja ele teu irmão, seja ele estrangeiro que mora na tua terra e
nas tuas cidades. No mesmo dia lhe pagarás o seu salário, para que o sol não se
ponha sobre a dívida, pois ele é pobre, e disso depende a sua vida; para que
não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado.”[20]
Para os tais, isso não passaria de uma sugestão divina, não propriamente um
mandamento. Se se recusam a dar ouvidos ao mandamento, que ouçam ao menos a
advertência: “Ai daquele que edifica a
sua casa com injustiça, e os seus aposentos sem direito, que se serve do
serviço do seu próximo sem paga, e não lhe dá o salário do seu trabalho.”[21]
A
expressão “ai” encontrada em algumas advertências divinas visa ressaltar a
seriedade e o rigor com que Deus trata certas injustiças, sem jamais fazer-lhes
vistas grossas. O Deus revelado em Jesus está sempre atento ao clamor dos
injustiçados. E ainda que estes não saibam como clamar reivindicando seus
direitos, a própria injustiça por eles sofrida deporá diante do tribunal
divino: “Vede! O salário dos
trabalhadores que ceifaram os vossos campos, e que por vós foi retido com
fraude, está clamando. Os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor
Todo-poderoso.”[22]
Não obstante, Deus se recusa a ouvir o clamor dos exploradores, dos que
trabalham com o único intuito de concentrar bens, e que para isso, não hesitam
explorar descaradamente a seu semelhante:
“A vós que aborreceis o bem, e amais o mal, que arrancais a pele
de cima deles, e a sua carne de cima dos seus ossos, que comeis a carne do meu
povo, e lhes arrancais a pele, e lhes esmiuçais os ossos, e os repartis como
para a panela, e como carne do meio do caldeirão. ENTÃO CLAMARÃO AO SENHOR, MAS
ELE NÃO OS OUVIRÁ, antes esconderá deles a sua face naquele tempo, visto que eles
fizeram mal nas suas obras.”[23]
Os
ricos deste mundo precisam acordar para o fato de que todas as nossas obras são
sementes, que mais cedo ou mais tarde, resultarão em colheitas. Como diz o
adágio bíblico, “eles semeiam ventos, e
colhem tempestades.”[24]
Toda a injustiça praticada pelas elites
brasileiras, tem resultado numa escalada da violência sem precedentes na
História deste país. Os mesmos que se negam a pagar um salário justo a seus
empregados são obrigados a gastar fortunas em segurança, blindando seus carros,
colocando sistemas de alarme caríssimos em suas residências, e contratando
equipes de vigilância. De fato, Deus está exercendo juízo sobre essa elite
indiferente, que enriquece às custas da injustiça feita ao trabalhador: Depois,
não adianta querer espiritualizar as coisas, atribuindo a miséria à atuação de
demônios. Como disse Thomas Hobbes, “o
homem é o lobo do homem.” Isto é, o homem é o maior inimigo do próprio
homem. Ou como repetia exaustivamente meu saudoso pai: “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus
pecados.”[25]
Deus exerce Seu juízo sobre nós, simplesmente permitindo que colhamos
exatamente o que plantamos. Deus é tão bom que nos confere a liberdade de semear
o que quisermos, mas é tão justo que não nos permitirá colher senão o que
houvermos semeado. “Chegar-me-ei a vós
para juízo”, adverte o Senhor, “e
serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros e contra os adúlteros, e
contra os que juram falsamente, e contra os que defraudam o trabalhador, e
pervertem o direito da viúva, e do órfão, e do estrangeiro, e não me temem.”[26]
Para Deus, não há diferença entre o que pratica a feitiçaria, o adultério e o
que defrauda o trabalhador. São todos, por assim dizer, farinha do mesmo saco.
O feiticeiro usurpa o poder de Deus, achando-se capaz de manipulá-lo a seu
favor, o adúltero usurpa a companhia da mulher alheia, e o que defrauda o
trabalhador usurpa o inalienável direito de quem sobrevive do suor do seu
rosto. Ambos praticam a injustiça e eventualmente colherão o que houver sido
semeado.
Por
que há tão poucos em posse de tantas riquezas, enquanto grande parte da sociedade
humana vive abaixo da linha da pobreza? Como poderíamos reverter isso? A
mensagem do reino, sempre na contramão do sistema deste mundo, constitui-se na
mais subversiva mensagem jamais pregada. Todavia, não basta pregá-la. Temos que
encarná-la, isto é, trazê-la da teoria para a prática. Em outras palavras,
precisamos semear justiça, onde até hoje só se semeou opressão e exploração.
“Semeai para vós em justiça, ceifai o fruto do constante amor, e
lavrai o campo de lavoura, porque é tempo de buscar ao Senhor, até que venha e
chova a justiça sobre vós.”[27]
Observe
que semear em justiça é sinônimo de buscar ao Senhor. Ainda que as mudanças
não ocorram com a rapidez que desejamos, não podemos nos cansar de fazer o bem,
até que chova a justiça sobre a
terra. A admoestação apostólica ecoa
esta verdade: “Não vos enganeis: Deus não
se deixa escarnecer. Tudo que o homem semear, isso também ceifará (...). E não
nos cansemos de fazer o bem, pois a seu tempo ceifaremos, se não houvermos
desfalecido. Então, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, mas
principalmente aos da família da fé.”[28]
E o escritor de Hebreus complementa: “Não
vos esqueçais de fazer o bem e de repartir com outros, pois com tais
sacrifícios Deus se agrada.”[29]
Cada
vez que praticamos o bem, repartindo com alguém aquilo que o Senhor nos deu,
estamos semeando no reino de Deus. Em breve, a chuva virá, e toda a terra será
renovada. É sobre isso que repousa nossa esperança.
“Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz
brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Deus fará brotar a retidão e o louvor
perante todas as nações.”[30]
Tudo
o que nos é concedido pelo Senhor, tem como objetivo abençoar aos que nos
cercam. Não temos o direito de concentrar nada em nossas mãos. Fazê-lo
constitui-se em injustiça e franca rebeldia à Sua Palavra. Tomemos, portanto, o
exemplo da igreja primitiva em que “era
um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa
alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.”[31]
[1]
Salmos 82.2-5a
[2] 1
Coríntios 2.6,8
[3]
Provérbios 29.7
[4]
Tiago 2.2-6
[5]
Tiago 1.9-10
[6] Jeremias
22.2
[7]
Isaías 2.4
[8]
Zacarias 7.9-10
[9]
Êxodo 22.21
[10]
Levítico 19.34
[11]
Deuteronômio 10.17-19
[12]
Levítico 25.35
[13] A
Bancada BBB é um termo pejorativo usado para referir-se conjuntamente à bancada
armamentista ("da bala"), bancada ruralista ("do boi") e à
bancada evangélica ("da bíblia").
[14]
Isaías 5.8,20
[15] Deuteronômio
28.13
[16] Filipenses
2.3-5
[17]
Hebreus 8.6
[18]
Eclesiastes 5.11
[19]
Isaías 5.7
[20]
Deuteronômio 24.14-15
[21]
Jeremias 22.13
[22]
Tiago 5.4
[23]
Miquéias 3.2-4
[24]
Oséias 8.7a
[25]
Lamentações 3.39
[26]
Malaquias 3.5
[27]
Oséias 10.12
[28]
Gálatas 6.7,9-10
[29]
Hebreus 13.16
[30]
Isaías 61.11
[31]
Atos 4.32
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